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domingo, 28 de abril de 2019

ANTES DO DILUVIO EXISTIA CHUVA?



Gênesis 2,5-6 diz que “não havia ainda nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma erva do campo tinha ainda brotado; porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, nem havia homem para lavrar a terra. Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra.”

Gênesis 2,8-10: “E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal. E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava em quatro braços.” 

A Bíblia nos fornece poucas informações sobre as condições climáticas pré-diluvianas. A partir de uma análise exclusivamente bíblica, portanto, não podemos afirmar se choveu ou não antes do dilúvio. O que podemos fazer é apresentar os argumentos em favor e contra a presença de chuva e verificar qual parecer é o mais sustentável a partir de uma análise em conjunto de todas as hipóteses concorrentes.
Como diz o escritor e mestre em ciências Brian Thomas,
“Reconstruir o mundo pré-diluviano é como construir um quebra-cabeças depois que todas as suas peças foram trituradas em um liquidificador. Contudo, Gênesis nos dá um bom começo.”.
Abaixo apresentarei as duas posições principais acerca do tema:
1.    Argumentos contrários: “não chovia”.

A hipótese amplamente aceita é a de que subia um vapor da terra (na forma de uma névoa suspensa) e o amplo abastecimento de água por via subterrânea era suficiente para manter a criação regada, sem a necessidade de chuva como a conhecemos hoje.
A seguinte descrição “Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra” refere-se especificamente, no original, a uma neblina que subia (note que não menciona a descida ou condensação). O primeiro caso, no registro bíblico, em que se menciona especificamente “chuva caindo” é no relato sobre o Dilúvio, mais especificamente em Gn 7,4.11-12 e Gn 8,2. Ademais, ao se analisar o termo “chuva”, traduzido tanto em Gn 2,5 quanto em 7,4, é importante notar a diferença do tempo verbal como “não havia feito chover” e “farei chover”, essas expressões no hebraico são expressas nos termos HiMtir e MaMtir, respectivamente.
Para o geólogo Max Hunter, “A ‘névoa’ que regava a terra pode ter resultado da evolução lenta da água do manto criado através da crosta fria. As Escrituras indicam que os rios existiam, mas devido a uma provável falta de atividade de tempestade, e porque sua origem era da ‘névoa’, as taxas de fluxo nesses rios teriam sido extremamente regulares.”
Dr. Henry Morris (in memoriam), Ex-Professor de Engenharia Hidráulica do Virginia Polytechnic Institute, Blacksburg, e Presidente-fundador do Institute for Creation research, afirma que não havia chuva e isso significaria, também, que o ciclo hidrológico que existe hoje não fosse o mesmo daquela época. Para ele, embora a evaporação tivesse ocorrido de um modo semelhante ao atual, não poderia ter havido transferência em larga escala de água evaporada dos oceanos para a terra pelos movimentos do ar, como no presente. Isso impediria a precipitação continental. A condensação do vapor de água também requer partículas de poeira ou outros núcleos de condensação, e estes teriam estado ausentes antes do dilúvio.
Para o Dr. Morris,Gênesis 2,5 diz que “Deus não fez chover na terra”, e não há indícios de que essa situação tenha sido alterada antes do tempo do dilúvio. A rega da terra foi realizada principalmente por uma espécie de nevoeiro terrestre, uma névoa que “se elevou”, afirma.
Ainda em relação à descrição bíblica da rega da terra, o Dr. Henry Morris explica que, “de acordo com Gênesis 2,10, havia quatro rios que se separavam do rio que vinha do Éden. Essas águas deveriam ter sido alimentadas por algum tipo de nascente artesiana. Talvez  grandes bolsas subterrâneas de águas comprimidas tenham fornecido a fonte dos rios artesianos antes do dilúvio. Parece razoável que também houvesse rios semelhantes em outras partes do mundo. Juntamente com a “névoa” diária e a intrincada rede de “mares” rasos, eles forneceriam água para uma vida vegetal e animal abundantes.”
A menção ao Arco-Íris
O arco-íris é um fenômeno resultante da refração da luz, que só acontece naturalmente, quando há chuva. Portanto, alguns entendem que o arco-íris só apareceu após a primeira chuva que teria vindo após o dilúvio (Gênesis 9,12-13). Porém, muitos questionam isso dizendo que isto não implica que Deus nunca tivesse colocado um arco-íris nas nuvens antes, mas, que, a partir de aquele momento, o arco-íris – aparecendo como costuma acontecer à medida que a chuva está terminando –, teria como significado um lembrete especial da promessa de Deus de nunca mais enviar uma inundação.
O astrofísico Dr. Hugh Ross nos diz que a discussão do arco-íris como sinal de aliança (Gn 9) não implica que a chuva e o arco-íris nunca tivessem sido vistos antes do tempo de Noé. Para ele, vale à pena notar que os outros oito convênios das Escrituras são significados com itens ou ações anteriormente existentes, às quais a aliança simplesmente adiciona um novo significado.
Noé conhecia a chuva?
Noé parece entender o significado da chuva apenas quando Deus a menciona em Gênesis 7,4-5 e, talvez, por isso, quando Noé anuncia o motivo da construção da arca e afirma que Deus mandaria chuva dos céus, este seja o motivo de o povo não acreditar em sua pregação.
Ademais, em Hebreus 11,7 vemos que: “pela fé Noé, sendo advertido de Deus das coisas ainda não vistas, movido com medo, preparou uma arca.”. Alguns afirmam que “coisas não vistas” poderiam significar “chuva”, implicando que ninguém havia visto chuva antes do dilúvio de Noé. No entanto, outros vêem essa passagem mais provável referindo-se à grande inundação global – certamente algo ainda não visto e não imaginável por ninguém.
 Dossel ou canopla de água ao redor do planeta?
Com base em alguns versos indiretos, muitos criacionistas entendem a existência de um dossel de vapor d’água que envolvia a terra até a primeira chuva cair durante o dilúvio. Gênesis 1,7 diz: “Fez, portanto, Deus o firmamento [atmosfera] e separou as águas estabelecidas abaixo desse limite [lençóis d’água, oceanos, rios], das que ficaram por cima [dossel].”.
O Dr. Morris explica que “o fato de que a luz do sol, a lua e as estrelas brilhavam (Gn 1,15-17), indica que as águas superiores estavam na forma de vapor de água, não gelo ou nuvens. O vapor de água, é claro, é invisível e, portanto, totalmente transparente.” Porém, esse dossel, que agora entendemos não ser muito espesso como se pensava anteriormente, desabou durante o dilúvio. Gênesis 7,11 afirma que “as comportas do céu se romperam”, confirmando-nos a idéia de um certo volume de água que estava anteriormente suspenso e recluso, até que rompeu-se e precipitou toda a água armazenada de uma só vez.
É sabido que a hipótese do dossel era usada antigamente para defender a idéia de que “toda a água” do dilúvio teria vindo dessa camada de vapor. Hoje essa idéia já não se sustenta mais e essa visão tornou-se dogma para muitos cristãos, especialmente devido o fato de o dossel não suportar [em modelagens matemáticas] a quantidade de água necessária para se cobrir todo o globo com uma inundação. Apesar de a hipótese da quantidade de água condensada nesse dossel ser um tópico à parte, fato é que a Bíblia realmente nos fornecesse indícios da existência de uma canopla de água, embora não mencione a sua dimensão.
Conforme diz o cientista atmosférico Dr. Larry Vardiman, “não acredito que existisse [chuva], pelo menos perto do jardim do Éden. Mas apenas o tempo dirá se os esforços de modelagem são bem sucedidos no suporte de um dossel antes do dilúvio. Se a modelagem não for bem sucedida, a chuva provavelmente caiu antes do dilúvio, pelo menos longe do Jardim do Éden. Independente de qual explicação seja a mais coerente, a precisão da Bíblia não está em questão. Qualquer combinação desses modelos seria consistente com o relato bíblico, ou talvez um conjunto alternativo de condições, que ainda não descobrimos, tenha conduzido o clima pré-diluviano.”
2.            Argumentos favoráveis: “sim, chovia”

