Texto-chave: Mateus 26:24 - "Em verdade o Filho do Homem vai, como acerca dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído! Bom seria para esse homem se não houvera nascido."
1. OBJETIVO DO ESTUDO
Analisar biblicamente se Judas Iscariotes nasceu predestinado a trair Jesus ou se sua traição foi resultado de escolhas pessoais, à luz da soberania de Deus e da responsabilidade humana.
2. CONTEXTO DO TEXTO
Jesus está na Última Ceia, consciente de que sua morte é iminente. Ele afirma duas verdades simultâneas:
l O plano redentor de Deus é certo ("como acerca dele está escrito").
l O traidor é moralmente responsável ("ai daquele homem").
Esse versículo une profecia cumprida e culpa humana real.
3. ANÁLISE INVESTIGATIVA DO TEXTO
3.1 "O Filho do Homem vai, como acerca dele está escrito"
l Refere-se às profecias messiânicas (Is 53; Sl 22; Dn 9:26).
l O sofrimento do Messias fazia parte do plano eterno de redenção.
l O foco está no evento, não na imposição do pecado a alguém.
3.2 "Mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído"
l A expressão "ai" indica juízo, lamento e culpa.
l Nunca é usada na Bíblia para alguém que age sem escolha.
l Judas é responsabilizado porque agiu voluntariamente.
3.3 "Bom seria para esse homem se não houvera nascido"
l Linguagem hebraica de juízo severo (cf. Jó 3; Ec 4:2–3).
l Não implica que Judas nasceu condenado, mas que o fim de sua escolha foi trágico.
4. JUDAS: PREDESTINADO OU CONHECIDO?
Presciência divina
l "Aquele que me traiu levantou contra mim o seu calcanhar" (Sl 41:9)
l Deus conhecia antecipadamente a decisão de Judas, mas conhecimento não é causação.
Responsabilidade humana
l Judas ouviu Jesus por cerca de três anos.
l Recebeu advertências diretas (Mt 26:21–25).
l Agiu por ganância (Jo 12:6).
l Abriu espaço para Satanás (Lc 22:3).
5. EXISTIA A POSSIBILIDADE DE JESUS NÃO SER TRAÍDO?
Do ponto de vista do plano de Deus
l Não. A Escritura não pode falhar (Jo 10:35).
l A cruz era inevitável.
Do ponto de vista humano
l Sim. Judas poderia ter se arrependido.
l Se Judas não traísse, Deus levantaria outro meio.
l "Porque, se de todo te calares agora, de outra parte se levantará socorro" (Et 4:14)
6. QUADRO COMPARATIVO — CALVINISMO × BÍBLIA TEXTUAL
Tema | Calvinismo Clássico | Bíblia Textual |
Eleição | Incondicional e individual | Em Cristo, com convite universal |
Judas | Instrumento necessário e decretado | Agente responsável por sua escolha |
Presciência | Conhecer = determinar | Conhecer ≠ forçar |
Livre-arbítrio | Compatibilista (limitado) | Responsabilidade real |
Juízo | Decreto eterno | Resultado da rejeição |
Texto-chave | Rm 9 | At 2:23; Ez 18:23; 1Tm 2:4 |
7. TEXTOS PARA DISCUSSÃO EM SALA
l Atos 2:23
l João 17:12
l Ezequiel 18:30–32
l Tiago 1:13–15
8. PERGUNTAS PARA EBD
1. Deus pode cumprir seus planos sem forçar o pecado?
Sim, biblicamente, sem nenhuma contradição
A Escritura afirma duas verdades simultâneas:
l Deus é soberano
“O conselho do Senhor permanece para sempre” (Sl 33:11)
l Deus não é autor do pecado
“Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tg 1:13)
Conclusão bíblica:
Deus governa os acontecimentos sem produzir o mal no coração humano.
2. Judas teve oportunidades reais de arrependimento?
Sim. Muitas e conscientes
A Bíblia mostra Judas não como uma vítima do destino, mas como alguém advertido repetidamente.
Exemplos claros:
l Conviveu com Jesus
l Ouviu ensinos sobre amor, perdão e arrependimento.
l Foi advertido publicamente
l “Um de vós me trairá” (Mt 26:21)
l Recebeu advertência pessoal
l “Tu o disseste” (Mt 26:25)
l Teve espaço antes do ato
l A traição não foi impulsiva, mas deliberada.
l Sentiu remorso depois
l “Então Judas, o que o traíra, arrependendo-se, devolveu as moedas” (Mt 27:3)
O termo usado aqui (metamelētheís) indica remorso, não arrependimento salvador (metanoia).
Ele poderia ter buscado perdão, como Pedro fez, mas escolheu o desespero.
Prova decisiva:
l “Nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição” (Jo 17:12)
l Jesus não diz: “aquele que criei para se perder”, mas aquele que se perdeu.
3. Qual o perigo de usar a soberania divina para anular a responsabilidade humana?
Perigo gravíssimo — bíblico, pastoral e espiritual
A. Torna Deus autor do pecado
Se Deus força o mal, Ele deixa de ser santo:
“Justo é o Senhor em todos os seus caminhos” (Sl 145:17)
B. Destrói o chamado ao arrependimento
Se tudo é decreto inevitável:
l Por que se arrepender?
l Por que advertir?
l Por que pregar?
Ez 18:32:
“Não tenho prazer na morte do que morre… convertei-vos e vivei!”
C. Produz passividade espiritual
l Pecado vira “destino”
l Santidade vira “opcional”
l Obediência perde sentido
D. Cria falsa segurança ou desespero
l Uns pensam: “sou eleito, posso viver como quiser”
l Outros: “não adianta tentar, já estou perdido”
l Ambos contrários ao evangelho.
E. Contraria o ensino direto de Jesus
“Se não vos arrependerdes, todos perecereis” (Lc 13:3)
Jesus nunca tratou o pecado como algo inevitável.
9. CONCLUSÃO
l Deus cumpre Seus planos sem violentar a vontade humana
l Judas teve chances reais de arrependimento
l Soberania não anula responsabilidade
l Presciência não é coação
l O juízo é justo porque a escolha é real
Deus reina sobre tudo, mas o homem responde por seus atos.
Material preparado para EBD Autor: Marco Antônio Lana (Teólogo)

