Ao estudarmos a Bíblia descobrimos que alguns profetas predisseram que nos dias do Messias Deus concederia uma difusão liberal do Espírito Santo, nova, diferente, extraordinária e acessível a todos os crentes:
1. Isaias -"Até que sobre nós se derrame o espírito do alto, então o deserto se mudará em vergel, e o vergel tomará o aspecto de uma floresta;" (Is 32,15). "Porque derramarei água sobre o solo sequioso, fá-la-ei correr sobre a terra árida, derramarei meu espírito sobre tua posteridade, e minha bênção sobre teus rebentos". (Is 44,3)
2. Ezequiel - "Não esconderei mais deles a minha face, porque espargirei meu Espírito sobre toda a casa de Israel - oráculo do Senhor Javé". (Ez 39,29).
3. Joel - "Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões". (Jl 3,1).
Este “derramamento” (termo usado no 1.º Testamento) ou “batismo” (termo usado no 2.º Testamento) do Espírito seria uma benção tão distintiva para o povo de Deus que o apóstolo Paulo descreveu este novo tempo iniciado por Jesus como “o ministério do Espírito” - "quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito!" (2Cor 3,8) – Isto não quer dizer que o Espírito Santo não existia antes. O Espírito Santo é de Deus e, portanto, eterno. Também não quer dizer que ele estava inativo antes. No tempo do 1.º Testamento, Ele estava incessantemente ativo: na criação e na preservação do universo; na providencia e na revelação; na regeneração dos crentes; e na capacitação de pessoas especiais para tarefas especiais.
A Bíblia nos ensina que Deus – Espírito Santo já agia desde o princípio, através de toda a história em todos os tempos. Neste capítulo examinaremos Sua atividade a partir da criação até o nascimento de Jesus.
I. CRIANDO O MUNDO.
A participação do Espírito Santo na criação de todas as coisas fica evidente nas páginas da Bíblia. Em Gn 1,2 lê-se que - "A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo” A esta informação segue-se outra reveladora - “e o Espírito de Deus pairava sobre as águas". Billy Graham, em seu livro “O Espírito Santo”, afirma que a palavra hebraica traduzida aqui por “pairava” significa “estar sobre”, “como uma galinha fica sobre seus ovos para chocá-los e trazer nova vida ao mundo”. Assim também o “Espírito Santo pairou sobre a criação original de Deus para encher seu vazio com as várias formas de vida.”.
Ao abrir suas “asas” sobre a terra o Espírito Santo participou ativamente da criação, junto com o Pai - "No princípio, Deus criou os céus e a terra". (Gn 1,1; Sl 104) e o Filho - "Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele". (Cl 1,16-17). Se compararmos a afirmação de Gn 1,26a – “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, com a afirmação de Jó 33,4a – “O Espírito de Deus me criou”, concluiremos que o Espírito Santo colaborou na formação do ser humano. É ainda mais revelador o Sl 104,30, ao afirmar que o Espírito Santo cria e continua renovando a vida na face da terra – “Envias o teu fôlego, e são criados; e assim renovas a face da terra”. – O que o Espírito de Deus cria? Sl 104,18-26 responde: cobras, coelhos, animais selvagens, o homem e tudo mais que vive sobre a terra ou no mar.
II. DOANDO A VIDA.
1. Animal.
Sl 104,30 nos dá uma compreensão mais larga do papel do Espírito Santo na criação, pois revela que Ele não só colaborou na criação, mas ainda continua sendo o criador da vida, inclusive da vida animal (Sl 104,18-25) e vegetal (Sl 104,13-16). Aqui o salmista mostra que o Espírito é sempre o criador da vida. É Ele quem renova a face da terra.
Deus alimenta (sustenta) o que cria, renovando a face da terra através do Espírito. Deus sempre cuida de sua criação. (Mt 6,26).
