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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Qual é a história de Israel?

A história de Israel é muito longa e turbulenta. A Bíblia conta sobre as origens do povo e do país de Israel, desde a época de Abraão. Ao longo da História, Deus usou Israel para revelar Sua vontade e trazer salvação ao mundo.

O povo de Israel tem uma história violenta e cheia de sofrimento, mas também com muitos milagres de Deus.

A terra prometida

Há cerca de 4000 anos atrás, Deus chamou um homem chamado Abraão e prometeu dar uma terra aos seus descendentes, que seriam o povo especial de Deus (Gênesis 12:1-3). Essa terra seria Canaã, onde Abraão viveu como estrangeiro pelo resto da vida.

Abraão teve um neto chamado Jacó, que teve seu nome mudado por Deus para Israel, que significa “ele luta com Deus”. Israel teve 12 filhos que deram origem às 12 tribos de Israel. Muito tempo depois, a terra de Canaã também teve seu nome mudado para Israel.

A família de Jacó passou 400 anos no Egito e se tornou um grande povo, apesar de ser escravizado. Pela mão de Moisés, Deus tirou os israelitas do Egito e os levou através do deserto para a terra prometida. Nesse tempo, Deus deu sua Lei aos israelitas, ensinando-os a viver de maneira diferente de outros povos.

40 anos depois, liderados por Josué, eles conquistaram Canaã e se estabeleceram no território. Vários outros povos moravam no território de Israel e houve muito conflito. Mas, após alguns séculos, os israelitas se tornaram o povo dominante da região. Nessa época, os israelitas estavam muito divididos entre tribos e nem sempre tinham um líder para os unir.

A monarquia

Chegou uma hora em que os israelitas quiseram um rei para os unir (1 Samuel 8:6-7). Deus escolheu Saul mas ele fez muitas coisas erradas e seus descendentes não herdaram o trono. Por isso, escolheu outro rei, Davi, a quem prometeu que sua descendência reinaria para sempre!

Salomão, o filho de Davi, foi um rei muito sábio, que construiu um templo para Deus. Mas em sua velhice Salomão abandonou a Deus. Depois de seu reinado, o povo de Israel se dividiu em dois reinos: Israel, a norte, governado por vários reis diferentes, e Judá (uma das tribos), a sul, governado pelos descendentes de Davi.

Todos os reis de Israel foram ruins e rejeitaram a Deus. Por fim, o reino de Israel foi conquistado pelo império Assírio e o povo foi exilado. Mas o reino de Judá teve alguns reis bons e tementes a Deus. Por isso, esse reino durou mais tempo.

O exílio

Apesar de ter alguns reis tementes a Deus, o povo de Judá não seguiu Sua Lei e cometeu muitos pecados (2 Crônicas 36:15-17). Uma série de reis ruins levaram à conquista de Judá pelo império Babilônico. O templo foi destruído e o povo foi exilado durante 70 anos.

Depois desse tempo, os israelitas tiveram permissão para voltar para sua terra e construíram um novo templo. Mas nem todos voltaram para Israel. Daquela época em diante, muitos judeus têm morado fora de Israel.

Foi nessa época que a primeira grande tentativa de exterminar todos os judeus aconteceu. Mas Deus salvou seu povo através de uma mulher chamada Ester. Desde então muitas pessoas tentaram destruir o povo de Israel.

Israel não voltou mais a ser um país independente (exceto durante um breve período debaixo do Macabeus). Até à chegada de Jesus, a região foi dominada pelos babilônios, os persas, os gregos, os egípcios, os assírios e os romanos.

Israel no Novo Testamento

No tempo do Novo Testamento, o território de Israel estava debaixo do domínio romano, dividido em províncias. As liberdades e os direitos dos judeus eram limitados e os romanos frequentemente interferiam nas tradições religiosas judaicas. Tudo isso deixou o povo muito descontente com a opressão romana.

Desde o exílio, o povo de Israel não tinha tido um rei da linhagem de Davi. Mas Jesus era descendente de Davi e ele fundou um reino muito maior: o Reino de Deus (Daniel 2:44). Nos seus primeiros dias, a igreja primitiva foi tolerada mas depois alguns judeus passaram a perseguir os cristãos. Mais tarde, os romanos também perseguiram a igreja.

