“... para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.” – Jo 17,21
I. INTRODUÇAO.
É interessante estudar as varias figuras que descreve a Igreja de Cristo no Novo Testamento. “A Bíblia refere-se aos primeiros cristãos como família e templo de Deus, como rebanho e noiva de Cristo, como sal, como fermento, como pescadores, como um baluarte sustentador da verdade de Deus, e de muitas outras maneias”. (O Mundo do Novo Testamento).
Estudaremos nesta lição duas metáforas usadas para descrever a Igreja – a Igreja como Corpo de Cristo e a Igreja como noiva de Cristo.
II. A IGREJA COMO O CORPO DE CRISTO.
A metáfora mais comum no Novo Testamento para descrever a Igreja é o “corpo” é Paulo, nas cartas paulinas às igrejas de Roma, Corinto, Éfeso e Colossos, usa esta terminologia. Diferente das demais figuras para descrever a Igreja, esta, a do “corpo”, não tem base no Antigo Testamento.
1. A unidade do Corpo de Cristo.
A Bíblia declara em Efésios 1,22-23 – “... e sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja, que é o seu corpo, o complemento daquele que cumpre tudo em todas as coisas.” – que Cristo é a cabeça da Igreja e a Igreja é o seu corpo. Isso significa a união de Cristo com seu povo e a unidade, um com os outros – “Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros.” (1Cor 12,27).
“A relação entre a Igreja e Cristo é de fato muito intima; trata-se de uma espécie de união orgânica, pelo qual nos unimos a Ele completamente, no ser e no agir – “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.” (Cl 3,4). O fato dEle ser a cabeça implica que toda a nossa vida e nutrição emanam dEle. Nós vivemos dEle, por Ele, através dElee para Ele – “todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas, e por ele nós também.” (1Cor 8,6)” (Bruce Milene).
1Cor 12,12-13 – “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos quer livres; e a todos nós foi dado beber de um só Espírito.” – mostra que “o corpo é um”, porque o Espírito é um e é Ele quem faz a união, que batiza num só corpo. O apóstolo Paulo estava preocupado com as divisões e partidos na Igreja em Corinto, com ciúmes e contendas e alguns irmãos dizendo: “... Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo.” (1Cor 1,12). Por isso ele escreveu: “e que não haja dissensões entre vós; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer.” (1Cor 1,10b). Não pode haver divisão no corpo de Cristo.
Paulo também faz uma pergunta absurda aos cristãos em Corinto – “... será que Cristo está dividido?” (1Cor 1,13ª). Tem que haver união na Igreja! É imprescindível que todos os cristãos “... procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz.” (Ef 4,3).
2. A diversidade dos membros.
O corpo humano está composto de muitos membros, cada um com uma função bem distinta e peculiar – “Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma função.” (Rm 12,4). Na Igreja, também, “... há muitos membros, mas um só corpo.” (1Cor 12,20), e todos possuem “...diferentes dons segundo a graça que nos foi dada,...” (Rm 12,6). Precisamos usar os dons que Deus nos tem dado para o bem do corpo de Cristo, a Igreja!
Deus, o criador do ser humano, formou o corpo como Ele quis, colocando cada membro onde achou melhor (“... colocou os membros no corpo, cada um deles como quis.” 1Cor 12,18). Nenhum Membro é inferior ao outro – cada membro é importante para o bom para o funcionamento do corpo. É a mesma coisa com o “Corpo de Cristo”. Deus tem distribuído dons aos cristãos, não conforme nosso desejo, mas conforme sua vontade para o bem da Igreja, “...tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.” (Ef 4,12).
No corpo humano cada membro precisa dos outros membros para que funcionem bem. Um não pode dizer a outro “Não tenho necessidade de ti” (1Cor 12,21).
É mesma coisa na Igreja. Todos os membros são necessários e devem contribuir para o crescimento do corpo. Deve haver uma interdependência entre eles, embora haja dons diferentes, “Deus assim formou o corpo... para que não haja divisão no corpo, mas que os membros tenham igual cuidado uns dos outros.” (1Cor 12,24-25).
“Os dons não são dados aos cristão para seu proveito próprio, particular, e ninguém consegue crescer e chegar à maturidade isoladamente” (Bíblia de Estudo de Genebra). Quando “toda junta” e “cada parte” do corpo estão funcionando e cooperando bem, o corpo de Cristo vai ser edificado em amor (“o qual o corpo inteiro bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor.” – (Ef 4,16)).
Na sua igreja, todos os membros estão usando teus dons dados por Deus, para o seu crescimento? Veja a ordem de Pedro – “... servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.” – 1Pd 4,10.
