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domingo, 29 de abril de 2012

SERMÃO DA MONTANHA - LIÇÃO 14 – UM CONVITE À ORAÇÃO.


“Por acaso não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que estão clamando por ele dia e noite? Porventura tardará em socorrê-los? Digo-vos que em breve lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?” (Lc 18,7-8).


  1. INTRODUÇÃO.

Este é definitivamente  um assunto apaixonante a possibilidade de parar o sol, acalmar a tempestade, ressuscitar mortos, levar pecadores ao Senhor, reconciliar irmãos, fertilizar mulheres estéreis pelo exercício da fé. A oração é um mistério ainda a ser revelado integralmente ao povo de Deus. Há tantas perguntas, tantas dúvidas! Porém, aqui, Jesus nos convida à oração. Esse é, com certeza, seu grande propósito nessa palavra.

  1. QUANDO, APARENTEMENTE, A ORAÇÃO NÃO FUNCIONA – exceções que comprovam a regra.

                    I.    Quando o filho pede mal; pedra, cobra ou escorpião.

a)       Tiago 4,2-4 – esbanjar em prazeres.
b)       Tiago 4,24 – amizade do mundo.

É muito natural, pela pista de figura do filho que pede, imaginar que pedimos mal. Alias, a oração ensinada por alguns grandes comunicadores cristãos (livros, TV, radio, conferencias de avivamento, outros) é, em muitos casos, uma pós-graduação em “como pedir mal e ainda receber”, pelo menos é o que concluímos pelos mentirosos na Igreja do que pensamos.

“Se um filho, de 16 anos, pedir o carro pra dar um ‘rolê’, não dê”.

                  II.    Quando o filho não pede ou não pede com todo coração.

A importância da progressão “pedir, buscar e bater” – talvez haja aqui o sentido de progressão ou processo ou diferentes tipos de bênção. Sugerimos algumas trilhas possibilidades:

a)    A estratégia de uma criança (Mt 18,1-5; Mt 21,16).

“Estando à mãe perto e visível, pede; caso contrário, longe, a criança busca; se a mãe estiver inacessível no seu quarto, ela bate(Richard Glover).

Assim é que o filho de Deus REM nessa figura um espelho de sua experiência real. Há situações em que basta pedir (caso de cura da sogra de Pedro – Lc 4,38-39); outras há em que é necessário buscar com insistente humildade (caso do paralitico que desceu pelo telhado – Lc 5,17-26); e ainda outras em que a posição é grande. Nesse caso é preciso bater até quebrar certos protocolos para ver a porta do céu ser aberta (caso de Zaqueu – subiu numa arvore, não dar importância à torcida contra, abrir mão do estilo de vida, abrir mão do dinheiro amado, por ter certeza de que a resposta está logo ali “atrás da porta” – Lc 19,1-10).

b)    A experiência acontece em níveis.

·         Primeiro nível – pedir – é o estágio em que o filho simplesmente pede. Ainda está descobrindo o que “quer” ou quase já sabe, com certeza. Aqui é preciso repetir muito: “seja feita a Tua vontade”.
·         Segundo nível – buscar – o filho já o que quer, ou o que deve querer, mas tem de perseverar (“Não temas, Daniel, disse-me, porque desde o primeiro dia em que aplicaste teu espírito a compreender, e em que te humilhou diante de teu Deus, tua oração foi ouvida, e é por isso que eu vim. O chefe do reino persa resistiu-me durante vinte e um dias; porém Miguel, um dos principais chefes, veio em meu socorro. Permaneci assim ao lado dos reis da Pérsia. Aqui estou para fazer-te compreender o que deve acontecer a teu povo nos últimos dias; pois essa visão diz respeito a tempos longínquos.” Dn 10,12-14). Quase sempre, nesse ponto da caminhada, os obstáculos surgem em maior qualidade. A palavra de oração muda para: “dá-me forças para não desanimar, não desviar, não desistir”; e “confirma a Tua vontade”.
·         Terceiro nível – bater – o filho chega até a resposta, mas “a porta esta fechada”. Precisa bater, insistir, conquistar. Muitas confirmações foram dadas, mas um detalhe final ainda impede. Daí é preciso orar com insistência ainda maior. Não é mais uma petição, mas uma oração de invasão. Agora, sim, a oração é: “Em nome de Jesus: levanta e anda” ou “sai deste homem” ou “caia fogo do céu”. Lembre-se da história de José do Egito no cárcere à espera da lembrança do copeiro no palácio para falar em seu favor. Tudo indicava que logo poderia ser libertado, mas o copeiro não se lembrou de José. Esse era o momento de “bater” – foi quando Faraó sonhou e o copeiro lembrou-se de seu compromisso “de cela” com José.

c)     Tipos de bênçãos I.