Séculos de dispersão

Jesus tinha avisado que Jerusalém seria arrasada e o segundo templo destruído (Lucas 19:43-44). Isso aconteceu em 70 d.C., quando os romanos conquistaram a cidade, depois de uma grande revolta judaica. As relações entre judeus e romanos pioraram cada vez mais, até que os judeus foram completamente expulsos de Jerusalém e impedidos de morar na região de Israel.

Durante séculos, os judeus não tiveram uma terra própria. Eles se espalharam pelo mundo inteiro, enquanto que a terra de Israel (teve o nome mudado para Palestina) foi dominada por vários povos diferentes. Ao longo desse tempo, grupos de judeus se instalavam na região mas muitas vezes eram perseguidos.

A região de Israel caiu nas mãos dos otomanos e esteve debaixo de domínio islâmico por muito tempo. Esse domínio somente iria chegar ao fim depois da Segunda Guerra Mundial...

O estado moderno de Israel

Como povo estrangeiro, que não se integrava completamente na cultura dos países onde se instalava, os judeus foram muitas vezes vistos com desconfiança. Eles foram alvo de muitas perseguições étnicas e religiosas no mundo inteiro!

As tentativas regulares para exterminar os judeus, sua incapacidade de se defenderem e sua falta de direitos levou ao surgimento de um movimento para formar um novo país de Israel. Esse movimento, que ganhou força a partir do século XIX, ficou conhecido como o movimento sionista, por causa do monte Sião, que fica junto de Jerusalém.

O regime nazista realizou o maior massacre de judeus da História. No fim da Segunda Guerra Mundial, a compreensão do que tinha acontecido trouxe grande apoio à ideia de criar um estado para os judeus. Em 1948, a região da Palestina (que tinha ficado debaixo do domínio britânico) foi dividida e nasceu o estado de Israel.

No entanto, os povos árabes à volta não ficaram felizes e várias vezes tentaram conquistar o novo país. Desde sua fundação, o estado moderno de Israel tem enfrentado muitos conflitos. Atualmente, israelitas e palestinos ainda não conseguem viver em paz e os dois lados têm cometido atrocidades.

Israel hoje é uma mistura de influências judaicas, cristãs e islâmicas. Cada vez mais judeus estão voltando para Israel mas o país ainda enfrenta muitos desafios. A história de Israel tem sido muito violenta, mas Deus cumpriu Sua promessa de abençoar todos os povos da terra a partir de Abraão, por meio de Jesus!

O que é o bálsamo de Gileade?

 

 

Bálsamo de Gileade era um produto usado para fins medicinais. O bálsamo era aromático e ajudava a sarar feridas. A região de Gileade era conhecida por produzir um bálsamo bom. Na Bíblia, Deus usou o bálsamo de Gileade como metáfora da cura que o povo de Israel tinha rejeitado. 

Bálsamo vinha da resina de certas plantas. Era uma substância aromática, usada para cheirar bem e para tratar feridas. No Antigo Testamento, bálsamo era um dos ingredientes do incenso (perfume) especial produzido para ser usado no templo de Deus (Êxodo 30,34-35).

 O bálsamo de Gileade

Gileade era uma região de Israel a Leste do rio Jordão. Essa zona montanhosa era conhecida por seu bálsamo medicinal. Muito antes de Gileade ser parte do país de Israel, na época de Jacó comerciantes já levavam bálsamo da região para vender em outras partes do mundo, como o Egito (Gênesis 37,25).

Séculos depois, o bálsamo de Gileade ainda era conhecido e foi mencionado pelo profeta Jeremias. Por ter propriedades medicinais, esse bálsamo provavelmente era famoso e muito procurado. É possível que a produção de bálsamo tenha sido uma parte importante da economia de Gileade.

Qual á a arvoré que dá o balsamo de gileade. 

Alguns estudos apontam que o bálsamo de gileade é produzido na Palestina e na região do Egito.

Por exemplo: a Balanites Aegyptiaca; a Pistachia Lentiscus; ou até a Commiphora Opobalsamum, uma árvore nativa do sul da Arábia. Inclusive, ainda hoje é produzida em Jericó uma substância do fruto da Balanites Aegyptiaca que é comercializada como sendo o “bálsamo de Gileade”.

Também não se sabe exatamente se o bálsamo de Gileade era um tipo de loção ou goma, já que a palavra usada originalmente para se referir a ela não é tão clara nesse sentido. A única coisa que sabemos com certeza é que o bálsamo de Gileade era algo muito valoroso, tanto por suas qualidades curativas quanto por suas aplicações como cosmético.

