Páginas

terça-feira, 27 de março de 2012

PARÁBOLAS DE JESUS - A PARÁBOLA DO SEMEADOR



(Evangelho de Marcos cap.4 vers. 2-20)
 
Voltou Jesus a ensinar  à beira mar. E reuniu-se numerosa multidão a ele , de modo que entrou num barco onde se assentou, afastando-se da praia. E todo o povo estava à beira-mar , na praia. Assim lhes ensinava muitas coisas por parábolas , no decorrer do seu doutrinamento. Ouvi : Eis que saiu o semeador a semear . E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho , e vieram as aves e a comeram. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu , visto não ser profunda a terra . Saindo, porém, o sol a queimou, e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu entre os espinhos ; e os espinhos cresceram e a sufocaram , e  não deu fruto. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto que vingou e cresceu , produzindo a trinta a sessenta e a cem por um. E acrescentou : Quem tem ouvidos para ouvir, ouça . 

A explicação da parábola

Quando Jesus ficou só, os  que estavam junto dele com os doze   o interrogaram a respeito das parábolas. Ele lhes  respondeu : A vós outros é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas ; para que, vendo, vejam e não percebam ; e, ouvindo, ouçam e não entendam ; para que não venham a converter-se , e haja perdão para eles. Então, lhe perguntou : Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas ? O semeador semeia a palavra . São estes os da beira do caminho, onde a palavra é semeada ; e, enquanto a ouvem logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles. Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais , ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria . Mas eles não têm raiz em si mesmo , sendo, antes, de pouca duração ; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam . Os outros , os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições , concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera. Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta , a sessenta e a cem por um .

Nesta parábola Jesus já deu a explicação.
 
Como reforço vou dizer algumas palavras : O que o pregador evangélico semeou, diz Cristo, é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa , em que a semente caiu, são os diversos corações dos homens. Os espinhos – são os corações embaraçados, com cuidados, com riquezas, com delícias ; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados ; e n’estes seca-se a palavra de Deus , e se nasce, não cria raízes. Os caminhos- são os corações inquietos e perturbados com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêem, outras que atravessam , e todas passam; e n’estes é pisada a palavra de Deus, porque ou a desatendem, ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração, nestes prende e frutifica a palavra divina , com tanta fecundidade e abundância , que se colhe cento por um.

segunda-feira, 26 de março de 2012

SEMÃO DA MONTANHA - LIÇÃO 07 – O CASAMENTO CRISTÃO


“Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.” Mt 19,6

  1. INTRODUÇAO.

Estudaremos nesta lição a pureza matrimonial do cristão.  Jesus se refere ao sétimo mandamento: “Não cometerás adultério.” (Ex 20,14; Dt 5,18). Ele vai além à fala do divorcio e do décimo mandamento: “Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence.” (Ex 20,17; Dt 5,21), o que é também adultério. O Senhor Jesus faz uma contraposição à tentativa dos rabinos de limitar o alcance do mandamento “Não adulteras”, à semelhança do que fez em relação ao homicídio. Jesus lembra-lhes todo o espírito da lei. O ensino de Jesus deve ser obedecido ainda hoje, mesmo que a nossa sociedade seja obcecada pelo sexo e ente nos oferecer padrões morais abaixo dos que Deus preparou para nós.

O sexo fora do casamento, o divorcio, a homossexualidade, a pornografia, a bestialidade (sexo com animais) são cada vez mais comuns em nosso tempo. No entanto, o nosso modelo é a palavra de Deus e é firmado nela que manteremos a nossa pureza moral antes e durante o casamento. Vejamos o desenvolvimento desse parágrafo.

  1. O QUE JESUS FALA SOBRE O ADULTERIO? – Mt 5,27-30.

Adultério é a relação sexual ilícita entre pessoas casadas. Se a relação sexual for entre um casado e um solteiro, o casado comete adultério, o solteiro formicação, cuja gravidade é a mesma.

Na lei judaica o termo “adultério” era usado para falar de relações sexuais com a esposa ou noiva de um judeu. Jesus expande esse conceito condenando qualquer sorte de relações sexuais ilícitas.

Paulo também fala sobre isso em 1Ts 4,3 – “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza”. Jesus vai além. Para ele a impureza sexual é mais ampla, atinge também a imaginação – “Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração.” Mt 5,28.

Jesus não proíbe o homem de olhar para uma mulher, mas de cobiçá-la, de fitá-la com desejo lascivo.

Esse é um mandamento muito difícil de ser obedecido, especialmente quando a maioria das mulheres, especialmente as não cristãs, não preza pelo pudor em sua maneira de vestir. Como não cobiçar? Jesus nos dá a resposta: “Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na Geena. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na Geena”. – Mt 5,29-30. O que é preciso é manter uma disciplina moral. Se o adultério pode acontecer no coração – Mt 5,28, então não podemos colocar o coração em outra mulher que não seja a nossa. Devemos disciplinar-nos a não permitir que nossa carne se aprofunde no erro. Vejamos as hipérboles sugeridas por Jesus.

a)    Arrancar o olho – É uma figura de como devemos ter um propósito de vigiar os nossos olhos. Vejamos a autodisciplina de Jó – “Eu havia feito um pacto com meus olhos: não desejaria olhar nunca para uma virgem.” – Jó 31,1. A imaginação se inflama por causa da indisciplina dos olhos.

Olhar com a intenção impura leva a excitação, que logo se transforma em esquema. Da excitação erótica vai-se para o adultério espiritual e muitas vezes para a consumação do ato sexual ilícito.

O olhar é como uma fonte inspiradora para o bem ou para o mal – “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!” Mt 6,22-23.

Sempre que os homens e mulheres aprendem a controlar o sexo na prática, é porque antes aprenderam a fazê-lo nos olhos da carne e do pensamento” – J. Stott.

b)   Cortar as mãos e os pés – Significa pegar e andar menos para não cair em tentação. É refrear-se de certas liberdades por amor a Cristo. Privar-se da Mao e do pé não é suficiente para que o discípulo elimine a fonte do desejo, mas é possível eliminar o instrumento da ação pecaminosa. É melhor ter menos história e geografia para contar do que ir para o inferno (cemitério – morte eterna). É melhor perder um membro e entrar na vida mutilado, do que conservar todo nosso corpo e ir para o inferno (cemitério – morte eterna). A vida eterna é mais importante do que os prazeres passageiros desse mundo – “O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido.” 1 Cor 7,3.

“O que se torna necessário a todos aqueles que têm forte tentação sexual e, na verdade, a todos nós, em principio, é a disciplina na vigilância contra o pecado. É preciso colocar sentinelas morais contra o pecado” – J. Stott.

O contrário de oferecer os nossos corpos ao pecado – “Não reine, pois, o pecado em vosso corpo mortal, de modo que obedeçais aos seus apetites.” (Rm 6,13) é oferecê-los ao Senhor como sacrifício Vivo, santo e agradável – “Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual.” (Rm 12,1).
c)    Deus é a fonte de poder que nos ajuda a controlar a nossa sexualidade. Ele, com o seu Espírito Santo, nos purifica a todo o momento de nossas atitudes erradas (1 Jo 19; 1 Cor 6,11).

  1. O QUE JESUS FALA SOBRE O DIVORSIO? – Mt 5,31-32.

Jesus agora passa a discutir sobre a interpretação que os fariseus davam a Dt 24,1-4 – “Se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela, e vier a odiá-la por descobrir nela qualquer coisa inconveniente, escreverá uma letra de divórcio, lha entregará na mão e a despedirá de sua casa. Se ela, depois de ter saído de sua casa, desposar outro homem, e este também a odiar, escrevendo e dando-lhe na mão uma letra de divórcio e despedindo-a de sua casa, ou então, se este segundo marido vier a falecer, não poderá o primeiro marido, que a repudiou tomá-la de novo por mulher depois de ela se contaminar, porque isso é uma abominação aos olhos do Senhor e não deve comprometer com esse pecado a terra que te dá em herança o Senhor, teu Deus.” – no que se refere ao divórcio. Uma mulher podia ser mandada embora se deixasse queima a comida do marido, ou por qualquer outra trivialidade. A relação matrimonial estava insegura. Os fariseus estavam abusando desse sistema – “Os fariseus vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo qualquer?” (Mt 19,3).

O casamento moderno tem se tornado muito instável. As novelas, em geral, na TV, retratam um mundo de “casamentos disponíveis”, prontos a desfazerem-se por qualquer motivo.

Jesus, pelo contrario, disse que o divorcio somente poderia ser “permitido” se tivesse havido relação sexual ilícita – “Eu vos digo porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, e casar com outra, comete adultério; [e o que casar com a repudiada também comete adultério.]” (Mt 19,9). Os fariseus estavam preocupados com os motivos para o divorcio; Jesus, com a instituição do casamento.

a)    O divorcio jamais foi da vontade de Deus. Na lei o que há é uma concessão devida à dureza do coração humana – “É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim.” (Mt 19,8).
b)   O matrimonio só pode ser dissolvido pela morte de um dos cônjuges – “Portanto, não separe o homem o que Deus uniu.” (Mt 19,6).
c)    Quem se divorcia do seu companheiro em caso onde não houve relação sexual ilícita é culpado de grave pecado – “que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, e casar com outra, comete adultério.” (Mt 19,9ª).
d)   A parte ofendida, que volta a casar-se, estando vivo seu esposo ou esposa, comete adultério – “Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a faz adúltera; e quem casar com a repudiada, comete adultério.”  (Mt 5,32).
e)    O propósito destas restrições é preservar a santidade na família“Vós todos considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal imaculado, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros.”  (Hb 13,4).

Sendo assim o casamento é uma instituição exclusiva em um a permanente. Divorciar-se de um parceiro, sem que tenha havido relação extraconjugal dele, e casar-se com outro, ou casar-se com uma pessoa divorciada, é entrar num campo proibido, é assumir um relacionamento adúltero, pois a pessoa está casada aos olhos de Deus, mesmo tendo conseguido um divorcio aos olhos da lei humana.

Mas, o que eu vejo, é que as igrejas evangélicas fazem casamentos de divorciados com divorciados, divorciados com solteiros, sem procurar saber o motivo da separação ou para ganhar mais fieis para a sua igreja.

Deus odeia o divorcio – “Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim.” (Mt 19,8) e proíbe o adultério – “Não cometerás adultério.” (Ex 20,14; ver Mt 5,27-28), mas esses não são pecados imperdoáveis. Deus perdoa e espera que seus discípulos vivam com pureza e sem pecar mais – “Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos da carne, que combatem contra a alma.” (1 Pd 2,11).

É bom lembrar que a ênfase de Jesus não é sobre o divorcio  e sim sobre o casamento. A sua ênfase será sempre sobre o perdão e a reconciliação e não sobre a tragédia do divorcio. Cabe a cada um de nós gastarmos tempo avaliando os preciosos preceitos de Deus para o casamento, investir tempo e esforço na nossa união, para que o divorcio não ganhe espaço em nossas famílias e igrejas.

Alem do mais, quando o casamento se desintegra, segue-se a culpa, a ira, os ressentimentos, o medo e o desapontamento.

  1. CONCLUSÃO.

Jesus visa a total pureza dos seus discípulos. O corpo dos discípulos pertence a Cristo. Somos membros do corpo dele e por isso nos abster da impureza (1 Cor 6,15-20). “Pois os que são de Jesus Cristo crucificaram a carne, com as paixões e concupiscências.” (Gl 5,24). Assim essa lei mosaica se cumpre somente no corpo crucificado.

Quanto ao casamento, preservá-lo não é tarefa fácil, mas, se o casal confiar que Deus pode melhorá-lo e mantê-lo, o divorcio jamais será necessário. O casal deve buscar a sabedoria, força e orientações divinas à medida que caminha.

A leitura diária das escrituras e a oração são forças poderosas que preparam os casais para o poder curativo de Deus – “Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18,20). A nossa força para a pureza moral está na nossa comunhão com Jesus.

sábado, 17 de março de 2012

SERMAO DA MONTANHA - LIÇÃO 06 – O ATO DE RECONCILIAÇÃO DO CRISTÃO


“Mas eu vos digo: todo aquele que se irar contra seu irmão será castigado pelos juízes. Aquele que disser a seu irmão: Raca, será castigado pelo Grande Conselho. Aquele que lhe disser: Louco, será condenado ao fogo da Geena” Mc 5,22.

