sábado, 31 de janeiro de 2015

OS APÓSTOLOS



Simão Pedro, Petrus (pedra de arremesso)

O Primado de Pedro
Introdução

Uma das grandes razões de divergência entre católicos e protestantes diz respeito à legitimidade para a interpretação das Sagradas Escrituras. Para os seguidores da reforma, qualquer pessoa poderia ler e entender corretamente a bíblia, sem o auxílio de ninguém senão do Espírito Santo, que guiaria cada um infalivelmente na busca do verdadeiro significado da palavra divina. É o chamado livre exame da Bíblia, proposto pelo ex-frade Lutero.

Para os católicos, o legítimo intérprete das Escrituras (e também da Tradição) é o papa, sucessor direto de São Pedro, pois Cristo confiou a ele esse ministério. Ao Papa, portanto, devem os católicos obediência em matéria de fé e moral, em função do poder divino a ele conferido.

Os protestantes, apesar de discutir as passagens discordantes da bíblia de forma crítica, acabam tendo que reconhecer que cada um, em conexão direta com Deus, tem a sua interpretação, a sua "verdade", originando-se, dessa forma, o fenômeno da multiplicação das seitas que se constata a partir do século XVI, e que não cessou até hoje.

Cada seita seria uma manifestação de Deus; não importa se defende teses contrárias às das demais, desde que mantenha a "fé" em Cristo. Essa "fé" na verdade se traduziria por um "sentir Cristo"; portanto, trata-se de um ato da vontade e não da inteligência.

A doutrina católica, ao contrário, reconhece que a fé é a adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus. Sendo verdades, elas não podem variar nem segundo a pessoa que as interpreta, nem segundo a época, pois a verdade é imutável.

Cabe ao papa guiar os fiéis nos ensinamentos de Cristo confiados à Igreja em depósito, o qual não pode ser alterado até a consumação dos séculos.

Importa, pois saber qual das duas visões corresponde à vontade divina, pois aí teremos resolvido o problema da interpretação da Bíblia Sagrada, que é motivo de divergência entre católicos e protestantes. Examinemos, pois, em primeiro lugar, as Escrituras.

Os protestantes afirmam que, para defender a posição católica, só existiria uma passagem do Evangelho de São Mateus (“Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.” 16, 16-19), a qual não possui paralelo com os dois outros Evangelhos que descrevem a mesma cena, de interpretação duvidosa.

Pedro seria como os demais apóstolos, diferindo apenas no caráter agressivo, o que faria com que liderasse os demais, seguindo e obedecendo a Cristo. Entretanto, Nosso Senhor não teria conferido qualquer primado a Pedro entre os Apóstolos.

O que o Evangelho mostra, entretanto, é que Pedro ocupava um lugar de destaque no colégio Apostólico, e que Cristo fez a ele a promessa da primazia entre os apóstolos, para que, uma vez confirmado, confirmasse os seus irmãos (“mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.”Lc 22,32). Utilizaremos na maior parte da demonstração dessa verdade o esquema do livro Igreja, Reforma e Civilização, do Pe. Leonel Franca, Ed. Agir, 6a edição.


Podemos constatar a proeminência de São Pedro entre os Apóstolos, em primeiro lugar, pela quantidade de vezes que ele é nomeado nos Evangelhos: vários já fizeram notar que os evangelistas fazem referência a Pedro 171 vezes (114 nos evangelhos e 57 nos Atos dos Apóstolos), enquanto que do apóstolo amado, São João, fazem 46 citações.

É o que se poderia chamar de prova estatística, pois mostra como os Evangelistas consideravam a figura do príncipe dos apóstolos, destacada desde cedo pela autoridade de Cristo.
Veremos mais adiante que São Pedro não é apenas nomeado maior número de vezes, mas principalmente em citações que denotam importância, e que o critério numérico simplesmente serve para reforçar este.

Para impugnar esse argumento, alguns fazem notar que São Paulo é nomeado 160 vezes nos Atos dos Apóstolos, onde Pedro aparece 57 vezes, e que, portanto, por esse critério, São Paulo teria mais direito ao título de papa.

Entretanto, o que importa demonstrar, com isso, é que houve um que foi destacado entre os doze apóstolos, designado por Cristo para guiar os demais.

Essa questão diz respeito aos primeiros seguidores de Cristo, e quando o Apóstolo das Gentes se converteu, ela já estava decidida. Só Nosso Senhor poderia nomear um seu representante com tal poder e autoridade. 


Outro destaque exclusivo de Pedro é que Cristo, ao chamá-lo a uma nova e superior vocação, lhe atribui curiosamente um novo nome, que carrega o significado poderoso de, ao mesmo tempo, chefe e fundamento da nova sociedade que terá por missão espalhar os ensinamentos do Mestre pelos quatro cantos do mundo. "Este (André) encontrou primeiro seu irmão Simão, e disse-lhe: Encontramos o Messias. E levou-o a Jesus. E Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro (Pedra)" (S. João I, 41- 42)

Analisemos em primeiro lugar a mudança do nome: quantas vezes, em toda a Escritura, Deus muda o nome de alguém? Se são poucas às vezes, conclui-se que esse ato é solene, dada a sua excepcionalidade, que faz concluir a gravidade daquilo que o motivou.

Ora, em toda a Sagrada Escritura Deus muda apenas três vezes o nome de homens, sempre para destacar a dignidade de uma vocação superior: primeiro muda o nome de Abrão para Abraão, tornando-o o patriarca fiel a Deus e recompensado com a Antiga Aliança e a promessa de uma descendência pujante (“não mais serás chamado Abrão, mas Abraão será o teu nome; pois por pai de muitas nações te hei posto; far-te-ei frutificar sobremaneira, e de ti farei nações, e reis sairão de ti; estabelecerei o meu pacto contigo e com a tua descendência depois de ti em suas gerações, como pacto perpétuo, para te ser por Deus a ti e à tua descendência depois de ti. Dar-te-ei a ti e à tua descendência depois de ti a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em perpétua possessão; e serei o seu Deus”. Gênesis, 17, 5-8). O segundo eleito é Jacó, a quem Deus nomeia Israel (“28 Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; porque tens lutado com Deus e com os homens e tens prevalecido” Gn 32,28; Gn 35,10), renovando as promessas feitas ao avô em relação ao povo judeu. (“E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” Jo 1,42) quando Jesus entrega a chave do céu para Pedro (Mt 16,19). A mais nenhum Deus concede esse privilégio, nem a Reis nem a Profetas, que foram tantos e com tal Santidade! No Antigo Testamento, Deus sela a Aliança com seu povo escolhendo e mudando o nome dos Patriarcas, mostrando de forma inequívoca que unge - separa - seus eleitos.

Nosso Senhor então, na plenitude dos tempos, quando a humanidade se encontra preparada para a grande obra da Redenção, vai novamente distinguir aqueles com quem firmará a Nova e Eterna Aliança, mudando o nome do seu Patriarca, que deverá apascentar seus cordeiros e ovelhas pelos séculos, prometendo-lhe Sua assistência infalível. E muda seu nome não para um qualquer, mas para Pedro (Cefas, que em aramaico - língua falada por Nosso Senhor - quer dizer Rocha), mostrando que sua Igreja não seria fundada sobre areia.

Esse é um fato muitas vezes esquecido, ou relegado a um plano inferior, porém tem uma importância enorme, pois demonstra que Pedro deveria ter entre os Apóstolos uma distinção de honra, incompatível com uma ideia de igualdade entre os doze. Notemos que nem São Paulo mereceu tal honra.


Outro aspecto interessante da distinção de Pedro diz respeito a sua barca, que desde muito cedo foi interpretada pelos Santos Padres como símbolo da Igreja, unicamente na qual podem se salvar os homens.

Cristo, na sua pregação evangélica, prefere invariavelmente a barca de Pedro. Na verdade, não se nomeia expressamente outra barca de que Cristo tenha se servido.
É na barca de Pedro que ocorre a pesca milagrosa, de uma simbologia extremamente significativa (“Entrando ele num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, sentando-se, ensinava do barco as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo e lançai as vossas redes para a pesca. Ao que disse Simão: Mestre, trabalhamos a noite toda, e nada apanhamos; mas, sobre tua palavra, lançarei as redes. Feito isto, apanharam uma grande quantidade de peixes, de modo que as redes se rompiam”. Lc, 5,3-6). Outra pesca milagrosa irá ocorrer após a ressurreição, no lago de Tiberíades, de novo na barca de Pedro (“Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe: Nós também vamos contigo. Saíram e entraram no barco; e naquela noite nada apanharam. Mas ao romper da manhã, Jesus se apresentou na praia; todavia os discípulos não sabiam que era ele. Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, não tendes nada que comer? Responderam-lhe: Não. Disse-lhes ele: Lançai a rede à direita do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam puxar por causa da grande quantidade de peixes. Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: Senhor. Quando, pois, Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava despido, e lançou-se ao mar; mas os outros discípulos vieram no barquinho, puxando a rede com os peixes, porque não estavam distantes da terra senão cerca de duzentos côvados. Ora, ao saltarem em terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão. Disse-lhes Jesus: Trazei alguns dos peixes que agora apanhastes. Entrou Simão Pedro no barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede”. Jo, 21, 3 – 11). A barca de Pedro é chamada de "a barca", por antonomásia, em outras passagens (Mt 8, 23 e 14, 22; Mc, 4, 36 e 6, 45), em oposição às "outras barcas" (Mc 4, 36).