O bálsamo como metáfora para a procura por cura

O profeta Jeremias mencionou o bálsamo de Gileade em uma lamentação sobre a destruição de seu povo. Os israelitas tinham bons tratamentos medicinais dentro de seu país mas nada os podia curar. A destruição causada pelo pecado não podia ser revertida com medicamentos. Parecia que o país tinha sofrido um golpe mortal (Jeremias 8,21-22).

Em outra profecia de Jeremias, Deus usou a figura do bálsamo de Gileade para criticar os egípcios (Jeremias 46,11-12). O Egito era conhecido por ser muito avançado e produzia muitos medicamentos, mas não havia cura para seu pecado. Mesmo se os egípcios importassem o famoso bálsamo de Gileade, isso não iria curar seu coração nem sarar o povo da destruição vindoura. A mesma coisa iria acontecer com a Babilônia (Jeremias 51,8). Nem os melhores medicamentos iriam conseguir sarar a devastação do país, por causa dos pecados do povo.

Nessas profecias, o bálsamo representava as tentativas humanas de resolver os problemas e evitar a destruição. Todos os povos procuravam uma cura para o seu sofrimento mas não estavam buscando a solução no arrependimento. Seus ferimentos eram causados pelo pecado e a única cura possível era espiritual. Israel e todos os povos precisavam de Deus, o verdadeiro bálsamo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

BÍBLIA E AS ARMAS

 


AZORRAGUE



 

O amor de Deus não é meramente um sentimento de apreço. O amor de Deus é santo e justo, pois Deus é Amor (1Jo 4,8), mas também é Fogo Consumidor (Hb 12,29). Deus é amor, mas Ele está irado contra o pecado e contra o mal. Esse também deve ser o nosso sentimento em relação ao mal: ira. Mas, diante de tudo isso, fica a pergunta: como conciliar isso tudo com o amor ao próximo? Como podemos nos defender sem deixar de amar o próximo?

 

1.    UMA IRA SANTA

 

A ira terrível de Deus contra os injustos revela seu amor para com os injustiçados. Da mesma forma, nós devemos domar a nossa ira para não sermos guiados pelas emoções e pela vingança, mas, sim, sermos instrumentos de justiça na vida dos oprimidos. A ira, por si só, não é pecado.

 

“Irai-vos e não pequeis“ é uma ordem registrada tanto nos AT (Sl 4:4) quanto no NT (Ef 4:26).

 

Além disso, a autodefesa, na maior parte das vezes, é um instrumento para ajudar o próximo. Se existe alguém sofrendo violência, nós fazemos o uso moderado da força para impedir aquela violência. A ideia é que a autodefesa sirva especificamente para valorizar a vida. Se alguém quer nos vitimar em algum nível, nós usamos um nível muito inferior de violência para evitar que aconteça. É completamente diferente de vingança e de linchamento. Legítima defesa tem a ver com usar um grau de violência para impedir um grau muito maior. Quando usamos autodefesa, estamos promovendo a paz, porque estamos diminuindo o uso da violência que aconteceria se não a usássemos. Proteger o próximo contra violência usando a legítima defesa é uma demonstração de amor em situações quando não usar demonstra covardia e falta de amor.

 

2.    O JESUS DAS ESCRITURAS

 

As posturas de Jesus são as principais confirmações dos princípios do Antigo Testamento a respeito da autodefesa e da preservação da vida. Jesus fala muito, inclusive, de um tipo de defesa que era armada. Ou seja, Jesus era claramente contra o desarmamento.

 

Jesus não era um pacifista. Jesus era Deus, e como Deus, Ele trouxe mensagens que muitas vezes vão contra aquilo que humanos preferem achar. Talvez você seja contra o armamento civil, mas Jesus não foi. Talvez, agora, chocado, você diga “esse não é o meu Jesus”. Mas esse é o Jesus da Escritura.

 

Às vezes, nós vamos até o texto bíblico esperando que ele confirme as nossas ideias. Porém, como Mestre que era, Jesus não estava confirmando opiniões, mas apresentando fatos contra opiniões. Os ensinos de Jesus são também julgamentos contra as nossas opiniões. Deus julga as nossas ideias e muitas vezes as condena, apresentando ideias mais coerentes a respeito das coisas. Uma delas é a possibilidade das pessoas se defenderem e defenderem umas às outras, inclusive usando armas.

