A cruz de Cristo tem voz. Através dela, Deus está falando ao mundo. Pois o Deus que é espírito tem, na Palavra, o seu principal instrumento de auto-revelação ao homem. O que Deus está revelando de si mesmo ali na cruz? Dentre tantas coisas, cremos que as principais são sua glória, sua justiça e seu amor.
I. A CRUZ REVELA A GLÓRIA DE DEUS.
O termo glória oferece um dos exemplos mais claros da mudança do sentido de uma palavra grega quando se submeteu à influencia da Bíblia. O significado básico de doxa (“glória”, no grego secular) é “opinião”, “conjectura”. O sentido desta palavra tem uma gama variações, desde a opinião acerca de uma pessoa ou coisa que estou disposto a defender, até o valor de outras pessoas atribuem a mim, isto é, “reputação”, “louvor”. O termo ocorre 165 vezes no Segundo Testamento e é traduzido por “honra”, “fama”, “reputação”, “esplendor”, “fulgor”, “gloria”.
No Primeiro Testamento, a glória de Deus se rebela na natureza – “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.” Sl 19,1; e na historia de Israel (Sl 97,2-6; Is 35,2; 40,5) a nação redimida.
No Segundo Testamento, a glória está totalmente associada a Jesus Cristo. O versículo chave desta lição - "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade". (Jo 1,14) confirma isto e o próprio \Jesus referiu-se à sua morte como um ato de glorificação a Si e ao Pai. O autor aos hebreus ensina-nos que o Filho é o "Resplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus," (Hb 1,3). A expressão indica que ninguém expressa melhor o brilho de Deus que o próprio Deus Unigênito. Em três ocasiões distintas Jesus se referiu a sua morte como hora de glorificação.
Þ Em resposta ao pedido de alguns gregos que procuravam vê-lo, Jesus disse - "Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado". (Jo 12,23).
Þ Assim que Judas deixou o cenáculo e entrou na noite, Jesus disse - "Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele". (Jo 13,31).
Þ Na oração sacerdotal ele disse –
Estas três passagens têm em comum dois fatos
Þ A presença do termo “gloria ou hora” que, de acordo com o contexto, refere-se claramente à crucificação;
Þ A glorificação será do Pia e do Filho juntos.
Mas o que a cruz irradia? Olhando para Rm 3,25-26; 5,8 podemos concluir que Deus, em Cristo, nos deu uma demonstração clara e pública da sua justiça e do seu amor.
II. A CRUZ REVELA A JUSTIÇA DE DEUS – Rm 3,21-26.
“A cruz demonstra com igual viveza junto a justiça de Deus em julgar o pecado como a Sua misericórdia em justificar o pecador” – Stott.
Þ Onde esta a justiça de Deus neste mundo?
Esta famosa pergunta tem atravessado séculos e séculos. “Porque os ímpios prosperam e os inocentes sofrem?” Os justos parecem guardar, em vão, a sua integridade! É a Tonica do Sl 73. homens e mulheres têm procurado encontrar sinais da presença da justiça de Deus em situações de desgraças e calamidades.
· Olhando para o juízo final, onde todas as coisas serão julgadas à luz da justiças de Deus. Isto significa que pecados serão finalmente tratados (Mt 16,27; 2Cor 5,10; 1Pe 1,17; Ap 20,12; 22,12). Preste atenção! Os desequilíbrios da justiça só serão totalmente corrigidos no juízo final. Antes disso, deixe que Deus seja Deus, e não procure encontrar justiça em um mundo que “jaz no maligno”.
· Olhando para o juízo decisivo realizado na cruz. O apóstolo Paulo disse aos atenienses - "Porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para isso destinou. Para todos deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos". (At 17,31).
Þ De que maneira a cruz revela a justiça de Deus?
Paulo, o mestre e doutrinador da Igreja do Senhor, nos responde em dois textos:
· Rm 3,21-23: “Mas, agora, sem o concurso da lei, manifestou-se a justiça de Deus, atestada pela lei e pelos profetas. Esta é a a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo, para todos os fiéis (pois não há distinção; com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus)”. A idéia central é dupla:
o A justiça é “de” Deus, a ênfase recai sobre a posse. Ou seja, como a justiça é dEle, e nós não temos a nossa própria por falta de méritos e pela natureza pecaminosa, precisamos lançar mão do caminho que Deus escolheu para revelar a sua justiça. E ela é “sempre lei” porque a função da lei é condenar, e não justificar.
o A justiça de Deus é a posição justa que Ele concede aqueles que crêem em Cristo. Então, a justiça de Deus é “o modo justo de Deus justificar os injustos”.
· 1Cor 1,30: “É por sua graça que estais em Jesus Cristo, que, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção.” Paulo afirma que “Jesus Cristo se formou da parte de Deus... justiça...”.
Em Rm 3,25 lemos - "Deus o destinou para ser, pelo seu sangue, vítima de propiciação mediante a fé. Assim, ele manifesta a sua justiça; porque no tempo de sua paciência, ele havia deixado sem castigo os pecados anteriores". (Rm 3,25). Eis um texto bíblico que mostra claramente que a justiça é manifestada na cruz. Portanto, os olhos da humanidade devem se voltar para o Calvário quando estiverem perguntando pela justiça de Deus.
