quinta-feira, 26 de março de 2020

Eu Sou a Videira Verdadeira - Jo 15,1-11


A Videira Verdadeira João 15 - Carlos Eduardo - Medium


A Videira e os Ramos

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais”. - João 15,1-2

Jesus se apresenta como a Videira verdadeira. Essa é uma das alegorias mais conhecidas da Bíblia, geralmente intitulada “A Videira e os Ramos”. O significado principal desse ensino aponta para o nosso relacionamento com Cristo, e a dependência que temos dele. Cristo é a Videira verdadeira, e nós somos os ramos.

Se Jesus é a Videira verdadeira, o Pai é o lavrador. Ele é quem cuida dos ramos. Estes ramos são classificados em dois grupos: 

  • Os ramos produtivos e 
  • Os ramos improdutivos.


Os ramos representam todos aqueles que entram com contato com Cristo e seu Evangelho. Dentre estes, o Agricultor cuida de limpar aqueles que dão frutos a fim de que possam produzir ainda mais frutos. Por outro lado, Ele também corta aqueles que não dão frutos. Os ramos improdutivos secam, são juntados e lançados no fogo.

Por que Jesus disse “Eu sou a Videira verdadeira”?

Jesus utilizou a figura de uma videira devido ao seu grande significado simbólica. A nação de Israel no Antigo Testamento, por diversas vezes era representada por uma videira (Salmos 80,8-16; Jeremias 2,21).  

Por isso os discípulos poderiam facilmente entender o ensinamento de Jesus ao dizer: “Eu sou a Videira verdadeira”. Também é notável o contraste estabelecido nessa passagem. Diferentemente de Israel, um tipo de videira que falhou e foi julgado pela sua falta de fruto, Jesus cumpriu efetivamente o simbolismo que Israel simplesmente tipificava.

Quando Jesus contou a alegoria da Videira e os Ramos?

O contexto dessa passagem é muito importante em sua interpretação. Muito provavelmente o Senhor Jesus contou essa alegoria na noite em que instituiu o sacramento da Ceia do Senhor. Nessa mesma noite Ele foi traído.

Isso significa que aquela era a última oportunidade de Jesus advertir seus discípulos antes de ser preso. Então Jesus lhes falou sobre a diferença entre o ramo que dá fruto e o ramo que não dá fruto. Tal diferença está fundamentada claramente sobre o conceito de “permanecer nele”. O ramo que dá fruto é aquele que permanece nele, ao contrário do infrutífero que é cortado, juntado e lançado no fogo.

Qual é a explicação da alegoria da Videira e os Ramos?

Ao mesmo tempo em que Jesus disse ser a Videira verdadeira; Ele também estabeleceu um contraste muito grande entre os ramos produtivos e os ramos improdutivos. Por isso a explicação da alegoria da Videira e os Ramos passa pela resposta da seguinte pergunta: 

Quem são os ramos improdutivos? 

Diferentes interpretações tentam responder essa pergunta. Já dissemos que os ramos em geral são todas as pessoas que demonstram ter algum relacionamento com Cristo. Mas quem são exatamente os ramos que recebem a terrível sentença de serem queimados no fogo? Os estudiosos costumam responder esta pergunta de diferentes maneiras. Vejamos nas interpretações alternativas abaixo.

1.    Os ramos improdutivos são crentes verdadeiros que perdem a salvação

Há quem entenda que estes ramos improdutivos são cristãos verdadeiros. Esses cristãos deixaram de produzir e apostataram sua fé. Conseqüentemente, eles são cortados definitivamente, juntados e lançados no fogo.

O problema com essa interpretação é que a segurança da salvação parece repousar na capacidade dos ramos em produzir frutos. Além do mais, devemos nos lembrar de que pouco antes o mesmo Senhor já havia falado sobre a maravilhosa promessa de que suas ovelhas jamais se perderiam (João 10,11). Será que Ele teria mudado de idéia? Definitivamente não!

2.    Os ramos improdutivos são crentes verdadeiros que são disciplinados por Deus.

Outros defendem que todos os ramos, produtivos e improdutivos, são cristãos verdadeiros. Mas diferente da interpretação acima, o fato de serem cortados não implica na perda da salvação. Esse corte seria um tipo de disciplina que Deus aplica aos ramos improdutivos.

Para defender essa interpretação é levado em conta que o verbo grego traduzido como “cortar”, também pode ser traduzido como “suspender”, no sentido de “levantar”. Assim, ao invés da palavra “cortar”, a palavra “suspender” seria a tradução mais apropriada para se referir aos ramos improdutivos. Ao serem levantados, os ramos improdutivos poderão receber os cuidados necessários para que possam produzir.

É comum que nas videiras alguns ramos cresçam por baixo de outros. Eles acabam sendo privados da luz solar e de nutrientes essenciais para seu desenvolvimento. Como resultados disso, esses ramos ficam mirrados e improdutivos. Então o agricultor pode tratá-los, erguendo-os para cima para que eles possam receber a luz e os nutrientes necessários. Com isso, eles se tornaram ramos produtivos.

É justamente com base nesse raciocínio que alguns estudiosos que defendem essa interpretação. Eles alegam que Jesus está se referindo à disciplina que alguns cristãos verdadeiros são submetidos ao logo de suas vidas. Esses cristãos são levantados de uma posição rasteira a fim de que possam produzir frutos.

Apesar de parecer uma boa interpretação, o problema é que ela parece ter dificuldade em explicar a sentença do versículo 6: Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados.

3.    Os ramos improdutivos são crentes nominais

Por fim, há quem defenda que os ramos produtivos e os ramos improdutivos se referem a dois grupos: os cristãos verdadeiros e os cristãos nominais. Isso significa que os ramos produtivos representam os genuínos seguidores de Cristo que verdadeiramente desfrutam de uma ligação intima com Ele. Justamente por isso eles produzem frutos.

Já os ramos improdutivos representam os impostores. Essas pessoas apenas professam uma fé histórica. Eles também seguem a Jesus e dizem estar nele, mas são incapazes de realmente produzir frutos. Estes ramos ruins e improdutivos são cortados de entre os ramos produtivos, e finalmente são ajuntados e lançados no fogo.

O contexto da alegoria da Videira e os Ramos.

Dissemos que o contexto em que Jesus pronunciou essas palavras é muito importante para sua interpretação. Naquela mesma noite, um de seus discípulos mais próximos haveria de traí-lo. Considerando isso, e se deparando com a insistente repetição do verbo “permanecer” que aparece nesse ensino, a figura de Judas, o traidor, se torna inesquecível.

Pouco antes de dizer ser a Videira verdadeira, Jesus também já havia dito que nem todos que o acompanhavam estavam realmente limpos (João 13). Obviamente essa era uma referência a Judas, o traidor: 

  • Ele havia estado tão perto de Jesus e desfrutado de uma relação tão próxima com Ele. 
  • Ele tinha sido instruído sobre a verdade do Evangelho. 
  • Ele presenciou e participou de obras incríveis que comprovavam que Jesus era o Filho de Deus.


Porém, mesmo diante de tudo isso, ainda assim Judas partiu rumo a sua própria destruição. Já os outros discípulos também tiveram o mesmo contato intimo com o Senhor. Eles escutaram as mesmas palavras, receberam os mesmos ensinos e presenciaram e participaram dos mesmos milagres.

Aparentemente não havia diferença alguma entre o traidor Judas e os onze restantes. Qualquer um visse Judas na noite em que ele saiu para trair o Senhor, facilmente diria: Eis aí um dos discípulos mais próximos daquele Jesus de Nazaré. Isso significa que aparentemente tanto Judas quanto os demais discípulos, eram ramos que estavam na Videira verdadeira.

Mas o Mestre sabia exatamente a diferença que existia entre esses dois tipos de ramos. Enquanto um possuía um relacionamento íntimo e verdadeiro com Ele, o outro possuía apenas um relacionamento externo e superficial. Estava na Videira verdadeira, mas não era frutífero.

Com base nesse contexto, as palavras de Jesus simplesmente se encaixam na advertência acerca do perigo em seguir o exemplo de Judas. Suas palavras trazem a importante admoestação sobre a necessidade de permanecer nele. Somente estando na Videira verdadeira é que um ramo pode produzir os frutos de obediência.

Qual o significado da alegoria da Videira e os Ramos?

O grande significado da alegoria da Videira e os Ramos é a verdade de que somente quem permanece em Cristo poderá dar frutos. Essa verdade também implica na condição de que é impossível um ramo estar na Videira verdadeira e ser definitivamente improdutivo, pois o Pai, como um agricultor, dispensa os cuidados necessários para que os ramos produzam.
A alegoria da Videira e os Ramos demonstra tanto a responsabilidade humana quanto a soberania de Deus. A responsabilidade humana pode ser vista claramente nas palavras: “Aquele que permanece em mim”. Por outro lado, no mesmo versículo, a soberania de Deus também é claramente expressa: “Porque sem mim nada podem fazer” (João 15,5).

