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domingo, 17 de fevereiro de 2013

GÊNESIS - LIÇÃO 03 – INVEJA E GRATIDÃO.




Caim e Abel personalizam o título desta lição. Caim é a personalização da inveja; Abel, da gratidão. Ambos nasceram fora do Éden, eram filhos não do Adão inocente, mas, sim, do Adão culpado. Entraram no mundo como participantes da natureza do seu pai. Natureza caída, arruinada, irremediavelmente natureza má. "O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito". (Jo 3,6).

De tudo o que se possa dizer, segue-se que Abel não era diferente, em natureza, do seu irmão Caim. A distinção entre eles não era baseada em coisa alguma da sua natureza ou das circunstâncias, porque, quanto a estas, não há diferença. Em Adão, pai de Caim e Abel, "todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus," (Rm 3,23). Em que consistiu, então, a grande diferença? A resposta é: nos seus sacrifícios (Gn 4,3-5). O capitulo 11 de hebreus apresenta-nos o assunto de modo distinto e compreensível: "Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício bem superior ao de Caim, e mereceu ser chamado justo, porque Deus aceitou a sua oferta. Graças a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala". (Hb 11,4). Mas por que Deus não aceitou o sacrifício de Caim? Caim ofereceu ao Senhor o fruto da terra amaldiçoada, e isto também sem sangue para remover a maldição. Hebreus 9,22 diz: "Aliás, conforme a lei, o sangue é utilizado, para quase todas as purificações, e sem efusão de sangue não há perdão". A diferença entre a oferta de Caim e a de Abel é dupla: uma diferença interior; isto é, a disposição do coração. Também uma diferença exterior; isto é, a ausência do cordeiro, tipo de Jesus Cristo – "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". (Jo 1,29).

Acontecida à tragédia da queda, deu-se uma divisão insanável. Desde esse dia duas grandes forças se protagonizam no mundo, numa luta sem tréguas. A divisão e o protagonismo apareceram já no seio da primeira família. O progresso do pecado não se faz esperar. Corrompida a natureza, o tentador deixou o homem entregue a si mesmo. A semente lançada tinha germinado e, agora, vai crescendo assustadoramente. O mal que vai crescendo apresenta os seguintes aspectos:

              I.      FORMALISMO E EXTERIORIDADE DO CULTO.

Qual foi o erro de Caim? Foi uma duplicidade: por fora, ato de culto; por dentro, coração afastado de Deus. A narrativa bíblica mostra duas coisas:

1.      Deus não olhou para Caim, nem para seu sacrifício.

A razão é simples: Deus olha primeiro para o coração e, só depois disso, achando o coração reto, olha aquilo que está dentro.

2.      Caim não fez bem.

Se tivesse feito bem, Deus teria olhado para ele. (Is 1,13-15; Jr 17,9-10).

A carta aos Hebreus diz que Abel ofereceu maior sacrifício pela fé. O que agradou a Deus, em Abel, foi um fato interior, um fato do coração – a fé.

Era exatamente o que faltara a Caim. Por fora, Caim era um homem religioso; por dentro, um homem divorciado de Deus, que procurava curar o mal com o culto exterior.
            II.      INIMIZADE CONTRA O HOMEM E AVERSÃO A DEUS.

Caim não foi tentado pelo diabo. O que provocou o seu ato de violência foi o ato de Abel. Fatos e circunstancias que teriam estimulado em outras pessoas a prática do bem, despertaram em Caim as manifestações do mal. O mal já estava nele. Caim amava a si mesmo; era um egocêntrico e ególatra, por isso odiava a seu irmão e tinha aversão às coisas de Deus. Abel não lhe fez nenhum mal, mas Caim o aborreceu a ponto de tirar-lhe a vida. Foi o primeiro homicídio da bíblia. Para reforçar este aspecto do mal seria boa uma leitura no texto de Mt 5,21-48.

O relacionamento entre os irmãos Caim e Abel é o oposto daquilo que Deus espera do relacionamento entre os homens: a fraternidade, em que cada um é protetor do seu próximo. A auto-suficiência introduz a rivalidade e a competição nesse relacionamento: a fraternidade é destruída e, em vez de proteger, o homem fere e mata o seu próximo.

          III.      VIOLENCIA.

A simples aversão não tardou a mudar-se em ódio que moveu Caim a um ato de violência. A causa de não ter sido aceita a sua oferta era ele mesmo. Assim coloca o profeta Isaias – "Não, não é a mão do Senhor que é incapaz de salvar, nem seu ouvido demasiado surdo para ouvir, são vossos pecados que colocaram uma barreira entre vós e vosso Deus. Vossas faltas são o motivo pelo qual a Face se oculta para não vos ouvir," (Is 59,1-2).

Era contra si próprio que Caim devia virar-se, e não contra seu irmão Abel. Paulo afirma a seu respeito de si mesmo – "Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?..". (Rm 7,24).

          IV.      LUXURIA E CINISMO.

Fortes uns contra outros e violentos na prática do crime, os filhos dos homens são fracos para governar os seus instintos de luxuria. Na geração de Caim aparece o primeiro caso de poligamia. Mais grave ainda, Lamec proclama o crime que cometeu – "Lamec disse às suas mulheres: Ada e Sela, ouvi a minha voz: mulheres de Lamec, escutem as minhas palavras: Por uma ferida matei um homem, e por uma contusão um menino". (Gn 4,23).

Ao mesmo tempo em que a corrupção tomava esse impulso assustador, manifestava-se, de outro lado, o poder vitorioso do bem. Os homens começaram invocar o nome de Senhor. Surge e começa a geração dos piedosos. Assim termina o capítulo quatro – "Set teve também um filho, que chamou Enos. E o nome do Senhor começou a ser invocado a partir de então". (Gn 4,26).

O texto apresenta o desenvolvimento da civilização, com suas bases culturais e tecnológicas. Surge o homem político (da polis = cidade; Gn 4,17), o homem artista (Gn 4,21) e o homem artesão (Gn 4,22). A civilização, porém, nasce de Caim: auto-suficiência e violência se multiplicam cada vez mais, gerando uma sociedade fundada na hostilidade e na competição. Tudo perdido? Não. Surge também o homem religioso (Gn 4,26), que busca reunir novamente aquilo que o homem auto-suficiente divide e separa. Em Mt 18,21-22, o Novo Testamento apresenta a antítese da violência”. – Bíblia Pastoral.



CONCLUINDO.

Cremos que deve ser bom alvitre, fechar esta lição com uma palavra sobre “o caminho de Caim”, conforme a epistola de Judas, v 11 – "Ai deles, porque andaram pelo caminho de Caim, e por amor do lucro caíram no erro de Balaão e pereceram na revolta de Coré". (Jd 11). “O caminho de Caim”, na qual milhões estão percorrendo, é, sem dúvida alguma, o caminho para a morte.

Jesus fala, em seu sermão do Monte – Mt 7,13-14 – de dois caminhos. O caminho estreito, o qual podemos chamar de “o caminho de Abel” – o caminho do culto verdadeiro, o caminho da fé, o caminho da crucificação – "Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim". (Gl 2,20). O caminho largo, que leva a perdição, é o caminho de Caim – o caminho da inveja, do orgulho e da superficialidade espiritual. “porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à ruína.” (Sl 1,6).

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