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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

TIAGO, A FÉ EM AÇÃO - LIÇÃO 08 – FÉ E OBRAS


“Assim como o corpo sem a alma é morto, assim também a fé sem obras é morta.” Tg 2,26.

  1. INTRODUÇÃO.
Você acreditaria numa pessoa que se diz eletricista, mas não consegue trocar uma lâmpada? Você acreditaria num homem que diz ser excelente piloto, mas não consegue estacionar o carro numa garagem? Você acreditaria em alguém que diz ser matemático, mas não sabe o resultado de 8 x 8? Tiago também quer saber como é que uma pessoa pode dizer que tem fé, mas não possui esta fé? O problema é sério!

Qual é a fé que salva? Como conciliar Romanos 3,28 – “Porque julgamos que o homem é justificado pela fé, sem as observâncias da lei.” com Tiago 2,24 – “Vedes como o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé?”? Estaria Tiago contradizendo o ensino de Paulo? Qual o papel das obras na salvação?

  1. QUAL É O PROBLEMA?

“De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso esta fé poderá salvá-lo?” – Tg 2,14.

O versículo acima, que é uma pergunta, leva-nos ao ponto central deste parágrafo, ou desta lição. Tiago quer saber como uma pessoa sem obras pode dizer que está salva? Antes que você pense errado, acompanhe comigo algumas observações.

A.   Tiago inicia o parágrafo fazendo uma pergunta – (Tg 2,14).

Uma pergunta não é uma afirmação. Uma pergunta chama ou espera uma resposta. Então, o autor está apenas iniciando o diálogo com seus leitores. A palavra “aproveitará”, no grego, significa “lucro ou vantagem”. Não pense que Tiago esteja pregando a salvação pelas obras, contradizendo o apóstolo Paulo. Analise as três afirmações a seguir.

a)    Tiago dirige suas perguntas a alguém que defende a “fé somente”.
b)    Tiago não afirma que a fé não pode salvar; ele está dizendo que a fé que essa pessoa afirma ter, ou seja, uma fé sem obras, não pode salvar.
c)    Paulo e Tiago querem dizer a mesma coisa com a palavra “obras”, atos praticados em obediência à Palavra de Deus. A diferença entre eles é o contexto em que estas obras são praticadas. Paulo nega que as obras possam ter algum valor em nos colocar num relacionamento com Deus; Tiago insiste em que, uma vez estabelecido o relacionamento, as obras são essenciais  (Douglas Môo, Tiago: Introdução e Comentário, pag. 100.

B.   Tiago ilustra de cinco maneiras o ensino que quer transmitir – (Tg 2,15-25).

a)    Indiferença em face dos irmãos necessitados (vs. 15-17) – Como reage o cristão? Ele se despede das pessoas necessitadas usando palavras evasivas e piedosas: “Vá em paz, irmão”, ou “Estarei orando por você”. Mas o necessitado não está precisando de oração, e sim de auxilio material. Observe que Tiago não está falando de alguém na Igreja que está querendo um carro mais novo ou uma casa na praia ou no campo. Ele está falando de gente na Igreja que não em o pão de cada dia roupa suficiente para se cobrir ou se proteger do frio. O prefeito, não cristão, de uma cidade do interior de São Paulo fez a seguinte afirmação: “Quando vejo um mendigo na rua, tenho a certeza que ele não é cristão”. Que testemunho bonito, demonstrando que os cristãos estão cuidando dos seus.

b)    Pergunta retórica – (v. 18) – É o que os gregos chamavam de diatribé, isto é, “questões e objeção que são postas na boca de um crítico imaginário” (F.F. Bruce); recurso literário que Paulo usou muito na carta aos Romanos. “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras. Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.”. Tiago não está simplesmente desafiando alguém de maneira inconseqüente, ele só declara que a fé sem obras não é uma fé genuína e não pode ser provada.

c)    Demônios (v. 19) – Pode soar estranha a afirmação que demônios crêem! Todavia, observe duas coisas. Primeiro, o autor pergunta: “Crês que há um só Deus.” A confissão da unidade de Deus – “Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.” (Dt 6,4) - fazia parte da doutrina básica recitada duas vezes ao dia pelo judeu piedoso. Jesus confirmou isto em Mc 12,18-29. A segunda coisa a observar é a natureza da “fé” dos demônios,. Que é uma mera apreensão intelectual. Aceitar certas coisas como verdadeiras não significa um envolvimento ou entrega pessoal. Na época de Jesus (assim como nos nossos dias) muitas pessoas acreditaram que Ele era quem dizia ser, mas nem por isso se tornaram Seus discípulos (cof. Jô 6,14-15). O próprio Pilatos declarou duas vezes, a inocência de Jesus Cristo (Jô 18,38; 19,4). Resumindo – Tiago está afirmando que esta espécie de “fé demoníaca” é um simples reconhecimento de uma verdade. Eles chegam a tremer (literalmente, “eriçar cabelos”), mas sabemos que não são salvos. A fé salvadora vai além do intelecto, pois afeta nossa vontade e nossas ações.

