segunda-feira, 3 de março de 2025

Quem Foi a Esposa de José do Egito?

 

 
 
 


 

A Bíblia diz que a esposa de José do Egito foi uma mulher egípcia chamada Asenate. As poucas referências à mulher de José na Bíblia concentram-se basicamente em Gênesis 41, onde se menciona que ela era filha de Potífera, um sacerdote da cidade de Om. Essa cidade, também conhecida como Heliópolis pelos gregos, ficava localizada na região do delta do Rio Nilo, próxima ao que hoje é a moderna Cairo. Om era um centro de culto solar no Egito, tendo Rá como uma de suas mais importantes divindades.

O nome do pai de Asenate, Potífera, significa “dádiva de Rá”. Assim, é evidente que Asenate foi criada no contexto do politeísmo egípcio e das tradições religiosas associadas ao culto do sol. A Bíblia não fornece informações detalhadas sobre seu cotidiano, mas, como filha de um sacerdote, presume-se que ela pertencia a uma das classes mais privilegiadas da sociedade egípcia da época.

Os estudiosos acreditam que o nome Asenate, por sua vez, seja a transliteração de um nome egípcio, cujo significado sugere “pertencente à (deusa) Neite” ou “dedicada à deusa Neite”, divindade egípcia geralmente associada à guerra e à caça.

 

Como José se casou com sua esposa no Egito?

De acordo com o texto bíblico, o casamento de José e Asenate ocorreu no contexto de sua ascensão ao posto de governador do Egito. O texto simplesmente registra que o próprio Faraó decidiu dar a filha de um sacerdote como esposa a seu novo administrador. Pode ser que Faraó julgasse importante fortalecer os laços entre a família sacerdotal e sua nova autoridade real. José tinha cerca de trinta anos nessa ocasião, e não há menção na Bíblia de qualquer outro casamento por parte dele, o que indica que Asenate talvez tenha sido sua única esposa.

A Bíblia também informa que Asenate teve dois filhos com José durante o período de abundância que precedeu os anos de fome previstos nos sonhos do Faraó. O primeiro filho recebeu o nome de Manassés, que significa “aquele que faz esquecer”. De acordo com o texto, José atribuiu a escolha desse nome ao fato de que Deus o ajudou a esquecer todos os sofrimentos que havia passado até então, incluindo a saudade da casa de seu pai (Gênesis 41:51).

O segundo filho foi chamado de Efraim, que carrega a ideia de “ser frutífero” ou “ser próspero”. José explicou esse nome ao declarar: “Deus me fez próspero na terra da minha aflição” (Gênesis 41:52). Os nomes dos filhos de José, revelavam a esperança e a gratidão que ele nutria, mesmo vivendo em terra estrangeira e distante da casa de seu pai, Jacó.

Mais tarde, no capítulo 48 de Gênesis, o texto bíblico revela que o patriarca Jacó, ao reencontrar José, em certo sentido adotou os seus dois filhos, conferindo-lhes uma bênção especial. Isso fez com que Manassés e Efraim se tornassem pais de tribos dentro de Israel, ao lado dos demais filhos de Jacó.

 

A curiosidade sobre a esposa de José do Egito

Por mais que Asenate possua um papel fundamental na consolidação da família de José, a Bíblia não oferece nenhum detalhe adicional sobre sua vida. Na verdade, sua participação na história bíblica termina tão logo se menciona o nascimento de seus filhos, Manassés e Efraim.

Portanto, não há um registro bíblico a respeito de quando e como a esposa de José teria morrido, tampouco de como ela lidou com a vida na corte egípcia ao lado de José. Também não se sabe exatamente como foi sua relação com o sogro, Jacó, e mesmo com os irmãos de José, que passaram a morar no Egito depois da grande fome que atingiu a Terra.

Esse silêncio é um fenômeno comum em alguns textos do Antigo Testamento, especialmente quando se trata de mulheres que entraram na linhagem ou na história do povo de Israel, mas não tiveram um papel profético ou de liderança explicitamente reconhecido. Além disso, o fato de Asenate ser egípcia desperta ainda mais curiosidade, pois ela foi mãe de dois patriarcas de tribos de Israel, e isso levanta questões sobre sua postura religiosa e seu envolvimento com a fé monoteísta.

 

As teorias da tradição judaica sobre a esposa de José

Diante das lacunas na história de Asenate, a tradição judaica tentou buscar explicações para responder a seguinte questão: Como poderia José, um descendente direto de Jacó, casar-se com uma egípcia filha de um sacerdote pagão e, ainda assim, ter filhos incluídos na aliança de forma plena?

Ao longo do tempo, surgiram várias lendas, interpretações e até textos apócrifos com o objetivo de tratar esse ponto. Por exemplo: o Midrash, gênero de literatura rabínica que muitas vezes elabora e expande histórias bíblicas para fins teológicos ou pedagógicos, propõe duas interpretações principais sobre Asenate.

 

A esposa de José era filha de Diná

Na primeira interpretação, Asenate é identificada como filha de Diná, a única filha de Jacó. Segundo essa narrativa, após o episódio conturbado envolvendo a violação de Diná por Siquém (Gênesis 34), Diná teria engravidado. A menina nascida dessa gravidez, teria sido justamente a aquela que seria a futura esposa de José. Então, a menina foi enviada ao Egito, onde foi acolhida por Potifar como sua filha adotiva.

