domingo, 11 de março de 2012

SERMAO DA MONTANHA LIÇAO 05 – A JUSTIÇA DO CRISTÃO


“Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.” Mt 5,20.

  1. INTRODUÇÃO.

Estudamos até aqui o caráter que o cristão deve demonstrar e sua influencia no mundo quando esse caráter é visto por meio das “boas obras” (Mt 5,16). Jesus começa a definir a natureza dessas “boas obras” em termo de justiça. Essas “boas obras” são obras de obediência. Esse trecho é importante porque nos dá o ensino de Jesus a respeito do relacionamento entre o Novo e o Antigo Testamento, entre o Evangelho e a Lei.

O conflito de Jesus com os escribas e fariseus estabeleceu um novo período na interpretação oferecida pelos estudiosos da lei e, com essa correção, agendou o inicio do seu reino de justiça entre os homens.

A questão da justiça é central porque os judeus atribuíam justiça a si mesmos, devido à grande importância que davam à lei mosaica. Eles se julgavam modelo de justiça, portadores da justiça de Deus. Jesus, então, afirmou que para uma pessoa ter parte do reino de Deus, sua justiça deve exceder em muito a justiça dos escribas e fariseus. Isto deve ter chocado muito os ouvintes de Jesus deve nos chocar hoje também. Mais chocantes ainda são as palavras de Jesus concernentes à lei mosaica. Jesus afirmou que não veio para abolir a lei, mas cumpri-la, ou seja, fazê-la completa. A obediência à lei era algo válido tanto nos dias de Jesus como o é hoje e cada um de nós são chamados para entender a lei, sua função e como podemos inseri-la em nossa vida.

  1. A LEI DE CRISTO.

“Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.” Mt 5,17.

Jesus, nessa afirmação, parecer ter três pensamentos em mente.

I.              Jesus não veio “para revogar a lei”, mas “para cumpri-la”.

Os judeus estavam muito preocupados com a suposta atitude de Jesus em relação ao AT. Eles sentiam que Jesus estava ensinando uma nova doutrina e demonstrando uma nova autoridade – “Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!” – Mc 1,27. Naturalmente estavam preocupados com a relação entre a autoridade de Jesus e a autoridade da lei mosaica. Ele estava contradizendo a Palavra de Deus do AT? Por causa disso, Jesus declarou com veemência: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.” Mt 5,17.

II.            Jesus traz a interpretação correta da lei e a cumpre de forma prática e justa.

A evidencia disto está nos versos seguintes que Ele dá como exemplo da eficácia da lei (Mt 5,21-47). Com isso Ele estabelece que a lei é boa, pura e santa, mas que os escribas formularam interpretações opcionais de forma conveniente às suas limitações.

Dessa forma eles ainda poderiam ser vistos como o exemplo de justiça. Jesus quebrou este conceito revelando a realidade das motivações dos religiosos da época.

III.           Jesus vai além e assume que Ele traz em seu corpo a revelação final da justiça de Deus.

Jesus cumpre a lei no sentido de que Ele a completa, a resume e a faz viável para os homens por meio de sua própria justiça. O relacionamento desse cumprimento espiritual com o cumprimento literal da lei por Jesus Cristo formam a base da justiça do cristão.

  1. A LEI E O CRISTÃO.

“Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar serão declarados grandes no Reino dos céus.” – Mt 5,19.

Jesus enfatiza que a grandeza no reino dos céus deve ser medida pela nossa atitude perante a lei.

I.              O cristão deve obedecer a lei (v.19).

Cristo afirmou que não podemos “violar um destes mandamentos”, mesmo um que consideramos de menor importância. O fato é que todos os mandamentos foram dados por Deus para serem observados.

II.            O cristão deve ensinar a lei (v. 19).

O discípulo de Jesus deve ensinar a outros o fato que a obediência à lei do Senhor continua válida para os nossos dias, no inicio de um novo milênio.

III.           O cristão deve demonstrar uma conformidade com a lei do Senhor bem superior dos escribas e fariseus (v.20).

Não há duvida que os escribas e fariseus eram famosos pela sua justiça. Obediência à lei de Deus era a grande paixão da sua vida. Mas a justiça do cristão é maior porque é a justiça do coração. A justiça dos escribas e fariseus era algo exterior e formal, mas a do cristão é do coração, como o Senhor falou a respeito da escolha de Davi – “O homem vê o exterior, porem o Senhor o coração”. Uma das bênçãos do Evangelho é que o Espírito coloca a lei em nosso coração – “...gravá-la-ei em seu coração.” (Jr 31,33). Só a pessoa que experimentou o novo nascimento pelo Espírito REM condições de obedecer fielmente à lei do Senhor.