 

3.    JESUS ARMADO

 

Você consegue imaginar Jesus armado? Está-se com dificuldade, talvez seja porque nunca prestou muita atenção ao que está registrado em João 2,15. Leia com bastante atenção aos detalhes:

 

“…tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas…”.

 

Definitivamente, essa não é a imagem de alguém pacifista. A missão de Jesus quando esteve aqui na Terra era completar sua obra que possibilitaria o perdão de pecados. O objetivo era restabelecer a paz da humanidade com Deus. Para trazer a paz é preciso eliminar o que a impede. Na passagem acima, vemos Jesus mostrar que não estava para brincadeiras, e o uso do azorrague mostrou que Ele realmente não estava em ser o que a multidão esperava dele. Ele era quem Ele era, e cumpriria sua missão.

 

O azorrague era um tipo de chicote dos mais violentos que existiam naquela época. Eles eram usados, por exemplo, na mais cruel condenação que existia que era crucificação, durante o trajeto que o indivíduo fazia até o local onde morreria. O azorrague foi usado inclusive contra Jesus em sua tortura no caminho do Gólgota. Tratava-se de um chicote geralmente com cordas de couro com ossos de animais ou pedaços de metal nas pontas, que travavam na carne dos açoitados, despedaçando o couro à medida que a pessoa apanhava. O azorrague era uma arma com poder de torturar, desfigurar e talvez matar o indivíduo. Foi essa a arma que Jesus usou como ameaça contra os cambistas.

 

Como era a azorrague?

 

O azorrague era um instrumento de tortura comum na Roma Antiga, usado pelos soldados, para suplicar os condenados. Era composto por oito tiras de couro que, em cada ponta, possuía um instrumento perfurocortante, ou um pedaço de osso de carneiro.

 

Jesus não tinha uma pistola, mas tinha em suas mãos uma das armas mais letais da época. Percebeu como esse texto vai completamente contra tudo que dizem aqueles que são contra o porte de armas?

 

4.    USO JUSTO DA VIOLÊNCIA

 

O texto não diz que Jesus bateu em alguém. Jesus lançou mão da arma para ameaçar aqueles que estavam usando o Templo contra Ele, que era representado pelo Templo. E não foram apenas gestos vazios. Como o texto mostra claramente, Jesus literalmente expulsou os cambistas, e de forma bruta, nada gentil. Ele ainda expulsou os animais que os cambistas vendiam para sacrifícios, espalhou o dinheiro deles pelo chão e tombou suas mesas.

 

Agora, vamos pensar no óbvio: Jesus era Deus. A representação exata da Trindade. Santíssimo. Todo amor. Ele era perfeito e nunca pecou. Se portar uma arma fosse algo pecaminoso por si só, Jesus estaria pecando. Mas não foi o caso. Isso significa que armar-se e usar essa arma de forma justa não é um ato pecaminoso e não é um ato que ofende ao Senhor.

 

Alguém poderia argumentar que Jesus, sendo Deus, não pode ser imitado em absolutamente tudo que fez. Realmente, muitas coisas que Jesus fez, Ele o fez por ser o Messias escolhido desde a eternidade para religar o homem a Deus. Porém, esse não é o caso quando o assunto é autodefesa.

 

5.    A ORDEM AOS DISCÍPULOS

 

Em Lucas, Jesus dá duas missões semelhantes aos 70 discípulos. As diferenças é que nos chamam mais a atenção. Preste atenção no contexto.

 

Em Lucas 10, vemos Jesus chamando os 70 discípulos e mandando-os que pregassem o Evangelho sem levar nada: nem bolsa, nem sandália, etc. Esse era um jeito de ensinar a respeito de como viver uma vida de fé. Eles foram proibidos de levar, por exemplo, quaisquer instrumentos de defesa, assim como de levar algum tipo de provisão, que deveria ser apenas aquilo que as pessoas lhes dessem pelo caminho nessa missão.

 

No capítulo 22, a missão é semelhante. Jesus até mesmo cita a missão anterior no verso 35:

 

“A seguir, Jesus lhes perguntou: Quando vos mandei sem bolsa, sem alforje e sem sandálias, faltou-vos, porventura, alguma coisa? Nada, disseram eles”.