  1. INTRODUÇÃO.

Na ultima parte de Mt 5, Jesus apresenta cinco exemplos de como as tradições e interpretações superficiais dos fariseus haviam corrompido os ensinos da lei e dos profetas.

Em cada caso, Jesus corrige a artimanha, enquanto realça os princípios espirituais. Nas duas primeiras ilustrações, Jesus realça seu ensino sobre o sexto e o sétimo dos dez mandamentos, que proíbem o homicídio e o adultério. Jesus eleva a conduta cristã como um ideal muito acima do da conduta que se pregava nas sinagogas. A nova lei é mais pura e mais exigente que a antiga.

No primeiro exemplo de novos princípios do reino, Jesus demonstra à sua altíssima apreciação pela vida e pela reconciliação entre os irmãos. Vejamos como Jesus torna pequena a divisão entre assassinato e ira, e convoca a nova comunidade a uma posição mais abrangente sobre essas questões.

  1. O AUTOCONTROLE DEVE VENCER A IRA PROIBIDA – Mt 5,21-22.

A lei mosaica proibia matar, isto é, cometer homicídio – “Não matarás.” Ex 20,13; Dt 5,17, no entanto ordenava a morte como forma de pena capital e como forma de exterminar as corruptas tribos pagãs que estavam na terra prometida – “E enviarei um anjo adiante de ti (e lançarei fora os cananeus, e os amorreus, e os heteus, e os perizeus, e os heveus, e os jebuseus),” Ex 33,2. Era uma ordem circunscrita à nação de Israel, que com certeza foi abolida pelo evangelho, espelhando a vontade de Deus desde o principio – “Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem.” Gn 9,6. Não nos esqueçamos, no entanto, que Deus deu ao Estado o direito de responsabilidade de punir os malfeitores – “Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus.” Rm 13,1.

Os escribas e fariseus achavam que não contendo homicídio estavam cumprindo todo o sexto mandamento. Jesus discordou, pois para Ele a proibição incluía pensamentos e palavras, a cólera, os insultos, além, é claro, do próprio homicídio.

“Mas eu vos digo.” – Mt 5,22 – mostra a radicalização que Jesus fez desse mandamento. Os discípulos de Jesus não somente não devem praticar o homicídio, como nem mesmo devem da lugar à cólera por meio do qual poderiam destruir o irmão. A ira percebe o homicídio e é destruidora das relações.
“Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros. Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio”. – Ef 4,22-27.

Vejamos as conseqüências da ira não controlada em Mt 5,22.

a)    Quem se irar contra seu irmão será réu de juízo – A cólera, que pode induzir ao assassinato, é uma ação tão criminosa quanto ao assassino.

b)   Quem disser ao seu irmão: “tolo”, será réu do conselho do sinédrio – O termo usado aqui é “raça”, no grego, que significa imbecil, louco, insensato. “Quem odeia seu irmão é assassino.” – 1Jo 3,15ª.

c)    Quem disser ao seu irmão: “louco”, será réu de fogo do inferno – A palavra “louco” tem o sentido de renegado ou condenado.

Assim Jesus ampliou o sexto mandamento. Mostrou que a intenção que provoca o ato físico é passível da mesma condenação que o próprio ato. Em todos os seus graus de intensidade, ficam vedadas expressões e mesmo intenções que não contribuem para o bem-estar dos irmãos.

  1. A RECONCILIAÇÃO DEVE PRECEDER A ADORAÇÃO E O JUIZO – Mt 5,23-26.

O oposto da ira e do homicídio é a reconciliação com o irmão, a restauração de relações sadias na família de Deus. Prestar o verdadeiro culto a Deus é uma tarefa do reconciliado.

Vejamos dois conselhos quanto a essa questão por John Driver:

a)    Tão logo um irmão se dê conta da sua ofensa, que trate de reconciliar-se com seu irmão, não importando que esteja no momento mais alto do culto, porque o culto autêntico somente é possível numa comunidade de irmãos reconciliados – “Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.” Mt 5,23-24.

b)   As ofensas devem ser esclarecidas, confessadas e perdoadas de modo concreto e sem demora. Tomar logo a iniciativa para uma reconciliação pode evitar que a situação criada pela ofensa se degenere ainda mais e o conflito seja mais grave – “Mesmo em cólera, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio”. Ef 4,26-27.