·         Para pedir: perdão, cura, socorro, sustento;
·         Para buscar: poder, santificação, crescimento espiritual, dons espirituais;
·         Para bater: libertação, conversões, justiça.

d)    Tipos de bênçãos II

·         Bênçãos da criação e bênçãos da redenção – J. Stott acrescenta outra possibilidade quanto aos tipos de bênçãos, da seguinte forma: ”Ao pensarmos nisso, é preciso diferenciar entre as dádivas como Pai, ou entre os dons da criação e os dons da e amor; na verdade redenção. É realmente verdade que Ele dá certas coisas (colheitas, filhos, alimento, vida), quer oremos ou não, quer creiamos ou não. Ele dá vida e respiração a todos. Ele envia chuva do céu e as estações do ano a todos. Ele faz o sol nascer para os maus e os bons igualmente. Ele visita uma mãe quando ela concebe e, mais tarde, quando ela dá à luz. Nenhum desses dons depende do conhecimento que as pessoas têm do seu Criador ou de orar. Mas os dons divinos da redenção são diferentes. Deus não concede salvação a todos, mas é “rico para todos os que invocam”, pois ‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’”.

O mesmo aplica às bênçãos pós-salvação, as “boas dádivas” que Jesus diz que o Pai dá a seus filhos. Não são bênçãos materiais, mas espirituais: perdão diário, livramento do mal, paz, aumenta de fé, esperança e amor; na verdade é a benção completa de Deus na obra do Espírito Santo que habita em nós, que é, como Lucas traduz, as “as boas dádivas”. Por esses dons certamente devemos orar.

Stott conclui dizendo que quando pedimos “o pão de cada dia” na verdade não estamos pedindo, já que sabemos que Ele nos dará de qualquer modo. O que estamos fazendo e isso é correto e bom, é reconhecer nossa dependência de Deus em todas as áreas da vida, especialmente a vital: sobrevivência.

Por fim, neste ponto, ressaltamos que precisamos perseverar em oração, individualmente e como Igreja. Os cristãos costumam dizer que a igreja “tradicional”  tem um problema histórico com a oração. Isso não é verdade. As igrejas históricas evangelizaram o mundo com oração, poder e consagração. A oração deve estar em primeiro lugar:

  • A liderança da igreja deve reunir-se muito mais para orar do que para administrar;
  • Os jovens precisam reunir-se menos para socializar-se e cantar – mais para orar e estudar a Bíblia;
  • As mulheres, as crianças e os lideres das igrejas, especialmente, devem orar mais e compartilhar menos em suas reuniões.

Não se esqueça: estamos verificando as exceções que comprovam a regra: o filho não pode, pode sem “força”, pede mal ou ainda...

                III.    Deus respondeu e o filho não percebeu.

Aprenda com esta pequena “parábola” sobre provocação, tribulação e oração (Rm 8; 2Cor 4,7-18).

“O único sobrevivente de um naufrágio foi parar em uma pequena ilha desabitada, fora de qualquer rota de navegação. Ele orava fervorosamente pedindo a Deus para ser resgatado, mas os dias passavam e nenhum socorro vinha. Mesmo exausto, construiu um pequeno abrigo de madeira para que pudesse se proteger do sol, da chuva e de animais; também para guardar seus poucos pertences. Um dia, saiu em busca de alimento e, quando voltou, encontrou seu abrigo em chamas, envolto em altas nuvens de fumaça.

Terrivelmente desesperado e revoltado ele gritava chorando: “O pior aconteceu! Perdi tudo! Deus, porque fizeste isso comigo?” chorou tanto que adormeceu profundamente cansado.

