sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Quem Escreveu o Livro de Hebreus?

Quem escreveu o livro de Hebreus é uma pergunta feita desde muito cedo na história da Igreja Cristã. Já no século 2 d.C. a autoria da carta era debatida entre os cristãos. Durante muito tempo foi sugerido que Paulo escreveu o livro de Hebreus, mas isto está longe de ser unanimidade.

 

A seguir, nós conheceremos o que se sabe sobre o autor de Hebreus. Também analisaremos as melhores sugestões sobre quem escreveu essa importante epístola do Novo Testamento.

 

Possíveis autores do livro de Hebreus 


Por conta do mistério sobre quem escreveu Hebreus, muitos nomes foram especulados ao longo do tempo. Nenhuma das possibilidades podem ser entendidas definitivamente como certas. As principais sugestões são as seguintes:

 

Apolo como escritor do livro de Hebreus

 

Essa é uma das principais sugestões sobre a autoria do livro de Hebreus, e foi defendida por Martinho Lutero. Apolo era um judeu alexandrino que possuía grande conhecimento nas Escrituras, de forma que ele ensinava sobre o Senhor com grande eloquência (Atos 18:24-26).

 

Lutero se baseou principalmente no capítulo 18 de Atos para defender sua sugestão. Ele argumentou que Alexandria era um grande centro educacional onde Apolo teria conseguido toda sua habilidade no idioma grego. Lá ele também deve ter tido contato com a Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento, que inclusive foi publicada primeiro nessa cidade.

 

O livro de Atos nos informa que Apolo inicialmente conhecia apenas o batismo de João. Mais tarde, ele foi instruído adequadamente acerca do que não sabia por Priscila e Áquila. 


De fato essa hipótese é muito boa, mas sua grande fraqueza é o fato de que ninguém durante os primeiros séculos do cristianismo a defendeu de forma convincente. Clemente de Alexandria (200 d.C.), por exemplo, certamente seria o mais indicado para apontar Apolo como escritor do livro de Hebreus, mas ao invés disso ele sugeriu Paulo.

 

Barnabé como autor de Hebreus

 

Barnabé é outro candidato sugerido para ter escrito o livro de Hebreus. Essa sugestão foi feita por Tertuliano em 225 d.C. Ele se baseou nos relatos do livro de Atos dos Apóstolos sobre Barnabé, sobretudo em suas credenciais em Atos 4:36,37.

 

Devido a sua origem e o que é escrito sobre ele no Novo Testamento, obviamente ele era qualificado para ter escrito o livro de Hebreus. A fraqueza dessa sugestão é de que ela não encontra nenhum apoio na história do cânon do Novo Testamento.

 

Priscila como autora de Hebreus

 

Priscila também tem sido sugerida por estudiosos mais modernos como a possível escritora do livro de Hebreus. Ela era esposa de Áquila e membro notável da Igreja Primitiva. Como já foi dito, esse casal foi o responsável por instruir Apolo acerca da fé.

 

O problema dessa sugestão é que o escritor de Hebreus, no original grego, usa um particípio com terminação masculina quando se refere a si mesmo em Hebreus 11:32. Isso significa que para defender a autoria de Priscila, seria necessário contornar uma questão textual que torna essa hipótese impossível.

 

Paulo escreveu o livro de Hebreus?

 

Durante muito tempo o apóstolo Paulo foi considerado o autor do livro de Hebreus. Clemente de Alexandria e Orígenes nos séculos 2 e 3 d.C. já afirmavam que Paulo escreveu essa carta.

 

Essa sugestão foi tão aceita que em 1611 quando a versao inglessa King James  foi publicada, ela trouxe o seguinte título para a Epístola aos Hebreus: “A Epístola de Paulo o Apóstolo aos Hebreus”.

 

Apesar de tudo isso, alguns pontos importantes fazem com que a autoria de Paulo seja bem pouco provável. O principal problema ocorre por conta das claras diferenças entre o livro de Hebreus e as epístolas paulinas.

 

Considerando principalmente o texto grego original da carta, pode-se dizer que nada em Hebreus lembra o estilo de escrita do apóstolo. Paulo utiliza expressões muito características em suas epístolas que não se repetem em Hebreus. Outro ponto bastante importante é que em suas cartas o apóstolo Paulo faz referências cruzadas quando se trata das doutrinas mais importantes. Porém, isso também não ocorre em Hebreus.

 

A principal fraqueza da autoria de Paulo pode ser notada em Hebreus 2:3. O escritor da epístola claramente não se coloca entre aqueles que ouviram pessoalmente do Senhor Jesus a salvação que estava sendo anunciada. Ele diz estar entre aqueles que escutaram dos que a receberam diretamente de Cristo.

 

Em comparação a esse texto, devemos colocar Gálatas 1:12. Nele o apóstolo Paulo afirma categoricamente não ter recebido o Evangelho de nenhuma outra pessoa, mas diretamente de Jesus Cristo.

 

Calvino observou muito bem isso quando afirmou que o escritor de Hebreus se colocava entre os discípulos do ministério apostólico. Para quem argumenta que ainda assim existem semelhanças teológicas entre Hebreus e as cartas de Paulo, faz-se necessário lembrar que muito mais semelhanças existem com os escritos de João, e nem por isso o apóstolo João é considerado o escritor de Hebreus.

