O livro de Judas é uma epístola breve, mas poderosa, que aborda temas cruciais como a defesa da fé cristã, a promoção da santidade, e a condenação de heresias. O capitulo único deste livro apresenta uma série de advertências contra falsos mestres e uma exortação à perseverança na fé.
O tema central da epístola de Judas é a defesa da fé verdadeira contra as contestações e distorções que surgem no meio da comunidade cristã. Judas enfatiza:
1. A urgência da defesa da fé: A necessidade de estar em alerta e combater a heresia.
2. Os perigos do pecado: Exemplos históricos que ilustram as consequências de se afastar de Deus.
3. A esperança da salvação: A certeza de que aqueles que permanecem em Cristo serão preservados.
O livro de Judas é geralmente datado entre 70 e 90 d.C. durante um tempo em que as comunidades cristãs estão cada vez mais ameaçadas por heresias e imoralidades. Judas, Irmão de Tiago e provavelmente meio-irmão de Jesus, escreve para uma audiência cristã que se vê cercada por falsos mestres
Culturalmente, o ambiente era caracterizado por uma mistura de pensamentos filosóficos, que promovia conhecimento secreto e uma dualidade entre o corpo e o espírito, começou a influenciar certas seitas que se diziam cristãs. Judas visa confrontar essa influencia, enfatizando a importância da fé nas verdades fundamentais do cristianismo.
No versículo 14, Judas menciona a profecia de Enoque, que antevê o julgamento de Deus sobre os ímpios. Isto é significativo, pois liga a mensagem de Judas à tradição profética e estabelece um paralelo escatológico entre a condenação do passado e o juízo final que aguarda aqueles que rejeitam a verdade. A inclusão de referências a acontecimentos históricos como a destruição de Sodoma e Gomorra reforça a certeza do juízo divino.
Esse livro podemos dividi-lo em:
1. Saudações ( vs 1-2)
Judas,
servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos que foram chamados, amados por Deus
Pai e guardados por Jesus Cristo:
(v
1) O autor se identifica como sendo
Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago. Pelos menos seis pessoas são
chamadas por este nome no Novo Testamento, mas o que mais se identifica é o
Judas irmão de Tiago, chamado também de “Tiago irmão do Senhor” (Gl 1.19), o
mesmo Tiago autor da Carta que leva seu nome. Portanto, o Judas aqui referido
tratava-se de um meio irmão de Jesus. O fato de Judas não se identificar como
irmão do Senhor Jesus, mas sim como servo, demonstra sua completa sujeição ao
Senhorio de Cristo, como também destaca sua condição de humildade.
A
carta de Judas é destinada aos amados em Deus Pai, e guardados em Jesus Cristo.
Esta carta foi, sem dúvida, dirigida a uma igreja local específica, ou mais
propriamente a um grupo específico; os que permaneciam fieis a Cristo apesar de
todas as influências negativas evidenciadas naquela igreja. A epístola de Judas
é a Escritura do Novo Testamento mais desconhecida dos cristãos modernos, o que
é muito lamentável, pois a mais bela bênção a ser encontrada em toda a
literatura se acha nesta pequena epístola: "Ora, àquele que é poderoso
para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos ante a sua glória imaculados e
jubilosos, ao único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo, nosso Senhor,
glória, majestade, domínio e poder, antes de todos os séculos, e agora, e para
todo o sempre. Amém" (Jd 24-25).
As
expressões “amados em Deus pai e guardados em Jesus Cristo” comportam um
significado que vai além da simples força de expressão ou daquilo que elas
aparentam possuir: a preposição “em” introduz uma significação mais
profunda que serve como ponto de partida para a introdução de todo conteúdo da
carta. A preposição “em” coloca a ação na mão de cada crente em vez de
Deus: isso é: “aos que permanece no amor de Deus pai” e “se mantém
guardados em Cristo”.
(v
2) Misericórdia, paz e amor vos sejam multiplicados.
Apesar
de ser uma saudação aparentemente comum nas cartas dos apóstolos, a presente
saudação de Judas (v2) chama a atenção dos seus leitores para a realidade que
será revelada no transcorrer de sua breve premissa. A abundância de
misericórdia, paz e amor seriam fundamentais para os manterem unidos e firmes
no Senhor, como seria fundamental para que socorressem alguns, que dentre eles
estavam sendo arrastados para perdição.
2. Propósito da escrita (vs 3-4)
(v
3) Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para escrever-vos acerca
da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos escrever, exortando-vos
a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos.
