Prestem bem atenção nesta história que pode abrir caminho para entendermos melhor. A luta interior do crente. Todas as tardes de sábado, um pescador esquimó ia à cidade com dois cachorros, um branco e um preto. Ele os tinha ensinado a lutar quando eram ordenados a faze-lo. Cada sábado um dos cachorros vencia, seus amigos intrigados com o revezamento das vitórias entre o cachorro branco e o preto, perguntaram-lhe como ele fazia isso. O esperto esquimó disse: “É muito fácil: deixo um passar fome durante uma semana e só alimento o cachorro que quero que vença a luta.”
Esta história é muito apropriada para nos ensinar algo sobre a luta que se desenvolve no interior da pessoa que nasceu de novo. Nós temos dentro de nós duas naturezas que lutam para ter domínio: a natureza carnal, o velho homem; à natureza espiritual, o novo homem (natureza adâmica e natureza cristã). Cada cristão pode se identificar como apóstolo Paulo, quando ele diz – “Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço. Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.” (Rm 7,15.21.23). nessa luta intensa que o crente trava no seu interior, vence a natureza mais fartamente alimentada.
I. A LUTA DO CRISTÃO.
“Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” (Pv 4,23).
“Pois é do interior, do coração dos homens, que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os furtos, os homicídios, os adultérios.” (Mc 7,21).
Vamos trabalhar este assunto tomando como texto básico Gl 5,16-26. As duas forças neste conflito são chamadas de “a carne” e “o Espírito” – “Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis.” (Gl 5,16-17).
- A palavra carne, para Paulo, quer dizer o que somos por natureza hereditária – nossa condição caída.
- A palavra Espírito para o apóstolo é o próprio Espírito Santo, que nos renova e regenera, dando-nos uma nova natureza.
Estes dois conceitos de carne e Espírito vivem em ferrenha oposição dentro do cristão. Não há como estabelecer um acordo entre eles. Disse Jesus – “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (Jo 3,6).
II. AS OBRAS DA CARNE.
Paulo diz que as obras da carne são conhecidas. A carne propriamente dita – a nossa velha natureza – é secreta, é invisível, mas as suas obras são públicas e evidentes. Podemos resumir essas obras da carne em quaro áreas.
- A área do sexo – “Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia.” (Gl 5,19). Defini-se prostituição como sexo em troca de uma remuneração (dinheiro, favores, presentes). Algo em troca fora do próprio sexo. A palavra impureza pode ser entendida por um comportamento anormal – Rm 1,24-27. Lascívia pode ser traduzida por indecência, falta de decoro.
- A área da religião – “A idolatria, a feitiçaria.” (Gl 5,20). É importante observar que a idolatria e feitiçaria são tão obras da carne quanto a imoralidade. Se a idolatria é importante culto prestado a outros deuses; a feitiçaria é intercambio secreta com os poderes das trevas.
- A área do social – “Inimizade, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas” (Gl 5,20-21). São essas oito obras da carne, indicados por Paulo, que criam um colapso nos relacionamentos interpessoais.
- A área do físico – “Bebedices e glutonarias” (Gl 5,21). Esses dois termos dão a idéia de orgias como aparecem nos textos de Rm 13,13 – “Andemos honestamente, como de dia: não em glutonarias e bebedeiras, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e inveja.”; 1Pe 4,3 – “Porque é bastante que no tempo passado tenhais cumprido a vontade dos gentios, andando em dissoluções, concupiscências, borrachices, glutonarias, bebedices e abomináveis idolatrias.”. A esta lista das obras da carne, Paulo acrescenta – “....que os que tais coisas praticam não herdarão o reino de Deus.” (Gl 5,21).
III. O FRUTO DO ESPÍRITO.
Não podemos deixar incompleto o texto que trata dessa luta interior do cristão. Vamos indicar o fruto do Espírito que vem aglomerado em nove graças distintas divididas em três grupos.
- “Amor, alegria e paz” – (Gl 5,22a). Esse grupo refere-se a nossa atitude para com Deus.
- “Longanimidade, benignidade e bondade” – (Gl 5,22b). Estas são virtudes sociais, especialmente voltadas para os outros.
- “Fidelidade, mansidão e domínio próprio” – (Gl 5,23). Também são virtudes do cristão voltadas para o próximo. Fidelidade descreve a certeza de se poder confiar; mansidão é atitude de humildade que Cristo tem – “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas.” (Mt 11,29) e domínio próprio é a capacidade de dominar as nossas próprias reações.
CONCLUINDO
Diante dos três tópicos do corpo deste capitulo – A luta do crente, as obras da carne e o fruto do Espírito – o que o cristão deve fazer para ser um cristão vitorioso?
- Crucificar a carne – Gl 5,24. A rejeição que o cristão faz da sua velha natureza. Paulo diz – “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gl 2,20).
- Andar no Espírito – Gl 5,25. Andar no Espírito significa ser guiado pelo Espirito conforme aparece em Gl 5,18 – “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” O texto Rm 8,26-27 – “Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos”. É relevante para a clareza deste andar no Espírito. Não basta submeter-nos passivamente ao controle do Espírito; também temos de andar ativamente no caminho do Espírito. Só assim alcançaremos a vitória.
Como vai a sua vida cristã? Tem sido de altos e baixos, com muitas derrotas? Aqui temos o segredo de uma vida vitoriosa.
- Mata de fome a nossa velha natureza (a carne), eliminando as coisas impuras que enfraquecem o nosso Espírito;
- Fortalecer o nosso espírito com as coisas do Senhor, especialmente com o leite racional e o alimento sólido da palavra de Deus – “desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de por ele crescerdes para a salvação,” (1 Pe 2,2); “mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal.” (Hb 5,14).
Marco Antonio Lana (Teologo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário