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terça-feira, 13 de junho de 2023

O que significa o “Canto do galo” na Bíblia?

 


Em que consistia o canto do galo referido por Jesus nos evangelhos? Era o canto de uma ave ou há outra explicação cultural para essa expressão do nosso mestre?

 

“…Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes… (Lucas 22:34).

 

O que significa o “Canto do galo” na Bíblia?

 

Durante séculos, a posição que prevaleceu na história do Cristianismo foi que “o canto do galo”, referido por Jesus, nos evangelhos, era o canto de uma ave emplumada que cantava para anunciar a madrugada e, nesse contexto, confirmar a negativa de Pedro conforme Jesus havia previsto.

 

Segundo Swindoll, na época de Jesus havia uma regra na lei judia que proibia a criação de aves como aquela na cidade santa pelo fato delas emporcalharem as coisas santas.

 

E, é curioso notar que Jesus passou por seis julgamentos:

 

Três pelos judeus:

  • O primeiro por Anás;
  • O segundo por Caifás;
  • E o terceiro pelo Sinédrio.

 

E três pelos romanos:

  • O primeiro por Pilatos;
  • O segundo por Herodes;
  • E o terceiro, novamente, por Pilatos, quando, então, de acordo com Marcos, ele foi condenado e crucificado à terceira hora do dia.

 

De acordo com a cronologia judaica, no nosso calendário, corresponde às nove horas da manhã.

 

Outro fato curioso que gostaríamos de destacar é que, tanto na casa de Anás quanto na de Caifas e mesmo no Sinédrio , não havia um galinheiro e, portanto, não tinha um galo, ou seja, uma ave emplumada para cantar. 

 

A essa altura, pode-se perguntar: 

 

Que galo ou que canto do galo era esse referido por Jesus?

 

Antes de explicar essa questão gostaríamos de, a título de informação, apresentar a divisão do dia na época de Jesus.

 

De acordo com os historiadores o dia estava dividido da seguinte maneira:

 

1) Dia civil de 24 horas 

 

Iniciava-se com o pôr do sol de um dia e terminava com o por do sol do outro dia.

 

2) Dia natural 

 

Era composto de 12 horas – era a parte clara do dia que iniciava com o nascer do sol e terminava com o pôr do sol. 

 

Esse dia estava dividido em doze períodos de uma hora e ia da primeira até a duodécima hora.

 

3) Vigília da noite: 

 

Era composta de 12 horas – Tinha início com o pôr do sol e terminava com o nascer do sol.

 

Estava dividida em quatro períodos de três horas denominados de vigílias.

  • A primeira vigília: das 18:00 hs às 21:00 hs
  • A segunda vigília: das 21:00 hs às 24:00 hs
  • A terceira vigília: das 00:00 hs às 03:00 da manhã
  • A quarta vigília: das 03:00 às 06:00 da manhã

 

No final da terceira vigília da noite, cerca das 03:00 hs da manhã, momento em que ocorreu o primeiro julgamento de Jesus, acontecia a troca de turno da escolta de soldados que fazia a guarda da fortaleza de Antônia que era a casa do governador Pôncio Pilatos.

 

E, essa troca de turno era anunciada com um toque de trombeta que, em latim, chamava-se gallicinium que, traduzindo para o português, significa: “o cantar do galo ou o canto do galo”.

 

No Exército Brasileiro, por exemplo, só para ilustrar, o amanhecer é anunciado com um toque de cometa conhecido como “o Toque da Alvorada”.

 

Na época de Jesus, como mencionamos, a troca de turno era anunciada com o gallicinium, conhecido como: alektorophonia, “o cantar do galo“.

 

E para reforçar essa assertiva queremos recorrer a um costume judaico citado, inclusive, por Jesus, de denominar a terceira vigília como “o cantar do galo“.

 

“Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã” (Marcos 13:35).

 

O Canto do Galo de acordo com a Enciclopédia da Bíblia:

 

O cantar do galo” era um nome dado à terceira vigília da noite, de meia noite às três da manhã.

 

No tempo de Cristo a noite foi dividida pelos romanos em quatro vigílias:

a) Tarde;

b) Meia-Noite;

c) Madrugada;

d) Cedo.

 

O que os evangelhos dizem do “Canto do Galo”:

Cada um dos evangelistas se refere ao “cantar do galo” em conexão com o período em que Pedro negou a Jesus. 

 

1. Mateus 26:34,74

Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.

Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantou.

 

2. Marcos 13:35

Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã.

 

3. Lucas 22:34

Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces.

 

4. João 13:38

Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes.

 

O que comentaristas dizem do “Canto do Galo”:

 

Comentário Bíblico Moody

 

Segundo o Comentário Bíblico Moody, volume 4, pg 113, a expressão:

“Se à tarde, se a meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã”.

“São as quatro vigílias da noite de acordo com a computação romana”.

Fato esse que vem corroborar a citação apresentada acima.

E, neste mesmo Comentário, na página 169, há outra afirmação que diz:

Canto do galo era uma divisão de tempo romano, indicando o fim da terceira vigília, cerca das três horas da madrugada”.

 

Chave Linguística do Novo Testamento Grego

 

Na Chave Linguística do Novo Testamento Grego encontramos algumas afirmações bastante interessantes acerca desse assunto. 