A rápida solução de desavença evita que estas floresçam e dêem sua colheita amarga. De outra forma, permitir que passem de um dia para outro é dar oportunidade ao diabo e ao pecado. Se queremos evitar o homicídio perante Deus, devemos tomar todas as possíveis medidas positivas para viver em paz e em amor com todos os homens.

Num sentido mais avançado, devemos, também, entrar em acordo com Deus. Ele é o Juiz e o Justificador. Ele impõe a nós as condições, e Ele dirige o tribunal dos Céus e da Terra.

  1. CONCLUSÃO.

Jesus não anulou o sexto mandamento “não cometerá homicídio”, pelo contrario, ampliou-o, elevando-o até os nossos sentimentos coléricos e palavras da maldição. O cristão tem os recursos para amar – “Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal.” (Rm 12,10ª), abençoar – “Abençoai os que vos perseguem. (Rm 12,14ª), exortar – “Saiamos, pois a ele fora do arraial, levando o seu opróbrio.” (Hb 13,13), estimular as boas obras, consolar – “Assim, pois, consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis.” (1Ts 5,11), perdoar – “Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo.” (Ef 4,32b) e viver em paz com todos os homens – “Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens.” (Rm 12,18).

Esse é o caminho da autonegação, o caminho da cruz. Ter recursos para matar, maldizer e irar-se, mas abrir Mao em obediência. Aquele que abriu Mao da própria vida em nosso sentimento que houve em Cristo Jesus.

“Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fl 2,5-8).


segunda-feira, 12 de março de 2012

AS PARÁBOLAS DE JESUS - A PARÁBOLA DOS TALENTOS


  A PARÁBOLA DOS TALENTOS
  ( Evangelho de Mateus cap. 25 vers. 14-30 )  
’Pois será como um homem que, ausentando-se  do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro ,um a cada um segundo a sua própria capacidade; e, então, partiu. O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que recebera um , saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo , voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles, Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo : Senhor , confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei. Disse-lhe o Senhor : Muito bem, servo bom e fiel ; foste fiel no pouco , sobre o muito te colocarei ; entra no gozo do teu Senhor. E, aproximando-se também o que recebera dois talentos ; disse: Senhor, dois talentos me confiaste ; aqui tens outros dois    que ganhei . Disse-lhe o Senhor : Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei ; entra no gozo do teu Senhor. Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse : Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste  e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui o que é teu. Respondeu-lhe, porém, o senhor : Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde espalhei? Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros; e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe , pois, o talento e daí-o ao que tem dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância ; mas ao que não tem, até o que  tem lhe será tirado. E o servo inútil,lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.

Lição que extraímos :

Quanto á conta dos talentos temos nesta parábola, a quem um homem encomendou diferentes conjuntos de coisa de valor : riquezas, haveres, etc. para que negociassem com eles, enquanto fazia uma certa jornada.  O homem é Cristo , a jornada foi a de sua subida ao céu e a tornada há de ser no dia do Juízo, em que há de pedir conta a cada um , do que negociou com os talentos que lhe deu, e do que lucrou e ganhou com eles.  Os talentos são os meios com que a Providência.

Divina assiste a todos os homens, e a cada um para a sua salvação e perfeição.

Quão exata pois haja de ser esta conta , e quão rigorosa para os que usarem mal o talento. Os servos , a  quem o homem (Cristo) fiou os talentos , eram três:  ao primeiro entregou cinco, o qual granjeou outros cinco; ao segundo entregou dois, o qual
granjeou dois, e ambos foram louvados . Ao terceiro deu um só talento, o qual  ele enterrou.

E posto que na conta o ofereceu outra vez e restituiu inteiro, porque não tinha negociado com ele, nem adquirido coisa alguma , o homem (Cristo) não só o lançou fora de casa e o mandou privar do talento, mas o pronunciou por mau servo, que foi a sentença de sua condenação.