A
maneira como Judas inicia seu comentário revela um aspecto importante do seu
propósito de escrever-lhes. Judas parece afirmar que pretendia escrever-lhes
uma palavra de consolo, de conforto espiritual ou ainda uma palavra que lhes
traria maior convicção quanto a sua salvação em Cristo Jesus, mas que depois de
haver estado a par da verdadeira realidade que eles viviam naquele momento foi
forçado a escrever-lhes uma palavra de exortação, de despertamento. O tema é “a
defesa da fé que uma vês foi dada aos santos” (v 3b).
(v
4) Pois certos homens, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo,
infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios, e
transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso
único Soberano e Senhor
Judas
inicia no (v 4) a exposição do problema principal que o levou a escrever aos
seus leitores uma palavra de exortação em vez de consolo, “Porque se
introduziram furtivamente certos homens”. Estes supostos crentes se
destacaram na igreja local em relação aos demais, mas não de forma positiva,
relacionando-se a maturidade cristã, ou a edificação espiritual dos mesmos, mas
sim, negativamente. Tornaram-se mestres do engano (Da mesma forma, estes
sonhadores contaminam seus próprios corpos, rejeitam as autoridades e difamam
os seres celestiais. v 8) ou do disfarce. Eram tão peritos nisso que
conseguiram formar um grupo de pessoas que não consideravam os principais
fundamentos da fé evangélica.
Como
menciona Judas, àqueles supostos crentes eram homens ímpios, cujo alvo
principal era dissolver a graça de Cristo, tornando-a nulo, e o próprio
senhorio de Cristo. O termo “dissolução” sempre aparece na Bíblia
relacionada às práticas sexuais ilícitas. Em algumas versões como a (NVI) e
(Edição Pastoral) ela é traduzida por “libertinagem” na Bíblia de
Jerusalém é traduzida por “licenciosidade”. A libertinagem aparece em Gálatas
5.19-21 (Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem,
idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões,
facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como
antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão o Reino de
Deus.) como uma das obras da carne, ou da natureza humana caída. Em algumas
versões ela é também traduzida por “lascívia” ou sensualidade.
Esses homens ímpios que haviam se introduzido furtivamente no contexto daquela
igreja era homens que estavam envolvidos com práticas sexuais ilícitas, e
viviam como se tais práticas fossem normais, invalidando assim a graça de
Cristo.
O
outro alvo daqueles supostos crentes era combater o senhorio de Cristo,
rejeitando assim o próprio Jesus. O termo “soberano” aparece traduzido
por “dominador” em algumas bíblias; na Bíblia de Jerusalém é traduzido
por “mestre”. A palavra é citada juntamente com o termo Senhor, “nosso
único Soberano e Senhor, Jesus Cristo, portanto não pode ser um sinônimo
daquele. Ele tem paralelo com o termo “dominação” que aparece no versículo
8b. Dominação tem o sentido de “poder absoluto”, isso é, não
simplesmente alguém que tem autoridade ou que foi revestido de autoridade por
outrem superior ao assumir certa posição ou encargo, mas aquele que tem todo
poder, e isso só pode ser uma referência ao domínio espiritual de Cristo, sobre
tudo e todos, inclusive sobre as autoridades espirituais do mal.
3. Exemplo de julgamento (vs 5-7)
(v
5) Embora vocês já
tenham conhecimento de tudo isso, quero lembrar-lhes que o Senhor libertou um
povo do Egito, mas, posteriormente, destruiu os que não creram.
Judas
introduz aqui o tema referente ao o juízo de Deus sobre esses homens ímpios.
Para reforçar sua palavra Judas se utiliza de alguns exemplos encontrados na
Bíblia, para que sua palavra não se baseasse em teses ou suposições, mas na
Soberana, Infalível e Eterna Palavra de Deus. O primeiro exemplo foi o dos
incrédulos do tempo de Moisés que apesar de terem sido testemunhas de todas as
maravilhas de Deus realizadas no Egito, não continuaram acreditando em sua
providencia no deserto, na posse da terra da Promessa. A expressão “os que
não creram” pode ser traduzida por “os que não continuaram acreditando”.
Todos os homens incrédulos morreram no deserto, com exceção de Josué e Calebe.
No deserto Deus aplicou o juízo sobre eles e foram todos consumidos.
