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sábado, 18 de abril de 2020

As pedras de Mó

Deuteronômio 24,6 – “Não tomem um conjunto de pedras de moinho, nem mesmo só a pedra de cima, como garantia de uma dívida, pois o dono precisa das pedras para obter seu sustento".

INTRODUÇÃO

Na Palestina e países vizinhos, o moinho era uma máquina simples, porém indispensável. Era formada por duas pedras redondas sobrepostas, geralmente feitas de basalto. A pedra inferior era ligeiramente convexa e armada com um pino no centro, que servia de eixo para que a pedra de cima girasse sobre ela.
A pedra que ficava em cima era côncava pelo lado de baixo, formando uma caixa com a pedra inferior e tinha uma abertura circular no centro, por onde se despejavam os grãos e onde entrava o pino da pedra inferior. Perto da circunferência existia uma manivela de madeira que servia para faze-la girar com a mão.
A farinha saía pela circunferência da pedra inferior e era recolhida por uma vasilha apropriada. Com a farinha se podia fazer pães e bolos, que eram alimentos básicos das famílias. Todo lar na Palestina possuía o seu próprio moinho e o seu sustento dependia diretamente dele, por isso as pedras de mós não poderiam ser penhoradas em hipótese alguma, pois esta atitude colocaria em risco a própria vida daquela família. Nem ainda a mó de cima poderia ser penhorada, pois o moinho só funcionava com as duas pedras juntas, e na falta de uma delas não havia a produção da farinha e do alimento.

A Pedra de Mó de Baixo

Tipifica a Revelação do Senhor Jesus no Velho Testamento através da Lei e dos Profetas. Era a parte fixa do moinho, apontando para o caráter imutável da Lei ('“Não pensem que eu vim abolir a lei de Moisés ou os escritos dos profetas; vim cumpri-los'). -  Mt 5,17); para sua condição de base da revelação que seria dada mais tarde pelo Espírito Santo ('O serviço sacerdotal que eles realizam é apenas uma representação, uma sombra das coisas celestiais. Pois, quando Moisés se preparava para construir o tabernáculo, Deus o advertiu: “Cuide para que tudo seja feito de acordo com o modelo que eu lhe mostrei aqui no monte”'. Hb 8,5). Era o fundamento dos Apóstolos e Profetas ('Juntos, somos sua casa, edificados sobre os alicerces dos apóstolos e dos profetas. E a pedra angular é o próprio Cristo Jesus.' Ef 2,20). A mó de baixo sozinha não tinha função, ela precisava da mó de cima ('Pois a lei nunca tornou perfeita coisa alguma. Agora, porém, temos certeza de uma esperança superior, pela qual nos aproximamos de Deus'. - Hb 7,19).

A Pedra de Mó de Cima

Tipifica a Revelação do Senhor Jesus no Novo Testamento, a dispensação da Graça revelada pelo Espírito Santo. Era a parte móvel do moinho, indicando a dinâmica da graça e da Obra de Jesus para todos os povos ('Explicou as profecias e provou que era necessário o Cristo sofrer e ressuscitar dos mortos. “Esse Jesus de que lhes falo é o Cristo”, disse ele.' At 17,3; 'É por isso que a promessa vem pela fé, para que ela seja segundo a graça e, assim, alcance toda a descendência de Abraão, não somente os que vivem sob a lei, mas todos que têm fé como a que teve Abraão. Pois ele é o pai de todos que creem'. Rm 4,16). A mó de cima com sua função rotativa era quem produzia a farinha usada como alimento. Foi através da graça que alcançamos a revelação que nos alimenta e vivifica ('Portanto, uma vez que pela fé fomos declarados justos, temos paz com Deus por causa daquilo que Jesus Cristo, nosso Senhor, fez por nós. Foi por meio da fé que Cristo nos concedeu esta graça que agora desfrutamos com segurança e alegria, pois temos a esperança de participar da glória de Deus'.Rm 5,1-2).

A Manivela de Madeira

Tipifica o homem que é chamado para participar da graça de Deus e nela é introduzido para exercer sua instrumentalidade ('Foi por meio da fé que Cristo nos concedeu esta graça que agora desfrutamos com segurança e alegria, pois temos a esperança de participar da glória de Deus'.Rm 5,2). A madeira da manivela tinha que ser resistente, não podia ser mole e pouco resistente, pois quebraria com facilidade diante do esforço que recebia. Também tinha que estar bem firme e aprumada na mó. Se estivesse inclinada ou frouxa, poderia quebrar, e neste caso, tinha que ser substituída por outra.
O homem para ser usado na Obra precisa ser provado e amadurecido; precisa estar firme, definido e de pé diante do Senhor ('E agora, assim como aceitaram Cristo Jesus como Senhor, continuem a segui-lo. Aprofundem nele suas raízes e sobre ele edifiquem sua vida. Então sua fé se fortalecerá na verdade que lhes foi ensinada, e vocês transbordarão de gratidão.' Cl 2,6-7), se ele falhar será removido, pois na Obra o homem é substituível ('Então indicaram dois homens: José, chamado Barsabás e conhecido também como Justo, e Matias. Em seguida, oraram: “Senhor, tu conheces cada coração. Mostra-nos qual destes homens escolheste como apóstolo para substituir Judas neste ministério, pois ele se desviou e foi para seu devido lugar”. At 1,23-26). Muitas vezes a manivela se desgastava na parte que ficava dentro da mó, que não era visível, e neste caso precisava ser trocada por outra. Os problemas do homem, seu desgaste e envelhecimento espiritual, começam no coração e na mente ('Acima de todas as coisas, guarde seu coração, pois ele dirige o rumo de sua vida'  Pv 4,23), por isso deve-se ter cuidado com aquilo que existe no interior do coração e dos pensamentos.