E se quem na conta torna a entregar o talento que Deus lhe deu inteiro e sem defraude se  condena; que será dos  que o desbaratam e perdem e talvez o convertem contra si e contra  o mesmo Deus.

Não só são talentos os dotes da natureza, os bens da fortuna e os dons particulares da graça ; o ilustre nascimento, senão o humilde; não só as dignidades altas, senão o lugar e ofício abatido, não só as riquezas, senão a pobreza, não só o descanso, senão o trabalho.

Finalmente nas graças ou dons da graça, não só é graça o dom de línguas, mas o não saber falar , ou ser mudo; não só o das letras e ciências , senão o da ignorância. A razão desta verdade interior e providência verdadeiramente divina, é, porque todas estas cousas, posto que entre si contrárias , podem ser meios, que igualmente nos levam à salvação e promovam à virtude, principalmente sendo distribuídos por Deus e aplicados conforme o gênio de cada um, que por isso diz o texto, que foram dados os talentos. 

domingo, 11 de março de 2012

SERMAO DA MONTANHA LIÇAO 05 – A JUSTIÇA DO CRISTÃO


“Digo-vos, pois, se vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus.” Mt 5,20.

  1. INTRODUÇÃO.

Estudamos até aqui o caráter que o cristão deve demonstrar e sua influencia no mundo quando esse caráter é visto por meio das “boas obras” (Mt 5,16). Jesus começa a definir a natureza dessas “boas obras” em termo de justiça. Essas “boas obras” são obras de obediência. Esse trecho é importante porque nos dá o ensino de Jesus a respeito do relacionamento entre o Novo e o Antigo Testamento, entre o Evangelho e a Lei.

O conflito de Jesus com os escribas e fariseus estabeleceu um novo período na interpretação oferecida pelos estudiosos da lei e, com essa correção, agendou o inicio do seu reino de justiça entre os homens.

A questão da justiça é central porque os judeus atribuíam justiça a si mesmos, devido à grande importância que davam à lei mosaica. Eles se julgavam modelo de justiça, portadores da justiça de Deus. Jesus, então, afirmou que para uma pessoa ter parte do reino de Deus, sua justiça deve exceder em muito a justiça dos escribas e fariseus. Isto deve ter chocado muito os ouvintes de Jesus deve nos chocar hoje também. Mais chocantes ainda são as palavras de Jesus concernentes à lei mosaica. Jesus afirmou que não veio para abolir a lei, mas cumpri-la, ou seja, fazê-la completa. A obediência à lei era algo válido tanto nos dias de Jesus como o é hoje e cada um de nós são chamados para entender a lei, sua função e como podemos inseri-la em nossa vida.

  1. A LEI DE CRISTO.

“Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.” Mt 5,17.

Jesus, nessa afirmação, parecer ter três pensamentos em mente.

I.              Jesus não veio “para revogar a lei”, mas “para cumpri-la”.

Os judeus estavam muito preocupados com a suposta atitude de Jesus em relação ao AT. Eles sentiam que Jesus estava ensinando uma nova doutrina e demonstrando uma nova autoridade – “Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: Que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda até nos espíritos imundos e lhe obedecem!” – Mc 1,27. Naturalmente estavam preocupados com a relação entre a autoridade de Jesus e a autoridade da lei mosaica. Ele estava contradizendo a Palavra de Deus do AT? Por causa disso, Jesus declarou com veemência: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.” Mt 5,17.

II.            Jesus traz a interpretação correta da lei e a cumpre de forma prática e justa.

A evidencia disto está nos versos seguintes que Ele dá como exemplo da eficácia da lei (Mt 5,21-47). Com isso Ele estabelece que a lei é boa, pura e santa, mas que os escribas formularam interpretações opcionais de forma conveniente às suas limitações.

Dessa forma eles ainda poderiam ser vistos como o exemplo de justiça. Jesus quebrou este conceito revelando a realidade das motivações dos religiosos da época.

III.           Jesus vai além e assume que Ele traz em seu corpo a revelação final da justiça de Deus.

Jesus cumpre a lei no sentido de que Ele a completa, a resume e a faz viável para os homens por meio de sua própria justiça. O relacionamento desse cumprimento espiritual com o cumprimento literal da lei por Jesus Cristo formam a base da justiça do cristão.

