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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Os amigos de Jó

Jó 2.11-13

 

Introdução: Quando os amigos de Jó ficaram sabendo que ele estava sofrendo luto, perdas e dores físicas, logo foram visitá-lo. Eles foram juntos com o propósito de “condoer-se e consolá-lo” (v.11) e realmente ficaram com dó de Jó quando “levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo, ergueram a voz e choraram” (v.12). Ficaram juntos com Jó em silêncio por sete dias (v.13), mas depois tentaram consolar seu amigo com argumentos próprios sem saber que se tratava de algo espiritual (Jó 1 e 2). Jó estava sozinho, até sua mulher estava descrente (Jó 2.9), então precisa de ajuda. A maior parte do livro de Jó é dedicada aos diálogos com seus amigos.

 

Você tem amigos?

 

Vamos refletir nas palavras dos amigos de Jó para reconhecer alguns tipos de amizade:

 

1- Elifaz e a EXPERIÊNCIA

 

O primeiro amigo a falar foi Elifaz, o temanita por que era da região de Temã. O discurso de Elifaz é baseado na experiência de vida, relembrando exemplos bons da vida de Jó (Jó 4.3-4), bem como momentos ruins (Jó 22.7-10). Talvez Elifaz fosse o mais velho de todos ali, por isso foi o primeiro a ter direito à palavra. Os três discursos de Elifaz estão nos capítulos 4, 5, 15 e 22 do livro de Jó.

 

Note as palavras de Elifaz para seu amigo Jó quanto à experiência:

·         Experiências do próprio Jó: Elifaz tenta lembrar seu amigo de situações que já tinha enfrentado e vencido, dizendo: “eis que tens ensinado a muitos e tens fortalecido mãos fracas. As tuas palavras têm sustentado aos que tropeçavam, e os joelhos vacilantes tens fortificado. Mas agora, em chegando a tua vez, tu te enfadas; sendo tu atingido, te perturbas” (Jó 4.3-5).  Além disso, diz que Jó teve outras oportunidades de ajudar outras pessoas, mas não fez (Jó 22.7-10) por isso estava precisando ser ajudado para sentir na pele a necessidade.

·         Experiências de outras pessoas: depois Elifaz recorda Jó de fatos que ocorreram a outras pessoas: “lembra-te: acaso, já pereceu algum inocente? E onde foram os retos destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniquidade e semeiam o mal, isso mesmo eles segam” (Jó 4.7-8). Se Deus é justo com outas pessoas também o seria com Jó. Também advertiu “queres seguir a rota antiga, que os homens iníquos pisaram?” (Jó 22.15), pois se Jó pecasse também seria castigado.

·         Experiências de Elifaz: então começa a dizer sobre suas próprias experiências pessoas dizendo “quanto a mim, eu buscaria a Deus e a ele entregaria minha causa” (Jó 5.8) e chama atenção para seus conselhos “escuta-me, mostrar-to-ei; e o que tenho visto te contarei” (Jó 15.17). Sem saber a dor que havia em seu amigo, Elifaz acha que também já sofreu como Jó. Os conselhos de Elifaz são “reconcilia-te” (Jó 22.21) e “se te converteres” (Jó 22.23), mostrando-se como alguém que tem experiência com Deus.

 

As experiências de vida nunca podem ser desprezadas porque “a tribulação produz perseverança, e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Romanos 5.3,4). Mas as experiências de cada um são diferentes e até com uma mesma pessoa, as situações são diversas em cada momento.

 

Existem amigos, como Elifaz, que acham que ‘ele faz’, ou seja, baseiam em sua própria sabedoria e conhecimento achando-se superiores. Se você tem um amigo que se acha muito sábio, com ar de superioridade, este não é um verdadeiro amigo que se coloca, junto ou no lugar do próximo.

 

Procure amigos experientes, mas que sejam humildes!

 

2- Bildade e a VAIDADE

 

O segundo amigo de Jó a tentar lhe consolar foi Bildade, o suíta, pois vinha da região de Suá. O argumento de Bildade era quanto às vaidades do mundo, mostrando a seu amigo que tudo passaria. Os três discursos de Bildade nos capítulos 8, 18 e 25 do livro de Jó mostram que se preocupava muito com as vaidades dos seres humanos.