IV.          O cumprimento da lei pelo cristão deve ser visto à luz da justiça de Deus na vida do cristão.

Todos nós somos chamados por Cristo a cumprirmos a lei. Mas se fizermos pela nossa própria força coemos o risco de gerar tradicionalismo e hipocrisia espiritual, como os escribas e fariseus.

a.    “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.” – 2Cor 5,21.

O grande mistério da cruz é o poder de Deus em restaurar homens pecadores e inúteis a Deus em homens valorosos para o seu reino. Sua marca mais poderosa é a presença da sua justiça implantada no coração do homem regenerado. Pelo sofrimento de Cristo nós recebemos não somente o direito de filhos, como a própria natureza da justiça de Deus em nós.

b.    “Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados (Is 53,5)” – 1Pd 2,24.

A conseqüência natural do sacrifício de Cristo faz com que homens, antes pecadores, passem a viver de acordo com a justiça de Deus e não de acordo com a justiça dos homens. Essa era a evidencia principal da injustiça dos religiosos da época de Jesus. O homem que se achega a Deus pelo sacrifício de Jesus Cristo morre para os pecados e passa a viver para a justiça de Deus.

c.    “É por sua graça que estais em Jesus Cristo, que, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção.” – 1 Cor 1,30.

Toda esta coisa Jesus tornou-se para nós, incluindo-nos nas bênçãos da sabedoria, justiça, santificação e redenção. O crente tem em Cristo tudo o que é necessário para viver de acordo com a justiça de Deus. O mais impressionante é que a Bíblia nos chama claramente de possessão de Deus, do Deus de justiça.




d.    “Revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.” – Ef 4,24.

A realização da justiça de Deus na vida do homem é proposta por Deus, feita possível no sacrifício de Cristo e oferecida ao homem pela vinda do Espírito Santo, mas o homem precisa optar por viver de acordo com essa justiça em novidade de vida. A conversão estabelece uma nova vida, essa criada completamente por Deus. Por isso o agir cotidiano deste novo homem devem refletir exatamente a justiça e retidão que procedem da verdade de Deus.

e.    “Cheios de frutos da justiça, que provêm de Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.” – Fl 1,11.

A oração de Paulo para os filipenses é mais do que um anseio amável para pessoas queridas, é o fim desejado de um mestre para os seus discípulos. Não nos adianta declarar ter uma justiça e não vivê-la. Não nos serve de nada cantar as vantagens e certezas da justiça de Deus em nós se os homens não podem vê-la em nosso cotidiano. A justiça de deus foi plantada em nós para que pudesse dar frutos de justiça.

Os religiosos dos dias de Jesus tinham falhado em produzir o fruto da justiça de Deus. Ao contrario, eles manipularam a verdade da lei, fazendo-a uma tradição, tornando-se infrutíferos para Deus, insensíveis à sua voz, inúteis para o seu reino. A justiça do cristão é a luz que não se pode esconder, é o amor que não se pode apagar.

f.     “Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça.” – 2Pd 3,13.

Pedro expressa a esperança cristã na vida futura e nos revela a morada  da justiça de Deus. É junto a Ele, na Jerusalém espiritual, que está a espera de seu estabelecimento. A esperança cristã descansa na convicção de que o mundo futuro será um mundo de justiça, perfeito em bondade e amor.

  1. A LEI E A JUSTIÇA DO CRISTÃO.

O texto de Mateus 5 deve ser entendido de forma dupla. O cumprimento da lei foi sim literal. O cumprimento da lei demonstrou a forma correta de viver que parecia impossível. Mas e nós? Nós devemos vivê-la e ensiná-la corretamente até o final dos tempos. Para homens pecadores e entregues aos desejos da carne a lei é um revelador da iniqüidade humana, mas para corações redimidos e regenerados a lei é a norma básica de uma vida cheia de justiça vinda do alto. Agora o cumprir da lei é feito a cada dia por cada cristão que se entrega humildemente ao seu Senhor  em obediência e reverencia. Não é uma questão de abolir, ou diminuir, ou até extinguir a lei.


  1. CONCLUSÃO.

Nós devemos avaliar a nossa visão sobre a lei de Deus. Se Cristo a cumpriu e nos comanda a cumpri-la, nós devemos fazê-lo conscientes de que temos recebido de Deus tudo que precisamos para amar essa lei, viver na justiça de Deus e produzir frutos de justiça a cada dia ao nosso redor.

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