  1. A LEI E O CRISTÃO.

“Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar serão declarados grandes no Reino dos céus.” – Mt 5,19.

Jesus enfatiza que a grandeza no reino dos céus deve ser medida pela nossa atitude perante a lei.

I.              O cristão deve obedecer a lei (v.19).

Cristo afirmou que não podemos “violar um destes mandamentos”, mesmo um que consideramos de menor importância. O fato é que todos os mandamentos foram dados por Deus para serem observados.

II.            O cristão deve ensinar a lei (v. 19).

O discípulo de Jesus deve ensinar a outros o fato que a obediência à lei do Senhor continua válida para os nossos dias, no inicio de um novo milênio.

III.           O cristão deve demonstrar uma conformidade com a lei do Senhor bem superior dos escribas e fariseus (v.20).

Não há duvida que os escribas e fariseus eram famosos pela sua justiça. Obediência à lei de Deus era a grande paixão da sua vida. Mas a justiça do cristão é maior porque é a justiça do coração. A justiça dos escribas e fariseus era algo exterior e formal, mas a do cristão é do coração, como o Senhor falou a respeito da escolha de Davi – “O homem vê o exterior, porem o Senhor o coração”. Uma das bênçãos do Evangelho é que o Espírito coloca a lei em nosso coração – “...gravá-la-ei em seu coração.” (Jr 31,33). Só a pessoa que experimentou o novo nascimento pelo Espírito REM condições de obedecer fielmente à lei do Senhor.

IV.          O cumprimento da lei pelo cristão deve ser visto à luz da justiça de Deus na vida do cristão.

Todos nós somos chamados por Cristo a cumprirmos a lei. Mas se fizermos pela nossa própria força coemos o risco de gerar tradicionalismo e hipocrisia espiritual, como os escribas e fariseus.

a.    “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.” – 2Cor 5,21.

O grande mistério da cruz é o poder de Deus em restaurar homens pecadores e inúteis a Deus em homens valorosos para o seu reino. Sua marca mais poderosa é a presença da sua justiça implantada no coração do homem regenerado. Pelo sofrimento de Cristo nós recebemos não somente o direito de filhos, como a própria natureza da justiça de Deus em nós.

b.    “Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas chagas fomos curados (Is 53,5)” – 1Pd 2,24.

A conseqüência natural do sacrifício de Cristo faz com que homens, antes pecadores, passem a viver de acordo com a justiça de Deus e não de acordo com a justiça dos homens. Essa era a evidencia principal da injustiça dos religiosos da época de Jesus. O homem que se achega a Deus pelo sacrifício de Jesus Cristo morre para os pecados e passa a viver para a justiça de Deus.

c.    “É por sua graça que estais em Jesus Cristo, que, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção.” – 1 Cor 1,30.

Toda esta coisa Jesus tornou-se para nós, incluindo-nos nas bênçãos da sabedoria, justiça, santificação e redenção. O crente tem em Cristo tudo o que é necessário para viver de acordo com a justiça de Deus. O mais impressionante é que a Bíblia nos chama claramente de possessão de Deus, do Deus de justiça.




d.    “Revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade.” – Ef 4,24.

A realização da justiça de Deus na vida do homem é proposta por Deus, feita possível no sacrifício de Cristo e oferecida ao homem pela vinda do Espírito Santo, mas o homem precisa optar por viver de acordo com essa justiça em novidade de vida. A conversão estabelece uma nova vida, essa criada completamente por Deus. Por isso o agir cotidiano deste novo homem devem refletir exatamente a justiça e retidão que procedem da verdade de Deus.

e.    “Cheios de frutos da justiça, que provêm de Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.” – Fl 1,11.

A oração de Paulo para os filipenses é mais do que um anseio amável para pessoas queridas, é o fim desejado de um mestre para os seus discípulos. Não nos adianta declarar ter uma justiça e não vivê-la. Não nos serve de nada cantar as vantagens e certezas da justiça de Deus em nós se os homens não podem vê-la em nosso cotidiano. A justiça de deus foi plantada em nós para que pudesse dar frutos de justiça.