 

Assim diz o texto:

 

“O canto do galo marcava a terceira vigília romana, da meia-noite até três da madrugada”.

O cantar do galo”. O nome da terceira vigília da noite: “ao cantar do galo” (12-3 da madrugada).

A palavra “cantar” vem do grego: phonesai- infinitivo aoristo de (jxnyqéoo phoneoo, “chamar, fazer um som, cantar (do galo); (pgs 58, 94, 96)”.

A Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego confirma essa assertiva dizendo:

áÃÉKTpociioovía alektrophonia, “canto do galo” (nome romano do terceiro turno de vigília [24-3 horas]”, (pg 366).

 

Tradução do Novo Testamento de Waldyr Carvalho Luz 


Para encerrarmos essa questão, gostaríamos de apresentar a tradução que o Dr Waldyr Carvalho Luz faz acerca desse assunto em seu Novo Testamento Interlinear.

Antes, porém, apresentaremos a tradução de João Ferreira de Almeida: “não cantará hoje o galo”. 

 

Tradução do Pr.Waldyr Carvalho Luz: “Não soará hoje galo”.

 

É interessante notar que esta tradução, além de curiosa, é bastante significativa, pois, no lugar de cantará, phonesei, ele traduz, “soará”, dando a ideia de um som emitido por uma trombeta, buzina, cometa ou outro instrumento musical.

Ora, no galo canta, mas somente o sino, a cometa e a trombeta soam. (NT Interlinear pg 271, Evangelho de Lucas).

 

Sobre o significado do “Canto do Galo” concluímos:

Portanto, diante das provas aduzidas, é razoável supor que, “o cantar do galo”, referido por Jesus nos evangelhos, longe de ser o canto de uma ave, era “o toque da trombeta” dos soldados romanos que anunciavam a troca de turno, da escolta que fazia a guarda da fortaleza de Antônia, que acontecia no final da terceira vigília da noite.

 

Quantas vezes o galo cantou, uma ou duas?

 

De acordo com Mateus 26:34 e Lucas 22:34, parece que o galo cantou apenas uma vez, mas de acordo com Marcos 13:35 temos a impressão de que foram duas vezes. 

 

Mas afinal, quantas vezes o galo cantou, uma ou duas?

 

Reposta:

Como pode ser visto no artigo anterior, apresentado neste livro, “o canto do galo”, referido por Jesus nos evangelhos, não se trata do canto de uma ave, mas sim do toque da trombeta do soldado romano que anunciava a troca de turno dos soldados que faziam a guarda da Fortaleza de Antônia, no final da terceira vigília da noite (das 24h às 03h da manhã).

 

Mas a pergunta é: “quantas vezes o galo cantou, uma ou duas?”

 

Antes de respondermos a esta pergunta gostaríamos de desvendar o mistério que envolve a palavra galo.

Se o cantar do galo, não era o canto de uma ave, fica óbvio de que “o galo” poderia ser qualquer coisa, menos uma ave.

 

“Seguindo uma simples lógica de raciocínio, por inferência, podemos deduzir que o galo, em questão, era “o trombeteiro”. 

 

Charles Swindoll confirma esta assertiva dizendo: “…não era um galo, mas sim um tocador de trombeta (Marcado para Morrer, pág. 50).

 

Uma ou Duas vezes? De acordo com Swindoll e a obra de William Barckley:

“Na troca da guarda para a vigília seguinte, houve o estridente som de uma trombeta. E durante os tempos festivos, devido ao grande número de pessoas na cidade, com frequência duas vezes a trombeta era tocada, primeiro em uma direção, e depois em outra. Visto que era a páscoa, a trombeta poderia ter ecoado duas vezes. Era isso que Jesus quis dizer quando falou a Pedro: “esta noite, antes que duas vezes cante o galo, três vezes você me negará”.

 

Visto que Marcos estava escrevendo para os romanos, é bem possível que ele tivesse essa informação adicional ao passo que os demais evangelistas não a tivessem ou que eles acharam interessante registrar apenas o último toque da trombeta quando então Pedro já havia negado o Senhor Jesus.

 

E importante ressaltar que nem Mateus e nem Lucas estão afirmando que o galo iria cantar uma só vez, muito pelo contrário, eles apenas afirmam que o galo cantaria.

 

Esse tipo de aparente contradição, longe de por a Bíblia em descrédito, apenas a confirma como verdadeira palavra de Deus. Pois, isso mostra de forma clara e inequívoca que nada foi combinado, entre eles, nos bastidores. 

 

Pois, os autores eram livres e independentes um do outro.

 

Ademais, a Bíblia é como um corpo humano, as partes estão interligadas e por isso, se complementam.

 

Como poderíamos saber que a ausência de chuvas, determinada pelo profeta Elias, em primeiro Reis 17 seria de três anos e meio se Tiago, centenas de anos depois, não nos dissesse? (Tiago 5:17).

 

Conclusão sobre quantas vezes o galo cantou?

 

Portanto, concluímos que não há nenhuma discrepância entre o relato dos evangelistas, visto de que eles atendem diferentes perspectivas e, como já dissemos Mateus e Lucas não dizem que foi “APENAS” uma vez que o galo cantou, mas tão somente registram o fato histórico de que o galo cantou, ao passo que, o evangelista Marcos diz que foram duas vezes, provavelmente, com base nos costumes romanos os quais lhe eram familiares.

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