segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Judas, Predestinação e Responsabilidade Humana

Texto-chave: Mateus 26:24 - "Em verdade o Filho do Homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido."

 

1. OBJETIVO DO ESTUDO

Analisar biblicamente se Judas Iscariotes nasceu predestinado a trair Jesus ou se sua traição foi resultado de escolhas pessoais, à luz da soberania de Deus e da responsabilidade humana.

 

2. CONTEXTO DO TEXTO

Jesus está na Última Ceia, consciente de que sua morte é iminente. Ele afirma duas verdades simultâneas:

l O plano redentor de Deus é certo ("como acerca dele está escrito").

l O traidor é moralmente responsável ("ai daquele homem").

Esse versículo une profecia cumprida e culpa humana real.

 

3. ANÁLISE INVESTIGATIVA DO TEXTO

3.1 "O Filho do Homem vai, como acerca dele está escrito"

l Refere-se às profecias messiânicas (Is 53; Sl 22; Dn 9:26).

l O sofrimento do Messias fazia parte do plano eterno de redenção.

l O foco está no evento, não na imposição do pecado a alguém.

3.2 "Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído"

l A expressão "ai" indica juízo, lamento e culpa.

l Nunca é usada na Bíblia para alguém que age sem escolha.

l Judas é responsabilizado porque agiu voluntariamente.

3.3 "Bom seria para esse homem se não houvera nascido"

l Linguagem hebraica de juízo severo (cf. Jó 3; Ec 4:2–3).

l Não implica que Judas nasceu condenado, mas que o fim de sua escolha foi trágico.

 

4. JUDAS: PREDESTINADO OU CONHECIDO?

Presciência divina

l "Aquele que me traiu levantou contra mim o seu calcanhar" (Sl 41:9)

l Deus conhecia antecipadamente a decisão de Judas, mas conhecimento não é causação.

Responsabilidade humana

l Judas ouviu Jesus por cerca de três anos.

l Recebeu advertências diretas (Mt 26:21–25).

l Agiu por ganância (Jo 12:6).

l Abriu espaço para Satanás (Lc 22:3).

 

5. EXISTIA A POSSIBILIDADE DE JESUS NÃO SER TRAÍDO?

Do ponto de vista do plano de Deus

l Não. A Escritura não pode falhar (Jo 10:35).

l A cruz era inevitável.

Do ponto de vista humano

l Sim. Judas poderia ter se arrependido.

l Se Judas não traísse, Deus levantaria outro meio.

l "Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará socorro" (Et 4:14)

 

6. QUADRO COMPARATIVO — CALVINISMO × BÍBLIA TEXTUAL

Tema

Calvinismo Clássico

Bíblia Textual

Eleição

Incondicional e individual

Em Cristo, com convite universal

Judas

Instrumento necessário e decretado

Agente responsável por sua escolha

Presciência

Conhecer = determinar

Conhecer ≠ forçar

Livre-arbítrio

Compatibilista (limitado)

Responsabilidade real

Juízo

Decreto eterno

Resultado da rejeição

Texto-chave

Rm 9

At 2:23; Ez 18:23; 1Tm 2:4


7. TEXTOS PARA DISCUSSÃO EM SALA

l Atos 2:23

l João 17:12

l Ezequiel 18:30–32

l Tiago 1:13–15


8. PERGUNTAS PARA EBD

 

1. Deus pode cumprir seus planos sem forçar o pecado?

Sim, biblicamente, sem nenhuma contradição

A Escritura afirma duas verdades simultâneas:

l Deus é soberano

“O conselho do Senhor permanece para sempre” (Sl 33:11)

l Deus não é autor do pecado

“Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1:13)

Conclusão bíblica:
Deus governa os acontecimentos sem produzir o mal no coração humano.

 

2. Judas teve oportunidades reais de arrependimento?

Sim. Muitas e conscientes

A Bíblia mostra Judas não como uma vítima do destino, mas como alguém advertido repetidamente.

Exemplos claros:

l Conviveu com Jesus

l Ouviu ensinos sobre amor, perdão e arrependimento.

l Foi advertido publicamente

l “Um de vós me trairá” (Mt 26:21)

l Recebeu advertência pessoal

l “Tu o disseste” (Mt 26:25)

l Teve espaço antes do ato

l A traição não foi impulsiva, mas deliberada.

l Sentiu remorso depois

l “Então Judas, o que o traíra, arrependendo-se, devolveu as moedas” (Mt 27:3)

O termo usado aqui (metamelētheís) indica remorso, não arrependimento salvador (metanoia).
Ele poderia ter buscado perdão, como Pedro fez, mas escolheu o desespero.

Prova decisiva:

l “Nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição” (Jo 17:12)

l Jesus não diz: “aquele que criei para se perder”, mas aquele que se perdeu.

 

3. Qual o perigo de usar a soberania divina para anular a responsabilidade humana? 

Perigo gravíssimo — bíblico, pastoral e espiritual

 

A. Torna Deus autor do pecado

Se Deus força o mal, Ele deixa de ser santo:

“Justo é o Senhor em todos os seus caminhos” (Sl 145:17)

 

B. Destrói o chamado ao arrependimento

Se tudo é decreto inevitável:

l Por que se arrepender?

l Por que advertir?

l Por que pregar?

Ez 18:32:

“Não tenho prazer na morte do que morre… convertei-vos e vivei!”

 

C. Produz passividade espiritual

l Pecado vira “destino”

l Santidade vira “opcional”

l Obediência perde sentido

 

D. Cria falsa segurança ou desespero

l Uns pensam: “sou eleito, posso viver como quiser”

l Outros: “não adianta tentar, já estou perdido”

l Ambos contrários ao evangelho.

 

E. Contraria o ensino direto de Jesus

“Se não vos arrependerdes, todos perecereis” (Lc 13:3)

Jesus nunca tratou o pecado como algo inevitável.

 

9. CONCLUSÃO

l Deus cumpre Seus planos sem violentar a vontade humana

l Judas teve chances reais de arrependimento

l Soberania não anula responsabilidade

l Presciência não é coação

l O juízo é justo porque a escolha é real

 

Deus reina sobre tudo, mas o homem responde por seus atos.

 

Material preparado para EBD Autor: Marco Antônio Lana (Teólogo)

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