A Mão que realiza o trabalho

Fala dos ministérios do Senhor Jesus na vida do homem. É aquilo que o Senhor lhe concede para que possa realizar sua Obra ('Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para pastores e mestres. Eles são responsáveis por preparar o povo santo para realizar sua obra e edificar o corpo de Cristo',Ef 4,11-12). A força que faz girar a mó é o Poder de Deus nos ministérios, que põe ritmo à Obra. Quanto mais poder, mais dinâmica a Obra será e maior a quantidade de alimento produzido ('Não que nos consideremos capazes de fazer qualquer coisa por conta própria; nossa capacitação vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros da nova aliança, não da lei escrita, mas do Espírito. A lei escrita termina em morte, mas o Espírito dá vida'.II Cor 3,5-6).
A mão só poderia girar a mó numa direção e os ministérios só podem atuar na direção do Espírito Santo ('Em seguida, Paulo e Silas viajaram pela região da Frígia e da Galácia, pois o Espírito Santo os impediu de pregar a palavra na província da Ásia.' -  At 16,6). A mão não poderia apertar demais a manivela, pois se feriria e encheria de calos. Também não poderia afrouxar demais, pois assim o trabalho não seria realizado. O ministério precisa realizar a Obra com equilíbrio e temperança, isto é, com sabedoria ('Esforce-se sempre para receber a aprovação do Deus a quem você serve. Seja um bom trabalhador, que não tem de que se envergonhar e que ensina corretamente a palavra da verdade'. - II Tm 2,15).

A Semente

É a Palavra de Deus. Não se come semente com casca e sim moída. A Palavra na letra é a semente com casca e não alimenta nossa vida espiritual, mas a Palavra revelada, que é a semente moída, nos transforma e nos dá vida ('Ele nos capacitou para sermos ministros da nova aliança, não da lei escrita, mas do Espírito. A lei escrita termina em morte, mas o Espírito dá vida'. II Cor 3,6). As pedras de mó não funcionavam sem a semente, pois travavam nas ranhuras internas. Sem o conhecimento da Palavra não há revelação e a Obra se torna estática ('Quando vier, não se esqueça de trazer a capa que deixei com Carpo, em Trôade. Traga também meus livros e especialmente meus pergaminhos. Alexandre, o artífice que trabalha com cobre, me prejudicou muito, mas o Senhor o julgará pelo que ele fez. Tome cuidado com ele, porque se opôs fortemente a tudo que dissemos. Na primeira vez que fui levado perante o juiz, ninguém me acompanhou. Todos me abandonaram. Que isso não seja cobrado deles.' II Tm 4,13-16). A semente é uma fonte de energia para os que se alimentam dela, da mesma forma a Palavra de Deus revelada pelo Espírito Santo alimenta e fortalece nossa vida espiritual ('Jesus, porém, respondeu: “As Escrituras dizem: ‘Uma pessoa não vive só de pão, mas de toda palavra que vem da boca de Deus’”Mt 4,4).

O Moer a Semente

É o buscar a revelação, é o meditar diariamente na Palavra em busca do alimento, da revelação que vai nutrir nosso espírito ('Como eu amo a tua lei; penso nela o dia todo!Sl 119,97). A ausência do barulho das mós nas casas era sinal de desolação e morte (Acabarei com seus cânticos alegres e seu riso, e não se ouvirão mais as vozes felizes de noivos e de noivas. As pedras de moinho se calarão, e as luzes das casas se apagarão.' Jer 25,10; 'Nunca mais se ouvirá em seu meio o som de harpas, cantores, flautas e trombetas. Nunca mais se achará em seu meio qualquer artífice em algum ofício. Nunca mais se ouvirá em seu meio o som do moinho. -  Ap 18,22). Importa na nossa vida nunca parar de moer a semente, isto é, de meditar na Palavra e buscar a sua revelação. Se isso acontecer, é sinal de decadência e enfraquecimento espiritual.

CONCLUSÃO

Tudo que foi exposto acima, representa espiritualmente a Obra do Senhor e a sua revelação no nosso coração. A Obra do Espírito é a razão da nossa vida, e dela dependemos diariamente. É através da Palavra revelada pelo Espírito Santo que alcançamos a vida e o crescimento espiritual. Isso acontece quando nos alimentamos dela.
O Senhor nos chamou do mundo, do pecado e das religiões para participarmos de todas estas bênçãos, e nós não podemos permitir que ninguém a tome de nós, nem tampouco podemos empenhar ou trocar tudo que temos recebido por coisas deste mundo (política, prazeres, coisas materiais, etc.), pois assim estaríamos penhorando a vida, a salvação e a eternidade ('Seria melhor ser lançado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço que fazer um destes pequeninos pecar.Lc 17,2). As coisas deste mundo são passageiras, mas a Obra do Senhor é eterna (E este mundo passa, e com ele tudo que as pessoas tanto desejam. Mas quem faz o que agrada a Deus vive para sempre. I Jo 2,17).
PENHORAR = Dar em garantia
PENHORA = Execução judicial do penhor

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