Tiremos a conclusão obrigatória: fora da Barca de Pedro não se acha Cristo.


Dois fatos aparentemente corriqueiros da vida de Cristo se juntam às evidências até aqui acumuladas, e dizem respeito à proximidade do mestre a Pedro. Primeiro, observa-se pelos Evangelhos que, quando Cristo se demora em Cafarnaum, é na casa de Pedro que se hospeda. "Ao sair da Sinagoga, Jesus e os que o seguiam se dirigiram à casa de Pedro e André..." (Mc I,29; Mt 8, 14; Lc 4, 38), e que mais tarde, à porta da casa (de Pedro) Jesus fazia milagres. São Marcos, em outras ocasiões, sem mencionar outra casa, diz simplesmente que o Mestre se dirigiu "à casa" e "para casa" (Marcos 2,1; 3,20 e 9,32).

É curiosa a diferença nas narrações de São Marcos e São Mateus desse mesmo episódio: este usando artigo - na casa; aquele sem o usar - em casa.

O sentido da primeira expressão é o mesmo que tem, para os franceses, o chez moi, ou seja, em minha casa. Seria um fato estranho São Marcos falar de sua casa, se não soubéssemos ter sido o evangelista discípulo de Pedro. Ao repetir o que ouviu do Apóstolo, ele utiliza a expressão de quem falava da própria casa. São Mateus fala da casa não com sentido próprio, pois falava da casa de outrem. Curioso ainda é que quando os evangelistas falam da casa de Cristo, se referindo à de Nazaré, usam ambos o artigo, evidenciando o detalhe sutil e extremamente probatório da passagem.

Portanto, o Evangelho de S. Marcos demonstra que, em Cafarnaum, Cristo se hospedava na casa de Pedro.
O segundo fato, que está estreitamente ligado ao primeiro, é que Cristo manda pagar o tributo do templo por si e por Pedro, quando os coletores de impostos vão a casa deste cobrar pelo Mestre “... vosso mestre não paga a didracma? Ele (Pedro) respondeu-lhes: sim. E depois que entrou em casa , Jesus o preveniu, dizendo: Que te parece Simão? De quem recebem os reis da terra o tributo ou o censo? De seus filhos ou de estranhos? E Ele (Pedro) respondeu: dos estranhos. Disse-lhe Jesus: logo são isentos os filhos. Todavia, para que os não escandalizemos, vai ao mar e lança o anzol, e o primeiro peixe que subir toma-o, e, abrindo-lhe a boca, acharás dentro um estater: tira-o e dá-lho por mim e por ti." (Mt 17,24-27).

Esse é um sinal tão distintivo da preferência de Nosso Senhor pelo apóstolo, que os demais, logo que Pedro se afasta, cercam o mestre para saber quem seria o maior no reino dos céus (Mt 18,1).

Sobre esse texto, São Clemente de Alexandria exclamava: "Bem aventurado Pedro, o escolhido, o preferido, o primeiro dos discípulos, único pelo qual Cristo pagou tributo." (Qui dives Salvetur, 21, Migne, Patrologia serie Grega, IX, 625. - citado pelo Padre Leonel Franca).


Todas as vezes que os evangelistas nomeavam os doze apóstolos, o faziam invariavelmente começando por Pedro e terminando por Judas, com os demais ocupando lugares diferentes (S. Mateus, 10,2-4, S. Marcos 3,16-19, S. Lucas 6,14-16, Atos 1,13).

Se não é difícil imaginar o porquê do último lugar ao traidor, também não o é o primeiro para Pedro. São Mateus é explícito: "Primeiro, Simão que se chama Pedro”. (S. Mateus 10,2-4).


Primeiro em quê? Em idade, em chamado para a vocação? Nem um, nem outro.

Se fosse correta a primeira hipótese, a ordem dos demais seria sempre a mesma, e se o fosse a segunda, André e outro discípulo seriam os primeiros nas listas (S. João 1,35-42).

Em ocasiões excepcionais da vida de Cristo, três apóstolos sempre O acompanhavam: Pedro e outros dois. Na ressurreição da filha de Jairo, na manifestação de sua onipotência, na agonia do jardim das oliveiras, no mistério de suas dores, eles estiveram presentes (Marcos, 5,37; 9,1; 14,33 e outros paralelos).

Às vezes, todo o Colégio Apostólico segue a Pedro numa expressão coletiva: "Pedro e os que o acompanhavam" (Marcos 1,36).

Lemos também no evangelho de S. João que é Pedro quem responde por todos na questão da explicação de Cristo sobre a necessidade de se comer sua carne e beber o seu sangue (portanto, da presença real de Cristo na hóstia), ocasião em que alguns discípulos abandonaram o Mestre.
Depois que Pedro se pronuncia, ninguém mais abandona Cristo.


Um dos motivos da grande resistência à primazia de Pedro é o fato dele não ter exercido nenhum poder entre os Apóstolos mesmo após as palavras de Cristo que lhe teriam dado esse poder.

O que não entendem os inimigos do papado é que Cristo fez uma promessa a Pedro, e não uma nomeação imediata. Não faria sentido Cristo designar Pedro para que guiasse as almas enquanto Ele estivesse no mundo.

Se os Apóstolos e Discípulos se questionavam quem seria o primeiro, ou o maior no reino, era porque poucos entendiam do que Nosso Senhor ensinava por serem almas toscas, e não porque haveria dúvida acerca da primazia. Essa questão já estava definida.

Para que se compreenda, vejamos o seguinte fato: que verdade estaria mais clara para os discípulos de Cristo, do que o caráter transcendental do seu reino? Nosso Senhor continuamente lhes dizia que seu reino não era deste mundo; no entanto, pouco antes da Ascensão aos Céus, um discípulo pergunta se Cristo iria restituir o reino de Israel naquele momento (Atos 1,7)!

A mãe de Tiago e João pede um lugar de destaque no reino para os filhos (S. Mateus 20,24); quando os discípulos disputavam para ver quem era o maior, Cristo os repreendeu dizendo que "Entre os gentios, os reis exercem dominação sobre os súditos. Entre vós, não há de ser assim; antes, o que é maior entre vós faça-se como o menor, e o que manda como o que serve”. (S. Lucas 22,25-27).

Com isso Cristo ensina uma nova forma de exercer a autoridade, mais perfeita, e não pretende combater a primazia daquele que manda, pois aplica a regra de humildade a si mesmo; em outra passagem (S. João 13,3), o mesmo Cristo se diz Mestre e Senhor; aquele, pois, que é mestre, sirva para dar o exemplo e praticar a humildade, e não para deixar de ser mestre.


Se todos esses episódios nos servem para reconstituir o quadro da predileção por Pedro, a passagem da grande promessa é o momento solene da confirmação dessa vocação singular. Cristo dirige-se a Pedro, após sua maravilhosa profissão de fé ("Que dizem os homens de mim (...) que dizeis vós?" "Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo"!), e confirma sua promessa: "Bem aventurado és Simão Barjona, porque não foi a carne e o sangue que a ti revelou, mas sim meu Pai que está nos céus, e eu digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. E eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus"(S.Mateus 16,16-19)

Nunca houve texto mais deturpado, mais recortado e refeito, na busca desesperada de alterar-lhe o sentido, que se apresenta simples. Para os protestantes, Cristo estaria falando de duas pedras. A primeira pedra ("tu és pedra") não é pedra; no máximo, é uma pedra menor, diferente da segunda ("sobre esta pedra"). A primeira é Pedro, o segunda, Cristo, ou a confissão de Pedro, conforme o examinador.

Porém, o texto se dirige todo a Pedro - "tu és Pedro..."; "eu te darei as chaves..."; "tudo que (tu) ligares..." - em resposta à sua confissão, como um prêmio pela sua defesa pública da fé. O texto não traz qualquer interrupção lógica, para passar a se referir a Nosso Senhor. Se assim fosse, a frase ficaria sem sentido: "tu és Pedro, mas não edificarei a minha Igreja sobre ti, senão sobre mim; as chaves do céu, porém te darei”.

Ora, é impossível admitir que a Sabedoria Divina tenha se expressado de forma tão confusa, ainda mais se nos lembrarmos da mudança do nome de Pedro. Lembremos ainda que Cristo falava em aramaico, língua em que Pedro e pedra significam, ambos, Cefas. Não resta qualquer espaço para dúvidas.