(v
6) E aos anjos que não conservaram suas posições de autoridade mas
abandonaram sua própria morada, ele os tem guardado em trevas, presos com
correntes eternas para o juízo do grande Dia.
O
segundo exemplo citado por Judas foi o dos anjos que pecaram provavelmente nos
tempos de Noé. Esta citação não consta nos livros canônicos, portanto são
desconhecidos dos cristãos modernos. Elas foram extraídas segundo os estudiosos
do livro apócrifo de Enoque. Pelo que parece este livro era bem conhecido dos
contemporâneos de Judas. Ele não cita fonte, simplesmente faz menção do fato.
Alguns identificam esse incidente, “a queda destes seres angelicais” com
o relato citado em Gênesis 6.1-2 (Quando os homens começaram a
multiplicar-se na terra e lhes nasceram filhas, os filhos de Deus viram que as
filhas dos homens eram bonitas e escolheram para si aquelas que lhes agradaram.)
onde os filhos de Deus coabitaram com as filhas dos homens. Desta união mista
surgiram os gigantes. No versículo 6 duas expressões chaves se destacam e
merecem ser enfatizadas em nosso estudo “não guardaram o seu principado”
e “deixaram a sua própria habitação”.
A
primeira expressão é traduzida na NVI como “não conservaram suas posições de
autoridade” e a segunda “abandonaram sua própria morada”. Na ARA é “não
guardaram seu estado original” e “mas abandonaram seu próprio domicílio”.
Bíblia de Jerusalém “Não conservaram sua primazia” e “Abandonaram suas
moradas” As versões ou traduções da Bíblia citadas acima usam termos
diferentes para designar as expressões acima, principalmente a primeira.
O
sentido exato da primeira expressão seria “não guardaram sua posição
original de autoridade” e a segunda realmente significa “morada,
domicílio, casa”. O versículo 6 deve ser melhor interpretado a luz do
versículo seguinte, “De modo semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as
cidades em redor se entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais.
Estando sob o castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo.” esta parte
do versículo 7 parece sugerir que aqueles anjos aprisionados cometeram o pecado
de prostituição. A expressão “ido após outra carne” indica que aqueles
anjos procuravam um corpo para possuir e isso ocorreu antes do dilúvio. Quando
os filhos de Deus tiveram relações com as filhas dos homens estavam sob
influência destes espíritos o que resultou numa mutação genética grandiosa,
surgindo assim a raça dos gigantes.
(v
7) De modo semelhante a estes, Sodoma e Gomorra e as cidades em redor se
entregaram à imoralidade e a relações sexuais antinaturais. Estando sob o
castigo do fogo eterno, elas servem de exemplo.
O terceiro exemplo citado por Judas é o de
Sodoma e Gomorra e cidades circunvizinhas. O pecado destas pessoas foi tão
grave que o Senhor resolveu destruir a todos. O pecado que marcava a vida dos
habitantes daquelas cidades eram a prostituição em suas múltiplas formas. O
sodomismo é a prática sexual entre pessoas do mesmo sexo. Este pecado era
praticado pelos habitantes de Sodoma, Gomorra e cidades circunvizinhas o que
levou Deus a julgá-los com tamanho juízo. O termo sodomismo é derivado de
Sodoma a principal cidade da destruição. Aqueles homens ímpios também estavam
envolvidos com essas práticas. Por isso Judas fez questão de mencionar o pecado
principal que levou Deus a destruir aquelas cidades. Deus não mudou, portanto o
mesmo juízo Ele reserva para aqueles que praticam tais iniquidades.
4. caracterização dos ímpios (vs 8-10)
(v
8) Da mesma forma, estes sonhadores contaminam seus próprios corpos,
rejeitam as autoridades e difamam os seres celestiais.
Judas
afirma que aqueles supostos crentes, eram tão influentes que se tornaram
líderes da comunidade, ou mestres. A semelhança dos anjos, estes falsos mestres
contaminaram sua carne, e “rejeitavam toda a autoridade e blasfemava das
dignidades”. A ARC traz aqui “e rejeitam a dominação, e vituperam as
autoridades”. A Bíblia de Jerusalém traduz “desprezam a Autoridade e
injuriam as Glórias”; “rejeitam governo e difamam autoridades superiores”
(ARA). Edição Pastoral, “desprezando o senhorio de Cristo e
insultando seres gloriosos”. Os termos usados pelas versões para traduzir
esta frase variam consideravelmente, contudo, podemos encontrar algum
paralelismo entre elas. Dentre as versões Bíblicas a que mais se distancia do
sentido exato da expressão é sem dúvida a NVI. O primeiro termo “dominação,
autoridade” sempre é traduzido no singular e jamais no plural o que torna a
NVI menos provável, pois usa a expressão “autoridades”. A melhor das
traduções, por apresentar o melhor sentido é a Edição Pastoral, ela traz “desprezando
o senhorio de Cristo e insultando seres gloriosos”. Aqueles supostos
crentes tinham com missão primordial combater a autoridade de Jesus em sua
Igreja. Portanto, rejeitavam tudo que emanasse Dele, sua graça (v 4), bem como
as autoridades construídas por Ele, tanto as do mundo físico quanto as dos
mundo espiritual.