d)    Abraão – (vs 20-24) – Agora Tiago volta ao passado, e vai buscar o personagem do Antigo Testamento que ficou conhecido como “E assim se tornou o pai de todos os incircuncisos que crêem.” (Rm 4,11b), Abraão. Interessante notar que é o mesmo homem de quem o apóstolo Paulo lança mão quando quer ensinar a doutrina da justificação pela fé em Rm 4. Todavia, existe uma diferença crucial que precisa ser feita. Quando Paulo fala da Abraão, ele menciona Gn 15,1-6, onde Deus fez a promessa e Abraão – “Abrão confiou no Senhor, e o Senhor lho imputou para justiça.” Gn 15,6. Quando Tiago cita Abraão como parte do seu argumento, ele menciona o homem que está sendo provado por Deus em Gn 22 e conclui: “Vês como a fé cooperava com as suas obras e era completada por elas.” Tg 2,22. Os dois escritores do Novo Testamento citam o mesmo Abraão, mas Paulo está em Gn 15, na promessa; enquanto Tiago está em Gn 22, quando Isaque já é um cumprimento vivo e palpável. Em outras palavras, quando Abraão ofereceu seu filho Isaque, mostrou com esta obra a sua fé.

e)    Raabe (v. 25) – A história de Raabe é descrita em Josué 2,1-21, e também é citado em Hebreus 11,31. Ela havia se convencido de que “Senhor, vosso Deus, é o Deus nas alturas dos céus e aqui embaixo na terra.” Js 2,11. Baseada nesta “fé”, ela “por ter recebido os mensageiros e os ter feito sair por outro caminho?” – Tg 2,25. O autor de Hb enfatiza a fé de Raabe, enquanto Tiago assinala as obras de Raabe.

C.   As conclusões de Tiago – (Tg 2,17,24,26) – Observe como estes versículos começam:

·         v. 17 – “Assim também...”
·         v. 24 – “Verificais que...”
·         v. 26 – “porque, assim como”

São palavras que exprimem uma conclusão. Significam que Tiago apresenta um relato racional da sua tese doutrinária: uma fé sem obras é falsa, inoperante, estéril e morta.

  1. O QUE SIGNIFICA?
Podemos responder à pergunta acima com as seguintes afirmações.

a)    Obras não produzem fé; mas a fé produz obras, e as obras confirmam a fé.
b)    O contraste é entre a fé sem obras e obras sem fé, e não entre fé e obras.
c)    A questão não é uma opção entre fé e obras; mas sim entre a fé viva e morta.
d)    Tiago nunca afirma que as obras podem salvar; mas sim que a fé genuína e viva sempre redundará em boas obras.

Alguns acham que o ensino de Tiago contradiz o ensino de Paulo acerca da justificação pela fé. Todavia, o quadro comparativo abaixo procura esclarecer a questão.



PAULO


TIAGO
  1. O que Paulo rejeita são obras sem fé.
  2. Paulo nega a eficácia das obras antes da conversão.
  3. Paulo declara como ninguém é justificado.
  4. Paulo confirma a declaração por Deus da nossa retidão.
  5. Abraão foi justificado porque creu em Deus.
  1. O que Tiago rejeita é fé sem obras.
  2. Tiago apela à necessidade das obras depois da conversão.
  3. Tiago enfatiza como alguém deve viver depois de justificado.
  4. Tiago fala da demonstração de nossa retidão.
  5. Abraão foi justificado porque obedeceu a Deus.



Não temos que fazer opção por um ou outro. Temos que aceitar o ensino dos dois, porque eles se completam, e não se contradizem. Quando somos confrontados com a doutrina da salvação pelas obras, temos que chamar o Teólogo Paulo, como fizeram os reformadores. Entretanto, quando somos confrontados pelos que acham que obras são desnecessárias para os cristãos, devemos ouvir o pastor Tiago.

  1. O QUE APREDEMOS?
a)    Que desafios há para nós nesga lição?
b)    O que aprendemos de novo?
c)    Há neste texto alguma proposta para mudamos algo em nossa vida?
d)    Que outros textos confirmam sete ensinos?

  1. CONCLUSÃO.
Por toda a epistola de Tiago fica claro que o problema dos irmãos destinatários não era a ortodoxia (doutrina correta), mas a ortopraxia (prática correta). Eles não tinham problemas com o “crer”, mas com o “fazer”. É um desafio para todos nós, que enfatizamos tanto a salvação pela fé em Cristo Jesus, e constantemente nos aquecemos que nossas obras serão julgadas. No encerramento desta lição, vale reler 2Co r 5,10 – “Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo.”

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