 

Perceba os argumentos de Bildade:

·         Vaidade do tempo: Bildade mostra que tudo passa “porque nós somos de ontem e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como a sombra” (Jó 8.9). Faz também uma comparação com plantas que são belas, mas secam (Jó 8.11,12) e com uma teia de aranha que não tem firmeza (Jó 8.14-18). Lembra também que outras pessoas já viveram e sofreram tanto como Jó (Jó 8.8-10) e que tudo que estava vivendo iria passar rapidamente (Jó 8.7, 21,22).

·         Vaidade das palavras: Bildade repreende seu amigo por falar demais “até quando falarás tais coisas? E até quando as palavras da tua boca serão qual vento impetuoso?” (Jó 8.2), pois para Bildade não adiantava ficar falando, mas sim confiar em Deus (Jó 8.5,6). Por isso chama atenção “até quando andarás à caça de palavras? Considera bem, e, então, falaremos” (Jó 18.2), achando que Jó estaria exagerando em suas palavras, embora na verdade estava apenas desabafando.

·         Vaidade dos homens: Bildade defende a justiça Divina e afirma que o homem é pecador (Jó 25.1-6), injusto e merecedor de todo sofrimento, “por que somos reputados por animais, e aos teus olhos passamos por curtos de inteligência?” (Jó 18.3). Ainda fala quanto aos que são maus que serão frustrados se pensam que não têm castigo (Jó 18.5-10). Descreve o futuro de quem não confia em Deus dizendo que “tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o paradeiro do que não conhece a Deus” (Jó 18.21). Com este argumento, Bildade diz que tanto os filhos de Jó pagaram pelos seus erros (Jó 8.4) como o próprio Jó era merecedor disso tudo.

 

O discurso de Bildade é muito sábio, quanto às doutrinas das Escrituras, mas são desprovidos de sentimento. Enquanto afirma que tudo passa, o tempo, as palavras e as intenções humanas, Bildade não reconhece a dor de seu amigo que a cada segundo é longo por causa de suas feridas e angústia. Jó precisava desabafar o que sentia e estava disposto a buscar a Deus.

 

Existem amigos que são como Bildade, uma verdadeira ‘beldade’, ou seja, falam palavras bonitas, porém não sentem o que estamos sofrendo. São pessoas que só pensam em si mesmas. Para eles mais vale o seu próprio eu e suas vaidades do que compartilhar o que vivemos.  Se você perceber vaidade, orgulho ou arrogância em uma pessoa saiba que esta não é uma amizade verdadeira.

 

Cuidado com amigos que são vaidosos!

 

3- Zofar e o LEGALISMO

 

O terceiro amigo a falar com Jó foi Zofar, o naamatita, pois era da região de Naamá. O discurso de Zofar foi legalista. Acusou Jó de estar pagando pelos próprios erros. Não se importava com o sofrimento de seu amigo, preferindo assistir mais um julgamento Divino condenando-o por seus pecados. Os dois discursos de Zofar estão nos capítulos 11 e 20 do livro de Jó.

 

Percebe-se o legalismo nas palavras de Zofar:

·         Legalismo da religiosidade: no primeiro discurso de Zofar, no capítulo 11, faz uma linda pregação sobre a bondade e justiça de Deus ensinando ‘verdades’ que Jó não saberia (Jó 11.1-4). Defende a sabedoria de Deus (Jó 11.5-10) e condena os pecadores como merecedores de castigo (Jó 11.11,12 e 20). Depois dá conselhos a Jó que se arrependa e volte a buscar a Deus (Jó 11.13-19).

·         Legalismo das opiniões: Zofar se achava muito entendido e por isso falava baseado nas suas próprias opiniões “visto que os meus pensamentos me impõem resposta, eu me apresso” (Jó 20.2) e que “o meu espírito me obriga a responder segundo o meu entendimento” (Jó 20.3b). Para Zofar valia mais estar do lado certo, ou seja, com a razão, do que apoiar seu amigo.

·         Legalismo de acusações: Zofar também argumenta que Jó era muito rico porque “oprimiu e desamparou os pobres, roubou casas que não edificou” (Jó 20.19) então não poderia continuar na prosperidade (Jó 20.15-18). Convicto disto, Zofar deseja toda sorte de castigos para Jó (Jó 20.20-28), dizendo que “tal é, da parte de Deus, a sorte do homem perverso, tal a herança decretada por Deus” (Jó 20.29). Para Zofar a justiça estava acima dos sentimentos.

 

Zofar parte do pressuposto de que Jó é injusto e está em pecado, esquecendo-se que também era pecador. O tom das palavras de Zofar mostra que sua religiosidade era a resposta para tudo.

 

Pessoas legalistas são insensíveis, não se importam com o sofrimento alheio e sempre encontram um motivo que justifique o que aconteceu. Para estas pessoas as causas justificam tudo, doa a quem doer. Um verdadeiro amigo socorre ao seu próximo e não lhe acusa ou deseja o mal. Se você conhece alguém que valoriza mais as normas e religiosidade do que a vida das pessoas, então não é um verdadeiro amigo.

 

Cuidado com amigos legalistas!

 

4- Eliú e a MISERICÓRDIA

 

O último amigo que falou com Jó foi Eliú, que parece ter chegado depois, ou não foi citado antes porque era mais jovem que os outros (Jó 32.4 e6). Eliú era educado e esperou sua vez de falar (Jó 32.4,5), mas ficou nervoso “contra os três amigos, porque, mesmo não achando eles o que responder, condenavam a Jó” (Jó 32.3). Também se irritou com Jó por ter caído nas argumentações de seus três amigos tentando se defender pela sua própria experiência, vaidade e legalismo (Jó 32.2), pois isto seria auto justificar-se diante de Deus ao invés de buscar sua misericórdia. O longo discurso de Eliú está nos capítulos 32, 33, 34, 35,  36 e 37 do livro de Jó.

Eliú conduz a conversa para misericórdia:

·         Misericórdia em vez de experiência: Eliú descobre que de nada adianta ter experiência de vida sem conhecer a misericórdia de Deus, pois antes “dizia eu: falem os dias e a multidão dos anos ensine a sabedoria” (Jó 32.7). Depois descobre que “os de mais idade não é que são mais sábios, nem os velhos, os que entendem o que é reto” (Jó 32.9). Não adianta falar muito porque “só gritos vazios Deus não ouvirá” (Jó 35.13), nem basear-se em conhecimentos humanos, mas buscar sabedoria em Deus “que nos ensina” (Jó 35.11). Eliú entende que quando o homem reconhece a grandeza de Deus e sua pequenez diante do Senhor então conhece a verdadeira sabedoria revelada por Deus (Jó 33.14,15).

·         Misericórdia e não vaidade: Eliú reconhece suas limitações sentindo-se constrangido (Jó 32.18), mas declara que “não sei lisonjear” (Jó 32.22) e é humilde com “sinceridade do meu coração” (Jó 33.3). Reconhece como todos são pequenos diante de Deus e precisam se arrepender (Jó 34.19-23). Eliú descreve a soberania e perfeição de Deus acima de todas as coisas (Jó 36.24-33) e por isso todos devem se render ao Senhor (Jó 37.1-23), “por isso os homens o temem, Ele não olha para os que se julgam sábios” (Jó 37.24). Ao perceber a arrogância dos três amigos, vê que estavam mais preocupados em se mostrar sábios, do que em ajudar Jó.

·         Misericórdia e não legalismo: Eliú não defende Jó nem seus amigos (Jó 32.15) e promete que “não farei acepção de pessoas” (Jó 32.21) colocando-se no mesmo patamar de pecador que os outros, “também sou formado do barro” (Jó 33.6). Chama atenção de Jó quanto às suas defesas mostrando que Deus é maior que tudo (Jó 33.8-13). Reconhece os livramentos de Deus (Jó 33.23-26) e que “tudo isto é obra de Deus” (Jó 33.29) com propósito para o bem e não para o mal (Jó 34.12-15). Eliú corrigiu Jó por se defender para não ser rebelde (Jó 34.37) se não reconhecesse a grandeza de Deus (Jó 35.1-7), que é bom dando sempre oportunidades (Jó 36.11) então precisava se confessar reconhecendo-se como pecador ao invés de se justificar (Jó 36.12-21). Eliú percebe que os três amigos de Jó o estavam condenando ao invés de ensinar sobre a misericórdia e perdão de Deus.