Aqueles que não aceitam a hipótese de que “o vapor que subia da terra” seria suficiente para regar toda vegetação afirmam que Gênesis 2 seria principalmente um resumo detalhado do sexto dia da semana da Criação. Isto diz, tomando por base Gênesis 2,5-6: “Porque ainda o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra (…)”. Logo, o que parece que o verso diz é que, naquele momento em que Deus foi criar Adão, as plantas não haviam ainda brotado porque ainda não havia chovido, mas uma névoa subia da Terra. Chega a dar a impressão de que choveu depois, já que as plantas eventualmente brotaram.
Fato é que o verso é silencioso sobre se houve ou não chuva subsequente nos 1.656 anos antes do dilúvio. Além disso, embora esse “vapor” ou “névoa” fosse provavelmente à fonte de rega para essa vegetação também ao longo do restante da semana da Criação, o texto não exigiria que não houvesse chuva depois que a mesma acabasse ou que tal mecanismo fosse a única fonte de água após a criação de Adão.
Para o astrofísico Dr. Hugh Ross, “Gênesis 2,6 vem depois de uma ruptura de pontuação no hebraico e parece referir-se a um tempo posterior quando Deus causou “névoa” […] para regar o solo. Aparentemente, o terreno neste ponto precisava de rega para sustentar a flora e a fauna. A palavra hebraica utilizada para “névoa” neste verso é ‘ed. Sua tradução normal é “névoa” ou “vapor”, como em uma neblina.”.
Entretanto, segundo o astrofísico, “tecnicamente, tanto a névoa quanto o nevoeiro se qualificam como chuva. Névoa, nevoeiro e chuva, todos se referem a gotas de água líquida na atmosfera. A distinção reside no tamanho das gotas, e essa distinção é imprecisa.” Além disso, Dr. Hugh Ross acrescenta evidências de chuvas pré-diluvianas ao observar que “os geólogos apontam para depressões em depósitos de arenito bem datados, depressões causadas por queda de gotas de água líquida. Esses padrões de impacto de gotas mostram que os pingos de chuva de todos os tamanhos que vemos hoje caíram durante as últimas eras geológicas, incluindo eras antediluvianas.”
Outro ponto levantado a favor da existência de “chuva pré-diluviana” é o de que Deus lançou para fora do jardim do Éden o homem por causa do pecado, do erro, agora o homem teria que trabalhar, lavrar a terra (Gn 3,23-24). O homem não está mais no jardim do Éden, logo, será que o mesmo vapor que regava o jardim vai regar a terra a qual o homem foi lançado? Ademais, o rio que se dividia e regava a terra no Éden estaria guardado somente lá, ou também alcançaria e manteria a mesma função nas terras além-Éden?
Havia estações do ano bem delimitadas?
Gêneses 1,14 diz o seguinte: “Haja luminares no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos.”.
Em Gênesis 8,21-22, momento após o dilúvio, Deus promete não destruir mais a terra com água “enquanto durar a terra, semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite, jamais cessarão seus ciclos naturais”. 

Baseados nesses dois versos acima, muitos afirmam que a Bíblia não dá nenhuma indicação de que as “leis da natureza” eram diferentes antes do dilúvio em relação ao tempo presente. No entanto, para os proponentes dessa idéia, elas deveriam ser diferentes caso não houvesse evaporação, precipitação e refração diferencial antes do dilúvio.
Por outro lado, alguns teólogos entendem que o termo “estações” (v.14) é uma tradução inadequada, referindo-se originalmente a um “período sagrado” ou “festa estabelecida”. É sabido que algumas festas iniciavam com a lua nova que indicava o inicio do mês (calendário lunisolar bíblico). Ademais, a construção do texto (dias, meses, festas) deixa clara a relação entre as datas, festas e a Lua e o Sol. Isso porque o termo “sinais” no hebraico, ‘owth, refere-se a “presságios” ou “advertência”, logo, seria uma convocação para as festas judaicas. A primeira vinda de Jesus cumpriu perfeitamente as 4 primeiras festas do calendário hebraico. A segunda vinda vai cumprir perfeitamente as 3 últimas festas. Então, sob esta perspectiva, vemos que esse “sinal”, essa advertência é a vinda de Jesus. Logo, Gênesis está falando que os sinais do Sol e a Lua estão ligados a vinda de Jesus.
Já em relação a Gn 8,21-22, as traduções “verão” e “inverno” derivam dos termos originais Qayis e Horef que significam “período de frutas” e “período de seca”. Na tradução para o português, o período de frutas estaria associado ao “verão” e o período de seca associado ao “inverno”, mas não necessariamente indicariam a necessidade de “chuva”.
Ciclo da água
Outro aspecto bastante conhecido nos dias de hoje é o ciclo hidrológico. Para os que defendem a existência de chuva antes do dilúvio, o argumento é o de que a chuva é um componente integral do ciclo da água. O termo ciclo da água refere-se aos processos físicos de evaporação da água, formação de nuvens e precipitação (chuva, neve, etc.) que continuamente reciclam o abastecimento de água no mundo. Porém, a pergunta que fica é: será que o ciclo que conhecemos atualmente era o mesmo de antes do dilúvio?
O Prof. Everett Peterson, defende um posicionamento contrário a esse, da “chuva”, ao conjecturar que “Deus estabeleceu um sistema de irrigação subterrâneo em vez do atual superficial. Deveria também ter estabelecido um método distinto para o ciclo hidrológico. De que forma? Hoje, com pressões atmosféricas altas temos bom tempo. Há alguns anos, quando severa seca assolou a Califórnia, as informações diziam que a sua causa era devido a uma linha de alta pressão ao longo da costa. Se a pressão atmosférica elevada impede a chuva, é provável então que a atmosfera original estivesse submetida a uma pressão maior do que as máximas atuais.”
Considerações finais
Se fizermos uma análise honesta, perceberemos que não há como se provar que existiu ou não chuva antes do dilúvio. Acredito que a insistência nisso (e mesmo ridicularizar aqueles que pensam de outra forma) é realmente uma perda de tempo preciosa para um assunto que, a meu ver, não tem nenhuma implicação significativa na doutrina da Criação. Vimos aqui que há evidências que apóiam ambas as visões. Devemos evitar ser dogmáticos, especialmente em um assunto que, a partir de uma analise bíblica, apenas, é improvável de obtermos uma resposta definitiva.
Nota: Texto extraído do livro Revisitando as Origens, de autoria do mestre em Ciências Everton Fernando Alves.
 Como citar:
ALVES, Everton Fernando. Chuva antes do dilúvio? In:________. Revisitando as Origens. Maringá: Editorial NUMARSCB, 2018, p.130-137.
Referências:
1.   Thomas B. What Was the Pre-Flood World Like? Acts & Facts 2016; 45 (1). Disponível em: http://www.icr.org/article/what-was-pre-flood-world-like
2.   Hunter MJ. The pre-Flood/Flood boundary at the base of the earth’s transition zone. Journal of Creation 2000; 14(1):60–74.
3.   Morris HM. The pre-flood world. Palestra realizada no Seminário de Criação, Springfield, Illinois, em 8 de julho de 1968. Transcrição disponível em: http://www.creationmoments.com/content/pre-flood-world
4.   Ross H. Raining on a Misconception. Reasons to believe. (01/09/1991). Disponível em: http://www.reasons.org/articles/let-us-reason-raining-on-a-misconception
5.   Vardiman L. Did It Rain Before the Flood? Answers magazine (01/01/2013), Disponível em: https://answersingenesis.org/bible-questions/did-it-rain-before-the-flood/
6.   Peterson EH. A necessidade das camadas atmosféricas de calor. Folha criacionista 1983; 12(28):2-11.

sábado, 27 de abril de 2019

A ESPOSA DE JÓ – UMA INJUSTIÇADA?


 
No imaginário judaico/cristão a mulher de Jó sempre foi considerada como o protótipo da mulher insana, afetada, sem juízo, e antagônica a seu marido. 


O livro de Jó, considerado o mais antigo livro das escrituras, inicia falando da prosperidade de Jó e de seu relacionamento com Deus que, conversando com Satanás, cobre Jó de elogios. O Acusador não perde a oportunidade de alfinetar o Altíssimo e põe em dúvida se tal fidelidade não é mais fruto de uma barganha do que de intimidade verdadeira. Ao ser provocado, Deus permite que Satanás tenha poder para atormentar a vida de Jó e assim provar qual a origem da sua fidelidade. Começa aí o seu infortúnio.


Neste grande drama há alguns personagens que vão buscar durante o decorrer da história encontrar respostas para o sofrimento de Jó e, por extensão, debater sobre a origem do sofrimento humano em um mundo governado por um Deus justo e bom. Zofar, Bildade e Elifaz se revezam em discursos que ora insinua, ora afirma que deve existir algum pecado em Jó, nem que seja oculto, e que seu sofrimento é justo, pois de Deus não se pode esperar outra coisa. Tais discursos são rebatidos por Jó que reafirma reiteradamente sua inocência e continua a se perguntar sobre o porquê de seu sofrimento. O jovem Eliú faz um apanhado geral enfatizando a soberania e sabedoria de Deus condenando todos os demais, tanto os amigos, quanto o próprio Jó. Por último o próprio Soberano do universo se revela a Jó e não lhe dá resposta alguma, a não ser reafirmar sua soberania o que, paradoxalmente, é resposta mais que suficiente para Jó que ao final responde “antes te conhecia só por ouvir falar, mas agora meus olhos te veem”.


A mulher de Jó, esta mulher sem nome, como tantas outras mulheres da Bíblia – lembremos que até mesmo aquela que ungiu Jesus com alabastro e da qual Cristo disse que jamais seria esquecida por causa do seu gesto, também permanece anônima – era apenas uma coadjuvante.


De todos os personagens da narrativa, ela é quem tem a menor fala e menor espaço para se expressar. Não foi dado a ela o mesmo destaque dado aos discursos eloquentes e vazios de Zofar, Bildade, Elifaz, nem teve a honra de ser a última a discursar, como o jovem Eliú. Sua participação foi um átimo, um único versículo que serviu para encerrá-la para sempre no panteão das mulheres vilãs da Bíblia com a companhia nada honrosa de Jezabel, Safira, a mulher de Ló – mais uma anônima – e outras menos cotadas.


Como eu não estou aqui para ser mais um a jogar pedras, gostaria de mais uma vez, como sempre fazemos aqui no nosso espaço, convidar você a me acompanhar em mais uma viagem para além da tradição e dar a esta mulher o benefício da dúvida, nos permitindo entrever algo de belo em seu gesto e nos surpreender com uma inesperada lição da graça de Deus, mesmo quando Ele permite algo que para muitos de nós soa contraditório.


A Bíblia nos descreve Jó como sendo o homem mais rico do Oriente (Jó 1,3). Isto é muito forte. Podemos imaginar a sua esposa sendo uma fina dama rodeada de conforto. Sua casa deveria ser um “palacete”. Os móveis e os adornos eram de alto estilo, talvez todos importados e comprados com muito bom gosto.


Os empregados vestiam-se com trajes especiais e havia entre eles muito respeito pelos patrões. A comida fina e requintada era posta na grande mesa na sala do banquete, onde sempre havia convidados, e a família se reunia para conversar e se alegrar.


Os dez filhos do casal eram amigos e se visitavam com frequência. Formavam uma família próspera e muito feliz. Isto até mesmo despertava a inveja nos corações de alguns, que talvez não lhes conhecessem a simplicidade interior. Pois, apesar de toda essa riqueza e luxo, Jó e sua família tinham um coração simples e modesto, reconhecendo a bondade de Deus em todas as coisas que vieram a possuir.


Num dia fatídico, entretanto, a tragédia veio bater à porta daquela família feliz. No mesmo dia, chegaram, seguidamente, as notícias para o casal: todo o gado tinha sido levado pelos ladrões (os sabeus) e os empregados de Jó estavam mortos (1,14-15). Enquanto esta notícia era dada, outro servo chegou dizendo que havia caído fogo do céu e queimado todas as suas ovelhas e os seus pastores, no campo (v.16). Outro servo falou que os camelos tinham sido levados pelos caldeus e os servos foram todos mortos ao fio da espada (v. 17). E, finalmente a notícia mais doída para o coração do casal: seus filhos estavam mortos sob os escombros da casa que desabara sobre eles, provocada por um vendaval do deserto (v. 18-19).


Com toda a dor das perdas, Jó continuou confiando em Deus e adorando-o. Sua esposa assistia a tudo isto e sentia-se esmagada pela dor. Geralmente as mulheres são mais sensíveis do que os homens e, na verdade, ela estava sofrendo demais.


Sabemos que as provações não moldam o caráter, mas apenas o revelam… O caráter íntegro e confiante de Jó permaneceu inalterado. Ele reconheceu que tanto receber o bem (as bênçãos) quanto sofrer o mal, ou seja, as experiências negativas, isto fazia parte da vivência humana, e que Deus estava no controle de todas as coisas. Entretanto, para sua esposa as coisas eram diferentes. Ela não conseguia enxergar de maneira clara o que estava acontecendo, e desesperou-se.


Com as perdas dos empregados, do gado, dos camelos e, principalmente dos filhos, o luxo da casa começou a perder o brilho. A falta da presença dos dez filhos trouxe à esposa de Jó uma sensação de vazio e de grande tristeza. Ela procurava manter a calma, mas seu coração amargurado estava cheio de revolta contra Deus. Como ela poderia aceitar tantas perdas? Como poderia se sentir a mesma sem os bens que sempre tivera? Como poderia viver num padrão de vida mais baixo, sob os olhares de compaixão das amigas e o olhar satisfeito dos invejosos?


A provação vem para todos e, parece que a esposa de Jó não estava preparada para o sofrimento. O seu coração ia se enchendo de sentimentos negativos de auto - comiseração e revolta. E as coisas pioraram ainda mais.  


A última prova alcançou o corpo de Jó. Uma enfermidade repugnante tornava sua companhia indesejável. Jó ficou cheio de tumores malignos do alto da cabeça à planta dos pés, sua pele estava cheia de feridas e seu hálito era insuportável (19,17). Era uma situação terrível para sua esposa. Ela não podia mais contemplar o sofrimento do esposo. Ele apresentava insônia, inapetência, magreza e incômodo por coceiras em todo o corpo. 
 
 
A mulher de Jó não é alguém que aparece do nada na história, não é uma transeunte que passa aleatoriamente e resolve dar sua opinião, não é sequer como os amigos de Jó que se compadeceram dele e lhe fizeram companhia, mas que depois disso iriam para suas casas e suas vidas. Não, ela era a pessoa mais próxima de Jó. E se Jó sofreu com os infortúnios que caíram sobre ele, ela também sofreu junto e amargou todas as perdas. Diferente dos amigos de Jó, ela estava padecendo conjuntamente do mesmo mal que se abateu sobre seu marido. Ela perdera seus filhos, sua casa, seus bens, sua dignidade e, naquele momento, via o homem a quem havia devotado uma vida ali, sobre um monturo, cheio de chagas malignas que iam da cabeça aos pés, coçando-se com um caco para aliviar sua agonia.


“Amaldiçoa seu Deus e morre”. Esta foi à frase que fez com que ela caísse em desgraça aos nossos olhos. Uma única frase, perdida lá no versículo nove do capítulo dois do livro, mas que serviu de argumento para o seu linchamento moral. Linchamento moral é algo que fazemos com enorme facilidade, mas que tal irmos para além da frase? Que tal buscarmos as motivações que a levaram a esta atitude extrema? Que tal averiguarmos se esta mulher é tão indigna e condenável para Deus quanto os nossos julgamentos determinam?


É certo que nas provações da vida, não podemos olhar para nós mesmos, mas precisamos olhar para Deus. Se cairmos nessa tentação de olhar para o nosso estado na provação, então o inimigo terá alcançado êxito e nos fará desistir de Deus, da fé e da vitória. A fé nos faz ver o invisível, crer no incrível e sonhar com o milagre impossível aos olhos materiais…
 
 
Jó ficou muito bravo com a esposa, quando ela lhe falou para desistir de lutar, de viver, de sonhar. Ele a chamou de “doida”. Realmente é loucura desistir de lutar, de viver, de sonhar… A chama que aquece o nosso coração é a fé. É a certeza das coisas que se esperam. É a prova das coisas que não se veem. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11,6). Sem fé é impossível viver feliz e ter esperança… Na escuridão das provas é preciso olhar para Deus, para o alto, e confiar, e descansar, e esperar somente nele, pois dele vem a nossa salvação.


É bem possível que a esposa de Jó tenha atentado para a exortação de seu marido. É bem possível que ela tenha parado um pouco e refletido na insensatez de suas palavras dirigidas ao seu amado esposo… É bem possível que ela tivesse se arrependido do que falara e tenha se recolhido à meditação e reflexão sobre os acontecimentos, aguardando o desfecho…
 
Nada mais injusto! Pensava ela. 
 

Mais do que ninguém ela sabia da injustiça daquela punição. Era ela quem presenciava quando Jó chamava seus dez filhos para os santificarem, mesmo já sendo adultos. Era ela quem acordava à noite, tocava na cama procurando seu marido e não o encontrava, ia achá-lo na madrugada fazendo sacrifícios a Deus por amor à vida de seus filhos, que foram mortos todos de uma vez sem razão aparente. Era ela quem presenciava dia a dia a integridade e retidão de Jó em todas as coisas. Nos negócios, na família, entre os mais necessitados e na vida conjugal.
 

A mulher de Jó foi o único personagem que lhe reconheceu a inocência. E exatamente por não ver em seu marido falha alguma a ponto de receber tão grande punição é que ela expressa sua revolta em um desabafo desesperado, sim desabafo de quem vê sua vida ruir da noite para o dia, de quem tinha uma vida em paz e temor a Deus e que se vê saqueada, sem seus filhos, sem ter como se sustentar e vendo o homem a quem amava em agonia de morte. 
 

“Assim como fala uma louca, falas tu” é a repreensão que ela ouve de Jó e, após ouvir estas palavras, cala-se, não contra-argumenta, nem rebate, apenas cala-se, como a reconhecer seu erro, ao contrário dos amigos que em nenhum momento deram descanso e só foram reconhecer o mal que fizeram depois que o próprio Deus ordenou. 
 

Entendendo a passagem 
 

Em Jó 2,9 está escrito:

 
“E a mulher dele disse: Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua integridade? Blasfema de Deus, e morre.”. 

 
Neste versículo, a mulher de Jó estava incentivando Jó a amaldiçoar a Deus; pelo menos, é o que dá para concluir num primeiro momento. No entanto, algo que sempre me intrigou, foi o fato dela (a mulher de Jó) ter permanecido viva e depois ter sido grandemente abençoada no final de tudo, juntamente com o seu marido Jó. A pergunta que eu sempre me fazia era: “Como a mulher de Jó podia ter sido preservada viva e depois grandemente abençoada, se ele incentivou Jó a amaldiçoar a Deus?”. Isto me parecia uma grande contradição. Devido esta dúvida, eu fui buscar esta passagem no original, em hebraico, e descobri o seguinte: A mulher de Jó NÃO disse “Amaldiçoa a Deus e morre”, mas ela disse “Abençoa a Deus e morre”. No idioma original (no hebraico) a mulher de Jó disse “Barech Elohim”. Mas, o que significa “Barech Elohim”?
 

Barech significa “abençoar, bendizer, louvar”, segundo o Dicionário Hebraico – Português e Aramaico-Português, da Editora Sinodal, Co-Editora: Editora Vozes Ltda, 8ª edição, 1997, página 33. “Elohim” é um dos nomes de Deus na Bíblia. Ao pé da letra, este nome significa deuses, pois, está no plural. O sufixo “im”, em hebraico, forma o plural masculino. No entanto, quando se refere ao único e verdadeiro Deus, este nome passa a ter o sentido de “Deus dos deuses”, pois, o Senhor é Deus sobre todos os outros supostos deuses; Ele é o Senhor dos Senhores. 
 