Mas, dirão ainda os protestantes: em várias passagens se diz que Cristo é a pedra, o fundamento! Não há dúvida. Mas só Cristo é pedra? Vejamos o que Nosso Senhor diz: "eu sou a luz do mundo" (S. João 8,12) e depois: "Vós sois a luz do mundo", dirigindo-se aos apóstolos (Mateus 5,14).

Duas luzes? Sim. Há, portanto, luz e luz, pedra e pedra. Uma luz fonte, outra luz reflexo; uma pedra fundamento invisível causa e fim dos homens, outra pedra fundamento visível, rocha de sustentação da Igreja indefectível e guia infalível dos homens.

Mas não é necessário prolongar a explicação de algo tão evidente, que mesmo alguns protestantes mais honestos já reconheceram. Reproduzimos apenas uma citação feita pelo padre Franca - P. F. Jalaguier, em seu L'Eglise, Paris 1899, p. 219: "Nous nous plaçons encore ici sur le terrain qui leur est le plus favorable (aos católicos) parce qui'll est à nos yeux le seul vrai; et nous admettons que ce passage renferme une promesse spéciale fait à Saint Pierre" ["Nós nos colocamos ainda aqui num terreno que lhe é mais favorável (aos católicos) porque ele é, a nossos olhos, o único verdadeiro; e nós admitimos que essa passagem contém uma promessa especial feita a Pedro"] 
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As chaves do reino dos céus

A doação das chaves indica o poder conferido a alguém de abrir ou cerrar o acesso da casa, da cidade, do reino, sendo costume entre os orientais o suspender as chaves aos ombros em sinal de autoridade.

Não há dúvida de que Cristo confere a Pedro um poder singular, que sempre foi entendido na Igreja como poder infalível (o que ligar na terra, será ligado no céu) e condicionado à vontade divina (o papa não força Deus a ligar ou desligar, mas só pode ligar ou desligar o que Deus quer no céu), e que foi ratificado no Concílio Vaticano I, no século XIX, com a solene proclamação do dogma da Infalibilidade Papal.

Os protestantes freqüentemente atacam esse dogma por desvirtuarem estas duas verdades - o ligar e desligar condicionado, e a ratificação (e não invenção) do dogma;
Na verdade, Cristo não poderia ter agido de outra forma, se quisesse que sua Igreja triunfasse durante os séculos, senão conferindo ao pastor universal, Seu representante na Terra, um poder infalível.

Se esse poder fosse falível, como esperar que não perecesse?

É exatamente o que ocorre com as seitas derivadas do movimento reformador de Lutero, surgindo e desaparecendo aos borbotões.

O "Pasce oves mea"

Como se isso tudo não bastasse, temos ainda o trecho soleníssimo em que Cristo confia o seu rebanho a Pedro, dando-lhe, portanto seu poder de jurisdição sobre os cristãos.

A Pedro, e a ninguém mais, é confiado o pastoreio das ovelhas e dos cordeiros, a que nosso Senhor pede três vezes a confirmação de Pedro, e três vezes o confirma: "Disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Respondeu-lhe Pedro: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe outra vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta os meus cordeiros. Disse-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Ficou triste Pedro, porque pela terceira vez, disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Disse-lhe (Jesus): Apascenta as minhas ovelhas”. (S. João 21,15-17)

Ora, Cristo não possuía nem cordeiros nem ovelhas. O que Ele confia a Pedro é seu rebanho de almas, constituindo-o seu pastor.

Aqui novamente temos Pastor e pastor, pois Nosso Senhor é o bom pastor. Alguns tentam reduzir esse episódio a uma mera reconciliação do Apóstolo com Cristo, após a tríplice negação de Pedro na casa de Anás e Caifás, antes da crucificação de Cristo. Porém, esquecem-se que após a Ressurreição, é a Pedro que Cristo aparece primeiro (São Lucas 24,34), mostrando que a traição não fizera Pedro perder sua primazia: Cristo continua considerando Pedro o primeiro.

Cristo, sem dúvida, fez Pedro compreender o horror do pecado e o perigo de não se fugir da ocasião de pecado. O Evangelho nos conta que Pedro chorou amargamente. De fato, que dor não deve ter experimentado o Apóstolo, ao cair num pecado justamente contrário à virtude que mais vemos presente nele: a defesa pública da verdade, o desafiar o respeito humano. Aliás, essa virtude ele que irá praticar em grau heroico a partir de então, dando sua vida pela expansão da Igreja.

Unicamente em relação a Pedro, portanto, vemos a significativa mudança do nome, a sempre testemunhada primazia entre os Apóstolos, o pagamento do tributo, o uso exclusivo de sua casa em Cafarnaum e de sua barca, a promessa solene de ser fundamento da Igreja, a entrega das chaves do reino dos céus, a nomeação para o pastoreio dos fiéis.

E há aqueles ainda que não vêem diferenças entre os doze apóstolos!

Para esses, resta a esperança da promessa de Cristo, de que poderia das pedras fazer filhos de Abraão. Para isso, porém, terão que aceitar que Cristo, de um filho de Abraão, fez Pedra.

Os evangélicos falam que na Bíblia não existe a palavra Papa, é criação do homem. Mas  existem igrejas no qual não vou citar nomes mas nomeiam suas mulheres como Pastoras. Mostra-me na Bíblia onde está escrito “Pastora”. Pastora é criação do homem.


  São Pedro, após a ascensão de Cristo, assumirá seu dever de pastor universal, conduzindo a Igreja nascente. Após sua morte, será substituído, no decorrer dos séculos, pelos seus legítimos sucessores, os papas, até a consumação dos tempos, sob a assistência infalível de Cristo.

André

Filho de Jonas e irmão de Pedro, também um pescador. Antes de conhecer o Mestre, era discípulo de João Batista. Após a dispersão dos Apóstolos, evangelizou na Ásia Menor, na Capadócia e possivelmente na Rússia, onde é venerado. Dizem que pereceu em uma cruz em formato de X, mais tarde conhecida como Cruz de Santo André.

De acordo com os "Atos de André e Bartolomeu" (os dois Apóstolos estão tradicionalmente ligados e devem ter viajado muito juntos), eles pregaram em Epiro, Trácia, Galácia, Bitnia, Cítia, Danúbio e Acaía, países do Oriente Médio ou Europa Oriental. Outra tradição indica atividades na Grécia com Felipe. É certo que André tenha pregado também em Èfeso e Ásia Menor onde por revelação convenceu João a escrever o documento no qual os Quatro Evangelhos estão baseados. André fundou sucessões apostólicas em todas estas áreas. Seus ensinamentos e doutrina eram similares aos de João, Bartolomeu e Tomé. Foi ousado e um disseminador do Evangelho do Amor.

Simão Zelot

Natural da Galiléia tinha o sobrenome Cananeu (Zelot). Da mesma forma que Felipe, Simão parece ter ido primeiro ao Egito. Como a tradição sinóptica diz que Jesus enviou seus discípulos aos pares, talvez eles tenham realmente viajado juntos. Simão, no entanto, parece ter voltado através da África do Norte, Espanha e Bretanha (segundo uma determinada tradição). Ele deve ter voltado por terra à Ásia Menor e de lá se juntado à outros Apóstolos orientais na Pérsia. Deste ponto pode ter viajado com Judas pela Mesopotâmia e Síria, encontrando o martírio na Pérsia. É difícil validar as tradições sobre os Apóstolos na Europa Ocidental e na Bretanha. Depois da era de Constantino, cada igreja local quis estabelecer sua própria validade proclamando um Apóstolo como seu padroeiro, sendo que as relíquias destes Apóstolos estão espalhadas e reverenciadas desde o Atlântico até à Índia. O apóstolo Paulo manifestou sua intenção de ir à Espanha em uma das Epistolas canônicas e não podemos duvidar que a Europa Ocidental tenha sido visitada pelos Apóstolos, pois houveram sinagogas judaicas na Espanha. A Bretanha, contudo, provavelmente tenha sido evangelizada pela segunda ou terceira geração de sucessores dos Apóstolos (Igreja Celta).

Com Felipe e Marcos, discípulos de Pedro, Simão provavelmente ajudaram a estabelecer os ensinamentos de Jesus no Egito. Sua pregação era bem parecida com a dos outros quatro Apóstolos que foram para o Oriente, ascética e judaica, como aquelas preservadas na Epistola canônica de Judas.

João, Boanerges.

Era irmão de Tiago o Maior, filho de Zebedeu e Salomé, seu sobrenome Boanerges. Era pescador, natural de Jerusalém, e discípulo de João Batista antes de o ser de Jesus. Foi companheiro inseparável de Pedro. Nos primeiros tempos da Igreja, coube-lhe impor as mãos aos recém convertidos em Samaria. Evangelizou os Samaritanos.
Esteve em Jerusalém no ano 37 e depois por ocasião do Concílio dos Apóstolos, que se realizou em Antioquia. Diz a tradição que morreu quase centenário, possivelmente em Éfeso, de morte natural. Exilado em Patmos, durante a perseguição de Domiciano (93-98), ali compôs o Apocalipse (Revelação), onde narra as suas visões e descreve mistérios, predizendo as tribulações da Igreja e o seu triunfo final. Além do seu Evangelho (o 4º) e do Apocalipse (que é o derradeiro livro da Bíblia), escreveu três Epístolas.