Esse “nada” significa a incapacidade humana em fazer qualquer bem em relação a Deus. O homem definitivamente não pode contribuir para sua própria salvação. Isso significa que esse “nada” inclui não só a produção de frutos, mas o próprio ato de permanecer na Videira verdadeira.

Aqui qualquer idéia de auto-gratificação ou salvação por obras cai por terra. Se produzirmos frutos é porque estamos na Videira verdadeira. Se estivermos na Videira verdadeira é porque produzimos frutos segundo o bom cuidado do grande Agricultor. Esse Agricultor nos poda a cada dia para que possamos produzir mais e mais frutos.

Assim, não existem cristãos verdadeiros que não dão frutos. A frutificação distingue de forma definitiva e infalível quem está genuinamente em Cristo. Todos são ramos, e, aparentemente, todos parecem estar na mesma Videira. Porém, o Pai sabe quem precisa ser podado e quem precisa ser cortado. Ele nunca cortará um ramo produtivo, como também nunca deixará passar um ramo que não produz. Assim como a produção de mais frutos é o fim inevitável para o ramo produtivo, ser cortado e lançado no fogo também é o fim inevitável para o ramo improdutivo.

Que fruto é produzido pelos ramos da Videira verdadeira?

Os intérpretes discutem sobre que tipo de fruto os ramos produtivos da Videira verdadeira produzem. Alguns identificam esse fruto com o resultado da evangelização. No entanto, tal fruto não se resumem apenas à própria evangelização, antes, também a inclui.

Com base no contexto do próprio capítulo 15, percebemos que a analogia dos frutos está designando o fruto moral. Esse fruto é a conseqüência natural da obediência à Palavra de Deus expressa no caráter cristão daqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo. Isso implica em todo um novo modo de vida. É justamente por isso que os ramos produtivos são somente aqueles que nasceram de novo.

Outra coisa interessante é que em nenhum lugar da ilustração da Videira verdadeira somos informados de que os ramos improdutivos um dia já produziram e pararam de produzir. A ilustração começa e termina com ramos infrutíferos e ramos frutíferos, apenas isto.

Quando relacionamos esse ensino de Jesus com o capítulo 5 da carta de Paulo aos Gálatas, onde lemos sobre as obras da carne e o fruto do Espírito; entendemos o porquê disso tudo. O apóstolo Paulo claramente nos alerta para o fato de que é somente pela ação e capacitação do Espírito Santo que podemos demonstrar as virtudes que nos levam a uma vida que agrada a Deus. Sem o novo nascimento o homem não passa de um ramo sem vida que é cortado e lançado no fogo.

A Videira verdadeira, os ramos e a soberania de Deus

Esse conceito também nos ajuda a entender a sentença do versículo 10: “Quando vocês obedecem a meus mandamentos, permanecem no meu amor”. Mais uma vez o foco aqui não está em nossa capacidade em guardar os preceitos divinos, mas no resultado da graça soberana de Deus. 

Se nós guardamos os preceitos de Cristo é porque nós o amamos (João 14,15), e se nós o amamos é porque Ele nos amou primeiro (1 João 4,19). A ação soberana de Deus sempre precederá a nossa ação, seu amor sempre precederá o nosso amor. Sua iniciativa sempre precederá nossa resposta.

Assim, qualquer coisa de bom que possamos fazer aos olhos de Deus, na verdade será simplesmente uma resposta de gratidão. Se produzirmos mais e mais frutos, a glória sempre será toda d’Ele (João 15,8). Sobre isso, o próprio Jesus mais à frente declara:

“Vocês não me escolheram; eu os escolhi. Eu os chamei para irem e produzirem frutos duradouros, para que o Pai lhes dê tudo que pedirem em meu nome”.  (João 15,16).

Diferentemente do que alguns alegam essas palavras definitivamente não se resumem apenas ao grupo dos discípulos que cercavam Jesus naquela noite. Essas palavras se estendem a todos os seus discípulos genuínos ao longo dos tempos. Para glória de Deus Pai, esses discípulos são ramos frutíferos que produzem mais e mais frutos por estarem na Videira verdadeira.

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