 

Então, Jesus prosseguiu mandando que, nessa segunda vez, eles levassem tudo aquilo que foram proibidos de levar antes. Veja o que Jesus disse aos discípulos em Lucas 22,36:

 

“Então, lhes disse: Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma“.

 

No verso 38, vemos o resultado: “Então, lhe disseram: Senhor, eis aqui duas espadas! Respondeu-lhes: basta!”.

 

Quem não tinha espada foi ordenado a comprar uma, mesmo que para isso precisasse vender uma capa. Por que Jesus quis que eles levassem uma espada? Ora, para a proteção no caminho!

 

6.    FIÉIS E ARMADOS

 

As estradas nos tempos de Jesus era muito perigosas. Por isso, era comum que pessoas andassem armadas como pudessem para se defender. Os discípulos estariam, portanto, em situação de perigo constante como missionários. Perceba que Jesus estava ordenando que missionários se armassem. Os missionários precisavam estar armados para poderem se defender em possíveis situações que aparecessem. Alguns evangélicos estão tão presos às suas ideologias políticas que fazem distorções bizarras no sentido desse texto. Elas olham, no final, a palavra “basta” e dizem que Jesus estava rejeitando as espadas. A desculpa de alguns é que a espada que Jesus se referia era espiritual, o que é um completo absurdo. Como é que se vende uma capa para comprar uma espada espiritual? Além disso, o alforje e a bolsa também eram espirituais?

 

É claro que não.

 

O termo usado, em grego (hikanon) absolutamente nunca é usado na Bíblia com a ideia que às vezes usamos em português, como “chega!”. Quando os discípulos, em obediência a Jesus, trouxeram as espadas e mostraram a Ele, sua resposta “basta”, significava “é o bastante”.

 

Lembre-se da passagem tão conhecida: “a minha graça te basta“ (2Co 12:9).

 

Aquilo que basta é aquilo que é suficiente. Jesus não estava condenando a ação dos discípulos, mas sim dizendo que aquelas duas espadas eram o bastante e serviriam ao propósito. Sem nenhum problema, Jesus ordenou que se comprasse armamento letal para a defesa. Então, ter uma espada e usar esse instrumento legal para proteger-se não é pecado, pois Jesus não poderia ordenar o pecado. Jesus é claramente a favor de que um cristão porte armas para defender a si mesmo e aos outros.

 

7.    A BÍBLIA CONDENA O PORTE DE ARMA DE FOGO?

 

O assunto do desarmamento e porte de armas invadiu a pauta da sociedade brasileira. Um assunto que na maioria das vezes esteve restrito às lideranças políticas e aos círculos de especialistas em segurança pública, de repente invadiu a arena e tem produzido discussões acaloradas. Em parte, isso é o resultado da recente politização da população, que tem trocado o interesse pelo futebol pelas discussões pelos assuntos políticos da nação. Por esse motivo, como geralmente acontece, a igreja é chamada a se manifestar. O que se pode dizer sobre isso, dentro de uma perspectiva cristã?

 

QUESTÕES A CONSIDERAR 

 

Por nossa herança pacifista, rejeitar o uso de armas é reação imediata. Cristianismo e armas de fogo não combinam. Simples assim. 

 

No entanto, algumas perguntas tem provocado muita reflexão: A quem interessa o desarmamento da população? Por que muitos, inclusive cristãos, tem se posicionado contra do desarmamento? O Estado, mesmo que quisesse, poderia proteger a população? Se não pode, então, o que fazer? O aumento de homicídios no Brasil não justificaria os cidadãos armarem-se para salvar suas famílias? O cristão, como cidadão, deve sempre se opor ao porte de armas? 

 

A ideia deste texto não é definir, mas apenas colocar na mesa os pontos que envolvem as Escrituras e o porte de armas.

 

A BÍBLIA, ARMAS E O CIDADÃO COMUM.

 

É óbvio que a Bíblia não falará de armas de fogo, pois tais instrumentos não existiam nos tempos bíblicos. No entanto, espadas, lanças, flechas e outras “armas brancas” eram comuns. Creio que ao lidarmos com o porte de armas podemos fazer um paralelo entre as armas dos tempos bíblicos e as armas que dispomos atualmente. Não se trata do tipo de arma, mas se essas podem ser usadas por civis como instrumento de defesa pessoal. Que princípios podemos extrair das Escrituras a respeito desse tema que nos ajude a navegar no mar das opiniões? Que lado da questão nos compete? 