Jesus, ao morrer, confiou-lhe a mãe, da qual cuidou até morrer, durante o reinado de Trajano. O quarto Evangelho difere dos demais, chamados sinóticos, porque relatam os mesmos fatos com algumas variantes. João começa dissertando sobre a origem divina de Jesus, a quem cognomina "Logos", "o Verbo", "a Palavra" de Deus. Jesus é idêntico a Deus. É Ele a manifestação personificada de Deus, o filho de Deus feito homem. Por isso existiu desde toda eternidade, e finalmente, tomando a natureza humana, se fez carne, e habitou entre nós.

Os ensinamentos de João são preservados no seu Evangelho e nas três epístolas, embora possam ter sido escritas por um discípulo. O Apocalipse é realmente atribuído ao próprio João, mas foi claramente escrito por uma diferente pessoa ou escola daquela do Evangelho e das Epístolas. De acordo com Clemente de Alexandria, João ordenou bispos em Éfesos e outras províncias da Ásia Menor. Ireneus afirma que os Bispos Polycarpo e Papias foram seus discípulos. Os primeiros fragmentos dos escritos Joanitas foram encontrados em papiros no Egito datando de princípios do segundo século, e muitas escolas acreditam que ele tenha visitado estas áreas.

Bartolomeu (Natanael)

Conhecido também como Natanael, natural de Caná da Galiléia. Bartolomeu teria sido apresentado à Jesus por Felipe, que talvez fosse seu irmão. Assim como Tomé era um viajante e a tradição o localiza em áreas como Índia, Armênia, Irã, Síria e por algum tempo na Grécia, com Felipe (Phrygia). As sucessões da Armênia podem derivar dele e de vários outros Apóstolos. A tradição diz que Bartolomeu trazia consigo o perdido Evangelho Herético de Matias (ou Mateus) escrito em hebraico. As poucas anotações que restaram da era sub-apostólica e patrística indicam que este evangelho judeu era bastante diferente dos evangelhos gregos gentis (Mateus, Marcos, Lucas e João), assim como eram os tão chamados evangelhos judaico-cristãos heréticos dos Nazarenos, Ebionitas e Hebreus, dos quais só restaram fragmentos. Diferentemente dos evangelhos gentis, estas tradições consideravam o Espírito Santo como a Mãe de Cristo e não adoravam Jesus como uma divindade, mas como um irmão mais velho e líder da comunidade dos santos de Deus (cf. Lewis Keizer: "Nova Luz sobre os ensinamentos de Jesus: Um guia para idiomas aramáicos, pesquisas recentes e a mensagem original de Jesus Cristo"). Muitas tradições de Bartolomeu são preservadas em obras como "O Evangelho de Bartolomeu", "Pregação de São Bartolomeu no Oásis" e a "Pregação de André e Bartolomeu".

Mateus (Levi)

O primeiro dos quatro evangelistas, Mateus, que tinha o apelido de Levi, natural de Cafarnaum, era coletor de impostos. Por causa desta profissão ele era bastante antipático aos judeus, os quais o zombavam de sujo e falso. Chamado por Jesus, de forma serena, Mateus o acompanhou em suas peregrinações, presenciou seus milagres e ouviu seus ensinamentos, que mais tarde compendiou em seu Evangelho, primitivamente redigido em aramaico. Este evangelho não existe mais, mas pode ter sido a base do evangelho grego, mais tarde associado a seu nome. Destinou-se aos judeu-cristãos, objetivando demonstrar-lhes que era Jesus o Messias prometido de Israel. Diz a tradição que ele, após a morte de Jesus, pregou na Palestina e em seguida na Etiópia, onde ressuscitou a filha do rei. Esteve também na Arábia e na Pérsia, veio a morrer martirizado na Etiópia.

Seus escritos não devem ser confundidos com as Traduções e outras obras associadas ao Apóstolo Matias, embora seu evangelho hebraico tenha sido chamado de Evangelho de Matias - uma questão confusa para o leitor de língua Portuguesa. Alguns estudiosos acreditam que os fragmentos existentes do "Evangelho Segundo os Hebreus", seja uma versão do evangelho hebraico ou aramaico original de Mateus.

O Bispo Papias, discípulo do Apóstolo João, que viveu no final do primeiro século, é citado por Eusebius afirmando que Mateus compôs em aramaico os "Oráculos do Senhor", então traduzidos para o grego "por cada homem que fosse capaz". Este é um importante testemunho, já que Papias passou grande parte de seu ministério coletando as primeiras memórias orais dos Apóstolos e seus discípulos. Clemente de Alexandria diz que ele não morreu violentamente, mas o Talmud afirma que ele foi condenado a morte pelo Sanhedrin judaico. Apesar da confusão entre as tradições de Mateus e Matias, parece que foi realmente Mateus quem se associou a André, sendo que existe um apócrifo intitulado "Atos de André e Mateus".

Judas (Tadeu)

Descendente da linhagem real de Davi, irmão de Tiago o Menor, e primo de Jesus. Natural da Galiléia. A tradição diz ter evangelizado na Mesopotâmia, Palestina, Síria e a Arábia. É localizado na Armênia nos anos de 43 a 66, onde se juntou a quatro outros Apóstolos do Oriente. Há três Judas no Novo Testamento e de acordo com alguns estudiosos, o escritor da "Epistola de Judas", que se denominava "irmão do Senhor" é uma outra pessoa. Isto é questionável porque não está claro se a designação "irmão" era familiar ou fraternal (como Tomé o Justo considerava).

Esta é uma base muito pobre para se descobrir a verdade histórica. Fica claro que o Apóstolo Judas era ativo principalmente na Armênia, Síria e Norte da Pérsia, sendo o primeiro a manifestar apoio ao rei estrangeiro (Algar de Edessa). Judas aparentemente viajou acompanhado de Simão o Zelot, quinto Apóstolo a ir ao Oriente, onde foi martirizado.

Obs. Em algumas Bíblias cita que Judas Tadeu era filho de Tiago,o menor, filho de Alfeu conforme Lc 6,16 e At 1,13 – “16 Judas, filho de [Tiago]; e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor.”; “13 E, entrando, subiram ao cenáculo, onde permaneciam Pedro e João, [Tiago] e André, Felipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus; [Tiago], filho de Alfeu, Simão o Zelote, e Judas, filho de [Tiago].” Ambas passagens foi tirada da Bíblia tradução João Almeida. Na bíblia Ave Maria cita Judas como irmão do Tiago.

Tomé

Chamado de Dídimo, natural da Galiléia. Tomé foi um, dos mais influentes e produtivos dentre os vários discípulos que foram para o Oriente, incluindo Bartolomeu, André, Simão e Judas. Os ensinamentos destes homens ficaram perdidos para as Igrejas do Ocidente, mas continuam atuais para as tradições ortodoxas e orientais. Ao contrário de Pedro e Felipe, estes Apóstolos não eram casados. O ascetismo (prática da ascese), era um importante ponto de contato espiritual entre eles e seus ouvintes orientais, que já idealizavam o ascetismo como uma medida de maestria divina, devido a nativa ideologia religiosa do Brahmanismo e do Zoroastrianismo. Como seus ensinamentos foram "lembrados" e registrados, o ascetismo foi enfatizado e se tornou o ponto central. Por esta razão, a Igreja Ocidental minimizou a importância do Apóstolo que, como Jesus, não se casou, ao ponto de categorizar sua tradições como "heréticas".

Mas muitas lendas e tradições destes grandes santos foram preservadas em evangelhos apócrifos e romances dos três primeiros séculos, o que permite a recuperação de seus ensinamentos. Tomé, em particular, foi muito estimado e há evidências de que tenha viajado não só à Pérsia, mas até mesmo à Índia, provavelmente acompanhado por Bartolomeu e Judas, trazendo talvez um Evangelho Hebraico original de Matias à Índia. Tomé era uma pessoa profundamente mística, assim como João e Felipe. Ao separar, mais tarde, a doutrina gnóstica do Evangelho de Tomé e examinando cuidadosamente outras tradições como os "Atos de Tomé" e "Tomé o Ascético", comparando-as ao misticismo de Paulo, João e Felipe, é possível reconstituir um esboço de seus ensinamentos. Estes, claro, apontam de volta aos ensinamentos originais de Jesus. Tomé criou linhas apostólicas de sucessão em todos os lugares por onde passou no Oriente, indo de sinagoga em sinagoga. Isto inclui Síria, Armênia, toda a região da Caldéia (Pérsia), e Índia. Os Cristãos de Tomé de Malabar ainda sobrevivem.

Tiago (Maior)

Nascido em Betsaida, este apóstolo do Senhor era filho de Zebedeu e de Salomé e irmão do apóstolo João, o Evangelista.