 

As palavras de Eliú foram como bálsamo, mesmo que confrontando o ambiente de auto piedade onde Jó tentava se condoer diante da insensibilidade de seus ‘amigos’. Enquanto Jó se justificava em vez de reconhecer a justiça de Deus, seus amigos, o condenavam em vez de ajudá-lo. A sabedoria de Eliú se destaca porque apresenta a Jó um Grande Amigo que é o Deus misericordioso e que pode mudar todas as coisas. Então Jó se lembrou “como fui nos dias do meu vigor, quando a amizade de Deus estava sobre a minha tenda” (Jó 29.4). O Deus que para Jó tinha se tornado um inimigo castigador e irado, agora se revela cheio de bondade e amor, graças ao ensino do jovem Eliú, que conhecia a misericórdia Divina.

 

Amigos como Eliú sempre chegam na hora certa, são sábios, respeitosos e acima de tudo colocam Deus em primeiro lugar. São pessoas que não se julgam superiores, nem melhores, mas procuram se colocar em nosso lugar. A palavra misericórdia significa ‘miséria do coração’ e tem o sentido de sentir a dor do outro.

 

Ao invés de julgar por nossa experiência pessoal, pela vaidade de se achar melhor ou condenar com legalismo é melhor fazer como Jesus disse “bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5.7).

 

Procure amigos que conheçam a misericórdia de Deus!

 

Faça amigos verdadeiros!

 

CONCLUSÃO

 

Jó 42.10 “Mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos; e o SENHOR deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra”

 

A vida Jó mudou depois que aprendeu a orar por seus amigos. Jó sabia que precisava de amigos verdadeiros, mas que acima de tudo dependia de Deus e que também deveria ser um amigo para seu próximo. Foi na sua angústia que Jó conheceu a verdadeira amizade, pois “ao aflito deve o amigo mostrar compaixão” (Jó 6.14) e mudou seu comportamento reconhecendo “eu sou irrisão para os meus amigos” (Jó 12.4).

 

Jó desabafou sua solidão quando viu que “todos os meus amigos íntimos me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim” (Jó 19.19). Somente quando esteve completamente só é que passou a buscar a Deus como amigo, pois “os meus amigos zombam de mim, mas os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus” (Jó 16.20). Então pediu a seus companheiros que reconhecessem seu sofrimento dizendo “compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim” (Jó 19.21).

 

Quando Jó se concertou com Deus passando a orar e ouvir a voz de Deus (Jó 38 e 39), confessando-se pecador (Jó 40.3-5) e ouviu Deus falar com ele de maneira poderosa (Jó 40.6-24 e 41.1-34). Por isso Jó reconhece que somente agora conhecia Deus como um verdadeiro amigo, porque “na verdade, falei do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, coisas que não conhecia... eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.3b e 5). Agora Jó estava disposto a aprender a verdade (Jó 42.4) reconhecendo-se como pecador (Jó 42.6).

 

Entretanto chegou a hora de Jó ajudar seus amigos, porque “tendo o SENHOR falado estas palavras a Jó, o SENHOR disse também a Elifaz, o temanita: A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42.7).  Então Jó orou por seus amigos ao invés de fazer como eles e começar a discutir quem estava com razão.

 

Amigos de verdade são aqueles que oram por você e com você. Não adianta ficar falando e argumentando. Os amigos de Jó foram sinceros enquanto ficaram em silêncio e choraram com Jó e também quando ficaram em silêncio (Jó 2.12,13). Mas verdadeiros amigos oram e colocam tudo diante do maior de todos os Amigos: JESUS!

 

Procure amigos de Oração!

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