2. Humana.
Quando Deus “formou o homem do pó da terra”, o Espírito Santo estava envolvido - "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente". (Gn 2,7). O sopro divino que deu vida ao homem, fazendo-o inteligente e eterno, foi, de fato, o Espírito Santo, como nos esclarece Jó - "O Espírito de Deus me criou, e o sopro do Todo-poderoso me deu a vida". (Jó 33,4). É claro que há aqui um jogo de palavras mostrando que o Espírito de Deus e a nossa respiração estão relacionadas entre si, pois “Espírito” e “sopro” no hebraico são a mesma palavra (ruah).
O Espírito Santo é o princípio da vida e psicológica do homem e continua sendo o “sopro”, “vento impetuoso” ou “poder” de Deus para fazer do homem uma “nova criatura” - "Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!" (2Cor 5,17). O Espírito Santo pode iluminar a mais negra alma e quebrantar o mais duro coração - "O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo". (Jo 3,6-7).
III. EQUIPANDO PARA O SERVIÇO.
No período do 1.º Testamento, “!apesar de todos os crentes serem realmente regenerados” (J. Stott) (cf. Rm 4,1-8 e Gn 15,6; Sl 32,1-2; Sl 119,97 c/Rm 8,7), o Espírito Santo vinha sobre pessoas específicas para ministérios específicos em épocas específicas. John Stott, em seu livro “Batismo e Plenitude do Espírito Santo”, afirma que “apesar de os crentes do 1.º Testamento terem conhecido a Deus e experimentando um novo nascimento, a presença do Espírito morando agora nos crentes é algo que ele nunca presenciariam, o que faz parte da nova aliança e do reino de Deus, profetizado tanto pelos profetas como pelo Senhor Jesus – Jr 31,33;Ez 36,26-27; Jo 14,16-17; Rm 14,17” (pg 20).
De fato, o “derramamento” ou “batismo” ou “dom” do Espírito é uma das bênçãos especiais da nova aliança iniciada por Jesus Cristo e efetivada no dia de Pentecostes. No 1.º Testamento, o Espírito agia de forma diferente. Ele vinha sobre aqueles a quem Deus selecionava soberanamente, independente das condições ou situação destas pessoas, habilitando-as para realizarem uma tarefa especial, como, por exemplo.
1. Dando perícia.
Para que o Tabernáculo fosse construído exatamente como o projeto de Deus, dado a Moisés, o Espírito veio sobre Bezalel a fim de capacita-lo para esta tarefa especial – Ex 31,3; 35,30-35.
2. Habilitando para liderar.
a) José só governou com sucesso toda a terra do Egito porque nele havia atuação do Espírito de Deus – “Poderíamos, disse-lhes ele, encontrar um homem que tenha, tanto como este, o espírito de Deus?” (Gn 41,38).
b) Josué foi selecionado para suceder Moisés na liderança de Israel porque nele havia o Espírito agindo - "O Senhor respondeu a Moisés: “Toma Josué, filho de Nun, no qual reside o Espírito, e impõe-lhe a mão". (Nm 27,18).
c) Otiniel foi habilitado pelo Espírito do Senhor para julgar Israel e lutou em defesa do seu povo - "O Espírito do Senhor desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para a guerra. O Senhor entregou-lhe Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão triunfou sobre ele". (Jz 3,10).
d) Gedeão – "O Espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão, o qual, tocando a trombeta, convocou os filhos de Abieser para que o seguissem". (Jz 6,34) – e Jefté – "O Espírito do Senhor desceu sobre Jefté, e ele, atravessando Galaad e Manassés, passou dali até Masfa de Galaad, de onde marchou contra os amonitas". (Jz 11,29) – foram capacitados pelo Espírito a lutarem e vencerem, durante o período de suas lideranças.
3. Concedendo força física.
De tempo em tempo o Espírito Santo usava diversas pessoas para libertar o povo de Deus do julgo inimigo. Sansão recebeu uma extraordinária força física para executar a libertação contra os midianitas – "Ela deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão. O menino cresceu e o Senhor o abençoou. E o Espírito do Senhor começou a incitá-lo, em Mahanê-Dã, entre Sorea e Estaol". (Jz 13,24-25); "O Espírito do Senhor apossou-se de Sansão, e ele despedaçou o leão como se fosse um cabrito, sem ter coisa alguma na mão; e não quis contar isso aos seus pais". (Jz 14,6); "Chegando a Lequi, os filisteus acolheram-no com gritos de alegria. Apoderou-se, porém, de Sansão o Espírito do Senhor, e as duas cordas que ligavam seus braços tornaram-se como fios de linho queimado, caindo de suas mãos as amarraduras". (Jz 15,14).