Pescador juntamente com seu irmão João, foi chamado por Jesus a ser discípulo d'Ele. Aceitou o chamado do Mestre e, deixando tudo, seguiu os passos do Senhor.

Dentre os doze apóstolos, São Tiago foi um grande amigo de Nosso Senhor fazendo parte daquele grupo mais íntimo de Jesus (formado por Pedro, Tiago e João) testemunhando, assim, milagres e acontecimentos como a cura da sogra de Pedro, a Transfiguração de Jesus, entre outros.

Procurou viver com fidelidade o seu discipulado. No entanto, foi somente após a vinda do Espírito Santo em Pentecostes que São Tiago correspondeu concretamente aos desígnios de Deus. No livro dos Atos dos Apóstolos, vemos o belo testemunho de São Tiago, o primeiro dentre os doze apóstolos a derramar o próprio sangue pela causa do Evangelho:

"Por aquele tempo, o rei Herodes tomou medidas visando maltratar alguns membros da Igreja. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João" (At 12,1-2).

Segundo uma tradição, antes de ser martirizado, São Tiago abraçou um carcereiro desejando-lhe "a Paz de Cristo". Este gesto converteu o carcereiro que, assumindo a fé em Jesus, foi martirizado juntamente com o apóstolo.


Existe ainda outra tradição sobre os lugares em que São Tiago passou, levando a Boa Nova do Reino. Dentre estes lugares, a Espanha onde, a partir do Século IX, teve início a devoção a São Tiago de Compostela.

Felipe

Natural de Betsaida perdeu o pai exatamente na ocasião em que conheceu o Mestre, não deve ser confundido com Felipe o Servo (Diácono). Felipe viajou ao Egito, Etiópia (África) e ao Norte, rumo à Grécia onde viveu em Hierápolis com suas quatro filhas, que eram profetizas. Duas delas permaneceram virgens e muito conhecidas por suas previsões. Felipe, que era um judeu helenístico, era antes de mais nada um evangelista para as sinagogas judaicas de língua grega da Phrygia e dos arredores da Grécia e Macedônia.

O Evangelho de Felipe preserva um belo misticismo baseado na santidade do casamento. As igrejas de Felipe desenvolviam sete sacramentos cuja mais alta iniciação era o Mistério da Câmara Nupcial, na qual a imagem ou Yetzer de Deus, que habitava no coração do discípulo, era reunido ao Anjo ou alma ressuscitada. Mais uma vez o misticismo de Felipe está intimamente relacionado ao de Paulo, João e Tomé, mas em seu caso (e no de João) não há ênfase na abstinência sexual ou abstenção do casamento. Felipe evangelizou grande parte da Ásia Menor e da Galatia. Acredita-se que foi por causa da migração da Galatia para Gaul (França), que a tradição surgiu em Gaul. Felipe ordenou vários bispos entre os Gregos, embora a história destas episcopacias seja obscura. O apócrifo "Atos de Felipe", valoriza a virgindade, mas não contradiz os pontos essenciais do Evangelho. Na Antigüidade, virgindade e casamento podiam ser paradigmas do hieros gamos ou casamento sagrado.

Tiago (Menor)

Tiago, filho de Alfeu, é identificado nos Evangelhos como "irmão do Senhor", termo usado para designar parentesco de primos. Governou a Igreja de Jerusalém e foi chamado de "o Menor" para não ser confundido com São Tiago, o Maior, que era irmão de São João.

Os Evangelhos só falam dele nas listas dos apóstolos. Porém, esta falta de informação foi compensada pelas fartas referências à sua ação e personalidade, contida nos Atos dos Apóstolos e na Carta de São Paulo aos Gálatas, que nos permite saber que Tiago era com São Pedro a principal figura da Igreja. São Paulo chega a citar seu nome em primeiro lugar, dizendo: " Tiago, Pedro e João, considerados colunas da Igreja" (Gl 2,9). Foi com ele, que Paulo, depois de convertido, se encontrou em Jerusalém.

Dizem as Escrituras que Tiago sempre teve atenção e carinho especiais de Jesus Cristo. Além de considerá-lo um homem de grande elevação espiritual, ainda era seu parente próximo. Tiago foi testemunha da Ressurreição de Jesus; (I Cor 15,7). Antes de subir aos céus, Jesus, numa aparição, deu a ele o dom da ciência como recompensa por sua bondade e santidade.

No concílio de Jerusalém, onde se discutiu o problema da circuncisão e da lei mosaica a serem impostas ou não aos convertidos do paganismo, Tiago teve um papel importante quando deu sua opinião, aceita por todos (At 15). Ele também escreveu uma Epístola.

Devemos a Tiago, os práticos, sensíveis e prudentes ensinamentos. Como esta advertência, sempre muito atual: " Se alguém pensa ser religioso, mas não freia sua língua e engana seu coração então é vã sua religião. A religião pura e sem mácula, aos olhos de Deus, nosso Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas em suas aflições e conservar-se puro da corrupção deste mundo" (Tg 1, 26-27).

Sobre a morte de Tiago, o Menor, que foi o primeiro apóstolo a dar a vida em nome de Jesus, possuímos informações de antiga data. Entre as mais prováveis estão as do historiador hebreu José Flávio, segundo o qual, o apóstolo teria sido apedrejado e pisoteado no ano 61 ou 62, pelo sumo pontífice Anás II, que se aproveitou da morte do íntegro Papa Festo para eliminar o bispo de Jerusalém.


São Tiago, o Menor, sempre foi considerado um homem de grande pureza, total dedicação e abnegação, vivendo desde o nascimento consagrado a Deus. Sua vida foi santa e de muita austeridade. Converteu muitos judeus à fé cristã, antes de receber a coroa do martírio. Suas relíquias foram colocadas na igreja dos santos Apóstolos, em Roma

Judas (Iscariotes)

Nasceu em Queriote, seu sobrenome Iscariotes, suicidou-se do feito (Judas a Cristo traiu).
"Ora, chegada a manhã, todos os principais sacerdotes e os anciãos do povo entraram em conselho contra Jesus, para o matarem, e, maniatando-o, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador.

Então Judas, aquele que o traíra, vendo que Jesus fora condenado, devolveu, compungido, as trinta moedas de prata aos anciãos, dizendo: Pequei, traindo o sangue inocente. Responderam eles: Que nos importa? Seja isto lá contigo.
E tendo ele atirado para dentro do santuário as moedas de prata, retirou-se, e foi enforcar-se.

Os principais sacerdotes, pois, tomaram as moedas de prata, e disseram: Não é lícito metê-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue.

E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo do oleiro, para servir de cemitério para os estrangeiros.


Por isso tem sido chamado aquele campo, até o dia de hoje, Campo de Sangue.
Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, a quem certos filhos de Israel avaliaram, e deram-nas pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor." - conf: S.Mateus 27:1-10

Marco Antonio Lana (Teólogo)

IMAGENS



O Catolicismo exige que todos os Católicos "venerem" estátuas ou imagens de Cristo, Maria e outros:

"As santas imagens, presentes em nossas Igrejas e em nossas casas, destinam-se a despertar e a alimentar a nossa fé no mistério de Cristo. Através do ícone de Cristo e das suas obras salvíficas, é a ele que adoramos. Através das santas imagens da santa mãe de Deus, dos anjos e dos santos, veneramos as pessoas nelas representadas." P. 335, #1192  Catecismo da Igreja Católica (1994)

Sem levar em conta o que as estátuas representam, uma coisa é certa - elas transgridem as instruções de Deus. Quando Deus deu os Dez Mandamentos, o segundo foi:

"Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra." Êxodo 20,4

Deus também ordenou:

"Nem levantarás coluna, a qual o Senhor teu Deus odeia." Deuteronômio 16,22

A Bíblia conclui que aqueles que fazem ou possuem estátuas estão corrompidos:

"Guardai, pois, cuidadosamente a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher." Deuteronômio 4,15-16

Deus declara novamente sua posição:

"Guardai-vos, não vos esqueçais da aliança do Senhor, vosso Deus, feita convosco, e vos façais alguma imagem esculpida, semelhança de alguma cousa que o Senhor, vosso Deus, vos proibiu." Deuteronômio 4,23

A Palavra de Deus também proíbe expressamente as pessoas de se curvar diante das imagens, o que é costume na Igreja Católica. Sempre que você vir o Papa ajoelhando-se em frente a Maria, você deveria pensar sobre estes versos da Escritura Sagrada:

"Não as adorarás nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso…" 

Êxodo 20,5


No Novo Testamento o apóstolo Paulo explica porque Deus é tão categórico contra os ídolos:

"Que digo, pois? que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor? Antes digo que as cousas que eles sacrificam é a demônios que as sacrificam, e não a Deus; e eu não quero que vos torneis associados aos demônios." 1 Coríntios 10,19-20

Atrás de cada ídolo há um demônio literal, e Deus não deseja associação alguma com demônios. Não é de admirar que Deus proíba o uso de ídolos:

"Não vos virareis para os ídolos, nem vos fareis deuses de fundição. Eu sou o Senhor, vosso Deus." Levítico 19:4
Deus odeia a idolatria:

"Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento,ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal nem ainda comais." 1 Coríntios 5,11
"Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus." Efésios 5,5

Aqui Deus declara que os idólatras não entrarão no céu. Os próximos versos alertam:

"Ninguém vos engane com palavras vãs, porque por estas cousas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência." Efésios 5,6

Será que a Igreja Católica está enganando você com palavras vãs? Decida por você mesmo.