Então, a mulher de Jó disse que ele deveria bendizer a Deus e morrer; ela não disse para Jó que ele deveria amaldiçoar a Deus, pois, “Barech” não significa “amaldiçoar”, mas “abençoar, bendizer, louvar”. Quando eu vi esta passagem no hebraico, eu consegui entender o motivo pelo qual ela foi preservada viva e porque Deus permitiu que ela fosse grandemente abençoada, juntamente com Jó, depois da grande tribulação em que passaram juntos: ela não havia dito, em nenhum momento, que Jó deveria amaldiçoar a Deus; pelo contrário, ela havia dito que ele (Jó) deveria bendizer a Deus. Devido este motivo, Deus a preservou e a abençoou grandemente. No entanto, surgiu outra dúvida: “Se ela disse para Jó bendizer a Deus, então por que Jó a repreendeu e disse que ela havia falado como uma doida, conforme podemos ver em Jó 2,10? Analisando o contexto, eu percebi que Jó repreendeu a esposa dele, pelo fato dela ter feito uma proposta derrotista e desanimadora a ele; é como se ela tivesse dito o seguinte a Jó: “ Desista, não há mais o que fazer; louve a Deus por tudo que já tivemos de bom no passado e aceite que estamos derrotados”. Jó, ao ouvir isso, repreendeu a mulher dele, porque ele sabia que o Redentor dele (Deus) era poderoso o suficiente para reverter toda aquela situação degradante. Este foi o motivo pelo qual Jó disse a mulher dele, que ela falara como uma louca: devido a proposta desanimadora que ela havia feito a ele. 
 

Conclusão 
 

A mulher de Jó representa este grito angustiado que eu e você temos no peito todas as vezes que sofremos as injustas peças pregadas pela vida. É a voz que clama por um mundo em que haja algum tipo de lógica, em que os maus sejam efetivamente punidos e os bons recebam de Deus benevolência. Ela é a porta-voz que nos mostra que nem sempre as coisas fazem sentido, que injustiças acontecem com pessoas boas e a nossa teologia nem sempre consegue responder. É a testemunha de que todos nós, em algum momento da vida, também nos revoltamos contra Deus.
 

Enfim, ela é muito parecida conosco, talvez por isso nós a repudiamos. Pois somos tão envolvidos e contaminados por idealizações que não reconhecemos quando vemos nossa própria face no espelho. 
 

Mas, apesar de todos os nossos preconceitos e condenações. Apesar de todo o estigma que ela sofreu posteriormente. Deus, que é quem verdadeiramente sonda e conhece os corações e as motivações, honrou-a ainda em vida. Sim, pois Deus devolveu-lhe a saúde do marido, restituiu-lhe os bens e, suprema honra para as mulheres da antiguidade, deu-lhe mais dez filhos. 
 

E, para confirmar que Ele entende nossas angústias e dúvidas mais do que nós mesmos gostamos de reconhecer e que Sua graça alcança até mesmo àqueles que para nós são execráveis, Ele, o Único a quem cabe estabelecer justiça, não lançou nenhuma palavra de crítica ou de condenação a essa louca mulher que teve a coragem de expressar livremente sua dor.  
 

Observem, irmãos amados, que depois de estudar a fundo esta passagem, toda aparente contradição, desapareceu. A Bíblia é perfeita; ela NUNCA falha. Às vezes, a tradução em nosso idioma deixa um pouco a desejar, mas a Bíblia em si, nunca falha. 
 

Para refletir 
 

Como você agiria estando no lugar da esposa de Jó?  
 

Você já passou por alguma prova semelhante às desta família?  
 

Você já “chutou o balde” (entrou em desespero) alguma vez na vida?  Como agir para que isto não ocorra nos momentos de grande pressão externa? 
 

Em sua opinião, qual a maior bênção que a esposa de Jó recebeu depois que tudo passou?  
 

Qual a atitude que devemos ter diante das provações da vida? 
 

Leia o que Tiago fala das provações (Tg 1.2-4) e compartilhe com alguém, que esteja passando por lutas, sobre esse texto. 
 

Por Marco Antônio Lana (Teólogo Bíblico)
 

domingo, 21 de abril de 2019

VESTIMENTAS E JOIAS QUE AGRADAM A DEUS


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1 - A Vestimenta Que Agrada a Deus 

A vestimenta mais importante do discípulo verdadeiro de Jesus é interna e espiritual. Ele já tem removido os panos sujos de pecado e maus  pensamentos, e tem os substituído por novas roupas de santidade e entendimento da vontade de Deus (veja Colossenses 3,1-16). Ele procura cada dia ser mais parecido com seu Senhor, e se esforça para desenvolver as atitudes piedosas que Jesus ensinou e demonstrou (Mateus 5,1-12). Essas transformações internas vão modificar seu comportamento externo, é claro. Ele não vai mentir ou furtar como pessoas mundanas (Efésios 4,25-29). Todos os aspectos da vida dele são colocado sob controle do Deus santo a quem ele serve (1 Pedro 1,13-16). 

Através da História, homens e mulheres têm lutado com a questão de como essa transformação interna deve ser refletida exteriormente. Deve o servo de Deus se vestir de um modo diferente do que as pessoas do mundo? Respostas a essa pergunta são quase tão diversas como as modas numa loja de roupas. Alguns argumentam que as vestimentas dos servidores de Deus devem ser completamente diferentes do que as das pessoas do mundo. Resultados de tais pensamentos incluem as trajes tradicionais de ordens religiosas especiais e outras roupas peculiares, como as adotadas pelo povo Amish. Outros vão ao extremo oposto, dizendo que os cristãos devem ser iguais ao mundo e que eles podem seguir todas e quaisquer modas do mundo.