4. Ungindo reis.
O Espírito não só usou juizes e profetas para libertar Israel, mas também reis. Estes eram ungidos com óleo, símbolo de que eles estavam sendo revestidos com o poder do Espírito Santo, como podemos ver na unção de Davi por Samuel - "Samuel tomou o corno de óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi. Samuel, porém, retomou o caminho de Ramá". (1Sm 16,13).
IV. INSPIRANDO OS PROFETAS.
O apóstolo Pedro afirma que nenhuma “profecia foi dada por vontade humana”, mas que “homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1,21). O Espírito do Senhor fazia com que os profetas dissessem somente o que Deus queria.
a. Balaão só pode proferir a mensagem dada pelo Espírito do Senhor - "Balaão, vendo que era do agrado do Senhor que abençoasse Israel, não foi como antes ao encontro de agouros. Voltou-se para o deserto e, levantando os olhos, viu Israel acampado nas tendas segundo as suas tribos. O Espírito de Deus veio sobre ele. “Pois não disse eu aos teus mensageiros, respondeu Balaão: mesmo que Balac me desse a sua casa cheia de prata e de ouro, eu não poderia transgredir a ordem do Senhor, nem fazer o que quer que seja por minha própria conta; somente diria o que o Senhor me ordenasse?" (Nm 24,1-2.12-13). O profeta é fiel ao recado do Senhor, não muda nem distorce o que Deus fala.
b. Zacarias foi um dos profetas a quem o Espírito do Senhor concedeu coragem para transmitir o recado de Deus, mesmo em risco de perder a própria vida - "Então o espírito de Deus apossou-se de Zacarias, filho do sacerdote Jojada, o qual se apresentou diante do povo: Eis, disse ele, o que diz o Senhor: Por que transgredis as ordens do Senhor? Nada conseguireis. Porque abandonastes o Senhor, o Senhor vos abandonará". (2Cr 24,20). Aquele que se entregam a Deus em fidelidade e santificação recebem não só a mensagem divina, mas também o encorajamento do seu Espírito para transmiti-la e vivê-la.
c. Miquéias ao contemplar a obra dos falsos profetas, anuncia a natureza do verdadeiro profeta, vocacionado por Deus, recebendo poder para realizar uma missão específica. Neste caso, proclamando contra a ganância, a injustiça, a falta de amor e a desobediência a Deus, no poder do Espírito - "Eu, porém, estou cheio de força (do espírito do Senhor), de justiça e de coragem, para denunciar a Jacó sua maldade, e a Israel seu pecado". (Mq 3,8).
No 1.º Testamento temos o Espírito Santo inspirando os profetas para registrar o que seria a Palavra escrita de Deus. A inspiração do Espírito está presente também nos escritores do 2.º Testamento. Hoje em dia o Espírito age iluminando aos servos de Deus, aos pregadores ou profetas para proclamarem a Palavra de Deus que já está escrita. Antes e durante o processo do Cânon bíblico, havia a inspiração do Espírito para se registrar a Palavra de Deus. Depois da Bíblia estar completa, há a iluminação do Espírito para que essa Palavra seja proclamada de forma, coerente e viva.
V. PRODUZINDO VIDA MORAL.
Um dos pontos fortes da ação do Espírito Santo no 1.º Testamento é que Ele concede percepção moral, dando ao homem a possibilidade de viver em boa conduta.
1. Os salmos.
Os Salmos são claras e fortes evidencias da obra do Espírito Santo na produção de uma vida moral. Exemplo disto são os salmos 51 e 139. a presença do Espírito significa para o salmista um espírito quebrantado e contrito, coração limpo, Constancia e alegria.