Origem desta doutrina

O Catolicismo reconhece que esta doutrina não veio de Deus:
"Na trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos santos padres, e da tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra maneira apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos..." P. 327, #1161  Catecismo da Igreja Católica (1994)

Esta doutrina veio dos "santos padres" e da "tradição da Igreja Católica". Espera-se que você creia que estes santos padres foram "divinamente inspirados" para violar a Palavra de Deus? Você pode aceitar isto?

O salmista nos ensina ainda mais sobre este assunto:

"Os ídolos das nações são prata e ouro, obras das mãos dos homens. Têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem, pois não há alento de vida em sua boca. Como eles, se tornam os que os fazem, e todos os que neles confiam." Salmo 135:15-18  Catecismo da Igreja Católica (1994)

Em outras palavras, como um ídolo é surdo e mudo, também todos os que fabricam ídolos e neles confiam são débeis mentais.

Esta é uma admoestação poderosa de um Deus amoroso e compassivo.

Conclusão

A Igreja Católica determina que os ídolos "despertam e alimentam" sua fé no "mistério de Cristo". Mas a Palavra de Deus proíbe o seu uso. A quem você vai obedecer?

"Não fareis para vós outros ídolos, nem vos levantareis imagem de escultura, nem poreis pedra com figuras na vossa terra, para vos inclinardes a ela; porque eu sou o Senhor, vosso Deus." 

Levítico 26,1


"Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens." Marcos 7,8

Marco Antonio Lana (Teólogo)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sola Scriptura X Tradição Oral


Sola Fide, Sola Scriptura, Sola Gratia e Solo Cristo. Este foi o grande slogan da reforma protestante levado a cabo pelo ex-monge agostiniano Martinho Lutero no século XVI. Cada um destes princípios serviram como um cânon pelos quais os reformadores submeteram e avaliaram as doutrinas da Igreja Católica Romana. Roma sempre havia ensinado que a salvação vinha pela graça e fé em Cristo e que a Bíblia era a palavra de Deus, mas nunca os havia antecedido pelo termo “somente”. Junto com a graça a contra-reforma católica adicionou os sacramentos, fé mais obras, Bíblia mais tradição, Cristo mais Maria. De modo que ao estourar o conflito teológico com as exposições dos reformadores de que a doutrina da igreja deveria se basear somente na Bíblia, pareceu então uma ameaça à teologia papal.
Martinho Lutero, especializando-se nas epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus, foi capaz de perceber claramente os erros da Igreja Católica Romana. Ao ver que os papas e os concílios podiam errar, passou a reconhecer a supremacia das Escrituras. Dizia Lutero: “Não me retrato de coisa alguma a não ser que me convençam pelas Escrituras ou por meio de argumentos irrefutáveis”. Contudo, Lutero e os Reformadores não queriam dizer com Sola Scriptura que a Bíblia é a única autoridade para a igreja. Pelo contrário, queriam dizer que a Bíblia é a única autoridade infalível dentro da igreja. Para Calvino os escritos dos apóstolos eram pro dei oraculis habenda sunt (foram oráculos que foram recebidos de Deus), logo devemos aceitar quid quid in sacris scripturis traditum est sine exceptione (tudo quanto foi entregue nas escrituras, sem exceção). Entrementes, a posição oficial do catolicismo em relação à Bíblia é que a Bíblia não pode falar por si mesma a não ser que seja interpretada pela igreja católica, levando em conta a tradição viva da Igreja. Em outras palavras, a Bíblia não possui nenhuma autoridade inerente, mas como toda verdade espiritual, deriva sua autoridade da Igreja; o que a igreja diz é julgado como a verdadeira Palavra de Deus. Quando um fiel se defronta com um conflito entre a Bíblia e a autoridade da Igreja em algum ponto doutrinário, como por exemplo: purgatório, imagens, santos ou indulgências ele imediatamente abandona a voz da palavra de Deus e apega-se a voz da sua igreja, pois, como ele sempre foi ensinado, esta é a única interprete infalível da Bíblia, tendo a tradição como ferramenta exegética. Como costumam dizer: “A igreja deu origem a Bíblia e dela deriva sua autoridade” por isso a Bíblia está aberta a tradição, no entanto, aquela nunca deve julgar esta. Então se se aceita a voz da Igreja como infalível em matéria de fé e doutrina, o que Bíblia vem a dizer sobre estas coisas é no final das contas irrelevante!
Assim, não é difícil entender por que recentemente os apologistas católicos vêem atacando a doutrina da “Sola Scriptura” com tanta ênfase. A razão é obvia, se eles puderem derrubar por terra esta doutrina, os outros pontos da reforma caem juntamente. Eles então montaram um ataque focalizado cuidadosamente contra Sola Scriptura esperando assim, contrariar a força maior da Reforma. Começaram a afirmar que é possível desacreditar esta doutrina usando a própria Bíblia. Esta linha de argumento está sendo empregada agora por vários católicos em praticamente quase todo fórum de debate. Eis alguns argumentos usados por apologistas católicos enviados aos evangélicos:
“O ensino protestante de que a Bíblia é a autoridade espiritual exclusiva “Sola Scriptura”, em nenhuma parte é encontrado na Bíblia. Paulo escreveu a Timóteo que Bíblia é “útil”, mas nem ele ou qualquer um na igreja primitiva ensinou isto. Na realidade, ninguém acreditou nisto até a Reforma.”
“A Bíblia não ensina em nenhuma parte que é a autoridade exclusiva em assuntos de convicção. Na realidade, a Bíblia ensina que a Tradição – os ensinos orais dados por Jesus aos apóstolos e os sucessores deles, os bispos- é uma fonte paralela de convicção autêntica 2 Tessalonicenses 2,15 – “15 Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” - e 1 coríntios 11,2 – “Ora, eu vos louvo, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais os preceitos assim como vo-los entreguei.”

Como o leitor pode perceber, o problema central não está em o católico negar ou não a autoridade da palavra de Deus, mas em acrescentar-lhe algo a mais, que neste caso é a chamada tradição oral da Igreja. Certamente a advertência seguinte contra este tipo de raciocínio não se limita apenas ao livro do Apocalipse mas se estende à toda a escritura, “Eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro: Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas que estão escritas neste livro; e se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão descritas neste livro” (Apocalipse 22,18-19).

A IMPORTÂNCIA DA TRADIÇÃO NO CATOLICISMO 
No conceito católico, “Tradição” é um termo empregado para designar supostos ensinamentos que Cristo e os apóstolos transmitiram de viva voz de geração à geração à igreja. Ela é formada pelos escritos dos “santos padres” e as declarações oficiais dos Concílios através dos tempos. O concilio da contra-reforma (Concilio de Trento) dizia: “A revelação sobrenatural está nos livros escritos e nas tradições não escritas…”
“A Sagrada Tradição”, afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II através de sua Constituição Dogmática Dei Verbum “a Sagrada Tradição…transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos…”
A tradição é a fonte primordial de todas as doutrinas extrabíblica encontrada no bojo dogmático do catolicismo. Por isso que somente após o concílio tridentino, foi que apareceram as primeiras coleções de obras patrísticas – o primeiro órgão da Tradição – fazendo frente à reforma protestante levada a cabo por Martinho Lutero. Era necessário dar um status de autoridade à tradição a fim de dar suporte às heresias romanistas. O teólogo católico Van Iersel, em seu artigo: “O uso da Bíblia na Igreja Católica”, inserido no vol. V, de Temas Conciliares na página 17, confessa: “…em oposição à reforma deu-se um lugar à Tradição ao lado da Escritura, o que tornava muito relativo o valor da Bíblia”.(ênfase acrescentada)
Foi assim que a tradição ganhou força junto às Escrituras, sendo até mesmo superior a esta pois, “Pela mesma Tradição…as próprias escrituras são nela cada vez melhor compreendidas…” sublinha o Concílio Vaticano II.
Enquanto a tradição sempre é empregada para determinar o que diz a Bíblia, em contrapartida nunca é permitido à Bíblia julgar a tradição. A FRAGILIDADE DAS TRADIÇÕES
A grande maioria das religiões pagãs como o hinduismo, religiões tribais indígenas e orientais têm nas suas tradições religiosas, transmitidas de boca a boca, uma fonte de autoridade igual a dos livros sagrados de outras religiões.
Entretanto, esta tendência em ver a tradição como autoridade suprema não é exclusividade das religiões pagãs politeístas. Por exemplo, a lei Islâmica (Sharia) é baseada principalmente em duas fontes: O Alcorão e o Hadith, que são os volumes que contem a “Tradição Viva” ou Sunnah. Ela compreendia tudo que Maomé fez e disse à parte do Alcorão. Outrossim, o Judaísmo tradicional segue o mesmo padrão, Bíblia-tradição. Os livros do Antigo Testamento são visto como a Bíblia dos judeus , mas a ortodoxia judaica está realmente definida por uma coleção de tradições rabínicas antigas, conhecida como o Talmude. Em efeito, as tradições do Talmude levam uma autoridade igual ou maior que a da Bíblia. O Talmude, segundo a terminologia adotada na edição de Basiléia (1578-1581), compreende a Mischná (conjunto de toda a lei oral admitida) e o Guemará (“aprendizado” ou “ensino” em aramaico, conjunto de comentários feitos por doutores da lei sobre a Mischná e outras coletâneas de leis orais).
Os judeus da época de Jesus também colocaram a tradição em pé de igualdade com a Bíblia. Na verdade eles fizeram as suas tradições superiores à própria Bíblia, porque esta, fora interpretada através das tradições. Sempre que a tradição é elevada a um nível tão alto de autoridade, fica inevitavelmente prejudicada a autoridade da Bíblia. Jesus fez esta mesma observação quando ele confrontou os líderes judeus. Ele mostrou de fato com isso que em muitos casos as tradições dos judeus haviam anulado a palavra de Deus – a Bíblia. Ele os reprovou então da maneira mais severa possível:
“Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” Mt. 15,3
Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens.” Mc. 7,8
“Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.” Mc 7,9
“invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição que vós transmitistes; também muitas outras coisas semelhantes fazeis.” Mc. 7,13