 

O primeiro ponto a ser considerado é que esse debate não nasceu da interpretação de alguma passagem bíblica. É uma discussão, à princípio, da esfera da cidadania, do relacionamento entre o governo e os governados. 

 

No Brasil, o tema começa a emergir em 2005, quando ocorre o plebiscito sobre o porte de arma. A pergunta a ser respondida era: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. A expectativa era que a resposta do brasileiro fosse um sonoro “sim”. Nosso pacifismo tendia para isso. Surpreendentemente quase 64% da população foi contra a proibição. E ainda que na prática o porte de arma tenha se tornado extremamente difícil, esse fato passou a provocar inúmeros debates.

 

A verdade é que com a internet e as redes sociais, na época, principalmente o email, as informações e discussões saíram da esfera da inteligência e chegou às massas. E inúmeras perguntas e afirmações começaram a circular. Por que esse interesse tão grande em desarmar a população? Por que a cultura de massa constantemente inseria o tema em seus roteiros, super dimensionando os acidentes com armas de fogo? E que garantia havia que os criminosos, na mão de quem as armas eram de fato perigosas, não se aproveitariam de uma população desarmada? Os governos totalitários como nazismo e comunismo haviam desarmado a população antes de assumir o poder absoluto. Não seria isso que estava acontecendo? Uma população desarmada é uma população refém, seja de criminosos, seja de um governo inescrupuloso.

 

O QUE DIZ O ANTIGO TESTAMENTO

 

Qualquer pessoa que leia o Antigo Testamento, seja a lei mosaica, sejam outros escritos, perceberá que a questão de portar armas para defesa de si ou da família era encarado como atitude normal. Até mesmo em defesa da propriedade (Êxodo 22.2) ou vingando um homicídio (Números 35.27) aquele que matava essa pessoa era inocentado.

 

A defesa pessoal fosse da propriedade da família e mesmo da própria vida era visto como uma justificativa mais do que justa para que o indivíduo se armasse. É o que vemos, por exemplo, no caso de Neemias, cujo contexto era de fragilidade e vulnerabilidade. O fato dele, como governador, ser incapaz de atender a demanda por proteção, fez com que ele exortasse toda a população a se armar e lutar por sua segurança. 

 

‘Pelo que pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus o povo, pelas suas famílias, com as suas espadas, com as suas lanças e com os seus arcos. E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, nossas mulheres e vossas casas’. (Neemias 4.13, 14) 

 

‘Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam’; (Neemias 4.17, 18) 

 

… cada um com suas armas ia à água (Neemias 4.23) 

 

A verdade é que o desarmamento da população foi uma das estratégias usadas pelos filisteus para manter o povo de Israel subjugado. Não permitia que houvesse ferreiros entre eles para dessa forma impedir a criação de armas, mantendo-os cativos (1 Samuel 13,19). O caráter belicoso do contexto vétereotestamentário faz do uso de armas um lugar comum. Para aquela cultura era natural possuir armas e defender-se com ela caso necessário.

 

O QUE DIZ O NOVO TESTAMENTO 

 

Como sob certos aspectos o Novo Testamento se sobrepõe moralmente ao Antigo é comum se buscar uma reprovação do porte de armas em suas páginas. Todavia, o máximo que poderemos extrair é orientação pessoal para que o cristão não se vingue e nem retribua o mal com o mal.

 

Aqueles que pensam ter apoio para a proibição de porte de armas baseados no sermão da montanha se enganam completamente. Se o sermão da montanha fosse adequado para conduzir a legislação de um país, semelhante à sharia islâmica, então seria uma legislação muito estranha. Pois nesse caso teríamos de ter uma lei obrigando a entregar ainda mais pertences durante um roubo e a se sujeitar a mais agressões depois de agredidos (Mateus 5.38-40). É óbvio que essa não era a intenção do sermão, que servisse de base para legislações civis.

 

Mesmo que cristãos aplicassem literalmente tais preceitos a qualquer situação, ainda assim seria inapropriado obrigar toda uma sociedade a viver dessa forma! É preciso compreender que o Novo Testamento não inclui um código de legislação civil como acontecia com a lei mosaica. Portanto, nossa disposição para sofrer o mal nada tem em comum com a questão da permissão do cidadão de defender-se em quando atacado.

 

Ainda é necessário considerar que o uso de armas por parte das autoridades é plenamente sancionado pelo Novo Testamento e não há nenhuma menção de que um cristão revestido de autoridade deva estar menos armado que um não cristão revestido dessa mesma autoridade. João Batista exortou aos soldados apenas que não usassem de violência gratuita e não se deixassem corromper pelo suborno (Lucas 3.14). O uso da espada pelas autoridades foi compreendido como parte da ação divina na delegação de autoridade aos governos constituídos (Romanos 13.1-7). A conversão do carcereiro não parece ter levado o mesmo a abandonar seu trabalho e seu uso de armas (Atos 16.27-36).

 

Temos da parte de Jesus um momento muito peculiar quando ele mesmo ordena aos seus discípulos que adquiram uma espada: 

 

‘Disse-lhes, pois: Mas, agora, aquele que tiver bolsa, tome- a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua veste e compre-a; porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento. E eles disseram: Senhor, eis aqui duas espadas. E ele lhes disse: Basta’. (Lucas 22.36-38) 

 

Sobre essa passagem comentou Champlin

Outros intérpretes creem que durante aquele período de grande tensão mental, por causa das diversas ameaças dos líderes civis e religiosos a ecoar em seus ouvidos Jesus permitiu que se tomassem algumas medidas de proteção física em favor de seus seguidores, razão porque permitiu ou recomendou espadas

 

De igual modo, o judeu messiânico David Stern assim comenta a respeito dessa passagem:

 

Desta vez os discípulos ainda serão protegidos, mas as circunstâncias mudariam. A prudência e as considerações práticas desempenhariam um papel mais importante: capas, bolsas e espada romana era o equipamento padrão, especialmente na estrada, onde salteadores representavam uma ameaça à vida.  

 

Alguém pode alegar que Jesus repreendeu a Pedro por ter usado a espada contra o servo do sumo sacerdote e que naquela ocasião Jesus disse a ele que quem fere com a espada com a espada será ferido. Todavia, não se pode negar que Pedro tinha uma espada (João 18.10) e que esse simples fato demonstra que não houve nenhuma proibição por parte de Jesus nesse sentido. Era impossível que Ele não o soubesse ou que sabendo não o proibisse fosse esse o caso.

 

PONTOS A PONDERAR 

 

Quando se fala em porte de arma muitos cristãos pensam que isso obrigada a todas as pessoas a portar uma arma. É óbvio que não. Os que defendem o porte de arma entendem que isso está relacionado à liberdade dos cidadãos. Ninguém é obrigado a possuir uma arma, mas não pode ser proibido de possuir uma. Isso é liberdade. 

 

Alguns acreditam que isso é uma incitação à violência. Todavia, a ausência do porte de armas para cidadãos comuns tem motivado a violência por parte de criminosos que sabem que terão pouca resistência. Com certeza a arma na mão de um criminoso está destinada a finalidades diferentes das armas nas mãos de cidadãos de bem.

 

O maior argumento usado diz respeito ao mau uso dessas armas, mesmo nas mãos de um cidadão de bem. Suicídios, acidentes domésticos, atos violentos em momentos de conflito e ira. Sem dúvida alguma que todas essas ocorrências são possíveis. Todavia, esses fatos já ocorrem sem as armas de fogo e não significa que vão piorar com o porte das mesmas. No entanto, é preciso o perigo da ousadia dos criminosos, um perigo certo para a população desarmada, muito mais certo e muito mais letal do que outros perigos que o porte de armas pode produzir.

 

Nada obriga um cristão a portar uma arma ou ferir uma pessoa. Todavia, qualquer pessoa coerente se sentiria culpada de não proteger sua família caso pudesse fazê-lo. Jamais veria isso como violência gratuita. Apenas uma forma de cumprir seu papel como homem, como cidadão, como pai.

 

O fato é que se o governo proíbe a possibilidade dos cidadãos de defender a si mesmos, então tem o dever de garantir a eles segurança plena. E caso não seja capaz de proteger os bens e mesmo a vida de seus cidadãos, então cabe a ele indenizar a todos por roubos ou qualquer danos à sua vida. Essa é a lógica. Proibir alguém de defender-se e abandoná-lo à mercê de pessoas bem armadas e mal intencionadas não é governar, é oprimir.