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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

TIAGO, A FÉ EM AÇÃO - LIÇÃO 02 – O VALOR DAS APROVAÇOES



“Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações” Tg 1,2.

  1. INTRODUÇAO.

As fontes que promovem as provações são muitas e variadas. As provações podem vir diretamente de Deus, a exemplo do que ocorreu com Abraão em Gn 22; de Satanás no caso de Jó (Jó 1,6-12); do nosso semelhante, como no episódio em que os irmãos de José lhe tentaram o mal (Gn 37,14-28; 50,20); e das mais circunstâncias desencadeadas nos planos religiosos, políticos, sociais e econômicos, dentre tantos outros. Não obstante, uma coisa é absolutamente certa, Deus está monitorando cada uma delas visando nossa edificação.

A seguir apresentarei três itens relacionados ao ensino de Tiago que dizem respeito ao valor da provações às quais, necessariamente, temos que responder.

  1. O IMPERATIVO NAS PROVAÇOES (Tg 1,5).
Até o presente momento, ainda não me chegou nenhum irmão pulando de contentamento e em brados de alegria confessando – “Estou muito feliz porque minha vida está cheia de provações!” Imagine alguém chegando a você e dizendo – “À medida que meus problemas aumentam, a minha alegria transborda”. Talvez ficássemos assustados; acharíamos estranho, por uma razão muito simples; não estamos observando e nem obedecendo ao imperativo do – “Considerai que é suma alegria, meus irmãos, quando passais por diversas provações,” – Tg1,2 – Pulamos, sim, de contentamento quando recebemos as “bênçãos”. Entenda-se por “bênçãos” tudo aquilo que sacia o nosso desejo de ter e possuir, além do que proporciona bem-estar. As bênçãos de Deus na nossa vida incluem tanto aquelas que produzem prazer, como aquelas que causam dor. Quando Paulo recebeu o “espinho da carne”, este lhe causava dor e sofrimento, mas era bênçãos de Deus na vida do apostolo. Sem a benção do espinho ele poderia se ensoberbecer e, conseqüentemente, envergonhar o Evangelho. O desafio de encarar com alegria as provações foi vivenciado por alguns personagens da Bíblia. Destes destacaremos três.

  • O exemplo de Habacuque.

A disposição do coração do profeta era louvor ao senhor a todo custo – “...porque então a figueira não brotará, nulo será o produto das vinhas, faltará o fruto da oliveira, e os campos não darão de comer. Não haverá mais ovelhas no aprisco, nem gado nos estábulos. Eu, porém, regozijar-me-ei no Senhor. Encontrarei minha alegria no Deus de minha salvação. Javé, meu Senhor, é minha força; ele torna meus pés ágeis como os da corça, e me faz andar sobre os cimos. Ao mestre do canto. Para instrumentos de corda.” – Hab 3,17-19 – Ainda que a esterilidade prevalecesse, Habacuque louvaria o Deus da sua salvação. Especialmente o versículo 18 nos revela  o segredo do profeta: o motivo da sua alegria estava fixado em Deus. Quando a fonte da nossa alegria consiste nas bênçãos que Deus oferece e não no Deus que oferece as bênçãos, a nossa alegria está fadada à instabilidade; a nossa fé, á fraqueza; e o nosso relacionamento com Deus à confusão. Infelizmente, em nossos dias, muitas pessoas vão à igreja com um único objetivo: receber bênçãos de Deus. Desejam a cura de uma enfermidade, um emprego, a restauração da empresa que está as portas da falência, um livramento, enfim, a solução de problemas que atingem a todos os mortais. Não constitui pecado buscar as bênçãos de Deus. Jesus mesmo nos incitou a pedir. Porém erramos o alvo quando fazemos da ádiva divina o nosso deus. Erramos também, quando a busca da benção é o fator que motiva nossa ida a igreja. Deus deve ser a razão do nosso culto, a finalidade exclusiva do nosso serviço, o motivo supremo da nossa alegria.

  • O exemplo de Paulo.

Paulo, que entusiasticamente fez a seguinte confissão: “Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo” – Fl 3,8, demonstrou em seu ministério que realizava à missão pela qual foi chamado com muita alegria, como um presente que recebera do Senhor, e não como um fardo  a ser suportado, apesar das aprovações que lhe sobrevinham. Ainda em Filipenses, encontramos à razão por que Paulo transmite tanto entusiasmo e contentamento: “Não é minha penúria que me faz falar. Aprendi a contentar-me com o que tenho.” – Fl 4,11 – Tiago nos deixa o mandamento da alegria diante das aprovações e Paulo nos ensina o caminho para vivermos este principio. O caminho é o aprendizado. Paulo aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação. Este deve ser o nosso alvo, o nosso desafio em meio às provações.