A Igreja católica tem seu próprio corpo de tradição que funciona em particular precisamente como o Talmude judeu: é o padrão pelo qual a Bíblia é interpretada. Com efeito, a tradição acaba por suplantar a voz da Bíblia. Ora, onde o ensino sobre a intercessão dos santos e anjos, a doutrina de Maria como a Conceição Imaculada, a suposição de que Maria é co-redentora com Cristo ? Nenhuma dessas doutrinas pode ser substanciada através da Bíblia. Elas são o produto da tradição católica romana.

O QUE É SOLA SCRIPTURA ?

O princípio da Reforma de sola Scriptura é pouco ou mal compreendido pelos católicos. Ela tem a ver com a suficiência da Bíblia como nossa autoridade suprema em todos os assuntos espirituais. Sola Scriptura demonstra simplesmente que toda a verdade que é necessária para nossa salvação e vida espiritual é ensinada explicitamente ou implicitamente na Bíblia.
Não é uma reivindicação de que todo tipo de verdade tem de ser forçosamente encontrada na Bíblia. Os apologistas católicos reivindicam a necessidade da tradição, alegando que a Bíblia não registra tudo em matéria de fé. Isto simplesmente não é verdade. Mas por outro lado, a sugestão da tradição como forma de solucionar esta lacuna não resolve o problema, pois semelhantemente ela não é exaustiva. Por exemplo, a Bíblia não dá detalhes exaustivos sobre a história da redenção, ou sobre certas verdades científicas, dinossauros etc. Em João 21:25 diz que nem tudo aquilo que Jesus fez estão registrados no livro, e realmente todos os livros do mundo não seriam suficientes o bastante para aquele propósito. Mas a Bíblia não tem de ser exaustiva para funcionar como a regra exclusiva de fé do cristão. Nós precisamos de conhecimento necessário e não de conhecimento exaustivo. Tudo aquilo que Deus requer de nós é dado na Bíblia e Ele nos proíbe exceder aquilo que está escrito (Dt. 4,2 ; 12,32 - “2 Ora, eu vos louvo, porque em tudo vos lembrais de mim, e guardais os preceitos assim como vo-los entreguei.”; “32 Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.” – 1 coríntios 4,6 “6 Ora, irmãos, estas coisas eu as apliquei figuradamente a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se ensoberbeça a favor de um contra outro.”).

Outrossim, Sola Scriptura não é uma negação da autoridade da igreja para ensinar a revelação de Deus. A Igreja é “o pilar e fundação da verdade” (“15 para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade.” 1Timóteo 3,15) porque apóia e ensina a Palavra de Deus que é a verdade João 17,17 – “17 Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.”. Porém, a igreja não pode ensinar doutrinas de origem humana ou pode contradizer o que a Bíblia diz. A autoridade da igreja é subordinada à autoridade da Bíblia. E por último, sola Scriptura não é uma negação que historicamente a Palavra de Deus veio em forma oral. Antes de escrever a sua mensagem, Deus falou pelos apóstolos e profetas, e pessoalmente a Jesus Cristo (“1 Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,” Hebreus 1,1). Durante o mesmo tempo o Espírito Santo moveu os homens santos para escrever a palavra Dele para ser o registro inspirado permanente de sua mensagem na era pós-apostólica. Os apóstolos e profetas são a fundação da igreja (“20 edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina;” - Efésios 2,20) mas eles estão ausentes, nós ainda podemos construir nossa vida baseada no ensino deles que é registrado na infalível palavra de Deus.

