VIVENDO NO AMOR DE DEUS - LIÇÃO 11 – NÓS AMAMOS
COMO DEUS NOS AMA?
“11. Caríssimos, se Deus
assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros.” (1Jo 4,11).
I.
INTRODUÇÃO.
Num
mundo marcado pelo egoismo, pela arrogância, pela avareza, pela crueldade, pelo
certicismo e por tantos outros substantivos que retratam a realidade dos
corações, a pessoa que não trabalha para si mesma, que não visa a lucros
próprios, está se comportando de maneira singularmente estranha. O mundo espera
que cada um olhe por si mesmo.
O
comportamento cristão, diferente, que causa estranheza e perplexidade ao mundo,
é motivado pelo amor de Deus, que nos impede, nos domina, supera nosso natural
interesse próprio, e nos faz agir contrariamente à natureza.
No
texto que estudaremos, João, de forma brilhante e inteligente, demonstra
sistematicamente que toda atividade de Deus é atividade amorosa: porque Deus é
amor, Ele nos amou em Cristo, continua a amar em nós e através de nós; por isso
devemos amar uns aos outros.
II.
AS CARACTERÍSTICAS DO VERDADEIRO AMOR.
“7. Caríssimos,
amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido
de Deus e conhece a Deus. 8. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus
é amor.” (1Jo 4,7-8).
Nesse
trecho, provavelmente, João estava combatendo mais uma heresia dos gnósticos,
que ensinavam que a matéria é essencialmente má porque o mundo físico é produto
do poder do mal. Por isso, negavam a encarnação de Cristo, assim não podiam
alcançar a compreensão de que Deus é amor.
1.
Sua origem e natureza são divinas.
João
faz duas afirmações contundentes:”o amor
procede de Deus” e “Deus é amor”. Ao dizer isso, João não estava oferecendo
uma definição de amor, mas apenas estabelecendo um fato. Se igualarmos o amor
de Deus, cometeremos um erro e estaremos destruindo o conceito da personalidade
de Deus.
Seria
como afirmar que os raios do Sol são o próprio sol. Quando dizemos: “fulano é a bondade em pessoa”, não
queremos dizer que a pessoa de quem falamos e a bondade sejam idênticas, e
ninguém interpretaria nossas palavras nesse sentido. Da mesma forma, quando
dizemos que Deus é amor, estamos afirmando que o amor é algo verdadeiro a
respeito de Deus, mas não é Deus. O amor de Deus é um ato livre da Sua vontade,
não uma emoção produzida Nele em virtude de uma situação.
Deus
não só é amor, como também é a fonte e a origem do verdadeiro amor. A natureza
do amor é ativa, benigna e criativa e, por isso, não pode permanecer imóvel. No
amor há a necessidade de se dar àqueles que são objeto dele, o que no
pensamento gnóstico era algo inconcebível.
2.
Sua dimensão é imensurável.
O
amor é um atributo essencial de Deus e expressa algo que Deus é em Seu ser
unitário, assim como justiça, santidade, fidelidade, etc. Aliás, outros
atributos de Deus nos auxiliam no aprendizado a respeito do amor de Deus, como
atributos. Exemplo: sendo Deus auto-existente, o Seu amor não pode ter fim;
sendo Deus infinito, Seus amor não tem limites; sendo Deus soberano, Ele está
completamente capacitado a assegurá-lo.
3.
Sua evidência é inquestionável.
O
argumento usado é bastante simples e conclusivo: aquele que ama é nascido de
Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus. O amor é a
manifestação da natureza daquele que dizemos ser nosso Pai, logo, se amamos,
evidenciamos nossa filiação em Deus. Amar uns aos outros não nos torna filhos
de Deus, mas mostra que o somos.
III.
A MANIFESTAÇÃO DO AMOR.
“9. Nisto se manifestou
o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único,
para que vivamos por ele. 10. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a
Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos
pecados. (1Jo
4,9-10).
Infelizmente,
muitos imaginam Deus como um Ser distante, carrancudo, velhinho, apático,
sombrio e vingativo – essa é uma visão errada de Deus.
“Já antes da vinda de
Cristo ao mundo, as grandes nações filosóficas, Grécia, China e Índia, haviam
completado suas filosofias e, depois delas, nada de significativo surgiu.
Baseadas nessas filosofias, surgiram também muitas religiões, mas nenhuma delas
se assemelha ao evangelho, pois a religião é a busca do homem a Deus, por isso
há muitas religiões. Mas o evangelho é Deus buscando o homem, por isso, há um
só evangelho” (E.
Stanley Jones).
Deus,
sendo amor, nunca desistiu de Se repartir com as pessoas. Mesmo quando as
pessoas desobedeceram a Deus e contraíram uma dívida impagável. Ele planejou
enviar o Messias para pagar a dívida e restaurar o relacionamento. Essa foi a
demonstração concreta e inquestionável do amor de Deus – “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus
amigos.” (Jo 15,13).