III. A CRUZ REVELA O AMOR DE DEUS.
O espaço dedicado à justiça de Deus na cruz precisava dr maior dentro desta lição por tudo que você mesmo apreendeu. Todavia, as indagações humanas persistem. Oi seja, como conciliar o amor de Deus com tragédias pessoais, inundações e terremotos, acidentes que tiram centenas de vida, fome e pobreza em várias partes do mundo, a tirania e a tortura, a doença e a morte e, finalmente, com os ataques terroristas nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 – que abalaram o mundo. Onde esta o amor de Deus neste momento?
Þ A declaração de Paulo a respeito do amor de Deus.
A resposta está em Rm 5,8 - "Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós". (Rm 5,8) – Portanto, o amor de Deus é evidenciado na cruz de Cristo.
Mas você ainda pode estar pensando que a cruz não responde às perguntas levantadas acima! De fato, porque o propósito da cruz nunca foi responder às calamidades e tragédias da vida humana.
O apóstolo Paulo diz - "Porque o mistério da iniqüidade já está em ação, apenas esperando o desaparecimento daquele que o detém". (2Ts 2,7).
O tempo do verbo grego é o presente do indicativo, o que significa duas coisas: ação concreta e atualidade. Sendo assim, muitos acontecimentos trágicos fazem parte das “coisas encobertas que pertencem ao Senhor” – "O que está oculto pertence ao Senhor, nosso Deus; o que foi revelado é para nós e para nossos filhos, para sempre, a fim de que ponhamos em prática todas as palavras desta lei". (Dt 29,29); "Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai". (Mt 24,36).
Þ A confirmação de João a respeito do amor de Deus.
João deixa o assunto bem claro – "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele". (1Jo 4,9).
Encerramos este tópico com a seguinte frase:
“O valor de um dom de amor é medido tanto pelo que custa a quem dá como pelo grau de merecimento de quem recebe” – Stott.
Por isso, lembre-se que Cristo morreu por nós, “sendo nós ainda pecadores” (Rm 5,8). Ainda resta alguma dúvida do amor de Deus por nós?
IV. A CRUZ REVELA A SABEDORIA E O PODER DE DEUS.
A última consideração que queremos fazer sobre a revelação de Deus na cruz é a sabedoria e o poder. Mas de que maneira a cruz revela a sabedoria e o poder de Deus? A cruz não era um instrumento de vergonha, humilhação e condenação para os malfeitores?
O texto bíblico básico para responder às questões acima é 1 Cor 1,18-2,5, porque este é o tema principal desta passagem. Na verdade, o apóstolo Paulo está contrastando a sabedoria do mundo com a sabedoria e o poder de Deus. "Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria;" (1 Cor 1,22). Mas a sabedoria e o poder que Paulo tem para apresentar a judeus e gregos é a cruz de Cristo. O que para os judeus é “escândalo” e para os gentios (ou gregos) é “loucura” – "mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos;" (1 Cor 1,23). Nem por isso o apóstolo vai alterar sua mensagem. Por quê? Por três razões.
Þ A mensagem da cruz é o centro da pregação apostólica.
· "Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o Evangelho; e isso sem recorrer à habilidade da arte oratória, para que não se desvirtue a cruz de Cristo". (1Cor 1,17).
· “A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria; eram, antes, uma demonstração do Espírito e do poder divino, para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” (1Cor 2,4-5).
Þ O mundo jamais conhecerá a Deus pela sua própria sabedoria.
· "Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem". (1Cor 1,21).
· "Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14)". (1Cor 1,19). O profeta Isaias é citado por Paulo afirmando que Deus já havia declarado a sua intenção de destruir a sabedoria do sábio e frustrar a inteligência dos entendidos. Quem quiser conhecer a Deus deve optar em andar pelo caminho que Ele mesmo escolheu. O próprio crucificado afirmou - "Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim". (Jo 14,6).
Þ A razão da crucificação de Cristo revela sabedoria e poder de Deus.
Já conhecemos todos os benefícios que advêm da cruz aos pecadores. A obra única, completa e perfeita do Filho de Deus demonstra a eficácia e a eficiência da crucificação – leia Hb 9,23-28 –. Se houvesse alguma falha nesta obra, ai sim, poderia se dizer que faltou sabedoria ou poder de Deus, mas como isto não aconteceu, ou seja, "A morte foi tragada pela vitória (Is 25,8). Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão (Os 13,14)?" (1Cor 15,55), tal fato não aconteceu.
“Os valores divinos e os valores humanos discordam completamente um do outro. E a cruz que, como meio de salvação,parece o auge da impotência e estultícia, na realidade é a maior manifestação da sabedoria e do poder de Deus” – Stott.
Resumindo, Deus não queria “ler na cartilha” do mundo ao demonstrar sabedoria e poder. Por quê? – "Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens". (1 Cor 1,25).
CONCLUINDO
“Quando olhamos para a cruz vemos a justiça, o amor, a sabedoria e o poder de Deus. Não é fácil determinar qual desses aspectos é mais brilhantemente revelado, se a justiça de Deus ao julgar o pecado, se o amor de Deus ao levar o castigo em nosso lugar, se a sabedoria de Deus em combinar com perfeição as duas coisas, ou se o poder de Deus em salvar aqueles que crêem. Pois a cruz é, de igual forma, um ato, e portanto uma demonstração da justiça, do amor e da sabedoria de Deus. A cruz nos assegura que esse Deus é a realidade dentro, por trás e além do universo” – Stott.
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