A Videira e os Ramos
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é
o lavrador. Todo ramo que, estando em mim, não dá
fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais”.
- João 15,1-2
Jesus se apresenta como a Videira verdadeira. Essa é uma das alegorias
mais conhecidas da Bíblia, geralmente intitulada “A Videira e os Ramos”. O
significado principal desse ensino aponta para o nosso relacionamento com
Cristo, e a dependência que temos dele. Cristo é a Videira verdadeira, e nós
somos os ramos.
Se Jesus é a Videira verdadeira, o Pai é o lavrador. Ele é quem cuida
dos ramos. Estes ramos são classificados em dois grupos:
- Os ramos produtivos e
- Os ramos improdutivos.
Os ramos representam todos aqueles que entram com contato com Cristo e
seu Evangelho. Dentre estes, o Agricultor cuida de limpar aqueles que dão
frutos a fim de que possam produzir ainda mais frutos. Por outro lado, Ele
também corta aqueles que não dão frutos. Os ramos improdutivos secam, são
juntados e lançados no fogo.
Por que Jesus disse
“Eu sou a Videira verdadeira”?
Jesus utilizou a figura de uma videira devido ao seu grande significado
simbólica. A nação de Israel no Antigo Testamento, por diversas vezes era
representada por uma videira (Salmos
80,8-16; Jeremias 2,21).
Por isso os discípulos poderiam facilmente entender o ensinamento de
Jesus ao dizer: “Eu sou a Videira
verdadeira”. Também é notável o contraste estabelecido nessa passagem.
Diferentemente de Israel, um tipo de videira que falhou e foi julgado pela sua
falta de fruto, Jesus cumpriu efetivamente o simbolismo que Israel simplesmente
tipificava.
Quando Jesus contou
a alegoria da Videira e os Ramos?
O contexto dessa passagem é muito importante em sua interpretação. Muito
provavelmente o Senhor Jesus contou essa alegoria na noite em que instituiu o
sacramento da Ceia do Senhor. Nessa mesma noite Ele foi traído.
Isso significa que aquela era a última oportunidade de Jesus advertir
seus discípulos antes de ser preso. Então Jesus lhes falou sobre a diferença
entre o ramo que dá fruto e o ramo que não dá fruto. Tal diferença está
fundamentada claramente sobre o conceito de “permanecer nele”. O ramo que dá fruto é aquele que permanece nele,
ao contrário do infrutífero que é cortado, juntado e lançado no fogo.
Qual é a explicação
da alegoria da Videira e os Ramos?
Ao mesmo tempo em que Jesus disse ser a Videira verdadeira; Ele também
estabeleceu um contraste muito grande entre os ramos produtivos e os ramos
improdutivos. Por isso a explicação da alegoria da Videira e os Ramos passa
pela resposta da seguinte pergunta:
Quem
são os ramos improdutivos?
Diferentes interpretações tentam responder essa pergunta. Já dissemos
que os ramos em geral são todas as pessoas que demonstram ter algum
relacionamento com Cristo. Mas quem são exatamente os ramos que recebem a
terrível sentença de serem queimados no fogo? Os estudiosos costumam responder
esta pergunta de diferentes maneiras. Vejamos nas interpretações alternativas
abaixo.
1.
Os ramos improdutivos são crentes
verdadeiros que perdem a salvação
Há quem entenda que estes ramos improdutivos são cristãos verdadeiros.
Esses cristãos deixaram de produzir e apostataram sua fé. Conseqüentemente,
eles são cortados definitivamente, juntados e lançados no fogo.
O problema com essa interpretação é que a segurança da salvação parece
repousar na capacidade dos ramos em produzir frutos. Além do mais, devemos nos
lembrar de que pouco antes o mesmo Senhor já havia falado sobre a maravilhosa
promessa de que suas ovelhas jamais se perderiam (João 10,11). Será que Ele
teria mudado de idéia? Definitivamente não!
2.
Os ramos improdutivos são crentes
verdadeiros que são disciplinados por Deus.
Outros defendem que todos os ramos, produtivos e improdutivos, são
cristãos verdadeiros. Mas diferente da interpretação acima, o fato de serem
cortados não implica na perda da salvação. Esse corte seria um tipo de
disciplina que Deus aplica aos ramos improdutivos.
Para defender essa interpretação é levado em conta que o verbo grego
traduzido como “cortar”, também pode
ser traduzido como “suspender”, no
sentido de “levantar”. Assim, ao
invés da palavra “cortar”, a palavra
“suspender” seria a tradução mais
apropriada para se referir aos ramos improdutivos. Ao serem levantados, os
ramos improdutivos poderão receber os cuidados necessários para que possam
produzir.
É comum que nas videiras alguns ramos cresçam por baixo de outros. Eles
acabam sendo privados da luz solar e de nutrientes essenciais para seu
desenvolvimento. Como resultados disso, esses ramos ficam mirrados e improdutivos.
Então o agricultor pode tratá-los, erguendo-os para cima para que eles possam
receber a luz e os nutrientes necessários. Com isso, eles se tornaram ramos
produtivos.
É justamente com base nesse raciocínio que alguns estudiosos que
defendem essa interpretação. Eles alegam que Jesus está se referindo à
disciplina que alguns cristãos verdadeiros são submetidos ao logo de suas
vidas. Esses cristãos são levantados de uma posição rasteira a fim de que
possam produzir frutos.
Apesar de parecer uma boa interpretação, o problema é que ela parece ter
dificuldade em explicar a sentença do versículo 6: “Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo
imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados.”
3.
Os ramos improdutivos são crentes
nominais
Por fim, há quem defenda que os ramos produtivos e os ramos improdutivos
se referem a dois grupos: os cristãos verdadeiros e os cristãos nominais. Isso
significa que os ramos produtivos representam os genuínos seguidores de Cristo
que verdadeiramente desfrutam de uma ligação intima com Ele. Justamente por
isso eles produzem frutos.
Já os ramos improdutivos representam os impostores. Essas pessoas apenas
professam uma fé histórica. Eles também seguem a Jesus e dizem estar nele, mas
são incapazes de realmente produzir frutos. Estes ramos ruins e improdutivos
são cortados de entre os ramos produtivos, e finalmente são ajuntados e
lançados no fogo.
O contexto da
alegoria da Videira e os Ramos.
Dissemos que o contexto em que Jesus pronunciou essas palavras é muito
importante para sua interpretação. Naquela mesma noite, um de seus discípulos
mais próximos haveria de traí-lo. Considerando isso, e se deparando com a
insistente repetição do verbo “permanecer” que aparece nesse ensino, a figura de
Judas, o traidor, se torna inesquecível.
Pouco antes de dizer ser a Videira verdadeira, Jesus também já havia
dito que nem todos que o acompanhavam estavam realmente limpos (João 13).
Obviamente essa era uma referência a Judas, o traidor:
- Ele havia estado tão perto de Jesus e desfrutado de uma relação tão próxima com Ele.
- Ele tinha sido instruído sobre a verdade do Evangelho.
- Ele presenciou e participou de obras incríveis que comprovavam que Jesus era o Filho de Deus.
Porém, mesmo diante de tudo isso, ainda assim Judas partiu rumo a sua
própria destruição. Já os outros discípulos também tiveram o mesmo contato
intimo com o Senhor. Eles escutaram as mesmas palavras, receberam os mesmos
ensinos e presenciaram e participaram dos mesmos milagres.
Aparentemente não havia diferença alguma entre o traidor Judas e os onze
restantes. Qualquer um visse Judas na noite em que ele saiu para trair o
Senhor, facilmente diria: Eis aí um dos discípulos mais próximos daquele Jesus
de Nazaré. Isso significa que aparentemente tanto Judas quanto os demais
discípulos, eram ramos que estavam na Videira verdadeira.
Mas o Mestre sabia exatamente a diferença que existia entre esses dois
tipos de ramos. Enquanto um possuía um relacionamento íntimo e verdadeiro com
Ele, o outro possuía apenas um relacionamento externo e superficial. Estava na
Videira verdadeira, mas não era frutífero.
Com base nesse contexto, as palavras de Jesus simplesmente se encaixam
na advertência acerca do perigo em seguir o exemplo de Judas. Suas palavras
trazem a importante admoestação sobre a necessidade de permanecer nele. Somente
estando na Videira verdadeira é que um ramo pode produzir os frutos de
obediência.
Qual o significado
da alegoria da Videira e os Ramos?
O grande significado da alegoria da Videira e os Ramos é a verdade de
que somente quem permanece em Cristo poderá dar frutos. Essa verdade também
implica na condição de que é impossível um ramo estar na Videira verdadeira e
ser definitivamente improdutivo, pois o Pai, como um agricultor, dispensa os
cuidados necessários para que os ramos produzam.
A alegoria da Videira e os Ramos demonstra tanto a responsabilidade
humana quanto a soberania de Deus. A responsabilidade humana pode ser vista
claramente nas palavras: “Aquele que
permanece em mim”. Por outro lado, no mesmo versículo, a soberania de Deus
também é claramente expressa: “Porque
sem mim nada podem fazer” (João 15,5).
Esse “nada” significa a
incapacidade humana em fazer qualquer bem em relação a Deus. O homem
definitivamente não pode contribuir para sua própria salvação. Isso significa
que esse “nada” inclui não só a
produção de frutos, mas o próprio ato de permanecer na Videira verdadeira.
Aqui qualquer idéia de auto-gratificação ou salvação por obras cai por
terra. Se produzirmos frutos é porque estamos na Videira verdadeira. Se
estivermos na Videira verdadeira é porque produzimos frutos segundo o bom
cuidado do grande Agricultor. Esse Agricultor nos poda a cada dia para que
possamos produzir mais e mais frutos.
Assim, não existem cristãos verdadeiros que não dão frutos. A
frutificação distingue de forma definitiva e infalível quem está genuinamente
em Cristo. Todos são ramos, e, aparentemente, todos parecem estar na mesma
Videira. Porém, o Pai sabe quem precisa ser podado e quem precisa ser cortado.
Ele nunca cortará um ramo produtivo, como também nunca deixará passar um ramo
que não produz. Assim como a produção de mais frutos é o fim inevitável para o
ramo produtivo, ser cortado e lançado no fogo também é o fim inevitável para o
ramo improdutivo.
Que fruto é
produzido pelos ramos da Videira verdadeira?
Os intérpretes discutem sobre que tipo de fruto os ramos produtivos da
Videira verdadeira produzem. Alguns identificam esse fruto com o resultado da
evangelização. No entanto, tal fruto não se resumem apenas à própria
evangelização, antes, também a inclui.
Com base no contexto do próprio capítulo 15, percebemos que a analogia
dos frutos está designando o fruto moral. Esse fruto é a conseqüência natural
da obediência à Palavra de Deus expressa no caráter cristão daqueles que foram
regenerados pelo Espírito Santo. Isso implica em todo um novo modo de vida. É
justamente por isso que os ramos produtivos são somente aqueles que nasceram de
novo.
Outra coisa interessante é que em nenhum lugar da ilustração da Videira
verdadeira somos informados de que os ramos improdutivos um dia já produziram e
pararam de produzir. A ilustração começa e termina com ramos infrutíferos e
ramos frutíferos, apenas isto.
Quando relacionamos esse ensino de Jesus com o capítulo 5 da carta de
Paulo aos Gálatas, onde lemos sobre as obras da carne e o fruto do Espírito;
entendemos o porquê disso tudo. O apóstolo Paulo claramente nos alerta para o
fato de que é somente pela ação e capacitação do Espírito Santo que podemos
demonstrar as virtudes que nos levam a uma vida que agrada a Deus. Sem o novo
nascimento o homem não passa de um ramo sem vida que é cortado e lançado no
fogo.
A Videira
verdadeira, os ramos e a soberania de Deus
Esse conceito também nos ajuda a entender a sentença do versículo 10: “Quando vocês
obedecem a meus mandamentos, permanecem no meu amor”. Mais uma vez o foco aqui não está
em nossa capacidade em guardar os preceitos divinos, mas no resultado da graça
soberana de Deus.
Se nós guardamos os preceitos de Cristo é porque nós o amamos (João 14,15), e se nós o amamos é porque
Ele nos amou primeiro (1 João 4,19).
A ação soberana de Deus sempre precederá a nossa ação, seu amor sempre
precederá o nosso amor. Sua iniciativa sempre precederá nossa resposta.
Assim, qualquer coisa de bom que possamos fazer aos olhos de Deus, na
verdade será simplesmente uma resposta de gratidão. Se produzirmos mais e mais
frutos, a glória sempre será toda d’Ele (João
15,8). Sobre isso, o próprio Jesus mais à frente declara:
“Vocês não me escolheram; eu os escolhi.
Eu os chamei para irem e produzirem frutos duradouros, para que o Pai lhes dê
tudo que pedirem em meu nome”. (João 15,16).
Diferentemente do que alguns alegam essas palavras definitivamente não
se resumem apenas ao grupo dos discípulos que cercavam Jesus naquela noite.
Essas palavras se estendem a todos os seus discípulos genuínos ao longo dos
tempos. Para glória de Deus Pai, esses discípulos são ramos frutíferos que
produzem mais e mais frutos por estarem na Videira verdadeira.
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