quinta-feira, 20 de setembro de 2012

DOUTRINA DA IGREJA - LIÇÃO 03 – A NATUREZA DA IGREJA

 

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.” 1Pd 2,9-10.

            I.      INTRODUÇÃO.

Em 1Pedro 2,9-10 o apóstolo vê a Igreja como grupo, como comunidade, dando uma descrição da “identidade corporativa” dos cristãos. Ele vê a Igreja como um corpo. As palavras usadas para descrever essa identidade foram usadas no AT para o povo de Israel (“Agora, pois, se atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.” Ex 19,5-6). Pedro mostra que a nação escolhida não mais será limitada aos descendentes físicos de Abraão. Judeus e gentios compartilham, por igual, da mesma família da fé, quando crêem em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Esta lição nos ensina a cerca da natureza e privilegio da Igreja.

         II.      O QUE É IGREJA – 1Pd 2,9-10.

Vós, porém...” Nos versículos 1 a 8 Pedro estabelece um contraste entre aqueles que obedecem a Palavra e os que não a obedecem; entre os que aceitam e os que rejeitam a Cristo (1Pd 1,22; 2,8). Daí o motivo de ele começar o versículo 9 com uma conjunção adversativa – “porem”.

Cada descrição feita pelo autor revela uma face da natureza da igreja, respondendo a pergunta: O QUE É A IGREJA.

1.      Raça eleita (1Pd 2,9ª).

No grego é genos eklekton – “Povo escolhido”. A humanidade está dividida em varias raças, e muitas sentem orgulho pelos seus ancestrais e os feitos no presente. A Igreja deve sua existência ao fato de Deus a ter escolhido. Isso nos remete a Deuteronômio 7,7-8 – “O Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo; mas, porque o Senhor vos amou, e porque quis guardar o juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” – Todos os méritos da existência da Igreja devem ser dados ao Senhor que a elegeu.
2.      Sacerdócio real (1Pd 9b).

O sacerdote era alguém que ocupava uma posição honrosa e de responsabilidade, e que estava revestido de autoridade sobre outros. O sacerdote era representante do homem perante Deus. Tinha o especial privilégio e responsabilidade de aproximar-se de Deus, e de falar e agir em favor do povo.

Aqui ainda é acrescentado algo novo a este sacerdócio: é um sacerdócio real. É real porque serve ao Rei, e assim participa da sua natureza real. É real porque é serviço em prol do Reino de Deus. No livro do Apocalipse, os cristãos são apresentados como participantes da realeza de Cristo (Ap 1,6; 5,10; 20,4.6; 22,5; cf. 2Tm 2,12).

“Esses filhos do Rei não devem viver ocasionalmente nem exultar com a glória da sua honra. Antes, são vocacionados para o ministério pontificial (do latim, ponte “mediador”). A missão sacerdotal de Israel na velha aliança que Deus constituiu como nação foi a de servir de ponte entre o Todo-Poderoso e as nações do mundo – (“... e vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa...” Ex 19,6). Hoje, todo os que participam do sacerdócio em virtude de sua adoção na família real de Deus devem servir mediante a intercessão (a ponte da oração), mediante a evangelização (a ponte da comunicação), mediante o serviço (a ponte da realização) e mediante a demonstração do amor de Deus na pratica” (Russell Shedd – Nos Passos de Jesus, Edições Vida Nova, pg 45-46.

3.      Nação santa (1Pd 2,9c).

A palavra nação refere-se a um grupo de pessoas, isto é, um conjunto de pessoas que pertencem a uma comunidade humana por falarem a mesma língua e compartilharem uma cultura e uma história comum. Aos Efésios, o apóstolo declarou que a Igreja tem “um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos.” – Ef 4,5-6. Sendo assim, a Igreja compartilha de muitas coisas em comum e, por isso, pode ser chamada de nação.

Essa nação é “santa” porque o Deus que a escolheu é Santo. A idéia bíblica de santidade de Deus é dupla. Primeiro, Ele é absolutamente distinto de todas as Suas criaturas e exaltado sobre elas em infinita majestade (“Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma na presença de Deus; porque Deus está no céu, e tu estás sobre a terra; portanto sejam poucas as tuas palavras.” Ecl 5,2); segundo, Ele não tem comunhão com o pecado (Jó 34,10; Hc 1,13; 1Jo 1,5).

Desde a muito o Senhor vem dizendo ao Seu povo que Sua vontade é que ele seja santo – separado (Lv 19,1-2; 2Cor 6,17-7,1; 1Ts 4,3; 1Pd 1,13-16).

4.      O povo de propriedade exclusiva de Deus (1Pd 2,9d).

Quando é que algo nos pertence? Quando ganhamos, herdamos ou compramos este “algo”. Certo? Seguindo essa idéia, a Igreja é propriedade do Senhor  porque Ele a comprou; não com ouro ou prata, mas com seu precioso sangue (1Pd 1,18-19; 1Cor 6,19-20; 7,23; Gl 3,13; 4,5; Cl 1,13-14; Ap 5,9). “... aqueles que foram comprados da terra. - Ap 14,3, de maneira que eles se tornam propriedade de Deus, livres da escravidão do pecado e da morte, do mal e do sofrimento que importunou a sua existência terrena. O preço da compra é o sangue de Cristo” (George Ladd, Apocalipse, Introdução e Comentário, p.70).

O Senhor Jesus Cristo disse: “Pois também eu te digo que tu és Pedro (pedra), e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...” – Mt 16,18). Portanto não pertencemos a nós mesmos.

5.      Povo de Deus pela misericórdia de Deus (1Pd 2,10)

Russell Shedd escreveu: “Nenhum pecador perdoado pode absolutamente imaginar que alguma virtude em si mesmo ou boas ações de sua parte poderiam explicar por que Deus o levantou do poço da iniqüidade para ser lavado e vestido como príncipe. De fato, a iniciativa de nossa salvação pertence inteiramente a Deus”. “No principio Deus...” – Gn 1,1; “Mas Deus...” – Ef 2,4. Toda a obra de salvação é sempre uma iniciativa de Deus.

“...Misericórdia” – “Receber” misericórdia é tradução melhor d que “alcançar” misericórdia. Os poetas de Israel não se cansavam de repetir que a misericórdia do Senhor dura para sempre (cf. Sl 136). O profeta Jeremias declarou que as misericórdias são a “causa de não sermos consumidos” – Lm 3,22-23. De Fato, é a misericórdia divina que confere aos homens amplas participação na salvação. Calvino escreveu: “Não há qualquer outra razão pela qual o Senhor conta o seu povo, exceto que Ele, tendo tido misericórdia d nós, nos adotou por sua graça”.

     III.      A MISSAO DA IGREJA – 1Pd 2,9b.

Outras lições deste estudo vão tratar especificamente sobre este assunto. Todavia, quero apenas confirmar a famosa expressão: “Todo grande privilegio é seguido por uma enorme responsabilidade”. Ou nas palavras de Jesus: “... há quem muito se deu, muito se exigirá” – Lc 12,48. Então, na visão de Pedro, qual é a principal tarefa da Igreja?

“... a fim de proclamardes as virtudes...” – Proclamar é propagar, anunciar. A palavra tem a força adicional de declarar coisas desconhecidas (Chave Lingüística, p.557). Virtudes, no grego, é arete, que significa “excelência moral”, “os feitos maravilhosos de Deus”. “Seus atos poderosos”.

“...maravilhosa luz” – a palavra significa admirável, notável, aquilo que causa admiração e respeito, devido à sua grandiosidade, poder ou raridade , Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo” – Jo,812. E Ele mesmo disse a seus discípulos: “vós sois a luz do mundo”  - Mt 5,14. Portanto, não podemos ser negligentes, preguiçosos ou relutantes em proclamar atributos tão louváveis. O Apóstolo Paulo não se envergonhou de anunciar o evangelho em Roma porque afirmou que ele é o poder, a salvação e a justiça de Deus para todo aquele crê (“Com efeito, não me envergonho do Evangelho, pois ele é uma força vinda de Deus para a salvação de todo o que crê, ao judeu em primeiro lugar e depois ao grego. Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé, como está escrito: O justo viverá pela fé (Hab 2,4).” -  Rm 1,16-17).

       IV.      CONCLUSÃO.

A Igreja do Senhor Jesus Cristo precisa conhecer melhor a sua verdadeira identidade. Uma das coisas belíssimas que nos acontecem por pertencermos a Igreja é o reconhecimento de que somos escolhidos. Você não é deixado de fora, está dentro. O Senhor escolheu você também. Quando o anjo contou a Jose que o Espírito Santo era o responsável  pela gravidez de Maria, ele ordenou que fosse dado a criança o nome de Jesus  - versão grega de Josué no AT que significa “O SENHOR  é Salvador”. Esse nome tinha um significado especial, explicou o anjo porque Jesus “salvará seu povo dos pecados deles” Mt 1,21.

Marco Antonio L

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