A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
O senhor nunca quis se fiar na tradição oral, tanto é que mandou seus servos escrever a sua santa palavra.
1. Ele mesmo deu exemplo escrevendo as tábuas da lei Êxodo 24,12 – “12 Depois disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e espera ali; e dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para lhos ensinares.”
2. A Moisés ordenou que escrevesse suas leis Êxodo 34,27 – “27 Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme o teor destas palavras tenho feito pacto contigo e com Israel.”.
3. Josué também escreveu, Josué 24,26 “26 E Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus; e, tomando uma grande pedra, a pôs ali debaixo do carvalho que estava junto ao santuário do Senhor,”.
4. Os profetas como Isaias 8,1;30,8, Jeremias 30,2 ; 36,1-4, Daniel 7,1, Habacuque 2,2 e outros também registraram em forma escrita as palavras de Deus logo que as receberam!
Não encontramos no Antigo Testamento qualquer base remota que endosse a possibilidade de uma fonte doutrinária chamada “Tradição Oral”!
Jesus e os apóstolos sempre se valeram da palavra escrita de Deus, ela sempre foi o veículo transmissor da revelação Divina! O texto de 2 Timóteo 3:15-17 é enfático em demonstrar que a Bíblia e ela somente é suficiente para nos guiar, vejamos:
“e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” Sendo assim, Lucas poderia de fato elogiar os crentes de Beréia como sendo “mais nobres” que os outros pois não confiaram na transmissão oral do evangelho dada por Paulo, mas submeteram-na ao crivo das escrituras (Atos 17,11). A palavra escrita segundo Paulo é segurança, “Não me é penoso a mim escrever-vos as mesmas coisas, e a vós vos dá segurança.” (Filipenses 3,1) A TRADIÇÃO ORAL TEM SUPORTE BÍBLICO ?
Os apologistas católicos argumentam que existem certos trechos na Bíblia que dão suporte à tradição. Até mesmo nas versões das Bíblias protestantes fala de uma certa “tradição” que seria recebida e obedecida com reverência inquestionável. O que dizer destes versos?. Vamos examinar agora alguns destes versículos que são citados com o fito de embasar seus ensinos extrabíblico de, “verbum de sola Dei”, somente a palavra de Deus, que no entendimento católico é Bíblia + tradição. Colocamo-nos ao lado do apóstolo Pedro em reconhecer que nos ensinos de Paulo há certos “…pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição.” (II Pedro 3,16) Alguns evangélicos se mostram tímidos em responder o que o apostolo Paulo queria dizer com a palavra “tradição”. Entretanto, um exame minucioso do versículo pode dissipar quaisquer dúvidas a este respeito. Existem vários outros pontos que são invocados pelos católicos para fundamentar sua doutrina, mas o espaço não nos permite ser prolixos, iremos aqui analisar apenas os principais.
“e o que de mim ouviste de muitas testemunhas, transmite-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.” II Timóteo 2,2
Os católicos teimam em dizer que este versículo é uma prova da transmissão das tradições através duma suposta sucessão apostólica. Será?
Aqui o apóstolo Paulo instrui Timóteo a treinar outros homens fiéis para a tarefa de liderança na igreja. Nem de longe há alguma sugestão de sucessão apostólica neste verso, nem dá margem para afirmar que ele estaria passando uma suposta tradição infalível com autoridade igual à palavra de Deus. Pelo contrário, o que este verso descreve simplesmente é o processo de discipulado. Longe de dar a estes homens um pouco de autoridade apostólica que garantiria a infalibilidade deles, Timóteo deveria escolher homens que tivessem provado terem sido fieis, para lhes ensinar o evangelho, e os equipar nos princípios de liderança da igreja. que ele tinha aprendido de Paulo. Timóteo deveria confiar a eles a verdade essencial que o próprio Paulo tinha pregado “na presença de muitas testemunhas”.
O que era esta verdade? Seria ela alguma misteriosa tradição sobre Maria que permaneceu desconhecida há séculos até que certo papa “infalível” falando ex-catedra a impusesse como regra de fé ? Não. Essa verdade era simplesmente a mesma mensagem que aparece na Bíblia e que Paulo declarou que era suficiente para salvar II Timóteo 3,16 – 4,2. Nada há que indique o contrário!
“Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” II Tessalonicenses 2,15
Este é talvez o versículo favorito dos católicos quando eles querem apoiar a doutrina da tradição, porque o verso delineia claramente entre a “palavra escrita” e as “tradições orais”. Concluem dizendo que uma boa parte de seu ensino foi oral, e que chegou até nós somente através da tradição.
A palavra grega traduzida aqui para “tradição” é paradosis. Há de observar que tradição neste texto não é sinônimo da “Tradição” no conceito católico! O apóstolo está falando de doutrina ou ensinamentos. E não há de se supor que esta doutrina não seja a verdade inspirada de Deus que ele expôs a todos os fiéis nas páginas do Novo Testamento. Novamente, o contexto é essencial para uma boa compreensão do que Paulo estava querendo dizer! Os Tessalonicenses tinham sido enganados evidentemente por uma carta forjada (supostamente escrita pelo apóstolo Paulo), falando que o dia do Senhor já tinha chegado (2 Tessalonicenses 2,2). A igreja inteira tinha ficado aparentemente perturbada com isto, e o apóstolo Paulo estava ansioso para os encorajar. Então ele passa a lhes contar como reconhecer uma epístola genuína sua, teria a marca de sua assinatura (2 Ts 3,17). Isto garantiria uma segurança contra as epístolas espúrias em nome dele. Mas até mesmo mais importante que isto , ele queria que eles se despertassem para os mesmos ensinamentos que eles já haviam recebido dele. Por exemplo, ele já tinha lhes falado que o dia do Senhor seria precedido pelo anticristo. Dizia ele: “Não vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco?” (Ts 2,5) Não havia nenhuma desculpa para eles, pois haviam sido instruídos sobre isto pela própria boca dele, ou seja, de forma oral ! Não devemos nos esquecer também que esta é a segunda epístola dele aos Tessalonicenses.
Assim, a mera referência a respeito de “tradições orais” recebidas diretamente do próprio Paulo é irrelevante como base para a posição católica, pois nada aqui sugere que a tradição que Paulo entregou aos Tessalonicenses (oralmente) é algo diverso do que esteja nas cartas neotestamentaria dele. Paulo não está encorajando os Tessalonicenses a receber alguma tradição que tinha sido entregada a ele por terceiros, mas eram as mesmas doutrinas que havia recebido por inspiração do próprio Deus (Gálatas 1,11-12). Invocamos aqui um episódio análogo em que Ireneu, um dos pais da igreja ( 202 AD), em sua obra “Contra as Heresias – Lv. III”, numa refutação aos gnósticos de então, usa as escrituras para combate-los, entretanto, estes como meio de escape repelem as escrituras como espúria: “Quando estes são argüidos a partir das Escrituras, põem-se a acusar as próprias escrituras…”. Todavia, quando eram refutados pelos apologistas através das próprias escrituras, apelavam para a chamada “tradição Oral”. Prosseguindo, Ireneu reproduz em poucas palavras o álibi apresentado por eles como escape: “…é impossível achar neles (nos textos bíblicos) a verdade se se ignora a tradição. Porque – (prosseguem dizendo) – essa verdade não foi transmitida por escrito e sim de viva voz…”, “Quando”, afirma Ireneu, “…então passamos a apelar para a tradição que vem dos apóstolos e se conserva nas igrejas pelas sucessões dos presbíteros, opõem-se à tradição.” A princípio parece que Irineu ensinava a tal chamada “Tradição Oral” nos moldes católico romano. Mas observando o texto com mais perspicácia, concluimos que o conteúdo de tal “tradição” nada mais era do que as próprias escrituras. Ele joga mais luz na questão quando apela para a carta de Clemente aos Coríntios dizendo que Clemente tinha anunciado aos Coríntios“…a tradição que tinha recebido recentemente dos apóstolos…”. Vamos ler agora o que seria tal tradição: ele elucida que os bispos ensinavam como tradição que há “um só Deus Onipotente, Criador do céu e da terra, que modelou o homem, produziu o dilúvio, chamou a Abraão, fez sair seu povo do Egito, falou a Moisés, estabeleceu o regime da lei, enviou os profetas, preparou o fogo para o diabo e seus anjos…todos os que quiserem podem verificar segundo o mesmo documento” e “Podem assim conhecer a tradição apostólica da Igreja…” Veja que nada que é citado como tradição, não difere substancialmente em nada do que está nas escrituras, vejamos: “Com efeito, não tivemos conhecimento da economia de nossa salvação por outros que não os pregadores do Evangelho. Este Evangelho, que eles primeiramente pregaram depois, pela vontade de Deus, eles nos transmitiram em Escrituras a fim de se tornar o fundamento e a coluna de nossa fé”.
Os católicos ávidos por acharem vestígios de certas “tradições orais” nos escritos neotestamentario acabam por deixar seus pressupostos serem os árbitros na exegese do texto bíblico. O que segue abaixo são algumas das objeções levantadas por apologistas católicos enviadas a nós;
“Em 1Cor 10,4, São Paulo nos conta uma interessante história que mostra como a Tradição Oral e a Escrita estavam situadas no mesmo nível: escrevendo sobre os sentidos figurados do Antigo Testamento, tomou um exemplo que não está escrito nele: a rocha da qual manava água (Ex 17,1-7; Num 20,2-13) e que acompanhava os Judeus no deserto. Não há nada nas Escrituras sobre uma pedra andando junto com os judeus!”
Refutação: Paulo estava familiarizado com trabalhos da literatura judaica, inclusive trabalhos do período interbíblico que tornaram-se parte da literatura apócrifa. Esta passagem pode ser encontrada em Philo. Ele estava igualmente familiarizado com a filosofia e mitologia grega, e certamente utilizou destas fontes. Quanto a isto não temos dúvidas. O caso é, a familiaridade de Paulo com tais fontes significa que elas são divinamente inspiradas, autorizadas, e infalíveis ? Claro que não! Será que está passagem é alguma interpretação oral da Bíblia desde Philo até Moisés aplicando-se aos cristãos hoje? Novamente não. A Bíblia usa às vezes fontes não inspiradas (cf. Nm. 21,14 Js. 10,13 I Rs 15,31) Por três vezes Paulo cita pensadores não cristãos como Arato, Menânder e Epimênides (At. 17,28; I Cor. 15,33; Tt. 1,12). A Bíblia porém nunca faz tais citações como tendo autoridade da parte de Deus. As frases usuais de autenticação divina tais como “assim diz o Senhor” ou “está escrito” nunca são encontradas quando há citações destas obras pseudepigráficas.
Na interpretação alegórica de Philo sobre a lei, o maná e a bebida (ou fonte da bebida) é comparada a sabedoria de Deus. Paulo interpreta estas identificações em termos da sabedoria do Judaísmo helenístico aplicando-as a Cristo. Isto não significa que ele desejou dizer sobre Cristo tudo aquilo que o Judaísmo helenístico disse sobre a sabedoria.
Agora os católicos dizem que Paulo tirou isto da “Tradição Oral”. Sim, ele tirou de fontes extra-biblica, mas o que isto prova? Prova somente que ele tirou ilustrações e terminologias de todos os tipos de lugares. Da mesma maneira, como já dissemos, ninguém discutiria que ele fez uso de filósofos gregos, e nenhum cristão diria que tais fontes são infalíveis, inspiradas, ou em qualquer aspecto espiritualmente autorizada para nós.
“Também quando São Judas nos diz que São Miguel não quis julgar a blasfêmia de Satanás, quando estavam lutando pelo corpo de Moisés, mas deixou-o ao Julgamento de Deus, não ousou julgar a blasfêmia, mas disse: “Cabe a Ti, Senhor”. Ele estava também citando a Tradição Oral. Ou alguém consegue encontrar esta passagem na Bíblia? Estes elementos usados pelos apóstolos que não se encontram no Antigo Testamento vêm da Tradição Divina que era mantinha o mesmo pé de igualdade com as Escrituras (Torah, Profetas, Livros de Sabedoria e os Salmos)”.

Refutação: Devemos esclarecer algumas coisas de antemão. Semelhantemente a Paulo, Judas usa fontes extra-bíblicas, como no verso 9, um trecho tirado do livro “A ascensão de Moisés” e no verso 14 do livro de “Enoque”, ambas literaturas apócrifas. Porém, é bom lembrar que nem a Igreja Católica aceita estes livros como inspirados. Se os católicos advogam esta passagem para fundamentar sua tese da “Tradição Oral” então, para serem coerentes, terão de aceitar todo o resto do livro. Mas é claro que eles não farão isso!