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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A CRUZ DE CRISTO - 13 – AMANDO NOSSOS INIMIGOS.

Neste tema encontramos uma das maiores e mais gloriosas verdades que podem emanar da mensagem da cruz. Trata-se do mais exaltado ensinamento que alguém pode encontrar no 2.º Testamento. É neste detalhe mais do que em nenhum outro, que se evidencia se somos discípulos de Jesus. A lição é que quando você e eu nos defrontamos com pessoas que nos assediam e nos odeiam, devemos comportar-nos como Deus se comportaria ser semelhante a Ele, tratar as outras pessoas como Ele mesmo as trata. Amar os inimigos é uma qualidade sem igual, que nos distingue de todo aquele que não é cristão. Em Mt 5,47, Jesus disse - "Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?" (Mt 5,47).

O cristão é aquela pessoa que vai alem e faz muito do que o homem natural é capaz de fazer. “O cristão é alguém separado de todos os demais, não somente dos piores dentre eles, mas até dos melhores e mais excelentes” – Martin Lloyd-Jones. É aquele que demonstra amor até pelos inimigos, fazendo bem aos que o odeiam e orando por aqueles que eles abusam e o perseguem. Do cristão se espera nada menos que a semelhança  a Deus.

O descrente, na melhor das hipóteses, consegue-se, consegue se conter  passivamente, a fim de não devolver o insulto e retaliar. Ele ignora o que está sucedendo ou afasta-se das pessoas que o tratam mal. O homem natural não é capaz de amar seu inimigo. O cristão, porém, vai além. Ele não apenas resiste passivamente, mas ama positivamente o seu inimigo e abençoa aquele que amaldiçoa. Jesus disse que é nisso que se conhece quem são seus discípulos - "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros". (Jo 13,35).

O ensinamento de amar os inimigos não é salgo simples de se entender. Esta questão tem causado confusão nas mentes de muitos cristãos. O próprio apóstolo Pedro, perplexo, perguntou – "Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?" (Mt 18,21). Porem, quando nos aproximamos da cruz e entendemos sua mensagem, nossos corações são iluminados.

Vejamos como a relação de Deus na cruz nos ajuda a lidar com o male as agressões sofridas.

I.                    A RECONCILIAÇÃO E A DISCIPLINA.

Uma das lições apresentadas pela cruz é que o perdão concedido por Deus jamais é um perdão barato, mas sempre custoso. Todo o trabalho de reconciliação entre Deus e o homem exibe tanto amor quanto justiça. Ali, misericórdia e severidade estão de mãos dadas. Na cruz Deus está, ao mesmo tempo, salvando e punindo. O evangelho ensina que a graça teve um alto custo. Quando Deus perdoa os pecados, eles não ficam impunes, pagos por Cristo na cruz. Consideremos de que forma este principio funcionará nas diversas áreas da vida.

Þ     Na vida social.

Embora não tenhamos o direito de negar o perdão, nem de fazer vingança não nos é permitido desvalorizá-lo, oferecendo-o  prematuramente onde não houve arrependimento genuíno. O ensino bíblico é este - "Se teu irmão pecar, repreende-o; se arrepender, perdoa-lhe". (Lc 17,3). Mas note que o perdão sempre requer alguma forma de pagamento e sofrimento.
·         Se a culpa for nossa – haverá a humilhação do pedido de perdão.
·         Se formos vítima da ofensa – talvez tenhamos de suportar o embaraço de reprovar ou repreender a outra pessoa, e até perder a amizade.

Þ     Na vida familiar.

“Os pais hão de querer que sua atitude para com os filhos seja marcado pela cruz. Devem amá-los, mas esse não é amor mole e sem princípios, que entrega as crianças, mas “amor santo”, que procura seu bem estar maior não importando o custo”  - Stott.

·         A cruz dá aos pais o direito de aplicar a disciplina – Hb 12,5-8.
·         A cruz modela o papel dos pais à paternidade divina – Ao mesmo tempo em que o pai se enraivece contra o mal, ele disciplina com amor.

Þ     Na vida da igreja.

“A Igreja hoje tem a tendência de oscilar entre severidade extrema, que excomunga os membros por ofensas triviais, e a frouxidão extrema, que jamais admoesta os ofensores” – Stott.

Em Mt 18,15-17, Jesus determinou um procedimento que se desenvolve através de fases:

·         Confrontação pessoal - "Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganhado teu irmão". (Mt 18,15).
·         Confronto com testemunhas - "Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas". (Mt 18,16).
·         Confrontação com igreja - "Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano". (Mt 18,17).

Note-se também que, de acordo com - "É o caso de Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar". (1Tm 1,20) e "seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus". (1Cor 5,5), a disciplina tem um propósito positivo.

II.                  ATITUDES CRISTÃS PARA COM O MAL.

Abençoar os que nos perseguem e fazer o bem aos nossos inimigos são o mandamento bíblico. Mas como devemos reagir às ofensas de nossos inimigos? De especial instrução são as quatro considerações que Paulo faz a respeito do mal em Rm 12,9-21.


Þ     Odiar o mal - "Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem". (Rm 12,9).

O cristão jamais finge que o mal é sem importância, nem o justifica. Ele o chama de pecado e odeia o mal. Deus odeia o mal porque ele é santo e nós também devemos odiá-lo. Porém, ao odiar o mal, Deus não nos odeia com ele.

Þ     Não devemos tomar a ninguém mal por mal - "Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens". (Rm 12,17).

O povo de Deus está totalmente proibido de fazer vingança. Na cruz, Jesus exemplificou com perfeição o seu próprio ensino - "Ele, ultrajado, não retribuía com idêntico ultraje; ele, maltratado, não proferia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça". (1Pd 2,23). Ao retribuirmos o mal, tornamos pior o  mundo em que vivemos.

Þ     Devemos vencer o mal - "Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem". (Rm 12,21).

Como fazer isso? A receita de Jesus é esta - "Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem". (Mt 5,44). Agora Paulo - "Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis". (Rm 12,14) e "Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21s)". (Rm 12,20).

Þ     O mal deve ser punido - "Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem". (Rm 12,9).

Se estivermos proibidos de vingar o mal, quem pode fazê-lo? A maneira de resolver o problema é o seguinte: individualmente, estamos proibidos de fazer vinganças, porém podemos  acionar a justiça. É preciso distinguir vingança individual – esta Deus proíbe – e de vingança judicial – esta Deus aprova. A vingança judicial é aquela feita pelas mãos de Deus - "O Senhor é um Deus zeloso e vingador, o Senhor é um vingador irascível; o Senhor toma vingança de seus adversários e trata com rigor os seus inimigos". (Na 1,2) ou dos magistrados instituídos pelo Estado.

III.                A AUTORIDADE DO ESTADO.

Como o cristão deve ver o Estado e sua autoridade? Paulo responde em Rm 13 que o Estado é ministro de Deus e seu propósito é punir o mal  e promover o bem. Ora, para cumprir este propósito o Estado pode usar a força tanto contra o agressor que ameaça de fora (guerra), quanto contra o agressor de dentro (criminoso). Porém, Rm 13 não pode ser usado como desculpa para exercer governo arbitrário ou exagerar na força. É preciso distinguir  entre violência (o uso do poder sem controle e sem princípios) e força (seu uso controlado para punir o malfeitor). Portanto, rigoroso controle deve ser exercido pelo Estado na aplicação da força.

Þ     Restrição – a força deve ser exercida como último recurso se esgotadas as outras opções.
Þ     Discriminação e controle – a Bíblia expressa horror para com o derramamento do sangue inocente. Isso torna ilegal o uso de armas atômicas, biológicas e químicas, e tudo uso indiscriminado de armas convencionais. Estes são usos profundamente ofensivos à consciência cristã. A ação da força requer, pois, alto grau de discernimento, de modo que somente o mal seja punido e não os inocentes.
Þ     Proporção – o sofrimento causado deve ser menor do que está sendo suportado.
Þ     Confiança – o Estado deve oferecer uma expectativa razoável de êxito na punição dos culpados.

O uso que o Estado faz da força, em caso de guerra, deve ser, com igual cuidado, aplicada aos criminosos. Deve ser usada força suficiente para mantê-los sob custódia, levá-los á justiça e, após sentenciados, obrigá-los a sofrer o castigo.

IV.                VENCENDO  MAL COMO BEM.

Como pode o mal ser ao mesmo tempo “vencido” - "Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem". (Rm 12,21) e “punido” - "Porque ela é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal". (Rm 13,4)? Novamente a cruz é a resposta. Cristo na cruz não venceu o mal se recusando a puni-lo, mas aceitando Ele mesmo o castigo. Na cruz o mal humano foi punido e vencido. Daí deriva-se dois princípios para a pratica da justiça cristã.

Þ     O retributivo – o malfeitor deve ser punido. O cristão reconhece a realidade do mal, do erro, da injustiça, e procura puni-lo com equidade.
Þ     O reformativo - deve-se tentar reabilitar o malfeitor. O cristão condena a culpa, mas não o malfeitor; e reage ao pecado de modo a remodelar o futuro à luz do erro, da maneira mais criativa possível.

CONCLUINDO

Nesses tempos de guerra, rumores de guerras a tanta violência urbana, que a cruz seja a nossa resposta aos malfeitores hoje.

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