Cristo,
pela Sua expiação, removeu a barreira que impedia a comunhão com Deus. Esse
amor é incondicional, espontâneo, busca o bem de outrem à custa do seu próprio
bem e se sacrifica pelo outro. Nisso consiste o amor.
IV.
A ATIVIDADE CONTINUA DO AMOR DE DEUS.
“11. Caríssimos, se Deus
assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. 12. Ninguém jamais
viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em
nós é perfeito.” (1Jo
4,11-12).
Um
dos motivos de termos sidos criados à imagem e semelhança de Deus foi a
capacidade de relacionamento. Deus desejava e deseja Se repartir com alguém e
esse foi um dos alvos da criação. Mesmo quando entrou o pecado, como vimos
anteriormente, Deus providenciou o meio para restaurar o relacionamento.
Portanto,
a primeira razão pela qual devemos amar uns aos outros é porque Deus é amor e o
amor procede Dele. A segunda razão não está baseada na verdade abstrata da
natureza de Deus, mas no fato concreto de Deus enviar Seu Filho ao mundo para
Se sacrificar por nós.
A
atividade continua do amor de Deus apresenta três aspectos:
1.
Um aspecto íntimo e pessoal.
João
trata desse aspecto pessoal ao usar a expressão – “...e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” (1Jo
4,7). Podemos afirmar então que Deus não ama as populações, ama as pessoas.
Deus não ama as massas, ama os seres humanos.
Que
prazer e segurança saber que Deus nos ama individualmente, e que nada poderá
nos separar do seu amor! – “38. Pois
estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, 39. nem as
alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor
que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8,38-39).
2.
Um aspecto coletivo.
Não
é um raro ouvirmos pessoas dizendo que não precisam de igreja para se
relacionar com Deus. Isso é uma falácia do inimigo. A presença e o amor de Deus
podem ser experimentados quando entramos em contato com pessoas que pertecem a
Ele. Ed René Kvivtz, em seu livro Koinomia – manual para líderes de pequenos
grupos, afirma que pessoas precisam de Deus, e pessoas precisam de pessoas.
O
amor não pode ser uma especialidade de alguns poucos na igreja. Todos aqueles
que individualmente foram objetivos do amor de Deus e agora pertencem a Ele
devem agora amar o outro e não viver uma vida egocêntrica. Isso é parte do
sacerdócio de cada cristão. A forma como João usa o verbo amar (agapão, no
grego) indica uma atitude habitual e contínua de amar.
Jesus
ensinou a grande necessidade de não discriminar as nossas amizades – “Se amais os que vos amam, que recompensa
mereceis? Também os pecadores amam aqueles que os amam.” (Lc 6,32). A nossa
grande dificuldade está em amar aquele irmão que nos maltratou, que não nos
cumprimentou, aquele que se entristece quando estamos alegres, o que nos
ofendeu e não pediu perdão, o que pecou e, arrependido, precisa de perdão, ao
invés de críticas. E quanto aos filhos, amar aquele filho obediente e dócil é
fácil, mas e o rebelde?
Lembremo-nos
de que essa era a nossa condição diante de Deus! – “Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando
éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.” (Rm 5,8).
3.
Um aspecto sobrenatural.
Notemos
a afirmação, aparentemente fora de contexto, de que ninguém jamais viu a Deus.
Será isto possível? A resposta de João seria enfática: Sim! É completamente possível amar alguém que não vimos, mas é impossível amar alguém que não
conhecemos. Exemplo: uma mãe cega afaga, acaricia, se deleita, ama seu bebê com
o mesmo amor que uma mãe com visão normal. Embora não tenha visto,
experimentou-o, conheceu-o através de
diversas maneiras doces e intimas.
Da
mesma forma, o mesmo Deus que Se revelou em Seu Filho, agora pode ser conhecido
pela revelação de Jesus Cristo e pelo amor que os Seus filhos demonstram uns
para com outros, pois esse amor é evidência da habitação de Deus nele. Pedro
diz: “Este Jesus vós o amais, sem o
terdes visto; credes nele, sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma
alegria inefável e gloriosa,” (1Pd 1,8).
V.
CONCLUSÃO.
No
cristianismo, há um conteúdo que o diferencia de tudo o mais, quer sejam
religiões ou filosofias. É o próprio Deus ressurreto vivendo e manifestando Seu
amor em seu povo e através dele.
Assim
como não podemos apanhar uma estrada e mostrá-la a alguém, mas podemos apontar
para ela, nao podemos falar de maneira completa do amor de Deus, mas enquanto
estendemos o nosso coração ao alto e brilhante amor de Deus, alguém que não O
conhece poderá animar-se, e olhar para cima, e ter esperança.
A
igreja deve agir, em amor, na plenitude do Espírito Santo, orientada,
capacitada e ungida por Ele. Quando isso acontece, os perdidos são salvos, os
solitários são abençoados, os tristes são consolados, os famintos são saciados.