1.1  - Deus nos ensina como nos vestir 

Quando Deus fala sobre algum assunto em todas as épocas da história bíblica, devemos reconhecer que é importante. Por exemplo, ele ensina sobre a permanência de casamento no período dos patriarcas, na dispensação da lei de Moisés, e no Novo Testamento. Enquanto não adotamos do Antigo Testamento leis específicas sobre o casamento, nós entendemos os princípios do Novo Testamento com a ajuda do Antigo Testamento. Percebemos que são diversos os assuntos que são incluídos em todas as épocas de revelação divina: adultério, idolatria, a importância de sacrifícios apropriados, comer sangue, matar, etc. Desde o jardim de Éden, Deus tem orientado seu povo sobre roupas modestas. Vamos procurar entender esse ensinamento, e tenhamos a fé e o amor suficiente para aceitar o que ele diz, mesmo se não o compreendemos (Isaías 55,6-9).

1.2   - Deus ensina seu povo a se vestir com modéstia 

Adão e Eva. "Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam" (Gênesis 2,25). 

Na sua inocência, antes de cometer o primeiro    pecado, era normal para Adão e Eva estarem nus, mesmo andando no jardim na presença de Deus. A mesma inocência é vista em criancinhas ainda não corruptas pelo pecado. Mas, quando Adão e Eva conheceram a diferença entre o bem e o mal, ficaram envergonhados e imediatamente fizeram algum tipo de roupa mínima (Gênesis 3,7). A palavra usada aqui sugere que fizeram alguma coisa que foi embrulhada no corpo, evidentemente escondendo as partes mais íntimas do corpo. Mas Deus não aprovou esse tipo de roupa. Ele lhes fez uma vestimenta de peles (Gênesis 3,21). Essa palavra sugere um tipo de túnica. William Wilson, em seus Estudos de Palavras no Antigo Testamento, diz que essa vestimenta era um tipo de roupa usado por homens e mulheres que, tipicamente, tinha mangas e caiu até os joelhos, raramente aos tornozelos. O que podemos aprender desse primeiro caso? Deus quer que homens e mulheres usem roupas. Não somos como animais, que não sentem vergonha de sua nudez. Podemos entender, também, que a vontade de Deus desde o princípio é que usemos vestimentas que cobrem o corpo, não meramente alguma coisa embrulhada no corpo para esconder as partes mais íntimas. Cada servo de Deus precisa ser honesto e sincero aqui: as roupas de praia usadas hoje em dia seriam mais parecidas com as roupas que Deus fez, ou com as cintas que Adão e Eva fizeram?

1.3  - Sacerdotes do Velho Testamento. 

Ninguém hoje tem motivo para dizer que nós devemos usar roupas iguais aos trajes sagrados usados pelos sacerdotes do Antigo Testamento. Mas, nós podemos aproveitar uma lição importante do motivo que Deus deu junto com algumas regras. Primeiro, ele proibiu altares elevados, para que a nudez do sacerdote não fosse exposta (Êxodo 20:26). Mais tarde, ele acrescentou outra instrução para melhor evitar esse tipo de problema. Ele ordenou que os sacerdotes usassem calção em baixo de suas túnicas para cobrir a sua nudez (Êxodo 28,40-42). Deus especificou que o calção iria "da cintura às coxas". Deus não queria que esses servos mostrassem as coxas expostas ao mundo. Hoje, homens do mundo tiram suas camisas e mostram suas coxas para todo o mundo na praia ou na rua. Homens que servem a Deus precisam perguntar para si, honestamente, se isso é realmente o que Deus pretendia que o povo santo fizesse.

1.4  - Roupas peculiares ao sexo oposto. 

Em Deuteronômio 22,5, Deus disse: 

"A mulher não usará roupa de homem, nem o homem, veste peculiar à mulher; porque qualquer que faz tais cousas é abominável ao Senhor, teu Deus." 

Entendemos que não somos sujeitos às ordenanças dadas por meio de Moisés aos israelitas. Portanto, é esclarecedor entender o que Deus estava dizendo. Ele não estava proibindo que homens e mulheres usassem algum artigo de roupa semelhante. Na época, ambos os sexos usavam túnicas, como ambos homens e mulheres em muitas culturas hoje usam calças compridas. É errado usar esse versículo para condenar as mulheres que usam calças. Mas, Deus quer que mantenhamos distinções entre os sexos (veja, por exemplo, 1 Coríntios 11,14-15). Ele condena as perversões de homens que se vestem e se comportam efeminadamente (1 Coríntios 6,9).

1.5  – A vergonha da virgem da Babilônia. 

Quando Isaías profetizou, a nudez era, ainda, associada com vergonha. Quando ele descreveu o povo da Babilônia como uma virgem abusada, um aspecto da humilhação dela era que o inimigo descobriu suas pernas e sua nudez (Isaías 47,1-3). Mas hoje em dia, mulheres do mundo voluntariamente mostram suas pernas e ousam expor sua nudez, sem sentir nem um pouco envergonhadas. Será que tornamos tão dessensibilizados ao pecado, devido à cultura corrupta, que já esquecemos como sentir vergonha? (Veja Jeremias 8,5.8-9.11-12.) Como servos de Deus, temos que ser diferentes, não conformados aos costumes errados do mundo (Romanos 12,1-2). Precisamos saber como sentir vergonha.