(v
9) Contudo, nem mesmo o arcanjo Miguel, quando estava disputando com o diabo
acerca do corpo de Moisés, ousou fazer acusação injuriosa contra ele, mas
disse: "O Senhor o repreenda! "
Mas
quando o Arcanjo Miguel, discutindo com o Diabo, disputava a respeito do corpo
de Moisés, não ousou pronunciar contra ele juízo de maldição, mas disse: O
Senhor te repreenda. Aqueles falsos mestres blasfemavam de tudo inclusive
da própria autoridade de Satanás, coisa que nem mesmo o Arcanjo Miguel “príncipe
do Povo de Deus” teve a ousadia de fazer, antes recorreu à autoridade
maior, aquele próprio que o havia constituído, isso é; Deus. Contudo, não
estamos com isso dizendo que Deus constituiu Lúcifer como Tentador, mas como o
próprio termo significa, “Anjo de luz”. Apesar de ter se rebelado contra
Deus, Lúcifer não deixou de ser uma autoridade constituída por Deus, pois ainda
continua sendo servo de Deus, estando sob sua autoridade.
(v
10) Todavia, esses tais difamam tudo o que não entendem; e as coisas que
entendem por instinto, como animais irracionais, nessas mesmas coisas se
corrompem.
Quanto
menor nossa dependência de Deus, maior será nossa dificuldade em entender as
coisas de Deus. Esses mestres estavam totalmente alheios a vida de Deus, por
isso eram ignorantes, sem conhecimento, e por isso blasfemavam de tudo. Eram
tão insensíveis que nem mesmo as coisas naturais, ou as de alcance comum eram
por eles compreendidas, por isso são chamados aqui de animais irracionais, ou
bestas. Eram, na verdade, ainda piores que os animais irracionais pois os tais
agem geralmente por instinto natural e por isso são previsíveis, aqueles, no
entanto, eram totalmente imprevisíveis na prática do mal.
5. Exortação à resistência (vs 11-13)
(v
11) Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim, buscando o lucro, caíram no
erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá.
Judas
cita o nome de três dos principais pecadores ou ímpios da Bíblia, comparando
aos falsos crentes que vem tratando.
Caim cometeu o primeiro homicídio na Bíblia,
levantou-se contra seu irmão e o matou. O que levou Caim a cometer tal prática
foi a inveja e ódio que dominava seu coração (Disse, porém, Caim a seu irmão
Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão
Abel e o matou. - Gn 4.8). O caminho de Caim é o caminho dos invejosos,
ignorantes, homicidas, etc.
Balaão era adivinho. Um falso profeta que foi
convocado por Balaque para amaldiçoar o povo de Israel (Nm 22). O prêmio
de Balaão é o presente oferecido por Balaque para que Balaão amaldiçoasse o
povo de Israel. Esse prêmio representa o mercenarismo nas igrejas que leva as
pessoas a fazerem a obra de Deus por motivos egoístas.
O
terceiro personagem ímpio citado por Judas foi Corá. Corá era um levita,
trabalhava auxiliando os sacerdotes nos serviços da tenda, mas desejava ser o
líder ou chefe do povo em lugar de Moisés e Arão. Este, associando-se a Datã e
Abirão, levantaram um grande motim contra Moisés e Arão, desencadeando uma
forte rebelião contra Deus e contra sua autoridade constituída. Em seu Juízo
contra Corá, Datã, e Abirão, Deus fez com que a terra abrisse sua boca e os
consumissem vivos. Quantos aos demais rebeldes Deus fez com que fogo do céu
descesse e consumisse a todos (Nm 16.1ss)
(vs
12-13) Esses homens são rochas submersas nas festas de fraternidade que
vocês fazem, comendo com vocês de maneira desonrosa. São pastores que só cuidam
de si mesmos. São nuvens sem água, impelidas pelo vento; árvores de outono, sem
frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz. São ondas bravias do mar,
espumando seus próprios atos vergonhosos; estrelas errantes, para as quais
estão reservadas para sempre as mais densas trevas.