  No dia seguinte, bem cedinho, foi despertado pelo sim de um navio que se aproximava:
- Viemos resgatá-lo, disseram.
- Como souberam que eu estava aqui? Perguntou ele.
- Nós vimos o seu sinal de fumaça!”

Essa história ilustra a situação pela qual todos nós passamos ao “acharmos” que a resposta não chegou. A resposta pode ter chegado e você não viu. Já ouviu o “caso” do homem na enchente que não aceitou socorro das pessoas porque tinha certeza do livramento prometido por Deus? Os vizinhos o chamaram  para correr, outros passaram mais tarde com botes, por fim até um helicóptero, mas ele sempre se negava dizendo: Deus vai enviar livramento em resposta a minha oração”. Por fim, morreu. Quando chegou ao céu reclamou com Deus sobre o n ao atendimento de sua prece, ao que o Senhor respondeu: “Enviei vizinhos para ajudá-lo; outros, mais tarde, com botes; até um helicóptero e você não aceitou”.

Enxergar, entender, aceitar e interpretar a resposta é tão importante quanto pedir.

Mas a força do texto bíblico está no desafio de Jesus a uma vida de oração intensa, aguerrida, corajosa, consagrada e sincera. Isto funciona. Veja como.

  1. QUANDO A ORAÇÃO FUNCIONA – A REGRA.

                    I.    Um convite à oração.

Claramente essa palavra de Jesus é um convite à oração. É quase uma provocação do Mestre. Ele, que já havia depreciado a hipocrisia (Mt 6,5-8), agora desfere uma poderosa palavra positiva a respeito da oração sincera, objetiva e fervorosa. Sempre devemos pensar: “Eu preciso orar mais”.

                  II.    A oração funciona.

Faz parte de nossa natureza “material” crer apenas no que se vê. Viver baseado nos códigos do reino dos céus é um constante desafio para os “olhos de nossa alma”.

Vocês se lembram do caso da prisão e primeiro martírio de um apóstolo (Tiago) em At 12,1-19? A Igreja reunida orava pedindo a libertação de Pedro (v 5.12), o Senhor atendeu pronta e milagrosamente (v 6-8), ma Pedro demorou a acreditar (v 9-11). A igreja, em oração, mais ainda titubeou  diante da PRONA e imediata resposta (v 13-16).
Nossa carne é assim mesmo. Quando o cristão ora, abandona os códigos deste mundo e passa a trabalhar com outras leis: as do reino de Deus. Essa foi a lição para Israel na peleja contra os amalaquitas: enquanto Moisés, apoiado por Arão e Hur, levantava as mãos ao céu (oração), Israel prevalecia; quando, porem, ele abaixava, prevalecia Amaleque (Ex 17,8-16). Moisés escreveu isto e deve ter repetido muitas vezes para Josué, a fim de que o moço jamais se esquecesse de que a oração funciona.

Quando Jesus amaldiçoou a figueira sem fruto os discípulos estranharam o fato de ela secar imediatamente. A palavra de Jesus diante da incredibilidade dos seus seguidores foi no sentido de que eles deveriam dores foi no sentido de que eles deveriam passar a andar sobre os trilhos do reino de Deus – invisível, mas real. Deveriam estranhar se nada acontecesse. A oração deve ir tomando conta da nossa alma de modo que a gente estranhe quando nada acontece, e não o contrario – porque a oração funciona, nosso Deus funciona, Jesus esta vivo (Mt 21,18-22).

  1. CONCLUSÃO.

A prática da oração é um desafio que supera comunitariamente. Note que em Mt 7,12 – “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.” – Jesus, abruptamente, volta os olhos dos discípulos para o próximo. Alias, nosso Mestre fez isso nos capítulos 6 e 7; misturou a esmola com a oração e o jejum; a questão do dinheiro e o céu com o vicio do julgamento. Isso quer dizer que o desafio da oração será vencido pelos “filhos do Pai celeste” operando juntos.

Em Mt 6 Jesus incentiva a oração secreta ao Pai e em  Mt 18,19 – “Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus”. Leia também os Salmos 122 e 133. Na oração modelo (Mt 6,9-15), Jesus fala do perdão mútuo vinculado ao perdão divino. A lição da oração é para ser aprendida pela família de Deus.

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