Nessa versão, o pai adotivo de Asenate seria o mesmo Potifar a quem José serviu no Egito antes de ser aprisionado sob uma falsa acusação. Inclusive, em algumas variações dessa interpretação, supostamente Potifar iria matar José com base nas acusações de sua mulher, mas Asenate teria alertado seu pai adotivo que José era inocente, que decidiu apenas enviá-lo para a prisão.

Além disso, como prova dessa origem israelita de Asenate, o Midrash alega que Jacó teria colocado um amuleto no pescoço da menina antes de ela ser enviada ao Egito, contendo uma inscrição que a dedicava ao Deus de Israel. Então, muitos anos mais tarde, José supostamente teria reconhecido esse amuleto, percebendo que Asenate era, na verdade, parte da casa de Jacó, ao invés de egípcia, e assim, o casamento não implicaria violar sua pureza étnica e religiosa.

 

A esposa de José era uma egípcia convertida à fé israelita

Na segunda interpretação popular dentro da tradição judaica, Asenate seria, de fato, uma mulher egípcia criada no contexto politeísta, mas que, ao conhecer José, converteu-se ao monoteísmo. Sem dúvida, o texto bíblico registra que José estava completamente submisso ao Deus de Israel, e essa fidelidade poderia ter influenciado sua esposa. Dessa forma, a esposa de José poderia ter se tornado uma prosélita, passando a adorar o Deus único e rejeitando os deuses do Egito.

Essa abordagem interpretativa parece ter surgido com o objetivo de destacar a ideia de que, em vários momentos, mulheres estrangeiras foram acolhidas na tradição de Israel ao abraçarem sinceramente a fé e a conduta judaicas, como Rute e Raabe. Nesse sentido, a esposa de José do Egito seria mais um caso de conversão genuína, tornando-se digna de ver seus filhos integrados plenamente ao povo da aliança.

 

O apócrifo José e Asenate

A curiosidade sobre o relacionamento de José e Asenate foi tão significativa que em algum momento deu origem a uma obra apócrifa conhecida como José e Asenate, que traz uma das narrativas mais extensas e romanceadas sobre o encontro do filho de Jacó e sua esposa no Egito.

Essa obra escrita em grego jamais fez parte do cânone bíblico, mas circulou ao menos desde o período helenístico. A obra foi escrita, possivelmente, em Alexandria, entre os séculos 1 a.C. e 2 d.C. Seu autor permanece desconhecido, embora se presuma que fosse judeu, ou pelo menos alguém ligado à cultura judaica na diáspora.

O conteúdo desse livro apócrifo pode ser divido em duas partes, nas quais a história ganha contornos típicos de um romance grego, com muito drama, rejeições, perseguições e reviravoltas, até que finalmente José e Asenate superam as diferenças, e ela se converte ao Deus de Israel, renunciando aos ídolos.

 

Quais informações são confiáveis sobre a esposa de José do Egito?

Tanto as interpretações midráshicas quanto à obra apócrifa José e Asenate, extrapolam tudo o que o texto bíblico apresenta. O livro apócrifo, por exemplo, não passa de um romance épico ficcional, criado provavelmente com a intenção de abordar, no contexto helenizado, questões como a validade dos casamentos mistos, a importância do arrependimento e o papel do povo de Israel em meio a culturas estrangeiras.

Obviamente não se deve atribuir a essa obra nenhuma autoridade histórica sobre o verdadeiro relacionamento de José e Asenate, ainda que, como um documento antigo, a obra tenha a sua utilidade como testemunho do desenvolvimento do pensamento e a da literatura judaicas durante a diáspora.

Quanto às interpretações midráshicas sobre a história de Asenate, embora essas versões também não façam parte do cânone bíblico e nem possam ser comprovadas, elas demonstram a preocupação do pensamento rabínico em explicar como Manassés e Efraim, descendentes de Asenate, puderam receber bênçãos tão importantes a ponto de se tornarem tribos de Israel. Parece que o objetivo dessas tradições é explicar que a providência divina conduziu a história de modo a garantir que a linhagem de Jacó continuasse intacta, livre de implicações negativas que poderiam advir de casamentos mistos, e assim satisfazer as expectativas teológicas e identitárias do povo judeu.

Entre as duas versões, obviamente a ideia de que Asenate se converteu ao Deus de Israel é a interpretação mais natural e coerente com o relato bíblico, ao invés da versão em que a esposa de José seria originalmente filha de Diná — apesar de esta ser uma visão muito popular no judaísmo, ainda que pareça fantasiosa e dependente de arranjos interpretativos.

Portanto, a única informação realmente confiável sobre a esposa de José no Egito é aquela registrada no livro de Gênesis na Bíblia, onde Asenate é simplesmente apresentada como filha de um sacerdote egípcio. Assim, não é difícil pensar que Asenate tenha ouvido os relatos de José acerca das promessas divinas, assumido a fé no Deus de Israel e abandonado seus antigos deuses.

Seja como for, o importante é saber que a vida de José era marcada pela providência divina, e seu exílio era parte do plano maior não apenas para salvar muitos povos da fome, mas para preservar a família da aliança dentro da história da redenção. Nesse contexto, a misteriosa esposa de José no Egito foi mais uma prova de como Deus pode conduzir Sua promessa mesmo em circunstâncias improváveis, escolhendo e transformando a filha de um sacerdote egípcio, numa matriarca da linhagem de Israel.

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