1.6   - A modéstia e bom senso de mulheres cristãs

Agora, vamos ver duas passagens semelhantes no Novo Testamento. 

"Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)" (1 Timóteo 2,9-10). 

"Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido" (1 Pedro 3:3-5).

Esses trechos não são idênticos (1 Timóteo fala sobre mulheres em geral, enquanto 1 Pedro fala sobre a mulher cujo marido não é cristão), mas há vários pontos paralelos.

Vamos estudar alguns pontos chaves.

Joias - É comum ouvir alguém usar esses versículos para proibir absolutamente todos os tipos de joias, enfeites de cabelo, etc. Mas esse não é o sentido do texto. A Bíblia, às vezes, usa essa construção (Não faça isso, mas faça aquilo) para enfatizar o que é mais importante, sem proibir o menos importante. João 6,27 é um exemplo claro: 

"Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará...." 

Jesus não está proibindo trabalho honesto para suprir as necessidades da vida (compare 2 Tessalonicenses 3,10; 1 Timóteo 5,8), mas está dizendo que devemos dar muito mais importância às coisas espirituais. Da mesma forma, Paulo e Pedro não proibiram o uso de jóias ou estilos de cabelo, mas disseram que mulheres piedosas devem dar mais ênfase à pessoa interior. É interessante que tanto Paulo como Pedro usaram exemplos do Antigo Testamento para explicar seu ensinamento. No Velho Testamento, jóias eram comuns, até entre as mulheres fiéis a Deus (veja Isaías 61,10; Provérbios 1,9; Gênesis 24,22.30.53). Excessos devem ser evitados, mas esses servos de Deus não proibiram o uso modesto de joias.

Aqui, é bom observar que os escritos inspirados do Novo Testamento usaram exemplos do Velho Testamento para mostrar como o povo de Deus se veste.

A modéstia começa no coração. 

Os dois autores, Paulo e Pedro, fazem uma ligação importante entre o coração e as roupas. Algumas mulheres vão insistir em usar o tipo de roupas que elas querem, dizendo que ninguém pode mostrar onde Deus especificamente proibiu mini-saias, ou mini-blusas, ou biquínis, ou roupas muito justas. O problema nesses casos não é a falta de alguma regra específica nas Escrituras, mas a ausência de uma atitude certa no coração. Regras no vestuário não fazem a mulher modesta. Se o coração estiver errado, a mulher não será mansa e modesta.

A modéstia e bom senso. 

Em vez de dar uma lista de regras sobre vestimenta, Paulo apela à modéstia e bom senso das mulheres. Uma mulher (ou homem!) cujo entendimento é baseado nos princípios das Escrituras e cujo coração é dedicado a Deus, se vestirá decentemente. Ela não vai procurar chamar atenção por meios carnais, pelo uso de roupas dispendiosas ou que mostram o corpo.

Manso e tranquilo

Pedro fala do espírito "manso e tranquilo" como a base das roupas apropriadas. Paulo disse que nós todos devemos procurar viver uma vida "tranquila e mansa" (1 Timóteo 2,2). O espírito manso e tranquilo de cristãos — homens, mulheres e jovens — vai determinar o tipo de roupa que realmente agradará a Deus. Os cristãos farão diferença entre as roupas que refletem um espírito piedoso e as que sugerem carnalidade (veja Provérbios 7,10 — roupas fazem uma diferença!).

Vestindo-se para agradar a Deus 

Muitas igrejas erram por inventar regras humanas sobre roupas. Mas, muitas  outras erram por recusar a estudar e ensinar, cuidadosamente, o que Deus tem  dito, para ajudar cada filho de Deus pensar e se vestir de uma maneira que glorifica o nome dele. Que possamos nos vestir para ele, começando com o próprio coração.

2. - A mulher cristã pode usar jóia? 

Paulo disse: 

"Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)" (1Timóteo 2,9-10). 

Pedro acrescentou: 

"Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus" (1 Pedro 3,3-5).

Algumas igrejas, citando esses versículos, proíbem o uso de joias. Outras defendem tal prática, mas sem explicar biblicamente como justificar seu uso. Se esses versículos proíbem o uso de jóias, nenhuma cristã deve usá-las. Se a mulher as usar, ela deve saber como explicar as instruções reveladas por Paulo e Pedro.

Para entender essas passagens, temos que, primeiro, examinar a gramática. Ambas usam uma construção de contraste que serve para enfatizar que uma coisa é importante e a outra de menos valor. Observe que eles dizem que a mulher não deve praticar uma coisa, mas (ou, porém) deve agir de outra maneira. Esta construção é usada, às vezes, para definir prioridades, e não para impor uma proibição absoluta. Considere outro exemplo claro: 

"Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna" (João 6,27).

Aqui, sabemos que ele não está proibindo o trabalho para se sustentar. De fato, tal trabalho é exigido pelo Senhor (2 Tessalonicenses 3,10.12; Efésios 4.28). É questão de prioridade, não de proibição.

O segundo passo para entender as instruções de Paulo e Pedro é examinar o resto do argumento no contexto. Os dois citam mulheres do Velho Testamento como exemplos. Quando estudamos as práticas de tais mulheres santas, aprendemos que o uso de joias e boas roupas era uma coisa comum (veja Gênesis 24,22.30.53; Isaías 61,10; Provérbios 1,9; 31,22).

Mas, o uso de joias ou de roupas finas não é o ponto principal na vida de nenhuma delas. Eram conhecidas como mulheres santas por causa do caráter espiritual e o espírito submisso e humilde. Uma mulher dessas nunca usaria joias excessivas, nem usaria uma roupa que mostra o corpo de uma maneira sensual. Por quê? Porque ela é santa!

Por – Marco Antônio Lana (Teólogo Biblista)