No Sl 139,23-24, o anelo pela presença de Salmista a rogar que o Espírito o sonde e oriente externamente para o caminho eterno.
No Sl 143,10, Davi reconhece que só no poder do Espírito se consegue fazer vontade de Deus e andar por veredas planas.
2. Os Profetas.
Transmitem-nos a idéia de que por si só o homem não pode alcançar o alto padrão de Deus. Ele precisa de ação de Deus dentro de si, através do Espírito Santo, que o guiará no bom proceder
a) O Espírito pode transformar o coração do homem - "Dentro de vós meterei meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus preceitos". (Ez 36,27).
b) O Espírito revela o mal e dá ao profeta a coragem e capacidade de denunciar a maldade - "Eu, porém, estou cheio de força (do espírito do Senhor), de justiça e de coragem, para denunciar a Jacó sua maldade, e a Israel seu pecado". (Mq 3,8).
c) O Espírito fica entristecido e deixa de agir em benefício do homem quando há rebeldia em seu coração - "Mas revoltaram-se, ofenderam seu santo espírito, desde então tornou-se inimigo deles, e lhes fez guerra. Então se lembraram dos dias de outrora, de Moisés, seu servo. Onde está aquele que tirou dos céus o pastor de seu rebanho? Onde está aquele que pôs nele seu santo espírito?" (Is 63,10-11).
CONCLUINDO
No 1.º Testamento, o Espírito Santo não era outorgado aos homens como dádiva permanente:
a) Ele vinha sobre alguém - "Então o espírito de Deus apossou-se de Zacarias, filho do sacerdote Jojada, o qual se apresentou diante do povo: Eis, disse ele, o que diz o Senhor: Por que transgredis as ordens do Senhor? Nada conseguireis. Porque abandonastes o Senhor, o Senhor vos abandonará". (2Cr 24,20).
b) Ele repousava sobre alguém - "O Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés; tomou uma parte do espírito que o animava e a pôs sobre os setenta anciãos. Apenas repousara o espírito sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram". (Nm 11,25).
c) Ele enchia alguém - "Eu o enchi do espírito divino para lhe dar sabedoria, inteligência e habilidade para toda sorte de obras." (Ex 31,3).
Aparentemente isto sucedia até mesmo no caso dos profetas, embora seja seguro pensarmos que os homens mais profundamente espirituais daquele período possuíam o dom do Espírito por tempos mais dilatados que o comum - "Porventura não fez ele um só ser com carne e sopro de vida? E para que pende este ser único, senão para uma posteridade concedida por Deus? Tende, pois, cuidado de vós mesmos, e que ninguém seja infiel à esposa de sua juventude". (Ml 2,15); “Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu santo Espírito”. (Sl 51-11). Nos tempos do 1.º Testamento o Espírito Santo não habitava permanentemente no crente, conforme sucede aos crentes do 2.º Testamento, como é claramente ensinado nas Escrituras. Contudo já se predizia claramente a gloriosa obra futura do Espírito Santo:
a) Habitando diretamente no Messias prometido - “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor" (Lc 4,18-19).
b) Atuando de forma geral e diversa na vida do crente - "Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Dentro de vós meterei meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus preceitos". (Ez 36,26-27).
c) Permanecendo com os convertidos - "Mas virá como redentor a Sião, e aos filhos arrependidos de Jacó - Oráculo do Senhor. (Eis minha aliança com eles, diz o Senhor: meu espírito que sobre ti repousa, e minhas palavras que coloquei em tua boca não deixarão teus lábios nem os de teus filhos, nem os de seus descendentes, diz o Senhor, desde agora e para sempre)". (Is 59,20-21).
d) Transformando e vivendo no coração do homem crente - "quando eu meter em vós o meu espírito para vos fazer voltar à vida e quando vos hei de restabelecer em vossa terra. Sabereis então que sou eu o Senhor, que o disse e o executei - oráculo do Senhor". (Ez 37,14)
Marco antonio Lana (Teologo)
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