No
versículo (12), Judas torna mais específica a designação daqueles supostos
crentes. Ele inicia descrevendo-os apenas como “certos homens (v 4)”,
depois como “estes falsos mestres”, e por último como “pastores que
se apascentam a si mesmos”. Estes homens ímpios estavam sempre presentes
nas festas de fraternidade, e o incrível é que a eles eram dadas sempre a
primazia entre os irmãos. Judas usa várias figuras para ilustrar a condição
repreensível daqueles homens.
1
- Nuvens sem água, que o vento leva de um lado para o outro. Significa a
instabilidade daqueles homens.
2
- Árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desraigadas.
Significa a vida infrutífera e insensível deles.
3
- Ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas. As águas
furiosas fazem sair de si as impurezas pelas espumas espessas, isso representa
a impureza moral e espiritual daqueles homens.
4
- Estrelas errantes, para os quais tem sido reservado para sempre o negrume
das trevas. As estrelas errantes podem representar os anjos caídos acima
mencionados, cuja condenação é irrevogável, mas pode literalmente referir-se
aos corpos celestes “astros” dos céus cujo brilho é insignificante por
estarem longe do alcance dos raios solares, ou ainda referir-se os pequenos
corpos celestes que se desencadeiam de sua orbita e se precipitam na escuridão
do abismo.
6. Exortação à fé (vs 14-16)
(vs
14-15) Enoque, o sétimo a partir de Adão, profetizou acerca deles:
"Vejam, o Senhor vem com milhares de milhares de seus santos, para julgar
a todos e convencer a todos os ímpios a respeito de todos os atos de impiedade
que eles cometeram impiamente e acerca de todas as palavras insolentes que os
pecadores ímpios falaram contra ele".
Aqui
mais uma vez Judas se utiliza de uma fonte apócrifa conhecida como o “livro
de Enoque”. Sem dúvida, também era uma literatura de gênero apocalíptica,
de muita circulação naqueles dias. O evento aqui mencionado é uma referência ao
segundo advento de Cristo, designado pelo título de segunda fase da segunda
vinda ou vinda gloriosa de Cristo que se dará no fim da grande Tribulação para
exterminar os inimigos de Israel e implantar o Reino milenar. Os santos
mencionados na profecia de Enoque é sem dúvida, a igreja, que antes foi
arrebatada para estar com Cristo e agora aparece triunfante com Ele. Alguns, no
entanto, prefere identificar esses santos como sendo anjos a serviço Senhor dos
senhores e Rei dos reis, Jesus. Contudo, isso parece ser improvável pelo fato
de este evento ser de Juízo, Condenação e Triunfo. Paulo diz que os crentes um
dia seria dado o privilégio de julgar as nações e mesmos os anjos. Este é, sem
dúvida, um dos textos na Bíblia que anuncia o triunfo de Cristo com sua igreja.
(v
16) Essas pessoas vivem se queixando e são descontentes com a sua sorte,
seguem os seus próprios desejos impuros; são cheias de si e adulam os outros
por interesse.
Judas
torna a mencionar as características negativas daqueles supostos mestre e
acrescenta ainda que eram aduladores ou bajuladores para alimentar suas
intenções egoístas. Viviam uma vida de aparente piedade, mas negavam a eficácia
dela.
7. Encaminhamento dos fieis (vs 17-23)
(vs
17-19) Todavia, amados, lembrem-se do que foi predito pelos apóstolos de
nosso Senhor Jesus Cristo. Eles diziam a vocês: "Nos últimos tempos haverá
zombadores que seguirão os seus próprios desejos ímpios". Estes são os que
causam divisões entre vocês, os quais seguem a tendência da sua própria alma e
não têm o Espírito.
Judas
recomenda seus leitores a recordar solenemente das palavras ou advertências dos
outros apóstolos quanto à manifestação destes falsos doutores. Seriam homens
escarnecedores que andariam segundo seus desejos pervertidos. Eram elementos
estranhos no seio da igreja e responsáveis por destruir a unidade da igreja.
Vs
20-21). Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm, orando
no Espírito Santo. Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam que a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve para a vida eterna.