Os religiosos dos dias de Jesus tinham falhado em produzir o fruto da justiça de Deus. Ao contrario, eles manipularam a verdade da lei, fazendo-a uma tradição, tornando-se infrutíferos para Deus, insensíveis à sua voz, inúteis para o seu reino. A justiça do cristão é a luz que não se pode esconder, é o amor que não se pode apagar.

f.     “Nós, porém, segundo sua promessa, esperamos novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça.” – 2Pd 3,13.

Pedro expressa a esperança cristã na vida futura e nos revela a morada  da justiça de Deus. É junto a Ele, na Jerusalém espiritual, que está a espera de seu estabelecimento. A esperança cristã descansa na convicção de que o mundo futuro será um mundo de justiça, perfeito em bondade e amor.

  1. A LEI E A JUSTIÇA DO CRISTÃO.

O texto de Mateus 5 deve ser entendido de forma dupla. O cumprimento da lei foi sim literal. O cumprimento da lei demonstrou a forma correta de viver que parecia impossível. Mas e nós? Nós devemos vivê-la e ensiná-la corretamente até o final dos tempos. Para homens pecadores e entregues aos desejos da carne a lei é um revelador da iniqüidade humana, mas para corações redimidos e regenerados a lei é a norma básica de uma vida cheia de justiça vinda do alto. Agora o cumprir da lei é feito a cada dia por cada cristão que se entrega humildemente ao seu Senhor  em obediência e reverencia. Não é uma questão de abolir, ou diminuir, ou até extinguir a lei.


  1. CONCLUSÃO.

Nós devemos avaliar a nossa visão sobre a lei de Deus. Se Cristo a cumpriu e nos comanda a cumpri-la, nós devemos fazê-lo conscientes de que temos recebido de Deus tudo que precisamos para amar essa lei, viver na justiça de Deus e produzir frutos de justiça a cada dia ao nosso redor.

sábado, 10 de março de 2012

Jô 2;13-25

Jô 2;13-25
Glória e louvor a vós, ó Cristo.
“Tanto Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único; todo aquele que crer nele há de ter a vida eterna”  (Jo 3,16).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
“Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas. Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas. Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes. Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: “O zelo da tua casa me consome”. Perguntaram-lhe os judeus: "Que sinal nos apresentas tu, para procederes deste modo?" Respondeu-lhes Jesus: "Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias". Os judeus replicaram: "Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?!” Mas ele falava do templo do seu corpo. Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia. Mas Jesus mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos. Ele não necessitava que alguém desse testemunho de nenhum homem, pois ele bem sabia o que havia no homem.
Palavra da Salvação.
Comentário do Evangelho
Em suas cinco visitas a Jerusalém, no Evangelho de João, Jesus denuncia o sistema do templo como negação do projeto de Deus. Com a expressão "a Páscoa dos judeus", João insinua que esta não é a festa de Jesus. O templo e suas festas apenas servem à teocracia que aí se instalou. Uma das dependências do templo era o Tesouro, onde acumulavam as riquezas obtidas a partir das ofertas, do comércio de animais a serem sacrifi cados e das operações de câmbio de moedas. Jesus denuncia a ambição que reina no templo. O templo de Deus é o próprio Jesus. Pela encarnação de seu Filho, Deus se revela presente em Jesus e em todos, homens e mulheres, criaturas suas. Os templos de pedra estão descartados como lugares da presença de Deus. Eles passam a ser espaços de encontro dos filhos de Deus que se unem em comunidades vivas para dar testemunho do amor e da fraternidade, em uma sociedade na qual é cultivado o ideal do sucesso individual e da ascensão ao poder. Na comunidade solidária para com os empobrecidos e excluídos, dá-se o encontro com Jesus e Deus Pai, no amor. A renúncia ao poder e a opção pelo serviço amoroso à vida são loucura para o mundo (segunda leitura). Na primeira leitura, na proclamação do decálogo, ainda aparece a imagem de um Deus que castiga de geração em geração os que o odeiam e é misericordioso para com os que guardam os mandamentos de sua Lei. Com esta imagem de eleição, os adeptos da Lei se julgam autorizados a exterminar os considerados inimigos. Jesus, com seu amor misericordioso, revela a verdadeira face do Pai, que não quer que ninguém se perca e deseja vida plena para todos.



Oração

Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.