  • O exemplo de Jesus.

“Homem de dores e que sabe o que é padecer”, assim era Jesus de Nazaré. Sofreu rejeição. Padeceu por fazer a vontade de Deus. Foi perseguido e desprezado. Mas não perdeu a doçura em meio às lutas. As provações não deixaram Jesus amargurado. Continuava sereno. Mesmo tendo uma “agenda apertada”, atraia as crianças e lhes dispensava atenção. Apesar das dificuldades, contemplava e ensinou os seus discípulos a contemplar os lírios do campo e as aves do céu. Instituiu-os a cultivar a arte da contemplação. Ensinou-lhes a vencer as inquietações do cotidiano tirando lições da natureza. Jesus tinha motivos para a amargura, para o ódio. Foi traído pelo preço de um escravo, trocado por um homicida e crucificado como um malfeitor. Senhor das suas emoções e fiel guerreiro contra o ódio e a amargura, Jesus optou pelo amor. Mesmo crucificado, sofrendo as mais terríveis dores, não lhe faltou ternura para transmitir graças e perdão àqueles que só lhe causaram males. Seguimos os passos do nosso Mestre quando temos alegria, serenidade e ternura nas provações.

  1. O PROPOSITO DAS PROVAÇOES (Tg 1,3-4).

É muito comum, quando estão em meio às aflições, as pessoas dizerem que não sabem o porquê de tudo isso que lhes está acontecendo. É verdade que nem sempre sabemos o motivo das experiências desagradáveis pelas quais passamos. A dor e o sofrimento quase sempre nos tiram a capacidade de perceber razão dos fatos. Não sabemos o porquê da provação não a invalida. Ela continua sendo genuína e tem propósito. Às vezes, eu não sei a razão, mas Deus sabe. Isso basta. Jó não tinha a menor idéia porque estava passando por tamanho sofrimento; porque que ele estava sendo tão provado. Não obstante, Deus sabia. E Jó, no devido tempo, saberia também. A palavra de Deus, a nossa experiência com Ele e o futuro se encarregarão de nos confirmar que as provações na vida do cristão têm propósitos definidos. Nada acontece por acaso. Não estamos à mercê da História. Somos servos do Todo Poderoso, aquele que age em todas as coisas para o bem daqueles que O amam, dos que foram chamados de acordo com o Seu propósito – “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” – Rm 8,28 – As provações visam produzir dois resultados, como veremos a seguir:
  • Fé aprovada.

Abraão é considerado o pai dos que têm fé. Para que ele recebesse esse honroso titulo, sua fé foi provada até as ultimas conseqüências. Quando chamado obedeceu – “Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia.” – Hb 11,8; quando posto à prova, ofereceu Isaque – “Foi pela sua fé que Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac, seu único filho,” – Hb 11,17 – Sua fé esteve sobre o altar das provações.

Fé aprovada é aquela que produz perseverança. Até genuína, resultado direto dos testes de que Deus faz uso para promovê-la, induz o cristão a continuar caminhando mesmo quando as circunstancias não lhe são favoráveis. Ela induz o cristão a continuar crendo em Deus e em Sua palavra mesmo quando a dor não passa, quando a doença prevalece sobre a saúde, quando o emprego não vem; embora haja perdas e danos, sua fé permanece inabalável.

  • Caráter aprovado;

A nossa experiência vai comprovar que as maiorias das grandes mudanças que ocorreram em nosso caráter se deram em meio às provações. O sofrimento, muitas vezes, age como um verdadeiro instrumento da graça para reduzir a nada o orgulho do soberbo e a auto – suficiência do arrogante. Quanta gente que se achava o dono da situação, supremo e intocável, só se aproximou da cruz devido ao rigor das provações a que foi submetido? As provações têm como objetivo, também, polir o caráter, ainda que seja a ferro e fogo. Evidentemente o poder transformador não está na dureza das tribulações, mas no Espírito Santo que age. Este, sabiamente, faz uso das circunstancias e dos acontecimentos para nos instruir e nos moldar.

Devido ao estado caído em que o homem se encontra e a dureza do seu coração provocada pelo pecado após a queda, nem sempre nos é fácil ouvir a voz de Deus em situações normais. Às vezes, o leito de enfermidade, o luto pela perda de alguém que nos era importantíssimo, a dor e o sofrimento de uma crise existencial, entre outras, constituem oportunidades onde a voz de Deus é ouvida com mais clareza e os nossos valores e conceitos são mais bem avaliados. Não devemos subestimar o valor que as aprovações exercem na vida do cristão no que diz respeito à construção de um caráter aprovado por Deus.

  1. O ESSENCIAL NAS PROVAÇOES (Tg 1,5-8).

Todos os frutos que as provocações visam produzir podem se tornar nulos se nos faltar o essencial – a sabedoria para passar por elas. A sabedoria é o ingrediente que, quando não nos faz compreender o porquê da dor, por exemplo, nos ensina a aceitá-la com paciência. A sabedoria nos faz perceber que, apesar da provação, Deus é nosso aliado.

A falta de sabedoria, que seria a falta de compreensão das realidades eternas e do governo de Deus em todas as coisas, nos impele a não aceitar a provação e a duvidar da bondade de Deus. A instrução é clara: aquele que tem sabedoria deve aplicá-la; e quem não tem deve pedir com fé, resistindo a toda dúvida.

E quando você, cuja fé está sendo severamente provada, pergunto-lhe: como está sendo sua reação? Como você está se comportando enquanto sua fé está sendo testada? Em meio as suas lagrimas é possível perceber alegria, ou apenas murmuração? At 16,19-26 nos relata um interessante episódio. Paulo e Silas já estavam presos, depois de terem sido açoitados, com os pés no tronco. Por volta da meia-noite, começaram a orar e cantar louvores a Deus. Orar em uma ocasião como essa não é tão difícil; cantar louvores, sim, soa estranho ao nosso entendimento. Numa situação semelhante normalmente choramos. Paulo e Silas cantaram. Ai eu vejo sabedoria. Deus, para eles, era tão real quanto o sofrimento. Eles tinham o sofrimento como razão para murmurar e abandonar a fé. Em contrapartida, tinham Deus para render louvores. Deus é maior que o sofrimento. É assim que a sabedoria faz seus cálculos. Se Deus é maior que o sofrimento, então rendamos a Ele o que lhe é devido, e quanto ao sofrimento, paciência.

Veja três momentos na vida de Jesus, onde Ele age com profunda sabedoria ao ser provado.

  • Diante do príncipe das trevas.

Depois de jejuar 40 dias, Jesus teve fome. Foi tentado pelo Diabo, e em todas as três investidas registradas em Mateus 4,1-11, Jesus rebateu com “está escrito”. O Mestre poderia ter usado os mais impressionantes discursos para combater o príncipe das trevas, no entanto, recorreu às Sagradas Escrituras. Desta forma, demonstrou que contra o Diabo, nossa arma mais eficaz é a espada do Espírito, a Bíblia. Contra o mal, age sabiamente quem age baseado na Palavra de Deus.

  • Diante das autoridades judaicas.

Os principais sacerdotes e os anciãos do povo, movidos pela inveja, não tardaram a perguntar com que autoridade Jesus estava a realizar o seu trabalho, além de ensinar. Jesus Cristo os colocou com a pergunta: donde era o batismo de João, do céu ou dos homens? – Mt 21,23-27 – Quanta sabedoria! Evidentemente eles tinham uma resposta. Em momento algum deram credito ao ministério de João. Mas, devido ao ambiente composto por uma multidão que acreditava ser o João  Batista um profeta, forma obrigado a se calar.

  • Diante das autoridades romanas.

Em virtude da fama de Jesus, Herodes desejava velo. Queria ver milagres. Nada viu e desprezou o Rei dos reis. Em relação a Antípas, Jesus manteve silencio  absoluto – Lc 23,8-12 – não quis lançar pérolas aos porcos. A sabedoria se manifestou sem palavras. Pilatos ficou gravemente admirado pelo fato de Jesus não responder as acusações dirigidas contra Ele pelos principais sacerdotes e pelos anciões. O silencio de Jesus impressionou o governador da Judéia (Mt 27,12-124). Devemos esquecer que o silencio de Jesus também aconteceu para cumprir as escrituras do A.T, quando dizem que não proferiu palavra quando levado ao matadouro.


  1. CONCLUSAO.

Uma vez que as provações estão no plano que Deus arquitetou para o nosso beneficio e crescimento espiritual, só nos resta encontrar o caminho da alegria, da sabedoria e a confiança de que Ele está usando todas as circunstancias para imprimir na nossa vida, no nosso caráter, as indeléveis marcas de Cristo. Aceitamo-las com alegria!

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