Judas
apresenta a conduta que os verdadeiros servos de Deus deveriam adotar para não
serem também alvos daquelas armas ardilosas.
1.
Através do crescimento espiritual ou exercício da fé cristã.
2.
Através da constante dependência do Espírito Santo ou entrega pessoal a ele.
3.
Mantendo-se firme no amor de Deus.
4.
Confiando inteiramente na misericórdia de Cristo e sua promessa de salvação.
Estes
dois últimos pontos trazem a memória o tema já anteriormente apresentado por
Judas em sua saudação (v 2), que como já dissemos era uma preparação ao assunto
que seria proposto. A defesa da fé e uma urgente missão de resgate. Isso só
seria possível através das virtudes acima mencionadas.
(v
22- ) Tenham compaixão daqueles que duvidam; salvem
outros, arrebatando‑os do fogo; a outros, ainda, mostrem misericórdia,
com temor, odiando até a roupa contaminada pela carne.
Judas
menciona um dos propósitos que o levou a escrever aquela carta. Tratava-se de
uma missão de resgate urgentíssima em prol de um pequeno grupo que pela influência
dos falsos pastores ou mestres estavam em cima do muro. Estavam confusos,
duvidosos, e não sabiam mais como e por quem decidir. Esses, com certeza, não
eram os homens ímpios que haviam se introduzido furtivamente entre eles (v 4),
para Judas estes não são dignos de arrependimento pois sua condenação já havia
sido sentenciada e aguardava apenas o momento propício para ser manifestada. Os
que aqui são descritos como “duvidosos” eram os que não possuíam muito
discernimento para aprovar ou reprovar a conduta e os ensinos daqueles falsos
mestres e, portanto, carecia urgentemente de orientação espiritual para terem
condições de decidir pela verdade. Eles estavam correndo um grande risco, se
não fossem socorridos a tempo entrariam na mesma condenação daqueles falsos
mestres.
A
expressão “e de outros tende misericórdia com temor” refere-se sem
dúvida aqueles que poderiam ser alvos dos ensinos daqueles falsos mestres em
toda parte. Os leitores de Judas deveriam tanto resgatar os que se haviam
desviados da fé como prevenir os que estavam de pé. A famosa frase “abominando
até a túnica manchada pela carne”, refere- se à renúncia pessoal de cada
crente em prol daquela causa que poderia custar o próprio sangue ou a própria
vida ou ainda os maiores flagelos possíveis, a semelhança daqueles que haviam
padecido grandemente por causa da obra de Deus, como o próprio Jesus, Tiago,
Estevão, Paulo e muitos outros anônimos cujos nomes não foram registrados na
Bíblia, mas que com certeza eram conhecidos dos leitores de Judas.
8. Conclusão e louvor (vs 24-25)
(vs
24-25) Àquele que é poderoso para impedi-los de cair e para apresentá-los
diante da sua glória sem mácula e com grande alegria, ao único Deus, nosso
Salvador, sejam glória, majestade, poder e autoridade, mediante Jesus Cristo,
nosso Senhor, antes de todos os tempos, agora e para todo o sempre! Amém.
Como
já mencionamos no início, aqui podemos encontrar a mais bela de todas as
bênçãos relacionadas na bíblia. Ela menciona o ato de Deus de preservar o
crente da queda espiritual e a sua providência em nos conduzir ao seu futuro
reino celestial.
Aplicação Prática:
Os ensinamentos de Judas são ainda relevantes e aplicáveis hoje. Entre as aplicações práticas destacam-se:
1. Vigilância
- Como cristãos, devemos estar atentos a ensinamentos que distorcem a
verdade. É importante estudar as Escrituras e conhecer a doutrina para
podermos discernir o certo e o errado.
2. Compromisso com a santidade
- Judas nos chama a viver de maneira digna da vocação que recebemos,
buscando, sempre a pureza e a santidade em nossas vidas.
3. Ação em comunidade
- A palavra de Judas também nos lembra da importância de estarmos
unidos na fé, ajudando uns aos outros a resistir as tentações e
dúvidas.
Curiosidades -
Menção de Enoque - O uso de uma profecia atribuída a Enoque, um personagem que aparece somente em Gênesis e em textos apócrifos, destaca a diversidade da tradição oral de judaica que permeava a cultura cristã primitiva.
Semelhança com 2 Pedro - Há considerável sobreposição temática entre Judas e a segunda carta de Pedro, com ambos abordando questões de falsos mestre e suas consequências.