III. A IGREJA COMO NOIVA DE CRISTO.
A palavra usada no Antigo Testamento para “noiva” significa “a mulher perfeita e completa”, uma mulher que chega à plena perfeição de maturidade e beleza no dia do seu casamento. Esta metáfora ou figura é bem conhecida no AT quando Deus fala de Israel como sua noiva (“Pois como o mancebo se casa com a donzela, assim teus filhos se casarão contigo; e, como o noivo se alegra da noiva, assim se alegrará de ti o teu Deus” Is 62,5). Ezequiel descreve, numa linguagem muito vivida, Jerusalém como uma esposa infiel (“Então, passando eu por ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a minha aba, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei num pacto contigo, diz o Senhor Deus, e tu ficaste sendo minha.”) em contraste com a fidelidade de Deus.
No Novo Testamento João Batista declara que Jesus é o “noivo” e ele apenas o amigo do noivo (“Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo. Jo 3,19”). No livro do Apocalipse a Igreja é descrita como “a noiva, esposa do Cordeiro” (“Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória; porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se preparou.” Ap 19,7; “E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. E veio um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das sete últimas pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro.” Ap 21,2).
1. A pureza moral da noiva.
Paulo, escrevendo para a igreja de Corinto, uma igreja cheia de imoralidade e impureza, afirma “... Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; pois vos desposei com um só Esposo, Cristo, para vos apresentar a ele como virgem pura. 2Cor 11,2”.
Em Ef 5,23-29, Paulo, usando a analogia de casamento, descreve a relação entre Cristo e sua noiva, a Igreja. A Bíblia sugere que o propósito da morte de Cristo com respeito a sua noiva è:
- Santificação – separação completa para Ele.
- Purificação – lavagem do pecado no seu sangue.
- Apresentação a Si mesmo na sua vida – (cf Mt 22,1-14). O desejo de Cristo é que sua noiva seja “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porem santa e sem defeito – (Ef 5,27)”.
Paulo declara que “a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santidade e honra, não na paixão da concupiscência, como os gentios que não conhecem a Deus (1Ts 4,3-5)”. Parece que hoje dia há pouquíssima diferença entre o comportamento de muitos crentes e dos incrédulos. Há jovens que praticam sexo antes do casamento, há cristãos que tem relações extraconjugais, cristãos que moram juntos sem se casar, exatamente como as pessoas que não conhecem a Cristo tem que ser “santa e sem defeito”.
Como “noiva” de Cristo, é preciso que os cristãos “vivam de maneira digna da vocação que receberam (Ef 4,1)” e a Bíblia explica de maneira bem prática como devemos viver (Ef 4,25-5,4; Cl 3,5-17).
O desejo do Noivo é que sua noiva seja “sal da terra” e “luz do mundo”, vivendo de acordo com os princípios do Sermão da Montanha.
2. A pureza doutrinaria da noiva.
A igreja, noiva de Cristo, tem que zelar pela sua pureza doutrinaria. Em 2Cor 11,3 – “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo.”, Paulo expressa sua preocupação a respeito disso e, escrevendo ao jovem discípulo Timóteo, ele alerta que o “Mas o Espírito expressamente diz que em tempos posteriores alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm a sua própria consciência cauterizada, (1Tm 4,1-2)”. Parece que hoje estamos vivendo dias assim – tantas heresias são preparadas e aceitas pelas igrejas; tantos “tele-evangelistas” pregando suas próprias “teologias” em vez de proclamar a Palavra de Deus; a ênfase na Teologia da Prosperidade, etc. Parece que chegamos aos dias dos quais Paulo falou a Timóteo na ultima carta antes de seu martírio: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade. (2Tm 4,3-4ª)”.
Satanás, o pai das mentiras, está muito ativo, semeando muitas mentiras através de falsos profetas no seio da igreja.
Como “noiva de Cristo”, a Igreja tem que “crescer na graça e no conhecimento do Senhor (2Pd 3,18)”. Precisamos ler a Bíblia diariamente, estudá-la bem para que “não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro. (Ef 4,14)”. .
IV. CONCLUSAO.
Estas duas figuras da Igreja trazem grandes desafios. Primeiramente, a viver, como “corpo de Cristo”, de modo digno do Senhor que é a cabeça do corpo, submisso a Ele e em união uns com os ouros. Sempre devemos lembrar que todos os membros são importantes, não existe “membro” ou “dom” inferior ou superior e os dons foram dados por Deus, conforme Ele achou melhor para o crescimento da igreja. Então ninguém pode se vangloriar do seu dom de um irmão, mas deve haver uma interdependência entre todos na igreja.
Como “noiva de Cristo” somos desafiados a viver uma vida de pureza interior e exterior, produzindo o fruto do Espírito. Também devemos estudar a Palavra de Deus diariamente para que conheçamos bem as doutrinas bíblicas e zelar para que a nossa igreja pregue somente a sã doutrina.
O desejo duma noiva é que chegue logo o dia do casamento. Ela se prepara bem para aquele dia, a fim de que esteja bem bonita e sem defeito. O nosso desejo deve ser que o Noivo venha logo, mas, enquanto esperamos, temos que nos preparar para participar das “Bodas do Cordeiro”.
Marco Antonio Lana