 

Não sabemos onde a carta de Paulo aos Hebreus foi escrita. Também não sabemos exatamente quando foi escrita. No entanto, presume-se que foi escrita aproximadamente entre 60–62 d.C., mais ou menos na mesma época em que Paulo escreveu cartas aos filipenses, aos colossenses, aos efésios e a Filemom

 

Paulo escreveu a Epístola aos Hebreus para incentivar os membros judeus da Igreja a manter a fé em Jesus Cristo e a não voltar às suas práticas antigas (ver Hb 10,32-38).

 

Por causa da pressão causada por várias provações, os judeus cristãos estavam saindo da Igreja e voltando a adorar da maneira judaica relativamente mais segura nas sinagogas (ver Hb 10,25.38-39). Paulo queria mostrar a esses judeus cristãos que a lei de Moisés apontava para Jesus Cristo e Sua Expiação como a verdadeira fonte da salvação.

 

Quais são algumas características marcantes desse livro?

 

Em vez de ser apenas uma carta, o livro de Hebreus é mais como um longo sermão que menciona repetidas vezes as escrituras e práticas de Israel. É o sermão mais longo que encontramos nas escrituras sobre por que e como Jesus Cristo é superior em todas as coisas.

 

O livro de Hebreus ensina que Jesus Cristo é maior do que a lei porque Ele deu a lei. Também ensina que os profetas receberam poder pela fé Nele, que Ele era o grande Sumo Sacerdote no qual os sacrifícios do Velho Testamento foram cumpridos, que Ele é maior do que os anjos e que por meio de Seu Sacrifício Expiatório podemos receber a remissão dos pecados.

 

O livro de Hebreus é um dos poucos lugares na Bíblia em que lemos a respeito do Profeta Melquisedeque (ver Hb 7,1-4) e do sacerdócio que leva seu nome (ver Hb 5,5-6.10; 6,20; 7:11–17). Hebreus ensina que o Sacerdócio de Melquisedeque é maior do que o Sacerdócio Aarônico e mostra que a salvação não se encontra na lei de Moisés ou nas ordenanças administradas pelos sacerdotes levitas, mas em Jesus Cristo e nas ordenanças do Sacerdócio de Melquisedeque (ver Hb 7,5-28), Hb 11,1-12,4 contém um excelente discurso sobre fé e ensina como as pessoas podem confiar em Jesus Cristo.

 

Outros possíveis autores de Hebreus

 

Além desses nomes citados, outros importantes líderes da Igreja Primitiva também foram sugeridos como autores do livro de Hebreus. Alguns exemplos são:

 

  • Clemente de Roma, que viveu em aproximadamente 95 d.C.
  • Epafras, que foi citado por Paulo quando escreveu aos Colossenses (Colossenses 1:7).
  • Silas, companheiro de Paulo em viagens missionárias, e que também conhecia o apóstolo Paulo (Atos 15:22-40; 1 Pedro 5:12).
  • Lucas, escritor do terceiro Evangelho e do livro de Atos dos Apóstolos. Essa sugestão é bem pouco provável devido as diferenças entre Hebreus e os dois livros de sua autoria.

O que sabemos sobre quem escreveu o livro de Hebreus?

 

Se não podemos afirmar com certeza quem escreveu o livro de Hebreus, podemos considerar alguns detalhes presentes na própria epístola que esclarecem algumas curiosidades sobre ele.

 

  • Como já foi dito, o autor era um homem, e isso fica claro no grego original em Hebreus 11:32.
  • Ele dominava o grego e seu estilo literário era helenístico.
  • Ele era muito capacitado no Antigo Testamento, e fez grande uso da Septuaginta.
  • Ele não teve contato direto com Jesus (Hebreus 2:3-4).
  • Ele conhecia pessoalmente Timóteo e também os destinatários de sua carta (Hebreus 13:22,23).

 

Apesar de tantas sugestões de nomes para possíveis autores dessa epístola, a defesa de qualquer um delas enfrenta sérios problemas. Sobre isso, Orígenes acertou ao dizer que somente Deus é quem sabe quem escreveu o livro de Hebreus.

 

Particularmente prefiro a sugestão de Lutero que o autor em questão tenha sido Apolo. Essa certamente é uma boa sugestão, considerando tudo o que é dito sobre ele em Atos e também pelo próprio apóstolo Paulo (1 Coríntios 1:12; 3; 4:6; 16:12; Tito 3:13). Quanto a autoria de Paulo, penso que em Hebreus não há nada que ao menos lembre o estilo do apóstolo.

 

Com tudo, se por um lado não sabemos quem escreveu o livro de Hebreus por outro sabemos com clareza qual é a sua mensagem, e, em última análise, seu verdadeiro Autor, e isso é o que realmente nos importa.

 

Resumo

Hebreus 1–6 Jesus Cristo é a imagem expressa do Pai. Ele é maior do que os anjos e todos os profetas que O precederam, inclusive Moisés. Os antigos israelitas que saíram do Egito não entraram no descanso do Senhor porque endureceram o coração contra Jesus Cristo e Seu servo Moisés. Como o Grande Sumo Sacerdote, Jesus é superior a todos os sumos sacerdotes da lei mosaica. Cristo foi aperfeiçoado por meio do Seu sofrimento. Podemos entrar no descanso do Senhor e “[prosseguir] até a perfeição” (Hebreus 6:1).

 

Hebreus 7–13 O Sacerdócio de Melquisedeque administra o evangelho e é maior do que o Sacerdócio Aarônico. O tabernáculo e as ordenanças mosaicas são um protótipo do ministério de Cristo. Jesus Cristo cumpriu a lei de Moisés com o derramamento de Seu sangue, pelo qual podemos obter salvação e a remissão de nossos pecados. Pela fé, os profetas e outros homens e mulheres realizaram milagres e obras de retidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário